Percepção de níveis de dor e flexibilidade em portadora da síndrome da fibromialgia Percepción de niveles de dolor y flexibilidad en portadora de síndrome de fibromialgia Perceived levels of flexibility and pain in patients with fibromyalgia syndrome |
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Acadêmica do curso de Educação Física Bacharelado, UNICENTRO (Brasil) |
Francieli da Silva |
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Resumo A Educação Física possui muitas áreas de atuação, dentre elas está a área relacionada à importância da atividade física com os aspectos referentes a saúde. Muitas pessoas procuram realizar atividade física para melhorar a qualidade de vida e como método de prevenção, tratamento e cura de algumas doenças. A área da saúde é diversificada, com tratamentos designados a populações especiais. E por haver mais atenção e estudos científicos específicos nesta área, cria conseqüentemente maior confiança e credibilidade das pessoas que necessitam desta atenção, dentre elas os portadores da Síndrome da Fibromialgia, foco da presente investigação. O objetivo da presente pesquisa é analisar o efeito do alongamento em participante portadora da Síndrome da Fibromialgia. Para tanto, o estudo surge como possibilidade ou alternativa de atuação do profissional de Educação Física, junto a pessoas com Síndrome da Fibromialgia, contribuindo por meio de alongamentos e exercícios aeróbios de baixo impacto para amenizar os sintomas da doença e possibilitar uma melhor qualidade de vida aos portadores desta síndrome. Como metodologia utilizamos um programa de exercícios de alongamentos, que teve como duração dez semanas, com freqüência de três sessões semanais, e teste de flexibilidade e de percepção de dor. Concluímos a partir desta intervenção que em algumas variáveis houve melhora e outras se mantiveram. Unitermos: Exercício físico. Síndrome da fibromialgia. Alongamentos.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Síndrome da Fibromialgia é uma síndrome dolorosa de etiopatogenia desconhecida, que acomete preferencialmente mulheres, sendo caracterizada por dores musculoesqueléticas difusas, sítios dolorosos específicos, associados freqüentemente a distúrbios do sono, fadiga, cefaléia crônica e distúrbios psíquicos e intestinais funcionais¹. As primeiras referências a quadros clínicos que lembram a fibromialgia foram de Balfour em 1824¹, sugerindo um processo inflamatório no tecido conjuntivo responsável pela dor que era, então, chamada de reumatismo muscular. Outros autores contribuiram com as pesquisas relacionadas à fibromialgia (FM) descreveram pacientes com pontos musculares hipersensíveis à palpação e passíveis de desencadear dor irradiada².
Alguns estudos encontraram que esta síndrome atinge cerca de 5% da população mundial, totalizando quase 100% o público do sexo feminino, com faixa etária normalmente encontrada, entre trinta e sessenta anos, contudo houve estudos que encontraram esta síndrome em crianças, apesar de raro, assim como a presença da Síndrome da Fibromialgia em homens. Fatores hormonais são um dos fatores que tem influência sobre o desenvolvimento da doença, principalmente pela maior faixa etária encontrar-se na menopausa².
A SFM, não possui cura e nem diagnóstico para a confirmação da doença, então esta é diagnosticada através dos sintomas e dos “tenders points” principalmente, são estes, pontos de sensibilidade aguda, que se espalham pelo corpo, e para receber tal diagnóstico o sujeito deve sentir dores em pelo menos onze, dos dezoitos pontos. Não existem medicamentos para a SFM, pois os “tenders points”, não são estáveis, ou seja, a cada tempo os pontos dolorosos mudam de lugar, deixando mais difícil além da prescrição de medicamentos, o próprio diagnóstico, todavia a síndrome pode correr o risco de ser confundida com outras patologias. Alguns fatores responsáveis por tal mudança de local são o clima, sono, alimentação, medicamentos, atividades cotidianas e estresse².
A Síndrome da Fibromialgia (SFM) é caracterizada pela ocorrência de dor músculo-esquelética crônica generalizada e pontos dolorosos específicos à palpação - associados a sintomas como fadiga, sono não-restaurador e distúrbios psicológicos. O quadro clínico pode levar à incapacidade físico-funcional e, conseqüentemente, a piora da qualidade de vida³.
Os tratamentos encontrados para esta síndrome são analgésicos e antidepressivos, também são muito adotadas as variadas atividades físicas, dentre eles encontramos a hidroginástica, yoga, alongamento, relaxamento, treinamento resistido, caminhada, entre outros métodos.
Para um melhor desenvolvimento e resultado da prescrição dos exercícios, este deve ser prazeroso, interessante e recompensador para o portador desta síndrome, pois um dos objetivos é que a atividade física torne-se comum na vida do paciente, e não apenas naquele momento 4.
Considerando a literatura consultada, existem muitas controvérsias e poucas conclusões em relação às contribuições das diversas modalidades de intervenção, envolvendo exercícios físicos, no paciente com SFM.
Especificamente, os exercícios de alongamento muscular permitem que o músculo recupere seu comprimento, para que se mantenha um alinhamento postural correto, garantindo principalmente a integridade e a função muscular, facilitando a realização das atividades da vida diária. Os exercícios de alongamento muscular desempenham um papel positivo no tratamento da fibromialgia².
A fim de contribuir, ainda mais para ampliar os conhecimentos na área, questiona-se sobre a influência do alongamento na Síndrome da Fibromialgia.
Procedimentos metodológicos
Objetivos
Analisar o efeito do alongamento em participante portadora da Síndrome da Fibromialgia e avaliar os níveis de flexibilidade articular e nível de dor durante a intervenção.
Este estudo é importante para a área da saúde em geral, pois contribui com o aumento de conhecimentos para o esclarecimento da síndrome, bem como para a área da Educação Física, possibilitando assim, uma intervenção profissional mais eficaz. Desta forma, o profissional saberá como intervir da melhor forma. Quando nos referimos a esta temática, percebemos que há pouca pesquisa sobre a Síndrome da Fibromialgia e alongamento, e com este estudo, busca-se investigar e contribuir para a realização de futuras pesquisas e aperfeiçoamento.
Exercício físico e a Síndrome da Fibromialgia
Ainda tratando-se de programas de alongamento muscular como forma de tratamento, a RPG (reeducação postural global), também auxilia pessoas portadoras da Síndrome. Um estudo avaliou o efeito de exercícios de alongamento muscular a partir da RPG. Os voluntários foram avaliados seguindo os critérios da RPG, e esta afirma que são cinco grupamentos musculares os mais atingidos, a inspiratória, posterior, antero-interna da cintura pélvica, anterior do braço e antero-interna do ombro. As pacientes tinham idade entre vinte e três à sessenta e um anos. A sessões variaram de três à onze, estas realizadas no ambulatório e em casa, com as devidas orientações. Semanalmente os níveis de dores eram avaliados, ao final do tratamento, as participantes foram questionadas quanto a melhora, definindo-as através de conceitos como ótimo, bom, regular e ruim. Os resultados apontaram melhora em 18 das 20 avaliadas, a partir da segunda semana de tratamento, 65% das mulheres ao final do tratamento, apontaram o conceito ótimo, e 10% das pacientes afirmaram não haver melhora alguma das dores. Ao final do teste, as pacientes apontaram melhora no alongamento dos grupos musculares trabalhados e melhora significante da postura.5
Existem muitas propostas de exercícios físicos para o tratamento da fibromialgia, como já vimos, uma dessas propostas é de três tipos de programas de exercício, relacionados à qualidade de vida das mulheres, pois bem sabemos da influência direta da Síndrome na qualidade de vida, e atividades diárias. Neste estudo, participaram 17 mulheres, com idade acima de dezoito anos. Os três tipos de exercícios foram, caminhada na esteira, fortalecimento muscular combinado com alongamento e hidroginástica. Foram analisados capacidade funcional, distúrbios do sono, capacidade para o trabalho e depressão. Sobre a caminhada, tem-se notado que é uma das formas mais procuradas, pelo baixo custo, fácil acesso, melhora na condição cardiorespiratória e qualidade de vida. Os programas mais propostos incluem o alongamento e relaxamento para potencializar os efeitos desejados e minimizar os indesejados, pois tem como benefício a redução de lesões, proporciona bem estar, e alguns estudos afirmam, que melhora o quadro depressivo. Sabe-se que essas pessoas portadoras da Síndrome da Fibromialgia sentem dores após 24 horas da realização dos exercícios, isto pode fazer com que haja desistência das pacientes, e que não realizem mais exercícios físicos tornando-se inativas, cabe, portanto ao pesquisador ou profissional encorajar a paciente, explicando tudo o que poderá ocorrer durante este programa³.
Caracterização da participante do estudo
Participou deste estudo uma mulher adulta, brasileira, caucasiana, com 54 anos, portadora da Síndrome da Fibromialgia diagnosticada, tabagista, usuária de medicamentos. Quanto ao uso de medicamentos, no início da intervenção a participante relatou usar diariamente três medicamentos para diferentes funções (controle da hipertensão arterial, relaxante muscular, calmante) sendo que, especificamente para a dor, eram ingeridos quatro medicamentos semanais. Após a intervenção, a quantidade de medicação por semana diminuiu para dois, porém o medicamento para a dor se manteve. A participante ainda era hipertensa, sedentária, moradora da cidade de Irati – PR.
Programa de intervenção
O Programa de exercícios de alongamentos teve uma duração de 10 semanas, a participante freqüentou três sessões semanais. As sessões, com duração de 60 minutos foram constituídas de exercícios de alongamento prioritariamente, antecedidos por um aquecimento de 15 minutos realizados na esteira utilizando-se para quantificar a intensidade do exercício a Escala de Borg. Para cada um dos exercícios de alongamento foram realizadas 4 repetições, sendo que nas primeiras duas semanas (período de adaptação) foram realizadas 3 repetições, com duração de 30 segundos para cada postura².
Esses exercícios promovem relaxamento muscular, aumento da flexibilidade e, quando bem orientados, melhoram o alinhamento postural².
A amplitude articular, durante a realização dos exercícios de alongamentos, foi respeitada considerando os níveis de dor da participante. Foram realizados exercícios de alongamento envolvendo as principais articulações do corpo (quadril, ombro, joelho, cotovelo, punho, tornozelo) com o objetivo de alongar os músculos das cadeias posterior e anterior do corpo. O programa de alongamento constitui-se de 16 exercícios diferentes, sendo que 8 foram realizados na posição deitada e em decúbito dorsal e 8 na posição sentada. Para auxiliar, durante a realização das sessões de exercícios de alongamento foi utilizado colchonetes.
A intervenção ocorreu numa Academia de Musculação da cidade de Irati-PR, e o programa de alongamentos foi baseado em estudos científicos, e reconhecido como uma forma de abordagem fisioterapêutica para pacientes com fibromialgia. O programa foi aplicado por uma profissional de Educação Física. Durante todo o período que constituiu o treinamento nenhuma forma de reposição hormonal ou qualquer outra forma de controle dietético foi realizada.
Instrumentos de análise de dados
Quanto aos instrumentos, utilizou-se questionário e teste para a obtenção das informações pertinentes aos objetivos do estudo. Os diferentes instrumentos serão descritos a seguir:
Escala visual analógica de dor
A variável analisada foi a intensidade da dor, através da Escala Visual Analógica - EVA que consiste em auxiliar na aferição da intensidade da dor no paciente, é um instrumento importante para verificarmos a evolução do paciente durante o tratamento e mesmo a cada atendimento, de maneira mais fidedigna. Também é útil para podermos analisar se o tratamento está sendo efetivo, quais procedimentos têm surtido melhores resultados, assim como se há alguma deficiência no tratamento, de acordo com o grau de melhora ou piora da dor. A EVA pode ser utilizada no início e no final de cada atendimento, registrando o resultado sempre na evolução. Para utilizar a EVA o atendente deve questionar o paciente quanto ao seu grau de dor sendo que 0 significa ausência total de dor e 10 o nível de dor máxima suportável pelo paciente. A aplicação desta escala foi no inicio e no final do programa e na segunda sessão de cada semana.
Flexibilidade – Goniômetro
A flexibilidade é um fator importante para se avaliar, pois a doença atinge os músculos, e suas fibras, prejudicando o portador para realizar algumas tarefas como alcançar algum objeto no chão, por exemplo. Para avaliarmos a flexibilidade articular, utilizou-se o goniômetro como instrumento que avalia a flexibilidade por meio dos ângulos articulares. Neste estudo foram avaliadas oito diferentes articulações: Flexão horizontal da articulação do ombro, flexão da articulação do cotovelo, flexão da articulação do punho, flexão da articulação do quadril, flexão plantar e flexão dorsal da articulação do tornozelo, flexão da articulação do joelho, flexão da coluna lombar. Todas as mensurações foram feitas do lado direito do corpo da participante do estudo e o procedimento da aplicação foi realizado conforme recomendação6.
Análise de dados
Os dados foram analisados de forma diferenciada considerando e especificidade de cada instrumento aplicado.
Aspectos éticos
Com relação aos aspectos éticos desta pesquisa, o nome e demais informações pessoais da participante da pesquisa foram mantidos em sigilo, visto que em nenhum momento da pesquisa foram expostos.
O projeto obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (COMEP) da UNICENTRO sob o número 177/2010.
Resultados e discussões
Neste capítulo serão abordados aspectos relacionados a influência de um programa de alongamento em variáveis da Síndrome da Fibromialgia. Após a realização do treinamento que teve duração de 10 semanas e freqüência de 3 vezes semanal em dias intercalados, obteve-se de uma maneira geral, após a aplicação do programa de alongamento, uma melhora e uma estabilização em algumas variáveis bem como piora em outras.
Escala visual analógica
Ao analisarmos, por meio da escala visual analógica de dor, observou-se que tanto no início como no final da intervenção a participante relatou percepção de dor no nível moderado, mesmo que pela escala o valor da pré (6) foi maior que pós (5). Ainda em relação à percepção de dor avaliada durante uma das sessões de cada semana, houve grande variação considerando o início e o final das sessões, observou de uma maneira geral, que ao longo das semanas predominantemente o nível de dor diminuiu quando comparado os níveis de dor no início e no final da sessão, conforme descrito no Gráfico 01.
Figura 01. Valores da escala analógica de dor ao longo das 10 semanas de intervenção
Flexibilidade
Ao avaliarmos a flexibilidade articular, obteve-se os resultados para cada articulação pré e pós intervenção, que estão descritos na tabela 01.
Tabela 01. Valores angulares da flexibilidade articular pré e pós intervenção na participante do estudo
Analisando os ângulos avaliados das articulações pré e pós intervenção, notamos que houve melhora em quatro articulações, estas são: articulação do ombro, tornozelo (flexão plantar), essas por sua vez tiveram sua angulação aumentada, significando que a flexibilidade melhorou, quanto à articulação do joelho e do quadril, a angulação diminuiu, sendo positivo, pois para essas articulações, quanto menor o ângulo, maior a flexibilidade. As articulações que apresentaram piora foram as articulações do punho e da coluna lombar. Os ângulos que se mantiveram na avaliação pré e pós intervenção, foram as articulações do cotovelo e do tornozelo (dorsi-flexão).
De uma maneira geral os resultados apontam, quanto aos níveis de dor, observou-se uma diminuição quando comparado o início e o final da intervenção e nas sessões semanais. Quanto ao uso de medicamentos, houve uma diminuição na quantidade ingerida do pré para o pós.
Conclusão
E por fim, quanto aos níveis de flexibilidade articular, os valores em ângulos, apontaram para uma melhoria da flexibilidade para as seguintes articulações: articulação do ombro, tornozelo (flexão plantar), piora para as articulações do punho e da coluna lombar. Os ângulos que se mantiveram na avaliação pré e pós intervenção, foram as articulações do cotovelo e do tornozelo (dorsi-flexão).
De uma maneira geral podemos concluir que o programa de alongamento aplicado a participante do estudo, mostrou-se com eficiente para algumas variáveis, não interferiu em outras e influenciou de forma negativa em outros aspectos. Considerando para tanto, que não foram controladas as variáveis intervenientes que possivelmente possam ter influenciado nos resultados encontrados.
Referências bibliográficas
MARTINEZ, J.E. Fibromialgia: uma introdução. São Paulo, EDUC, 1998.
MARQUES, A.P. ASSUMPÇÃO, A. MATSUTANI, L.A. Fibromialgia e Fsioterapia – avaliação e tratamento. São Paulo. Editora Manole, 2007.
KONRAD, L.M. Efeito agudo do exercício físico sobre a qualidade de vida de mulheres com síndrome da fibromialgia. Tese de Mestrado, UFSC. 2005.
VALIM, V. Benefícios dos exercícios físicos na fibromialgia. Revista Brasileira Reumatol, vol. 46, n°1, pg. 49-55, jan/fev. 2006.
MARQUES, AP, MENDONÇA, LLF, COSSERMELLI, W. Alongamento muscular em pacientes com fibromialgia a partir de um trabalho de reeducação postural global (RPG). Revista Brasileira de Reumatologia, vol. 34, n° 05, 1994.
FILHO, J. F. A prática da avaliação física: testes, medidas e avaliação física em escolares, atletas e academia de ginástica. 2ª edição, Shape, RJ; 2003.
MARQUES, A. P. Qualidade de vida em indivíduos com fibromialgia: poder de discriminação dos instrumentos de avaliação. Tese para obtenção de título docente, FMUSP, 2004.
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