Avaliação nutricional em desportistas de academias do município de São Paulo Evaluación nutricional de deportistas en gimnasios del municipio de Sao Paulo Nutritional assessment in sportsmen of academies in the municipality São Paulo |
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*Alunas de graduação Centro Universitário São Camilo **Nutricionista. Mestre em Nutrição Humana Aplicada pela Universidade de
São Paulo (Brasil) |
Cássia Fahr* | Louise Hamoy* Marina Olivetto* | Mayra Borges* Profa. Clara Korukian Freiberg** |
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Resumo A falta de atividade física é uma das principais causas das doenças crônicas não transmissíveis. Com isso a procura a academias tem crescido devido à maior preocupação com a saúde, que torna imprescindível a participação da nutrição no exercício. Tendo em vista essa crescente busca por um corpo físico idealizado sem a devida preocupação com a saúde e qualidade de vida, o objetivo deste estudo foi identificar o perfil nutricional dos desportistas de três academias do município de São Paulo, onde foram analisados 76 indivíduos, do gênero feminino e masculino entre 18 a 65 anos. Foi feita a avaliação antropométrica e aplicado um questionário para conhecimento da freqüência de atividade física, hábito tabagista e consumo de álcool. Concluiu-se que o perfil nutricional dos desportistas pode ser definido como adequado às referências utilizadas, levando em consideração a quantidade de massa magra e massa gorda total da amostra. Unitermos: Avaliação nutricional. Imagem corporal. Desportistas.
Abstract
The lack of physical activity is a major cause of chronic diseases.
Thus the search for physical activity in the academies has grown due to
greater health concern, which becomes essential the participation of
nutrition in exercise. In view of the growing
search for an idealized physical body without
due concern for the health and quality of life,
the aim of this study was to identify the
nutritional profile of sportsmen from
three academies in Sao Paulo, were analyzed 76 individuals,
males and females between 18 and 65. An Anthropometric assessment was made
an applied a questionnaire to know the frequency of physical activity,
smoking habits and alcohol consumption. It was
concluded that the nutritional profile of
sportsmen can be defined as appropriate according to
the references used, considering the amount of lean mass and fat mass
of the sample.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A alimentação pouco saudável e a falta de atividade física são as principais causas das doenças crônicas não transmissíveis mais importantes, como as enfermidades cardiovasculares, a diabetes mellitus tipo 2 e determinados tipos de câncer, que contribuem substancialmente para a carga mundial de morbidade, mortalidade e incapacidade¹.
A prática regular e adequada de exercícios físicos melhora a qualidade de vida quando associada a uma dieta balanceada. A alimentação equilibrada é essencial na formação, reparação e reconstituição de tecidos corporais, mantendo a integridade funcional e estrutural do organismo, assim, tornando possível a prática de exercícios físicos. O início de um programa de atividade física tem como um dos principais motivos a insatisfação com o próprio corpo ou com a imagem que se tem. O enfoque dado pela mídia em mostrar corpos atraentes leva a sociedade à valorização da aparência física idealizada, com aumento de músculos, estando sujeito a perder o ideal de corpo saudável. Os treinamentos de força tornam-se um meio eficaz de aumento de massa muscular².
A alimentação pode delimitar o desempenho do desportista. Para um planejamento alimentar adequado, diversos fatores devem ser considerados, dentre eles a adequação energética da dieta, a distribuição dos macronutrientes e o fornecimento de quantidades adequadas de vitaminas e minerais. Além disso, a dieta deve ser estabelecida de acordo com as necessidades individuais, a freqüência, a intensidade e a duração do treinamento. Sabe-se que o elevado aumento do esforço físico decorrente do exercício diário e a inadequação dietética expõem os praticantes de atividade física a problemas orgânicos. Têm-se registrado casos de anemia, perda mineral óssea, distúrbios alimentares, relacionados a ambos os sexos, e amenorréia como as principais disfunções que acometem os desportistas³.
Praticantes de hipertrofia muscular possuem necessidades nutricionais diferenciadas das de indivíduos sedentários ou pouco ativos. Porém, o problema ocorre quando a preocupação de um indivíduo de que seu corpo seja pequeno ou franzino se torna excessiva, passando a ter um padrão alimentar específico, que geralmente é composto por dieta hiperproteica, além de inúmeros suplementos alimentares ou substâncias para aumentar o rendimento físico, sem a devida orientação, trazendo danos à saúde².
Atualmente, a busca pela atividade física nas academias tem crescido devido à maior preocupação com a saúde, que torna imprescindível a participação da nutrição no exercício, para modificação de hábitos alimentares e de vida. Apesar da grande preocupação dos freqüentadores de academias em buscar uma nutrição ideal e adequada ao tipo de treino, a falta de conhecimentos, os hábitos alimentares inadequados, a influência dos treinadores e da mídia e a falta de acesso a um profissional nutricionista, assim como um conhecimento limitado por parte das pessoas em relação à sua alimentação são os principais fatores que levam a utilização de suplementos nutricionais e a adotar um comportamento alimentar nem sempre capaz de atingir os objetivos esperados¹.
Os freqüentadores de academias, muitas vezes, apresentam estilo de vida desordenado, que os leva ao desenvolvimento de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia nervosas; treinam excessivamente, e apresentam obsessão com a forma corporal. Neste contexto, o nutricionista da área esportiva torna-se cada vez mais solicitado para atender aos desportistas e as pessoas que praticam exercícios físicos habitualmente contribuindo, por meio de uma conduta alimentar adequada, para manutenção de um bom estado de saúde e otimização do rendimento. Em geral, os freqüentadores de academias de ginástica são indivíduos com alta escolaridade, com motivação e recursos para a prática de atividades físicas e para uma alimentação saudável e com acesso a informações sobre nutrição e atividade física. Analisando o perfil geral dos praticantes de atividade física, verifica-se que grande parte são indivíduos jovens, seguidos por indivíduos de meia-idade¹.
Por geralmente terem um nível socioeconômico elevado e um ótimo grau de instrução, parte-se do pressuposto de que os praticantes de atividade física possuem interesse de ir em busca aos conhecimentos básicos em relação à nutrição associada à prática de atividade física. Porém, percebe-se que a alimentação dessas pessoas não se encontra adequada do ponto de vista nutricional, o que mostra a necessidade de haver orientação nutricional disponível para tal população, os auxiliando a atingir seus objetivos, esclarecendo dúvidas e desmistificando os muitos conceitos errôneos que correm nas academias¹.
Tendo em vista a crescente busca de um corpo físico idealizado sem a devida preocupação com a saúde e qualidade de vida, o objetivo deste estudo foi identificar o perfil nutricional dos desportistas de algumas academias do município de São Paulo.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, transversal com coleta de dados primários, em três academias do município de São Paulo, Personal, Rebook Cidade Jardim e Stamina, após contato formal com o responsável. Foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa do Centro Universitário São Camilo n° 025/05. Foram avaliados 92 indivíduos ao todo, porém, foram excluídos do estudo aqueles com idade menor que 18 anos, e maior que 65 anos, totalizando a amostra final em 76 indivíduos cuja idade se encontrava entre a faixa de 18 a 65 anos, que voluntariamente participaram do estudo, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). A coleta dos dados foi agendada previamente.
Na coleta de dados antropométricos foi utilizada uma balança antropométrica digital modelo bk200fa Balmak com capacidade para 200 Kg. Para a medição da estatura, foi utilizado um estadiômetro acoplado a parede. Os indivíduos foram medidos em pé, descalços, com os calcanhares juntos, costas retas, braços estendidos ao lado do corpo e cabeça posicionada num ângulo de 90º com o pescoço. Para as medidas de peso foram aplicadas as técnicas propostas pelo SISVAM⁴, que consistiu em deixar a balança ligada antes de o indivíduo ser colocado sobre ela, esperar que a balança chegue ao zero, e pedir que este subisse no centro do equipamento, com o mínimo de roupa possível, descalço, ereto, com os pés juntos e os braços estendidos ao longo do corpo. Pediu-se então, que ficasse parado nessa posição para realização da leitura após o valor do peso estar fixado no visor. Assim, pode ser anotado o peso na ficha na planilha de coleta de dados.
As medidas antropométricas feitas foram: circunferência do braço e da cintura dobra cutânea tricipital, subescapular e suprailíaca.
Para as medidas de circunferência do quadril, cintura e braço foi utilizada uma fita métrica inelástica. Em relação à circunferência do braço (CB), os indivíduos foram avaliados flexionando o braço em direção ao tórax, formando um ângulo de 90º. Assim, era localizado e marcado o ponto médio entre o acrômio e o olécrano da ulna. Em seguida, foi solicitado ao indivíduo que ficasse com o braço estendido ao longo do corpo com a palma da mão voltada para a coxa, para que assim, o braço pudesse ser contornado com a fita flexível no ponto marcado, de forma ajustada, evitando compressão da pele ou folga⁵.
Para avaliar a circunferência da cintura, utilizou-se o ponto médio entre a crista ilíaca e a face externa da última costela, ou seja, a fita inelástica circundava a área de menor curvatura. Já para aferir a circunferência do quadril, a fita métrica inelástica foi posicionada no ponto onde se localiza o perímetro de maior extensão, entre o quadril e as nádegas, ou seja, na área de maior protuberância glútea⁵.
Assim, foi calculada a relação cintura/quadril (RCQ) para os indivíduos que apresentaram IMC maior ou igual a 25 kg/m², através da divisão da medida da circunferência da cintura (cm) pela do quadril (cm).
Na medição de dobras cutâneas foram utilizados adipômetros da marca Sanny® e Cescorf®. Para a medição da dobra cutânea tricipital (DCT – medida em mm) utilizou-se o mesmo ponto médio marcado para a medição da circunferência do braço. Foi separada levemente a dobra do braço direito, desprendendo-a do tecido muscular, e aplicando o adipômetro de propriedade de cada aluno, formando um ângulo reto. O braço estava relaxado e solto ao lado do corpo⁵.
Posteriormente foi calculada a circunferência muscular do braço (CMB), obtida através da fórmula:
CMB = CB – (PCT X 0,314)
Para a medida da dobra cutânea subescapular foi medida um centímetro abaixo do ângulo inferior da escápula, com o braço em extensão. A dobra cutânea supra-ilíaca foi medida na linha axilar média, com o tronco estendido, um centímetro acima da crista ilíaca anterior superior⁶.
Dentre as variáveis do estudo, foram avaliadas medidas de peso, altura, IMC, circunferência do braço (CB), circunferência muscular do braço (CMB), circunferência da cintura e relação cintura/quadril (RCQ), dobra cutânea tricipital (DCT), dobra cutânea subescapular (DCSE), dobra cutânea supra – ilíaca (DCS) e o índice de conicidade, que foi obtido através da seguinte fórmula:
Para a classificação do IMC foi utilizado o critério sugerido pela Organização Mundial de Saúde, 1995. Para o valor de IMC igual ou acima de 25 kg/m2 foram medidas as circunferências da cintura e do quadril, obtendo-se então, a razão cintura/quadril (RCQ). Foi utilizada a referência para sua classificação, OMS 2000, que classifica o risco para doenças cardiovasculares em baixo, moderado, alto e muito alto.
Para a avaliação do estado nutricional por DCT, CB e CMB foram utilizados os parâmetros recomendados por FRISANCHO, 1990⁷.
Foi aplicado juntamente com a coleta de dados antropométricos um questionário de freqüência sobre a prática de exercícios físicos, hábito tabagista e uso de álcool.
O presente estudo faz parte do projeto “Avaliação do estado nutricional de adultos e idosos inseridos socialmente” sob a coordenação da Profª Clara Korukian Freiberg aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa - CoEP ,do Centro Universitário São Camilo sob o n° de protocolo 025/05. Ele atende as normas éticas, de acordo com a Resolução nº 196 de 10/10/1996 sobre pesquisas científicas com seres humanos.
Resultados
Tabela 1. Distribuição da população estudada em número e porcentagem segundo o gênero,
freqüência da prática de exercícios físicos, hábitos tabagistas e consumo de álcool. São Paulo, SP, 2011
Na tabela 1, pode-se observar que diferença entre a porcentagem de homens e mulheres que participaram do estudo é irrisória, e que a prática de exercícios físicos está presente pelo menos de 2 a 3 vezes na semana. Em relação ao uso do cigarro e do álcool, apenas 22% dos entrevistados eram fumantes, contra 68% que relataram ingerir bebida alcoólica semanalmente e mensalmente.
Tabela 2. Distribuição da população estudada em número e porcentagem segundo
estado nutricional de acordo com a classificação do IMC (OMS/95). São Paulo, SP, 2011
Na tabela 2 são apresentados os valores totais do IMC de ambos os sexos. Os dados apresentados apontam que os desportistas avaliados, tanto do sexo masculino como do feminino, apresentaram na grande maioria, IMC eutrófico, apesar de uma porcentagem significativa demonstrar sobrepeso.
Gráfico 1. Distribuição da população em número e porcentagem da população estudada segundo risco de obesidade
associado a complicações metabólicas avaliadas pela circunferência da cintura (OMS/2000). São Paulo, SP, 2011
No gráfico 1, dados mostram que 5,26% e 7,89% da amostra apresentaram, respectivamente, risco aumentado e substancialmente aumentado.
Gráfico 2. Distribuição da população em número e porcentagem da população estudada segundo risco de obesidade associado
a complicações metabólicas avaliadas pela circunferência muscular do braço por Frisancho, A.R. 1990. São Paulo, SP, 2011
No gráfico 4, foi visto que 1,31% da amostra apresentaram risco de déficit de massa magra, e 44,74% apresentam musculatura desenvolvida.
Gráfico 3. Distribuição da população em número e porcentagem da população estudada segundo risco de obesidade
associado a complicações metabólicas avaliadas pela Dobra Cutânea Tricipital por Frisancho, A.R. 1990. São Paulo, SP, 2011
No gráfico 3, na análise da dobra cutânea tricipital, um total de 13,15% da amostra apresentou risco para déficit de gordura e 9,21% apresentou excesso de gordura.
Discussão
A amostra foi constituída por 45 mulheres, e 37 homens. A freqüência da prática de atividade física observada foi elevada, 37% dos entrevistados relataram freqüentar a academia pelo menos duas vezes na semana, e um total de 51% disse exercitar-se de quatro a cinco vezes na semana. Tahara et al.⁸ encontrou resultado semelhante em seu estudo, onde o maior percentual de votos dos sujeitos da pesquisa sobre a freqüência semanal em que se exercitavam foi o de quatro vezes (33,33%).
Foi visto também no presente estudo que apenas 22% dos indivíduos tinham hábitos tabagistas, sendo que 78% que não fumavam. Em contrapartida, uma porcentagem significativa da amostra relatou fazer uso semanal e mensal de álcool, valor que corresponde a 68% dos indivíduos (tabela 1).
No estudo de Tahara et al.⁸, não haviam fumantes na amostra, sendo 31,3% não fumantes. Já em relação ao uso de álcool, constatou-se que a maioria das pessoas, representando valor de 71,9%, referiu consumir bebida alcoólica pelo menos uma vez ao mês, dado que está em concordância com os resultados aqui apresentados, cuja porcentagem é semelhante.
Observa-se também que pela amostra ser estritamente adulta, os resultados desta pesquisa não variaram muito da faixa da normalidade. Pode ser observado que as mulheres apresentam valores relativos mais próximos dos ideais para os indicadores de saúde, sendo que a maioria delas está na faixa ideal ou abaixo dos valores indicados⁹.
Um dado a se destacar é que 44,74% apresentaram musculatura desenvolvida (gráfico 2), ou seja, quase metade da amostra estudada possui massa magra significativa. De uma forma geral, esse valor encontrado nos praticantes de atividade física foi maior quando comparado com a porcentagem estimada para mesma faixa etária, segundo Pollock¹⁰. A influência que o treinamento de força demonstra na composição corporal pode ser explicada através da manutenção e aumento de massa muscular, ao passo que os músculos esqueléticos em repouso utilizam preferencialmente os ácidos graxos livres no plasma. Desta forma, o aumento da massa muscular pode refletir em uma diminuição do tecido adiposo pela maior utilização de gordura em repouso. Assim, de acordo com Donatto et al.¹¹, o percentual de gordura de mulheres que praticam exercícios físicos tende a ser menor do que em mulheres sedentárias.
Apesar do presente trabalho não ter separado os resultados por gênero, é importante ressaltar que segundo o estudo de Callgari et al.¹², podemos verificar que o gênero masculino apresenta em todas as variáveis os valores superiores ao feminino, sendo que a diferença do IMC foi significativa com o valor médio de 24,8% kg/m² no gênero masculino e 21,9% no feminino classifica a média analisada como aceitável ou ideal, havendo valores máximos de 40,3 kg/m² e 33,2 kg/m² respectivamente, indicativos de obesidade (IMC > 31 kg/m²).
A esse respeito, Novaes¹³ comenta sobre a importância do exercício físico regular como maneira para modificar estilos de vida e hábitos das pessoas, tendo em vista que várias são as melhorias que a atividade regular proporciona aos praticantes, entre as quais está o fator emagrecimento.
Conclusão
O perfil da composição corporal de desportistas pode ser definido como adequado as referências utilizadas, levando em consideração a quantidade de massa magra e massa gorda total da amostra. Por ser um grupo preocupado com a saúde, qualidade de vida e estética, o resultado foi de certa forma, esperado.
Se comparados a indivíduos não praticantes de academia, pode-se verificar uma proporção inversa a grande prevalência de ganho de peso no Brasil e no mundo. Portanto, com algumas exceções, a população estudada apresentou resultados positivos, tanto quanto aos indicadores antropométricos quanto à freqüência de atividade física.
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