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Efeitos da atividade física no tratamento de 

dependentes químicos: uma revisão de literatura

Efectos de la actividad física en el tratamiento de drogodependientes: una revisión de la literatura

 

Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas

Graduanda em Fisioterapia pela Universidade Católica de Pelotas

Especialista em Educação Física Escolar pela Universidade Federal do Rio Grande

Especialista em Atividade Física Adaptada e Saúde pela Universidade Gama Filho

Graciele Ferreira de Ferreira

gracipersonal@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A todo o momento novas drogas estão surgindo e a cada dia cresce o número de jovens usuários. Elas são oferecidas insistentemente a usuários experimentados e ao mesmo tempo tentam conquistar novos dependentes. O termo droga é definido como uma substância entorpecente, alucinógena ou excitante, ingerida, em geral, com a finalidade de alterar transitoriamente a personalidade. O presente trabalho tem por objetivo enfatizar através da revisão de literatura os efeitos, tanto psicológicos como fisiológicos, que a atividade física tem no processo de recuperação do dependente químico, ela serve tanto para reabilitação e prevenção de doenças crônicas como para a melhora da qualidade de vida desses pacientes, proporcionando-lhes prazer e bem-estar.

          Unitermos: Dependência química. Drogas. Atividade física. Qualidade de vida.

 

Abstract

          Every moment new drugs are emerging, and the number of young users has been increasing daily. These drugs are insistently offered to experienced users and the same time they have been conquering “new preys”. The term drugs is defined as a narcotic, hallucinogenic or exciting substance, usually ingested with the objective to temporarily disrupt personality. By the use of literature review, the objective of the present work is to emphasize the physiological and psychological effects that physical activity has in the recovery of drug addicts. Physical activity can help the rehabilitation and the prevention of chronic diseases while it improves the quality of life of these patients, giving them pleasure and well-being.

          Keywords: Chemical dependence. Drugs. Physical activity. Quality of life.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a drogadição é determinada como uma doença fatal e caracteriza-se como uma anormalidade metabólica causada pelo consumo excessivo de substâncias psicoativas que influem incisivamente no físico e no psicológico dos usuários. Representa um enorme problema não só para o indivíduo que está usando, que na maioria das vezes está insatisfeito com sua vida, mas também para a sociedade em geral, pois esta doença exerce um impacto subestimado sobre os custos econômicos sociais, além, de intervir e desestruturar a vida de todos que estão a sua volta (SERRAT, 2001).

    Segundo GIGLIOTTI E BESSA (2004) a dependência química é uma das doenças psiquiátricas mais frequentes da atualidade e representa um grave problema de saúde pública. Na fase da juventude, os jovens buscam prazer em coisas novas, querem explorar diferentes tipos de diversões e essa vontade parece não cessar nunca. Em um determinado momento de suas vidas acabam conhecendo aquele que irá apresentá-lo a tão temida substância química, e a partir desse momento sem se dar conta, acaba-se criando mais um dependente químico.

    O presente trabalho tem por objetivo enfatizar através da revisão de literatura os efeitos, tanto psicológicos como fisiológicos, que a atividade física tem no processo de tratamento do dependente químico.

Atividade física no processo de tratamento

    É extremamente difícil quantificar, exatamente, a dimensão dos prejuízos psicológicos e fisiológicos decorrentes do uso crônico de uma substância psicoativa, entretanto, levando em consideração o tipo e o tempo de uso, de acordo com a literatura, é possível prever as alterações que elas podem causar ao organismo humano.

    LARANJEIRA (2003) relata que o uso de drogas psicotrópicas resulta em envelhecimento precoce, sendo como as principais consequências desse processo o estado geral da saúde psicológica (sintomas da abstinência, como ansiedade, irritabilidade, distúrbios do sono), o estado geral de saúde física (sintomas da abstinência, cardiopatias, angiopatias, pneumopatias, miopatias, endocrinopatias, neuropatias); o nível de condicionamento físico e da capacidade de trabalho; o estilo de vida atual e atividades praticadas anteriormente.

    As drogas podem ser classificadas em diferentes categorias de acordo com suas características, efeitos e alterações que as mesmas causam ao organismo.

    As drogas Psicotrópicas são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que têm tropismo pela mente e que modificam a atividade psíquica e o comportamento, apresentando efeitos depressores, estimulantes ou perturbadores. Os efeitos agudos e crônicos dependem do tipo, quantidade, qualidade, via de administração, combinações, efeito esperado e ambiente, dentre outros (CEBRID, 2006).

    As drogas Psicotrópicas são subdivididas em Psicolépticas ou Depressora, Psicoanalépticas ou Estimulantes e Psicodislépticas ou Pertubadoras que ainda podem ser de caráter Naturais ou Sintéticas.

    As drogas Psicolépticas ou Depressoras podem ser chamadas de sedativas, pois deprimem o Sistema Nervoso Central e ativam o circuito da recompensa, esse grupo é composto pelo o álcool, pelos hipnóticos, pelos ansiolíticos, pelos analgésicos, pelos narcóticos e pelos solventes; já drogas Psicoanalépticas ou Estimulantes têm efeito contrário ao das drogas depressoras pois estas aumentam a atividade do sistema nervoso central; fazem parte desse grupo a cocaína, o crack, as anfetaminas, a nicotina e o ecstasy; e por último o grupo das drogas Psicodislépticas ou Pertubadoras Naturais que abrange a maconha, os cogumelos, mescalina; e as Pertubadoras Sintéticas que são compostas pelo LSD e anticolinérgicos. Essas drogas afetam o sistema nervoso central o que precipita outras alterações funcionais do organismo. (CEBRID, 2006)

    Tem-se conhecimento de que praticar atividade física ajuda na melhora da qualidade de vida do indivíduo, pois além de proporcionar ganhos fisiológicos também contribui para o seu bem estar mental.

    A atividade física faz com que o organismo adapte-se a um patamar maior de exigência e de capacidade de resposta. Se observarmos as pessoas em tratamento para dependência química, existe um processo contínuo desde a fase inicial, que se caracteriza pela limitação, pela perda progressiva da capacidade de adaptar-se, de responder a uma sobrecarga física ou mental, seja do cotidiano, seja uma sobrecarga artificial ou incomum, como sua exposição a doenças provenientes do uso de substâncias psicoativas. Ela varia de intensidade e duração respeitando a individualidade biológica de cada indivíduo, causando-lhes um estado de relaxamento tanto psíquico quanto somático (ROEDER, 1999).

    Nessa linha SANTOS (1994), ressalta que o corpo humano se adapta ao estresse provocado pelo exercício através de um rápido ajuste metabólico, que é coordenado pelo sistema nervoso e endócrino necessários para a manutenção da homeostase nos diferentes graus de exigência metabólica da atividade.

    A prática de atividade física está associada á liberação de substâncias, uma delas é a endorfina, ela age no cérebro proporcionando-lhe estado de prazer e relaxamento. (SHER, 2001).

    Diante deste fato, tanto o uso de drogas como a prática de diferentes atividades produzem sensações de prazer, representada pela liberação de adrenalina (CAILLOIS, 1994). A adrenalina é como a droga, ela vicia e isso faz com que o indivíduo busque cada vez mais sentir essa sensação, repetindo assim as atividades que suprem tal necessidade. Logo após a sensação de adrenalina entram em cena as endorfinas, que trazem uma sensação de relaxamento e bem-estar.

    Ao usar uma substância psicoativa, podem ocorrer alterações tanto agudas, ou seja, logo após o uso, como crônicas, nesse caso ocorrem durante um tempo da utilização da droga.

    Os danos fisiológicos causados ao organismo são inúmeros e seu grau de intensidade varia de acordo com a substância usada. Doenças respiratórias tais como rinite, sinusite, asma e síndrome pulmonar aguda acompanhada de outras alterações como aumento da freqüência cardíaca, da pressão arterial, tosse sanguinolenta e transtornos dos movimentos são algumas das alterações sofridas pelo uso da droga (BRUM, 2004).

    Visto que o consumo de substâncias psicoativas trazem consigo enormes alterações fisiológicas ao organismo é de suma importância que ao iniciar um programa de atividades o indivíduo passe por uma bateria de questionários, a fim de estruturar melhor de acordo com a necessidade e limitações apresentadas por cada um.

    Os estudos nessa área ainda são carentes de informações sobre a verdadeira relação entre a dependência e a atividade física. Levando em consideração os benefícios que a mesma proporciona, a atividade não deve ser realizada de maneira exaustiva, e sim de forma recreativa, pois o objetivo é fazer com que o individuo no mínimo que seja sua intensidade, pratique algum tipo de atividade, a fim de proporcionar-lhe mais do que ganhos fisiológicos, como manutenção da PA e da FC, melhora da capacidade funcional respiratória, da vascularização e diminuição da fadiga central, fazer com que o mesmo tenha momentos de prazer e lazer.

    Relacionando à prática de atividade ao tratamento de dependentes químicos MIALICK, FRACASSO E SAHDM (2010) realizaram um estudo com o intuito de analisar os efeitos da atividade fazendo parte de um programa de tratamento para dependentes químicos entre 18 e 35 anos. A amostra do trabalho realizado foram 30 jovens do sexo masculino que estavam em tratamento em uma comunidade terapêutica no interior de São Paulo – SP.

    No estudo, 30% dos indivíduos praticavam caminhadas, jogos recreativos e alongamentos, 17% fizeram apenas alongamentos, outros 17% participaram de caminhadas e alongamentos, 13% optaram pelos jogos, yoga e alongamentos, ainda nessa mesma porcentagem teve o grupo que optou por realizar todas as atividades propostas e o grupo mais velho, que representou 10% da amostra, optou por caminhadas, alongamentos e yoga.

    Um fator importante que pôde ser observado nesse estudo foi que ao iniciar o programa apenas 7% se mostravam altamente motivados e no término do programa 30% estavam motivados para continuar a prática das atividades. Ao final do estudo pode-se concluir que a atividade física auxilia de forma contundente no tratamento de dependentes, as autoras afirmam que sem as substâncias químicas no organismo, o dependente precisa suprir a falta das mesmas, nada melhor do que a pratica de atividade física, já que esta gera uma sensação de prazer, bem-estar físico e mental e ainda ajuda na manutenção sobriedade dos usuários.

    Evidências apontam para uma relação positiva da atividade física com a qualidade de vida e vitalidade (ABU-OMAR, RUTTEN e LEHTINEN, 2004). Além disso, a atividade física parece estar associada com melhoras no bem estar, auto-estima, auto-eficácia, encorajando e gerando pensamentos, sentimentos positivos que servem para contrariar o humor negativo (ROEDER, 1999). No entanto, o conhecimento sobre a atividade física e humor é ainda limitado, não sendo possível definir a relação de causa e efeito ou descrever em detalhes os mecanismos psicológicos e fisiológicos subjacentes a esta associação (PELUSO E ANDRADE, 2005).

    Segundo um estudo realizado por SALGADO et al (2009) com pacientes fumantes, mostrou que aqueles que eram instruídos a se absterem do cigarro por um dia tiveram rápidas reduções na vontade urgente de fumar quando faziam caminhadas “de baixa intensidade” ou seja, eles mesmo estipulavam seu próprio ritmo, por pelo menos 15 minutos. Esse estudo mostrou que caminhadas não apenas reduziram a vontade de fumar como também diminuíram os sintomas de abstinência, além de aumentarem o tempo em que o paciente deixava de fumar.

    Os autores afirmam que o exercício tem sido recomendado como suporte para parar de fumar, principalmente devido ao ganho de peso e o medo de ganhar peso após a cessação do uso.

    Infelizmente, os estudos que procuraram avaliar os efeitos do exercício com o propósito de ajudar na recuperação mostraram efeitos diversos no parar de fumar, além de que também apresentou um papel importante no enfrentamento de sintomas decorrentes da retirada do tabaco, como o aparecimento da depressão, ansiedade, irritabilidade e déficit de atenção.

    Os resultados dos estudos realizados por SALGADO et al (2009) mostraram uma diminuição significativa no desejo intenso de fumar durante ou até mesmo após a atividade física.

    TAYLOR, USSHER E FAULKNER (2006) também realizaram um estudo com tabagistas e puderam concluir que andar de bicicleta com um índice de frequência cardíaca de reserva de 40 a 60% durante 5 minutos reduz o desejo de fumar comparado com andar de bicicleta com uma frequência de 10 a 20%. Comparando indivíduos em condição passiva e em atividade física mostraram diminuição em pelo menos dois dos sintomas de abstinência durante a após a atividade. Os autores ressaltam que os efeitos do exercício físico são perceptíveis após períodos breves ou mais longos de abstinência. Em relação ao estado de humor concluíram que há uma redução importante na ansiedade e melhora do humor no período de abstinência após a prática de atividades físicas e também é capaz de diminuir afetos negativos (tristeza, raiva, angústia), mas não ocorre o mesmo com os afetos positivos.

    MIALICK ET AL (2010) afirma que a atividade física pode auxiliar de forma contundente no tratamento para a dependência química, pois sem as substâncias psicoativas no organismo, o dependente precisa suprir a falta desta, e nada melhor do que a prática da atividade física que é uma ação que gera sensação de prazer, bem-estar físico e mental, possibilitando ainda ao indivíduo reiniciar um ciclo de amizades saudáveis, tendo sempre em mente a manutenção de sua sobriedade. O sucesso desta mudança poderá ser observado no decorrer do tempo à medida que a pessoa estruturar um novo estilo de vida, integrando a mudança em nível de missão e valores.

    A atividade física trabalha diretamente no treinamento do autocontrole, onde o individuo irá aprender a se controlar (sem ajuda externa) nas situações extremas e difíceis do tratamento e da vida diária, a fim de evitar reações psicofísicas exageradas e comportamento social inadequado e agressivo (MIALICK, FRACASSO E SAHD, 2010).

Considerações finais

    A atividade física proporciona inúmeros benefícios à saúde do praticante, além de contribuir para as melhoras fisiológicas, como diminuir frequência cardíaca de repouso, pressão arterial, melhorar a vascularização, diminuir a fadiga central e a capacidade funcional ela também é importante no controle da ansiedade e da depressão.

    Existem poucas referências na literatura acerca dos benefícios da atividade física na melhora dos prejuízos causados pelo uso de drogas psicotrópicas ao nível do sistema nervoso, mas sabe-se que a sensação de bem estar e relaxamento que a atividade gera influência de maneira positiva no estado psicológico dos usuários.

    Cabe ressaltar que a participação de equipes de saúde na prevenção do uso de substâncias psicoativas na comunidade, no tratamento da dependência e na orientação a usuários ou familiares vem crescendo a cada dia. Uma vez que esses profissionais têm contato direto com os usuários de drogas que buscam tratamento e informações atualizadas sobre as diferentes substâncias psicoativas. Nesse sentido, é importante conhecer a situação de uso, abuso ou dependência de drogas, bem como o perfil dos usuários que procuram atendimento, para que se possa planejar e executar programas que contemplem as reais necessidades de cada usuário.

Referências bibliográficas

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