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As dificuldades podem estar além da Educação Física

Las dificultades pueden estar más allá de la Educación Física

 

*Acadêmico do 7º período do Curso de Licenciatura

em Educação Física da Univali – Campus Biguaçu, SC

**Professor-Orientador da disciplina Estágio Supervisionado: Pesquisa

da Prática Pedagógica, 7º período do Curso de Licenciatura

em Educação Física da Univali-Campus Biguaçu-SC

Eduardo de Faria*

Michelli Lessa*

Marcos Cordeiro Bueno**

dudueducacaofisica@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo foi realizado a partir da experiência na disciplina estágio supervisionado de pesquisa investigativa da prática pedagógica do 7º período do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Vale do Itajaí, campus Biguaçu. Tínhamos como objetivo ampliar as possibilidades do movimentar-se dos alunos do ensino médio da Escola pesquisada (escola de uma rede estadual de Florianópolis-SC, Brasil), utilizando-se do conteúdo estruturante jogos para compreender e discutir os sentidos/significados dessas experiências buscando a construção coletiva de autonomia do grupo. A pesquisa foi realizada com observações participantes, intervenções, seguindo plano de ensino e de ação; o instrumento de análise utilizado foi o estudo descritivo e exploratório e tendo como referências metodológicas a pesquisa qualitativa de caráter interventivo. Decidimos utilizar os jogos, um dos conteúdos da Educação Física, como estratégia para descontruir a esportivização, nas aulas do ensino médio, ou seja, as modalidades esportivas tais como vôlei e, sobretudo o futsal, que de acordo com nossa pesquisa são aplicados e praticados de maneira exacerba, alienada e excludente. Os resultados encontrados nesta pesquisa evidenciam que entre tantos problemas que deslegitimam as aulas de Educação Física no ensino médio, ainda deparamos com o problema de horário das aulas no período noturno, que em seu último período tinha a duração de apenas trinta minutos.

          Unitermos: Ensino médio. Educação Física. Jogos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    São visíveis ainda nas escolas, principalmente nas aulas de Educação Física Escolar, ações de preconceitos e discriminação, a velha e simples escolha de alunos para formar equipes é uma delas, na qual a seletividade é constante e repetitiva, tornando-se agressiva e marcante para aqueles que sempre são as ultimas escolhas, muitas vezes por não saber jogar determinada modalidade esportiva.

    De caráter competitivo e hegemônico os esportes sobressaem nas aulas de Educação Física Escolar, refletindo na exclusão de muitos (não hábeis) e seleção de poucos (os mais hábeis). O esporte uma prática caracterizada por valorizar a técnica e a habilidade individual, que exclui, e desestimula a grande maioria dos alunos, por mais que apresente alguns aspectos negativos, continua sendo o conteúdo mais aplicado e praticado nas escolas, destacando-se como “carro chefe” das aulas. Para Kunz (1994) o esporte desenvolvido atualmente com o objetivo do alto rendimento, possui uma série de problemas, como a sobrepujança e as comparações objetivas.

    E por percebermos que outros conteúdos continuam sendo negados (jogos, danças, ginástica e lutas) em virtude da dominação dos esportes na aula de Educação Física Escolar, sendo qualificada por muitos como sinônimos, é que optamos por investigar os “jogos” como temática para nossa pesquisa.

    Segundo Daólio (1996, p.41)

    É comum ouvirmos pessoas adultas falando de sua experiência de Educação Física com muita tristeza ou com muita raiva. Pessoas que ficaram à margem das aulas, e que não possuem hoje autonomia para usufruir da cultura corporal.

    Para Kunz (1994, p. 119)

    o esporte ensinado nas escolas enquanto cópia irrefletida do esporte competição ou de rendimento, só pode fomentar vivências de sucesso para uma minoria e o fracasso ou vivência de insucesso para a grande maioria.

    Nesse sentido, vimos que a Educação Física na perspectiva esportivizada, será a autora e promotora de atos excludentes e discriminatórios, porém aplicada de maneira consciente, autônoma e reflexiva, torna-se uma grande aliada na formação integral do aluno. De acordo com a Proposta Curricular de Santa Catarina

    O professor deve assumir a Educação Física como ação pedagógica consciente e comprometida com a totalidade do processo educativo, o qual, emergindo do social, a ele retorna numa ação dialética. Para tanto, é necessário que esta ação seja norteada por uma concepção clara de mundo, homem, sociedade e educação que se pretende, onde o movimento humano, como instrumento de transformação social, deverá ultrapassar o corporal individual e chegar à vivência coletiva. Nesta convivência, da qual ninguém deve ser excluído, o aluno passará a reconhecer a importância da Educação Física como um meio prazeroso de aprendizagem e desenvolvimento. (PROPOSTA CURRICULAR DE SC, 1998.)

    Ao sugerir os jogos pensamos em possibilitar mais alternativas de movimentos, que seriam vivenciadas de maneira divertida, autônoma e inclusiva.

    Como problema de pesquisa, o projeto apresentou a seguinte questão: de que maneira os jogos poderiam contribuir na transformação dos alunos do ensino médio da escola pesquisada, quanto ao modo de participar das aulas de Educação Física, com interesse e seriedade, respeitando as diferenças e dificuldade dos colegas?

    A Educação Física, não se define ao simples exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim, em desenvolver o indivíduo de forma integral ,ou seja, é dever do docente garantir o acesso a todos os alunos as atividades, sugerir atividades direcionadas, que excitem a colaboração, autonomia, diálogo e respeito, onde se aprende a considerar o colega como um aliado, um amigo, em vez de tê-lo como adversário.

    Com a evolução da sociedade e as influências históricas, políticas e econômicas, atualmente o jogo vem sendo esquecido ou aplicado e praticado nas escolas com propósitos de iniciação esportiva, ausentando-se de sua essência, jogar pelo prazer e diversão, na qual as regras poderão ser modificadas e alteradas, conforme a objetividade dos participantes ou do docente. Quanto à importância ao conceito de jogo Huizinga (1996, p.33) coloca que:

    o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias dotados de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”.

    Para Brotto (1999, p.28)

    O jogo é importante para o desenvolvimento em todas as idades. Ao jogar não representamos simbolicamente a vida, vamos além. Quando jogamos estamos praticando direta e profundamente, um exercício de coexistência e de re-conexão com a essência da vida.

    Soler (2006) coloca que através do jogo

    Podemos buscar alcançar diversos objetivos educacionais e de uma forma prazerosa e divertida. É importante ir além das regras de táticas e técnicas presentes no jogo. Devemos sempre reforçar a importância da compreensão; não basta jogar, tem que compreender o que acabou de ser fazer. [...]. A reflexão sobre a ação é fundamental para que se possa estabelecer uma ponte entre o jogo da escola e a vida prática (2006, p.49).

    Como vimos os jogos possuem um papel importante da vida dos indivíduos, pois estão ligados a diferentes aspectos, culturais, sociais, emocionais, morais. Além de serem fundamentais para a formação do ser humano.

Estratégias teóricas metodológicas

    A instituição educacional na qual ocorreu a pesquisa foi uma Escola Pública de Ensino Médio do Município de Florianópolis-SC. O público alvo foram os 16 alunos do 3º ano do ensino médio noturno, sendo Dez meninos e Seis meninas na faixa etária entre 17 a 18 anos de idade.

    A metodologia adotada para a pesquisa foi caracterizada como qualitativa, realizada através do estudo descritivo-exploratório, e de caráter interventivo, com o entendimento que defende o processo de ação-reflexão-ação ao longo da produção do conhecimento. Segundo Minayo (1996, p.21-22):

    A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

    Estaremos subsidiados pelo plano de ensino e planos de ações, tendo como instrumento de análises o estudo descritivo, exploratório, perspectivando a mudanças na realidade daquele grupo a partir de nossas intervenções, uma vez que, acomodados à prática dos esportes, inconscientemente negavam outras propostas da Educação Física.

    Os dados coletados ‘gestos, ações e falas de alunos’ foram armazenados e posteriormente analisados conforme o método de análise proposto por Minayo (1996), que são divididos em:

    Efetivamos a pesquisa em seis encontros, dentre os quais, os dois primeiros ocorreram como observações participativas, uma aula diagnóstica e o restante com intervenções realizadas em duplas.

    Seguindo um cronograma, plano de ensino e os planos de ações, tínhamos como finalidade nesse projeto a socialização e integração entre os alunos e a vivência em outras práticas da cultura do movimento, porém o que se configurou a partir da prática foi o problema de horário das aulas no período noturno, temática que será exposta ao longo de nossa análise.

Análise e discussão dos resultados

    Buscando uma compreensão maior de nossas intervenções, nesse texto consta a análise dos resultado das seis intervenções com o 3º ano do ensino médio.

    Ao analisarmos as atuações percebemos que algumas questões possivelmente inibiram e prejudicaram o processo de pesquisa tais como:

Esporte como único conteúdo da Educação Física

    Durante o processo de observações, percebemos que no contexto histórico da Educação Física nessa instituição, os esportes (vôlei e futsal) eram conteúdos predominantes das aulas, habituando os alunos a prática de atividades individualistas e competitivas. Os alunos eram os próprios mediadores das aulas, estabeleciam as regras, ou seja, excluíam os menos habilidosos.

    As meninas, que eram em menor número, raramente participavam das aulas, acomodavam-se na arquibancada, estando ali, apenas pela presença na chamada.

    A turma era composta por dezesseis alunos, mas durante todo o processo de pesquisa, nunca presenciamos esses dezesseis alunos no ginásio, no máximo que vimos, foram doze deles, sendo que nove participavam das aulas com assiduidade.

    Ainda que, existam pesquisadores e professores de Educação Física, que lutam por uma Educação Física escolar transformadora, na qual o aluno através do se movimentar, expresse, construa e discuta juntamente com professores e seus pares, questões sociais, princípios e valores; E que desta forma torne-os conscientes de suas ações, potencializando-os para afrontarem os desafios cotidianos do mundo moderno; Mesmo assim, o esporte, destaca-se como fenômeno dominador, que seleciona os alunos por gênero e competência, sufocando os demais conteúdos das aulas de Educação Física.

    Kunz (1991, p.66) em sua obra Educação Física: Ensino e Mudanças, coloca que os conhecimentos que entende como conteúdos das aulas de Ed. Física são os da “cultura do movimento humano”, sendo eles os jogos, dança, ginástica, esporte e as lutas.

    Ao aplicarmos os jogos no ensino médio, acreditávamos que além de ampliarmos as possibilidades do movimentar-se, também resgataríamos atividades e movimentos que foram esquecidos e substituídos pelas técnicas e táticas esportivas. A proposta não era extinguir as atividades esportivas, mas sim resgatar atividades que foram perdidas e proporcionar outras vivencias aos alunos.

Articulação de horários refletindo na Educação Física

    Quanto ao funcionamento do horário da Escola, segundo o Diretor a instituição apresentava um horário especial de atendimento, das 18h: 30min às 21h: 40min, devido a necessidade de adequar-se ao ultimo itinerário do transporte do bairro Serrinha, local de moradia de muitos alunos.

    No art. 8º, item V do projeto político pedagógico (2009, p.108) desta unidade está escrito que: “compete ao Diretor, estudar e propor alternativas de solução, ouvidas, quando necessárias, as entidades escolares, para atender situações emergenciais de ordem pedagógica e administrativa”.

    Porém, com as articulações da carga horária da escola, as aulas de Educação Física do horário correspondente às terças-feiras sofreram algumas alterações, sendo organizadas da seguinte maneira: As duas primeiras aulas tinham duração de 40 minutos cada e correspondiam ao horário da Turma do Segundo Ano; A terceira aula tinha duração reduzida para 35 minutos e correspondia a turma do Primeiro Ano. A última aula tinha duração de apenas 30 minutos que correspondia ao horário da turma do Terceiro Ano. E foi nesta última turma que desenvolvemos nosso estágio, sendo as demais turmas direcionadas para as outras duplas de estagiários.

    Buscando subsídios para compreender as questões da carga horária de trabalho escolar, a lei complementar nº 170/98/CEE/SC,p.175 afirma que: “no período noturno, 5 (cinco) aulas de 40 (quarenta) minutos no ensino médio, e que a escola, dentro de seu PPP e regimento, fica assegurada autonomia para dispor sobre outra forma de organização da carga horária legal na grade curricular”.

    A partir da resolução compreendemos que as alterações da carga horária escolar, são procedimentos legais, tendo o gestor livre arbítrio para decidir.

    Pensamos então que, se o gestor possui tal autonomia, porque não ajustar, de maneira, que não interfira e deprecie as disciplinas curriculares?

    A desarticulação do PPP da escola, tendo seus horários reduzidos nas ultimas aulas e sua relação com a especialidade da educação física, disciplina esta que demanda um tempo de deslocamento até o local próprio para sua prática, findou por prejudicar e muito nosso estágio. Isto nos leva a entender que a organização do horário da escola não levou em consideração a especificidade da aula de EF, apenas a problemática privada do horário da empresa de transporte coletivo.

    Uma forma que possivelmente resolveria o problema de horário da escola caberia ao gestor, juntamente com o grupo pedagógico, exigir dos órgãos públicos, um horário alternativo do transporte, ou mesmo uma linha especial para a demanda de alunos. Fizemos um levantamento na escola, onde no período noturno, a escola atende apenas quatro turmas do ensino médio, totalizando em 80 alunos, sendo que destes, 40% são residentes da serrinha, o que nos leva a presumir que apenas um transporte seria o suficiente para comportá-los

    De acordo com Darido, et al (1999, p.142), a desvalorização da educação física é o reflexo da predominância do interesse do mercado de trabalho.

    A Ed. Física, no ensino médio acaba competindo no que diz respeito a busca por uma definição profissional. A preocupação em investir no futuro, muitas vezes representado pelo vestibular, vai se tornando uma exigência cada vez maior pela sociedade. Por isso, as expectativas acerca da Educação Física, quando existentes, ficam em segundo plano.

    É inegável que exigência de mão de obra no mercado de trabalho, incentiva cada vez mais, a instituição educacional em preparar, classificar e aprovar o aluno nos vestibulares, a mesma entende, que Ed. Física não é importante, uma vez que, seus conteúdos não são cobrados nos vestibulares A sociedade precisa compreender que Educação Física trabalha aspectos muito mais importantes, tais como: a autonomia, afetividade, sociabilidade e criatividade, e que certamente serão muitos significantes na formação de um indivíduo.

Distanciamento-Deslocamento: situações que limitaram as intervenções

    A cada encontro, fomos constatando que era habitual os atrasos para a aula de Ed.Física, de modo que os alunos levavam aproximadamente quinze minutos para chegarem ao ginásio, sem falar da evasão, desde as observações já havíamos percebido como o número de alunos era reduzido. Numa turma de 16 alunos, era algo incomum você ver todos no ginásio para a aula de educação física, sendo que, desse grupo, apenas nove deles participavam e demonstravam interesse pelas atividades.

    Em um de seus artigos, sobre o despertar do interesse dos alunos, Kunz (1999, p. 66) coloca que:

    Se o aluno é o alvo central para planejarmos nosso método de ensino, temos de conhecê-lo melhor [...].Os professores precisam conhecer os interesses dos alunos e compreendê-los melhor a partir destes.

    Percebíamos, que a nossa preocupação não deveria estar voltada apenas quanto à participação e interesse dos alunos nas aulas, como também ao tempo reduzido dela. A distância entre a sala de aula e o ginásio, e a aula de Ed. Física sendo aplicada no último horário da escola fomentou outras situações, tais como a evasão das aulas, uma vez que, muitos aproveitavam o trajeto que seria para o ginásio, para irem embora.

    Conforme a resolução nº170 (1998, p.175), a carga horária no período noturno ficou estabelecida em 40 minutos, de fato um tempo extremamente limitado, pois a prática pedagógica torna-se mais consistente quando existe o diálogo entre alunos/ professor, onde os mesmos expõem suas satisfações e insatisfações. Do mesmo modo Kunz (1999, p.69) coloca que uma formação critico-emancipatória do aluno, só pode ser alcançado, com base em um agir comunicativo. “Educar é, acima de tudo, um ato dialógico, comunicativo”.

    A concepção crítico-emancipatória precisa, na pratica, estar acompanhada de uma didática comunicativa, que se orienta pelo desenvolvimento de uma capacidade questionadora e argumentativa consciente do aluno sobre os assuntos abordados em aula. (RONCH 2010, p.25 apud KUNZ, 1994).

    Considerando que quarenta minutos é um tempo insuficiente para concretizar os objetivos de uma aula, imagine que nos deparamos com intervenções pedagógicas de 30 minutos, sendo que, além da limitação do horário, os alunos durante o trajeto sala - ginásio, levavam de 10 a 15 minutos para chegar no ginásio, resultando em intervenções de 20 minutos. Nesse sentido, problematizar antes ou depois das atividades tornou-se algo impraticável em nossas intervenções, apesar de que era um de nossos principais instrumentos de avaliação.

    Entre tantos problemas já mencionados anteriormente, outro que desconfigurava nossas intervenções, foi a falta de professores de outras disciplinas curriculares, com a ausência destes, as aulas de Ed.Física precisavam ser adiantadas, situações que pareciam ser comum na instituição. As palavras de uma aluna confirmam as ausências . Ao perguntar se era comum professor (a) faltar, a aluna “X” falou: - “isso é normal aqui, os professores sempre faltam, a aula de Ed. Física é sempre adiantada, aí temos que fazer a aula junto com outra turma”.

    Conforme o calendário escolar, nossa intervenção iria sempre ocorrer no último horário da escola, porém durante o início de uma de nossas intervenções fomos informados pelo diretor e a professora de educação física que a turma do terceiro ano, nossos alunos, teriam que fazer a aula com o segundo ano, alunos da outra dupla de estagiários, por consequência da ausência da professora de Português. Cabendo a nós estagiários, naquele momento ajustar as estratégias para que pudéssemos inserir as duas turmas no mesmo espaço, e que eventualmente nenhuma dupla viesse a ser prejudicada na intervenção.

Nem tudo está perdido!

    Como mencionado anteriormente, o propósito das intervenções era ampliar as possibilidades de se movimentar através dos jogos, como também resgatar movimentos e atividades que foram esquecidas e substituídas pelas técnicas esportivas.

    Na primeira visita de observação da aula de Educação Física na escola pesquisada, a primeira impressão foi negativa. Buscando alguns esclarecimentos sobre os comportamentos e anseios dos alunos, a professora relatou que os mesmos só querem jogar futebol recusando outras atividades, a mesma desabafou que é obrigada a se adequar aos alunos para conseguir dar a “aula”, diz que não se sente valorizada e que é “refém” deste sistema. Em conversa perguntamos sobre as turmas, a professora mencionou que algumas são bem mais tranqüilas que outras, e que, deveríamos optar pelo terceiro ano, pois segundo ela, os alunos eram educados e certamente iriam aceitar e participar de nossas intervenções. Por sugestão e pelo que realmente vimos durante as observações, os alunos do terceiro pareciam ser mais tranquilos, e que possivelmente conseguiríamos realizar nossas intervenções com eles.

    Na primeira intervenção, pensamos que o mais importante naquele momento era gerar confiança e socialização entre alunos e professores, esse foi o propósito da aula, o de estabelecer uma relação mais estreita entre nós estagiários e os alunos.

    Ao chegar ao ginásio, os alunos não foram em direção a bola, como de costume, desta vez acomodaram-se na arquibancada, aguardando nossas orientações. Assim que todos chegaram, falamos sobre nossa proposta, explicando pra eles, que não tínhamos intenção de excluir as modalidades esportivas futsal e vôlei, mas que nossa pretensão a partir daquele momento seria fazer com que eles experimentassem outras atividades, ou seja, outro conteúdo da Educação Física.

    Como estratégia, aplicamos na aula, o futsal de trave móvel, onde dois alunos seguravam um cabo de vassoura e formavam a trave, e o jogo de futsal acontecia normalmente, sendo que a trave “os alunos com o cabo de vassoura” se movimentavam dentro da área, assim fugindo da bola e evitando o gol, pois, sendo a primeira intervenção, não queríamos tirar repentinamente algo que eles estavam habituados, então pensamos em usar algo que eles já conheciam, porém com algumas adaptações.

    Apesar de persistirmos, no inicio nem todos participaram, mas quando a atividade começou a desenvolver, aqueles que não queriam participar desceram da arquibancada e se dispuseram a jogar, inclusive as garotas, que até então no período de observações não tínhamos visto nenhuma participação nas aulas.

    Não conseguimos a participação de toda a turma, mas foi gratificante, pois aqueles que estavam ali conosco, realizaram a atividade com seriedade e empenho.

    Ao terminar a aula, agradecemos a participação da turma, alguns alunos também nos agradeceram, comentamos que pretendíamos trazer algo diferente pra eles na próxima aula, uma atividade fora do contexto do futsal, naquele instante, não houve nenhum tipo de resistência ou negação, dando a entender que nas próximas intervenções eles iriam participar.

    Assim que os alunos saíram, fomos ao encontro da professora, a mesma perguntou como tinha ocorrido a intervenção, comentamos que os alunos eram tranquilos e que a grande maioria participou, nesse meio tempo uma aluna (Y) que estava bebendo água, falou: - “professora a aula foi bem legal”, a professora sorriu, e então nos disse: - “que bom!, não falei que essa turma era tranquila, que iriam topar em fazer as atividades numa boa, pois eles estão cientes que vocês estão aqui apenas por um tempo, por isso aceitam as atividades de vocês” (Professora da Turma). Freire (1996), em pedagogia da autonomia, expõe a importância da competência profissional.

    O professor que não leva a sério sua formação, que não estuda que, não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de classe.[...].O que quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. (Freire, 1996, p. 56).

    Ao ouvir as palavras de contradição da professora, pensamos mais uma vez, se são os alunos ou os próprios professores que fazem valer a importância da Educação Física escolar? Se nós profissionais da área não apreciarmos e não darmos importância ao que fazemos, quem mais irá valorizar?

    Apesar do tempo disponível de aula ter sido escasso durante as intervenções, ficamos convictos que naqueles breves momentos de atuação, conseguimos fazer com que os alunos vivenciassem outras atividades, visto que muitas vezes não mencionaram um minuto se quer, o futebol.

Considerações finais

    Acreditamos que os problemas que a cercam a Educação Física escolar no ensino médio do período noturno estão para além da disciplina, começando pelo poder publico que não oferece transporte após o termino das aulas, assim tendo que o diretor reduzir os horários, prejudicando com as intervenções dos professores.

    Desaponta-nos quando escutamos de alunos que a falta de professores é “normal” naquela instituição, passando um sentimento de descaso com a Educação, na busca de elementos para a compreender estes alunos, nos deparamos com a professora que desabafa quando fala de sua profissão, tendo ela que se adaptar ao sistema do “jogar bola”, pensamos que o professor é fundamental para que a educação noturna possa ser de qualidade, e não deixar que desqualifique ainda mais, pois o que nos parece, é que o descaso passa dos muros da escola, os salários precários dos professores e escolas que recebem poucos investimentos são um deles, podemos observar historicamente através das greves no decorrer dos anos. Por este motivo é que escola e comunidade não devem aceitar o que é “imposto” pelo sistema, como por exemplo ter que se adaptar aos horários dos ônibus, assim precisando reduzir os horários das aulas para que a comunidade escolar possa pegar a condução.

    Apesar destes problemas, podemos concluir que o esporte (Futsal e Vôlei) pode ser desconstruído com os jogos e brincadeiras, dando mais oportunidade para as meninas participarem, mas que não basta fazer um plano de aula, o professor precisa participar junto aos alunos desta aula, o simples fato do professor ir até a sala e receber os alunos e se dirigir até o ginásio já os valoriza e os deixam com sentimento de valorizados pelo professor, não deixando–os a mercê do caminho entre sala e ginásio, e dando a oportunidade de já cansados e desmotivados, a pegarem o caminho de casa.

    O professor precisa participar discutir e refletir com os alunos, mas para isso é preciso resolver um dos problemas que está alem da Educação Física, o horário escasso para tal atividade.

Referências

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