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A co-relação entre os tipos de agravos anti-rábicos notificados 

durante o período de 2010 no município de Montes Claros, 

MG e o tratamento dispensado no atendimento às vítimas

La correlación entre los tipos de lesiones antirrábicas notificados durante el período de 2010 

en el Municipio de Montes Claros, MG y el tratamiento realizado para la atención de las víctimas

 

*Enfermeira pela Universidade Severino Sombra (RJ)

Especialista em Saúde Pública e Gestão da Clínica

Atua na Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros/MG

**Enfermeiro pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (MG)

Pós-Graduando em Saúde da Família

***Enfermeira pela Universidade Federal de Minas Gerais (MG), Especialista em Saúde Pública

Professora da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

Diretora de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros/MG

Ludmila Pereira Macedo*

Patrick Leonardo Nogueira da Silva**

Rosangela Barbosa Chagas***

ludmilapmacedo@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Este estudo objetiva identificar a co-relação entre os tipos de agravos anti-rábicos notificados durante do período de 2010 no município de Montes Claros/MG e o tratamento dispensado no atendimento das vítimas. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa documental, de caráter descritivo com abordagem quantitativa. Este estudo foi realizado na Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Montes Claros no setor de Vigilância Epidemiológica através do Banco de Dados do SINAN (Sistema de Informação de Agravos e Notificação) – que fora acessado pela mesma Instituição e, conseguinte, tabulados na mesma. Resultados: Dentre 1925 atendimentos anti-rábicos realizados em Montes Claros/MG no ano de 2010, o tipo de exposição notificada e mais acometida pela população foi por mordedura, totalizando 1757 (91,27%) casos registrados seguidos das arranhaduras com 260 (13,50%) casos. Em relação ao tratamento dispensado para os casos acometidos, 1072 (55,68%) casos apresentavam a observação mais a vacina como o tratamento mais indicado, seguido somente da vacina, totalizando 381 (19,79%) casos. Conclusão: Através deste estudo, conclui-se que as ocorrências de agravos anti-rábicos notificados em Montes Claros/MG apresentaram índices bastante significativos quanto ao aumento da incidência da mesma na cidade fazendo-se necessário a intervenção imediata dos serviços de saúde.

          Unitermos: Notificação anti-rábica. Tipos de exposição. Tratamento dispensado. Vigilância epidemiológica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A raiva é descrita como uma antropozoonose, ou seja, uma doença humana que pode ser transmitida aos animais, cujo agente etiológico é o vírus rábico, um vírus de RNA encapsulado e de filamento único, pertencente ao grupo dos rabdovírus, transmitido aos seres humanos pela mordida tanto de mamíferos selvagens quanto de mamíferos domésticos. Apresenta um período de incubação que varia de algumas semanas podendo chegar ate um ano. A disseminação ocorre pela translocação do vírus do local da mordida até o sistema nervoso periférico, chegando ao sistema nervoso central, onde produz um quadro de encefalomielite aguda (BURTON & ENGELKIRK, 2005; RUBIN, 2006; SCHAECHTER et al., 2002).

    Os fatores epidemiológicos da raiva dependem do grau transmissibilidade do agente etiológico ao qual um indivíduo fora infectado a outro individuo imunologicamente susceptível, principalmente através da saliva. O período de incubação e desenvolvimento do vírus pode variar de 30 a 90 dias. No entanto, existem casos que o período de incubação é de poucos dias, e outros de até mais de um ano. O principal reservatório da raiva humana é o cão enquanto que para os herbívoros são os, morcegos, raposas e cães (SILVA et al., 2008).

    A convivência com animais de estimação traz inúmeros benefícios psicológicos, fisiológicos e sociais aos seres humanos, porém, a criação inadequada dada a muitos animais aumenta o risco de agressão às pessoas, além de possibilitar a transmissão de doenças (MUNDIM, SCATENA & FERNANDES, 2007).

    Dentre os fatores que contribuem para o aumento da agressividade animal destacam-se o número elevado de animais mantidos em residências particulares, a falta de higiene no lugar onde vivem os maus tratos a estes animais, o livre acesso dos mesmos às ruas e residências vizinhas, e a permanência dos animais em locais que dificultam sua movimentação natural (SCHOENDORFER, 2001).

    Sendo assim, este estudo objetiva conhecer os tipos de agravos anti-rábicos notificados durante o período de 2010 no município de Montes Claros/MG e a sua co-relação com o tratamento dispensado no atendimento às vítimas.

Material e métodos

Tipo da pesquisa

    Trata-se de uma pesquisa documental, de caráter descritivo com abordagem quantitativa.

    O estudo apresenta-se como pesquisa documental, pois o objeto de investigação está restrito a documentos podendo estes ser qualquer suporte que contenha informação registrada, formando uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou prova (APOLLINÁRIO, 2009).

    O mesmo também se caracteriza como descritivo, pois segundo Oliveira (2002), possibilita o desenvolvimento de um nível de análise em que se permite identificar as diferentes formas dos fenômenos, sua ordenação e classificação.

    A razão para se conduzir uma pesquisa com abordagem quantitativa, segundo Lakatos e Marconi (2003), é descobrir através da coleta de informações quantas pessoas de uma determinada população compartilham uma característica ou um grupo de características, sendo estas as variáveis da pesquisa.

Procedimentos

    Este estudo foi realizado na Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Montes Claros no setor de Vigilância Epidemiológica através do Banco de Dados do SINAN (Sistema de Informação de Agravos e Notificação) – que fora acessado pela mesma Instituição e, conseguinte, tabulados na mesma.

    Os dados relacionados ao estudo foram obtidos mediante as informações fornecidas pela Secretaria de Saúde, através do SINAN, no qual constavam informações quantitativas sobre os atendimentos anti-rábicos durante o período de 2010 no município de Montes Claros/MG. As informações do SINAN foram aquelas em que o registro dos atendimentos vacinais contra o vírus da raiva humana no município de Montes Claros/MG estava devidamente compreendido entre o período de Janeiro a Dezembro de 2010, sendo a coleta de dados realizada pelos funcionários da Vigilância Epidemiológica em Junho de 2011.

Análise estatística

    A análise estatística foi realizada por meio do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 18.0, expressando os dados obtidos em forma de gráficos e tabelas, possibilitando, desse modo, avaliar os casos de atendimento anti-rábico humano no município no ano de 2010.

Resultados

    No período de 2010, houve a notificação de 1925 casos de atendimento anti-rábico em todo o território local do município de Montes Claros/MG na qual foram estabelecidas as devidas condutas e intervenções considerando a situação mencionada.

    Dentre o total de casos notificados, a maior parte das mesmas, totalizando-se 1757 (91,27%), fora de vítimas que apresentava como causa de sua exposição ao agente anti-rábico a mordedura seguida da arranhadura, perfazendo um total absoluto de 260 (13,5%) notificações. Foram ainda notificadas outras formas de exposição, tal como o contato direto e a lambedura com 09 (0,46%) e 75 (3,8%) respectivamente, porém com menos frequência de notificações. Além destes, também foram notificadas vítimas sem relato da causa da exposição, sendo este classificado como ignorado/branco (Gráfico 01).

Gráfico 01. Notificações dos casos anti-rábicos no período de 2010 conforme o tipo de exposição das pessoas atendidas.

    Com relação ao tipo de tratamento dispensado às vítimas deste tipo de acometimento em se tratando da exposição anti-rábica e considerando o plano amostral descrito, dos 1925 casos notificados dos indivíduos acometidos por algum tipo de acidente rábico, a prevalência maior, com 1072 (55,68%), se deu na utilização de observação do agente agressor (cães e gatos, principalmente) mais a vacina anti-rábica, seguido apenas da utilização da vacina com 381 (19,79%), de forma a não realizar o acompanhamento ou observação do vetor (GRÁF. 02).

    Além desses, também foram notificadas, com menos frequência, outras formas de tratamentos dispensados tal como pré-exposição, dispensa de tratamento, observação do animal, soro mais vacina e esquema de reexposição, com 51 (2,64%), 26 (1,35%), 297 (15,42%), 67 (3,48%) e 06 (0,31%), respectivamente. Dentro desta pesquisa, levando em conta o tratamento dispensado às vítimas, ainda foram notificadas 25 (1,3%) vítimas na qual se classificou as mesmas como branco/ignorados.

Gráfico 02. Notificações dos casos anti-rábicos no período de 2010 conforme o tratamento dispensado às pessoas atendidas

Discussão

    A agressividade dos veículos condutores do vírus rábico tal como canídeos, felídeos, quirópteros, eqüídeos e outros é uma expressão da interação entre diversos fatores biopsicossociais e ambientais, tais como as condições dos animais, do ambiente em que vivem das interações estabelecidas e dos vínculos criados, especialmente com os seres humanos (BEAVER, 2001).

    As mordeduras causadas por cães são objeto de grande preocupação devido à possibilidade de transmissão de zoonoses, como a raiva, de desenvolvimento de infecções secundárias, de seqüelas físicas e psicológicas, entre outras. Estes acidentes constituem, portanto grave problema para a comunidade, para outros animais e para a saúde pública (MUNDIM, 2005; SCHABBACH, 2004). Além disso, os custos econômicos e sociais direcionados ao tratamento médico dos acidentados são elevados, consumindo recursos que poderiam ser investidos em programas de promoção à saúde que beneficiariam um grande número de pessoas. Os acidentes humanos causados por animais, principalmente os cães, ocorrem numa frequência bastante elevada no Brasil (DEL CIAMPO et al., 2000).

    Estudos mostram que as crianças são consideradas de alto risco para ataque de cães, e a mordedura é influenciada pela raça, comportamento e proprietário dos animais, pelas crianças e seus pais e que, portanto, a estratégia de prevenção deve ser focada na educação da população e no treino dos cães e capacitação de seus proprietários (TAN et al., 2004; SCHALAMON et al., 2006).

    Em estudos epidemiológicos realizados por Fontes et al. (2007) no município de Pinhais, Paraná, durante o período de janeiro de 2002 a dezembro de 2005, foram notificados 2.163 casos de acidentes com animais domésticos. O tipo de exposição de maior ocorrência foi a mordedura, com 1.972 casos (81,9%), seguido da arranhadura com 323 casos (13,4%). Este resultado foi semelhante ao encontrado no município de Campo Grande, MS, que revelou uma prevalência de 81,5% de mordeduras (RIGO & HONER, 2005). Esta concentração ocorre, provavelmente, devido à conscientização da população estudada quanto ao alto risco de contaminação pelo vírus rábico através de mordeduras, o que não ocorre nos casos de arranhaduras, de lambeduras ou pelo simples contato (GARCIA et al., 1999).

    Em relação ao tratamento dispensado ao atendimento das vítimas expostas ao vírus da raiva humana, estudos de Rigo e Honer (2005) realizados em Mato Grosso no ano de 2002, constatam que dos 4.168 atendimentos anti-rábicos notificados, 2.177 (52,2%) receberam apenas as doses da vacina anti-rábica.

    Enquanto que nesta pesquisa, além das doses da vacina a observação do vetor foi indispensável.

    Sendo assim, é de grande importância a monitoração do agente agressor, pois o ideal é que se tenha uma observação no quarto ou quinto dia após a agressão, para que se possa alterar ou suspender o tratamento proposto, conforme o resultado da observação do animal.

Conclusão

    Através deste estudo, conclui-se que as ocorrências de agravos anti-rábicos notificados em Montes Claros/MG apresentaram índices bastante significativos quanto ao aumento da incidência da mesma na cidade fazendo-se necessário a intervenção imediata dos serviços de saúde.

    Desta forma, no ano de 2010 pôde-se perceber que os atendimentos anti-rábicos na cidade de Montes Claros/MG tiveram um aumento considerável de forma a atingir índices preocupantes para a saúde e a qualidade de vida da população.

    Para que se mantenha uma manutenção quanto ao controle desta doença de forma a proporcionar um aumento da qualidade de vida, devem-se programar ações que visem à captação dos vetores transmissores do vírus da raiva humana, fortalecer a vacinação em massa dos mesmos para que o ciclo biológico do vírus seja interrompido evitando-se, assim, mais acidentes.

    Salienta-se desta maneira a importância da observação dos vetores transmissores do vírus da raiva de forma a tomar as medidas cabíveis considerando as manifestações de qualquer sintomatologia no vetor.

    Cabe aqui nesse estudo, ressaltar que o Ministério da Saúde (MS) estabeleceu estratégias novas para controlar a raiva no país.

    A vacinação de animais domésticos é a única forma de se conseguir a imunidade contra a raiva. Com isso, o Ministério da Saúde, em parceria com as secretarias municipais e estaduais de saúde, vem realizando, anualmente, campanhas de imunização de animais em todo o país para controlar a doença. Como meta, o MS espera eliminar a raiva transmitida por animais domésticos.

Referências

  • APPOLINÁRIO, F. Dicionário de metodologia científica: um guia para a produção do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2009.

  • BEAVER, B. V. Comportamento canino: Um guia para veterinários. São Paulo: Roca, 2001, p.189-249.

  • BURTON, G. R. W.; ENGELKIRK, P. G. Microbiologia para as ciências da saúde. 5ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 289 p. 2005.

  • DEL CIAMPO, L. A.; RICCO, R. G.; ALMEIDA, C. A. N.; BONILHA, L. R. C. M.; SANTOS, T. C. C. Acidentes de Mordeduras de cães na infância. Revista de Saúde Pública, v. 34, n. 4, p. 411-412, 2000.

  • GARCIA, R. C. M.; VASCONCELLOS, S. A.; SAKAMOTO, S. M.; LOPEZ, A. C. Análise de tratamento anti-rábico humano pós-exposição em região da Grande São Paulo, Brasil. Revista de Saúde Pública, n. 3, v. 33, p. 295-301, 1999.

  • LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 3ª Edição. São Paulo: Atlas, 2003.

  • MUNDIM, A. P. M. Exposição à raiva humana no município de Cuiabá-MT: Epidemiologia e avaliação das medidas preventivas. 2005. 108p. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva)-Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá.

  • MUNDIM, A. P. M.; SCATENA, J. H. G.; FERNANDES, C. G. N. Agressividade canina a seres humanos: reação normal ou alteração comportamental motivada pela raiva? Clínica Veterinária, n. 67, p. 84-88, 2007.

  • OLIVEIRA, S. L. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisa, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 320p. 2002.

  • RIGO, L.; HONER, M. R. Análise da profilaxia da raiva humana em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, em 2002. Cadernos de Saúde Pública, n. 6, v. 21, p. 1939-1945, 2005.

  • RUBIN, E. Rubin, patologia: bases clínico-patológicas da medicina. 4ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1625 p. 2006.

  • SCHABBACH, C. H. Agressões por cães em Rio Grande – RS: Um estudo da classificação por situação de domicílio. Porto Alegre-RS; 2004. [Monografia Especialização – Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul].

  • SCHOENDORFER, L. M. P. Interação Homem-Animal de Estimação na cidade de São Paulo – Manejo Inadequado e as Conseqüências em Saúde Pública. São Paulo, 2001. [Dissertação de Mestrado – Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo].

  • SILVA, M. L. C. R.; LIMA, F. S.; GUEDES, K. M. R.; GOMES, A. A. B. Raiva experimental em cães inoculados com uma amostra isolada de raposa (Pseudalopex vetulus). ACSA – Agropecuária Científica no Semi-Árido, UFCG, Patos – PB, v. 4, p. 32-36, 2008.

  • SCHALAMON, J.; AINOEDHOFER, H.; SINGER, G.; PETNEHAZY, T.; MAYR, J.; KISS, K.; HÖLLWARTH, M. E. Analysis of Dog Bites in Children Who Are Younger Than 17 Years. Pediatrics, v. 117, n. 3, p. 374-379, 2006.

  • SCHAECHTER, M. et al. Microbiologia: mecanismos das doenças infecciosas. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 642 p. 2002.

  • TAN, R. L.; POWELL, K. E.; LINDEMER, K. M.; CLAY, M. M.; DAVIDSON, S. C. Sensitivities of three county health department surveillance systems for childrelated dog bites: 261 cases (2000). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 225, n. 11, p. 1680-1683, 2004.

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