efdeportes.com

A dissociação entre teoria e prática na formação de professores

La disociación entre la teoría y la práctica en la formación de los profesores

 

*Licenciada em Educação Física UFSM. Pós-Graduanda em Especialização

em Movimento Humano, Sociedade e Cultura no CEFD/UFSM

**Orientador do estudo, prof. Dr. CEFD/UFSM

(Brasil)

Maíra Lara Couto*

Rosalvo Luis Sawitzki**

mairalaracouto@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Atualmente o curso de Educação Física da UFSM tem uma grande limitação, a falta de oportunidade para a prática docente e a divisão entre teoria e prática. Isso não acontece apenas neste curso da UFSM, mas também em muitas outras instituições do país que formam professores, precarizando o tripé ensino, pesquisa e extensão da universidade e conseqüentemente a formação docente. Podemos perceber que precarizar o ensino é uma necessidade da atual sociedade, a sociedade capitalista. Assim, a educação muda em consonância com os modos de produção, que se reestruturam para superar as crises que são inerentes ao modo capitalista (MARX e ENGELS, 2006); essa relação acontece para que o sistema capitalista supere sua crises que são inerentes à sua estrutura, dando assim continuidade à exploração e concentração de riquezas. Quando muda o modo de produção o trabalhador terá que mudar também, sendo assim, hoje somos formados para atender ao mercado e não as demandas sociais, o que faz com que a formação de professor fique a mercê das oscilações do sistema capitalista. Para irmos em direção à superação dessa divisão, entre trabalho intelectual e trabalho manual que a atual sociedade impõe aos cursos de formação, acreditamos ser somente uma nova proposta de formação que poderá avançar nessa limitação que a formação tem hoje, uma proposta de formação de tenha claro a sociedade e homem que queremos construir, juntamente com o prática como articuladora do conhecimento, sendo ela contemplada através da práxis.

          Unitermos: Formação de professores. Teoria e prática. Práxis. Sociedade. Educação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Este artigo tem como objetivo fazer uma crítica a restrita oportunidade de vivências no âmbito da prática pedagógica juntamente com a dissociação entre teoria e prática apresentados no curso de Educação Física da UFSM. Atualmente existem projetos de extensão que tentam suprir a demanda de experiência prática, um deles é o Programa Integrado de Bolsistas de Iniciação a Docência (PIBID). Este projeto vem proporcionando vivências no campo da prática docente, no entanto entendemos que a prática, e principalmente a práxis, é parte fundamental da formação de professores não podendo assim ficar a cargo de um projeto de extensão, devendo ser contemplada e articulada no PPP do curso superior.

    Assim, buscando o motivo pelo qual a formação de professores se divide hoje em teoria e prática, tentaremos avançar para proposições no que se refere a formação com qualidade. Para isso vamos nos basear na tese de doutorado da professora Solange Lacks, por entender a grande contribuição que essa autora e seu trabalho trazem para a acumulação e construção do conhecimento no que se refere a educação e formação de professores.

O curso de Educação Física/UFSM e a divisão do conhecimento

    Para um curso de formação de professores ser completo de forma a dar bases concretas para o exercício da docência, tanto para professores em geral como para a especificidade da Educação Física, é necessário que a graduação possibilite o acesso aos conhecimentos teóricos e práticos das ciências que se tornam necessárias para a compreensão da dimensão, repecursão e significados de nosso corpo de estudo, o que consideramos ser a cultura corporal, juntamente com uma concepção clara de homem e sociedade que se pretende construir. Desta forma, todos devem ter o livre acesso a tais conhecimentos e experiências, no entanto não é isso que vem acontecendo na maioria dos cursos de graduação em Educação Física no Brasil e mais especificamente na UFSM, já que, segundo o currículo que cria o curso de Educação Física Licenciatura no ano de 2005, este não garante a inserção dos acadêmicos na realidade escolar e não-escolar ao longo da graduação, somente a partir do 5º semestre do curso os acadêmicos vão ter contato real com a prática docente, considerando que as aproximações à escolas, clubes, academias e entre outros, acontece apenas superficialmente nos semestres que antecedem o 5º, já que estes se baseiam em observações superficiais de poucas aulas. Estas observações se mostram dissociadas do contexto em que aquele grupo está incluído, resultando assim a não compreensão da totalidade e repecursão daquele ambiente.

    Sendo assim, o que está possibilitando aos acadêmicos o contato com a realidade na prática da Educação Física são os projetos de extensão como o Programa Integrado de Bolsistas de Iniciação a Docência (PIBID), no entanto a participação a este projeto é ainda limitada a poucos acadêmicos, lembrando que não defendemos aqui a possibilidade de que todos tenham acesso a este tipo de projeto, mas sim que a graduação, no seu Projeto Político Pedagógico, contemple a oportunizar a todos graduandos esta prática, já que não é possível caminhar na direção de uma formação de qualidade sem a constante vivencia da realidade da Educação Física.1 Isso acaba por formar professores numa perspectiva unilateral, caindo no constante teorizar acadêmico sem a vivencia e compreensão do real.

    Criticamos aqui a falta de oportunidades dos graduandos para com a prática durante a formação, no entanto o que defendemos é que não somente a prática como atividade material seja oportunizada aos graduandos, mas principalmente a práxis. Esta se caracteriza como a relação teórico-prática com objetivos e finalidades especificamente claros e embasados teoricamente, tendo como resultado não necessariamente o que se tinha planejado mas uma aproximação ao objetivo prévio, portanto a práxis é a dissociabilidade entre teoria e prática. Como explica Vásquez (1968, p.108), a práxis é

    “... uma atividade material, transformadora e ajustada a objetivos. Fora dela, fica a atividade teórica que não se materializa, na medida em que é atividade espiritual pura. Mas, por outro lado, não há práxis como atividade puramente material, isto é, sem produção de finalidades e conhecimentos que caracteriza a atividade teórica.” (apud PIMENTA, 1995, p.62)

    Para conseguirmos avançar para uma formação onde exista a práxis, devemos nos remeter à universidade onde estes cursos estão inseridos, para compreender o porquê a formação hoje se apresenta com esta dissociação do conhecimento e ir em busca de alternativas para mudar este cenário. Levando em consideração que a universidade deve desenvolver ensino, pesquisa e extensão, podemos perceber que o distanciamento da teoria acaba por precarizar este tripé básico de toda e qualquer instituição pública, criando limitações não só no ensino, mas também na formulação do conhecimento, na pesquisa, já que acreditamos na prática como articuladora do conhecimento para formação de professores, e que segundo Solange Lacks, “É imprescindível, portanto, que se conheça o mundo do trabalho para que se entenda a educação.” (LACKS, 2004, p.117)

    Com isso, para melhor compreender o motivo pelo qual os cursos de formação de professores estão divididos em teoria e prática, onde o aluno não tem percepção do real, devemos nos remeter a sociedade para qual os professores são formados, a sociedade capitalista. Neste tipo de sociedade, as crises são intrínsecas a sua estrutura, assim o capital deve se reestruturar a cada crise que desencadeia para se sustentar, seja conquistando novos mercados ou destruindo as forças produtivas (MARX e ENGELS, 1998). Nestas reestruturações o modo de produzir e reproduzir a vida também deve se modificar para suportar a crise e dar continuidade à acumulação de capital; assim, quando muda o modo de produção muda também o trabalhador. Historicamente a educação e o processo de formação de professores acompanhou as mudanças no modelo de produção da atual sociedade, já que são nos cursos de graduação que se forma os futuros trabalhadores que irão educar o povo. Essa relação é explicitada na frase de Jean Paul Sartre: “...digam-me onde está o trabalho em um tipo de sociedade e eu te direi onde está a educação.” (prefácio de Mészáros, 2005) com isso podemos perceber a total relação entre a formação de futuros trabalhadores da educação e os modos de produção. Após entender essa relação, podemos notar que a educação muda para atender ao mercado de trabalho, ao invés de mudar para atender as demandas sociais. Sendo assim,

    “A desqualificação também é parte a essa estratégia, constituindo-se de políticas de enfraquecimento dos trabalhadores, devido, principalmente, à divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual. A função da Ciência e da técnica incorporadas à produção desqualifica o trabalhador, degradando-o, alienando-o, porque o deixa desprovido do que há de mais nobre e mais humano, o saber.” (SOUZA apud LACKS, 2004, p.118)

    Ainda segundo Solange Lacks, com a atual relação entre educação e mercado de trabalho podemos concluir que,

    “A história da qualificação e desqualificação dos trabalhadores é a história da Ciência e da técnica que tem uma mesma função social e ideológica, a de garantir o controle do trabalho pelo capital.” (2004, p.118)

    Com isso, é notável a função que a atual formação de professores vem tendo, da desqualificação; já que a educação é a única forma de conseguirmos mudanças nas relações sociais, essa é quem sofre a maior degradação. Assim, é necessário a desqualificação do professor para que se mantenha a atual relação de produção e reprodução da vida com base na exploração e acumulação de capital.

Considerações finais

    Tendo em vista o debate aqui apresentado, temos clareza da necessidade de articularmos a teoria da prática docente possibilitando a experiência da práxis, já que precisamos viver a realidade social apresentada hoje para podermos superá-la, não cairmos no erro de determos apenas no campo das idéias projetando uma prática docente irreal, ou ficarmos na prática pela prática sem um teorizar embasando-a. Atualmente o PIBID é um dos projetos que vem contribuindo para a experiência da prática docente, reconhecemos aqui a contribuição deste projeto para os acadêmicos participantes, mas acreditamos que o graduando não deve ter acesso apenas à prática, mas também e principalmente experiências na práxis, e que esta seja uma das bases da formação apresentada no PPP do curso, não no sentido de ser um complemento mas, sim um dos pilares da nossa formação. No entanto, trazemos apenas um dos aspectos que acreditamos ser essencial para a formação de professores, concluindo que a qualidade na formação deste só se dará quando houver um conjunto de fatores articulados, sendo estes: a) projeto claro de homem, universidade e sociedade que queremos formar e construir; b) partir dos conhecimentos das várias ciências para desenvolver o conhecimento na cultura corporal; c) partir de fundamentos históricos, políticos e sociais para compreender os fenômenos (COMISSÃO DE REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR, 2010). Ressaltamos assim que a práxis é a parte de um todo que deve caracterizar a formação de professores em geral e mais especificamente de Educação Física. No entanto, isso não se concretizará com ajustes no atual currículo, já que acreditamos que a prática deve andar em conjunto com a teoria em todo momento, e não se restringindo a disciplinas desconexas. Por isso, esta dualidade entre teoria e prática/trabalho intelectual e manual só será superada com uma nova proposta de formação, onde se tenha claro para que estamos sendo formados, uma proposta que tenha o trabalho como princípio educativo, avançando assim na real qualidade para formação de professores para serem agentes conscientes na construção da sociedade. No ano de 2011 o CEFD/UFSM deu grande passo para avançar na formação docente, quando no dia 6 de maio do presente ano, foi aprovado por unanimidade em Conselho de Centro o curso de Educação Física Licenciatura de caráter ampliado.

Nota

  1. Com base em estudos desenvolvidos a partir da década de 80 no Brasil encabeçados por Luis Carlos de Freitas, não acreditamos que, esta forma fragmentada de formação sem um modelo de homem e sociedade claros, seja capaz de garantir uma formação de qualidade, por isso neste artigo nos limitamos somente ao que tange a dissociação entre teoria e prática, apenas um dos muitos aspectos em que torna precária a atual formação em Educação Física, tanto na UFSM como em outras Instituições do país, tais como especialização precoce, falta de articulação entre as disciplinas, sobreposição de teorias do conhecimentos sobre outras, entre outras.

Referências bibliográficas

  • COMISSÃO DE REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR. Proposta de reestruturação curricular para os cursos de Educação Física CEFD/UFSM – Licenciatura de caráter ampliado. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2010.

  • LACKS, S. Formação de professores: a possibilidade da prática como articuladora do conhecimento. Tese de doutorado em Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, 2004.

  • MARX, K; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre, RS, Ed: L&M, 2006.

  • MÉSZÁROS, I. Para Além do capital. Tradução de Isa Tavares, São Paulo, SP, Ed: Boitempo, 2005.

  • PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: unidade entre teoria e prática? artigo disponível no site http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/612.pdf

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 166 | Buenos Aires, Marzo de 2012
© 1997-2012 Derechos reservados