A atividade física na prevenção da obesidade: um olhar sobre os exercícios aeróbicos La actividad física en la prevención de la obesidad: una mirada sobre los ejercicios aeróbicos |
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*Licenciado Pleno em Educação
Física pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) **Graduada em Psicologia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências, Jequié, BA (Brasil) |
Rafael Carlos Lavigne Diniz* Diana Frutuoso Machado** |
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Resumo Este artigo tem por objetivo analisar o papel da atividade física na prevenção da obesidade, tendo um olhar voltado para os exercícios aeróbicos. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que se pautou na produção científica contemporânea dos autores que vem escrevendo sobre este tema. Assim, este trabalho se articula com a recente produção de área, num momento em que se reconhece a crescente procura de indivíduos obesos pela prática de exercícios aeróbicos como promotora de benefícios à saúde como um todo, buscando entender os reais benefícios e os cuidados que se devem ter com essa população, para uma prática segura e que traga os benefícios que propagam. Os resultados demonstram que os exercícios aeróbicos trazem resultados benéficos à saúde das pessoas obesas, visto que, proporcionam significativa redução da gordura corporal e visceral, redução das dobras cutâneas, redução dos níveis de pressão arterial de repouso e de esforço, perda de peso mesmo sem mudança de dieta, redução do risco de morte cardiovascular e câncer, além de outros benefícios correlacionados. Unitermos: Atividade física. Obesos. Exercícios aeróbicos.
Abstract
This article aims to analyze the role of physical activity in preventing
obesity, with a look toward the aerobic exercise. This is a bibliographical
research, which is guided by the actual scientific production from the authors
who are writing about this theme. Then, this work is engaged with the recent
area production at the moment that we recognize the growing demand from obese
individuals, in the practice of aerobic exercises, as a promoter of health
benefits as a whole, but we must understand the real benefits and care that
should be taken with this population for a safe practice and that bring the
benefits which they spread. The results show that aerobic exercises bring
beneficial results to the health of obese people, because, they provide
significant reduction in body fat and visceral fat, reduction of skin folds,
lower blood pressure levels of rest and exercise, weight loss, even without
changing diet, reducing the risk of cardiovascular death and cancer, and other
related benefits.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Relação obesidade, atividade física e sedentarismo
A obesidade é um fenômeno que vem acometendo milhares de pessoas no mundo todo, tornando-se um problema de saúde pública, visto que, vem sendo responsável por grandes dispêndios no custo total da saúde pública (MATSUDO & MATSUDO, 2006). A obesidade é uma doença classificada como uma desordem primariamente de alta ingestão energética. Grande parte da obesidade é devida, também, ao baixo gasto energético, e para alguns estudos, este baixo gasto energético é o principal responsável pelo acumulo de gorduras (CIOLAC & GUIMARÃES, 2004). De maneira simplificada, obesidade é o acúmulo excessivo de gordura corporal, de forma que esse acúmulo acarrete prejuízos à saúde dos indivíduos, como por exemplo, dislipidemias, doenças cardiovasculares, diabetes e certos tipos de câncer. (PINHEIRO e et. al., 2004, apud MONTEIRO & CONDE 1999.)
O sedentarismo e a prática insuficiente de atividades físicas regulares são, sem dúvida, responsáveis pela maior prevalência de excesso de peso e obesidade, somados a maior ingestão de energia, ou seja, associada a um gasto cada vez menor da mesma, tende a proporcionar um acúmulo de peso, tornando a pessoa obesa. Estudos têm sugerido que a diminuição no nível de atividade física pode ser a explicação para o ganho de peso corporal, em maior proporção, quanto comparada ao aumento da ingestão energética (MATSUDO & MATSUDO, 2006).
Em um estudo prospectivo (IDEM) realizado com mais de 2.800 homens e 2.800 mulheres na adolescência até a idade de 31 anos, verificou-se que se tornar sedentário durante a transição da adolescência à idade adulta está diretamente relacionado com maior risco de excesso de peso nos homens, maior risco de obesidade abdominal nas mulheres e obesidade total, tanto em homens como em mulheres. Percebe-se, portanto, a importância da manutenção de um estilo de vida ativo na transição da adolescência à idade adulta na prevenção da obesidade adulta.
Num outro estudo (GUEDES, 2004) foi analisado o envolvimento de adolescentes nas diferentes categorias de atividades do cotidiano, e constatou-se que moças e rapazes com mais idade apresentaram redução quanto ao tempo de participação naqueles envolvendo esforços físicos mais intensos, como lazer que envolvia atividades físicas, prática de esportes e trabalho manual moderado, compensando com maior tempo de participação em atividades realizadas em posição sentada. A esse respeito, estudos sugerem que, com o avanço da idade, pelas circunstâncias socioculturais impostas aos adolescentes, estes tendem a substituir atividades mais vigorosas do cotidiano, por atividades menos intensas fisicamente, como maior quantidade de horas de estudo, convívio social com amigos e entrada no mercado de trabalho envolvendo menor participação de esforços físicos.
A atividade física vem sendo associada a diversos benefícios físicos, psicológicos e sociais, e em função disto, ressalta-se a sua importância em estratégias de prevenção de casos de excesso de peso e obesidade. Além disto, a atividade física está associada com a melhora do perfil lipídico e diminuição de risco de doenças associadas à obesidade como diabetes, hipertensão, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares e como conseqüência, menor risco de morte (MATSUDO & MATSUDO, 2006).
Em um estudo de análise populacional (IDEM), com mais de 15.000 adultos, foram examinadas as associações entre nível de atividade física e as mudanças de peso corporal após os 45 anos de idade. Os resultados apontaram que o incremento da atividade física leve, moderada ou vigorosa, num período de 10 anos, foram associados inversamente com o ganho de peso após os 45 anos de idade, tendo obtido melhores resultados nas mulheres do que nos homens, e entre os obesos do que nos de peso normal ou com sobrepeso. Os obesos, homens e mulheres, que participaram de 75 a 100 minutos de caminhada rápida por semana, ganharam de 2,5 a 4,5 quilos a menos em comparação aos que não caminharam.
Para Matsudo & Matsudo (2006) a prática regular de atividade física aumenta o High Density Lipoprotein (HDL - colesterol), diminui triglicérides (TG) e Low Density Lipoprotein (LDL - colesterol), aumentando também a sensibilidade à insulina. Porém, é importante salientar que boa parte ou a quase totalidade desses efeitos positivos se revertem se porventura a pessoa suspenda a prática de atividade física. Fica evidente que o sucesso de programas preventivos das dislipidemias depende da habilidade em desenvolver abordagens que garantam o envolvimento das pessoas ou pacientes em padrões de estilo ativo por todo o ciclo da vida.
Pesquisa realizada nos Estados Unidos relatou que os hábitos sedentários e o baixo nível de condicionamento físico são importantes preditores de doenças como: artério-esclerose, hipertensão, doenças metabólicas e alguns tipos de câncer e da mortalidade por todas as causas, além de, em indivíduos com excesso de peso e obesidade haver uma probabilidade maior de serem sedentários e poucos condicionados fisicamente, em comparação com seus pares ativos e condicionados. No entendimento dos mesmos, a atividade física parece proteger vários segmentos populacionais contra a morbidade e a mortalidade por doenças crônicas, fazendo-os hipotetizar que parte do incremento da morbidade e da mortalidade em indivíduos obesos e com excesso de peso podem ser oriundos do baixo nível de atividade física e condicionamento físico, levando-os a concluir que o problema fundamental seria a inatividade física, pois a mesma tende a levar à alta incidência de doença e ao ganho de peso, que por sua vez pode exacerbar o processo da enfermidade (MATSUDO & MATSUDO, 2006).
2. Os benefícios dos exercícios aeróbios na prevenção da obesidade
Os exercícios aeróbicos são exercícios realizados de maneira contínua, que irão utilizar o oxigênio como principal fonte de energia, sob a forma de adenosina trifosfato - ATP, para geração de trabalho muscular (CHAVES et al., 2007, apud MCARDLE, 1998).
Alguns estudos científicos nos mostram que os exercícios aeróbicos trazem diversos benefícios na luta contra a obesidade, e os males advindo com a mesma. Um destes estudos (MATSUDO & MATSUDO, 2006) trata dos benefícios dos exercícios aeróbicos na prevenção da obesidade analisando o impacto da atividade física em 179 mulheres sedentárias na pós-menopausa, com idade entre 50-75 anos, e que apresentavam excesso de peso. A atividade proposta para essas mulheres foi uma caminhada leve, num ritmo correspondente a 40% da Freqüência Cardíaca Máxima, tendo uma duração de 16 minutos, sendo, paulatinamente, aumentada para uma intensidade entre 60%-75% com duração de 45 minutos na oitava semana de intervenção. Neste estudo, as mulheres foram divididas em dois grupos: o controle, com n=86; e o de exercícios, com n=87. O grupo de exercícios realizava em média 5 sessões por semana de caminhada, com duração de 176 min/semana, numa duração de 12 meses.
Os grupos que alcançaram a recomendação da American College of Sports Medicine (ACSM), de pelo menos 150 min/semana de atividade física conseguiram diminuir significativamente a porcentagem de gordura corporal. Já o grupo controle e aqueles que não atingiram os 150 min/semana não conseguiram diminuir a gordura. O interessante nesta pesquisa foi à análise da gordura intra-abdominal determinada por ressonância magnética nuclear, no qual todos os grupos que caminharam baixaram os estoques de gordura intra-abdominal e de forma diretamente proporcional ao tempo de caminhada semanal, ou seja, a simples caminhada consegue alcançar esses estoques de gordura e diminuí-los.
A prática do exercício físico aeróbico é capaz de proporcionar ao seu praticante, uma redução nos níveis de pressão arterial de repouso e esforço, com eficiência comparada com o tratamento farmacológico (FILHO et al, 2007, apud KETELHUT, 2004). Estudos apontam que exercícios aeróbios como trotar e pedalar rápido, são associados com a atenuação do ganho de peso corporal. Estes dados vêm reforçar que a atividade física aeróbica, praticada regularmente e em longo prazo, sendo a mesma realizada numa intensidade moderada, previne parte do ganho de peso associado ao envelhecimento. Dados mais recentes indicam que entre os principais resultados positivos da caminhada se incluem: perda de peso, mesmo sem mudança de dieta; diminuição da gordura corporal; diminuição da gordura visceral; aumento de lipoproteína de densidade; redução da pressão arterial; redução do risco de morte cardiovascular e câncer e; comparativamente menor risco de trauma (MATSUDO & MATSUDO, 2006).
3. Prescrição de exercícios aeróbios para pessoas obesas
A prescrição dos exercícios aeróbios para pessoas obesas deve ser feita com cautela e baseada em princípios científicos que forneçam a mesma confiabilidade e a segurança necessária para uma prática segura. Estudos têm demonstrado uma forte relação de associação entre obesidade e atividade física, revelando que os beneficios da atividade física sobre a obesidade podem ser alcançados com intensidade baixa, moderada ou alta (CIOLAC & GUIMARÃES, 2004).
Em atividades físicas direcionadas para a obtenção de saúde, recomenda-se o acúmulo de pelo menos 30 minutos de atividades moderadas no mínimo 5 dias na semana. Para pessoas obesas e/ou que necessitam controlar seu peso, a recomendação de duração das atividades é de 60 minutos, sendo preferencialmente 90 minutos diários, pelo menos 5 dias na semana, de forma contínua ou acumulada (MATSUDO & MATSUDO, 2006).
Atualmente, o posicionamento da Associação Internacional de Estudos da Obesidade para prevenir o aumento de peso ou ganho de peso em pessoas com obesidade, recomenda 60 a 90 minutos por dia de Atividade Física moderada ou 35 minutos/dia de Atividade Física vigorosa para evitar ganhar de novo peso seguindo um quadro de obesidade. De acordo com o Instituto Cooper, uma prescrição de caminhada deve conter uma duração de 3,5 a 5 km a um passo confortável por 16 a 20 minutos/1,5 km, não precisando ser feita de uma única vez; Ser realizada numa freqüência de 4 a 5 vezes por semana; Estar entre 55% a 65% da F.C Máx predita (IDEM).
Na prescrição de exercícios físicos para qualquer individuo, incluindo-se os obesos, é preciso levar em consideração 4 princípios básicos do treinamento físico a saber (CIOLAC & GUIMARÃES, 2004):
Principio da Sobrecarga, onde para haver uma resposta fisiológica ao treinamento físico, faz-se necessário que o mesmo seja realizado numa sobrecarga maior do que se está acostumado, podendo ser controlado pela intensidade, duração e freqüência.
Principio da Especificidade, caracterizado pelo fato de que modalidades especificas de exercícios irão desencadear adaptações especificas, promovendo assim respostas fisiológicas especificas.
Principio da Individualidade, o qual é preciso se respeitar a individualidade biológica de cada pessoa para poder prescrever exercícios para o mesmo.
Principio da Reversibilidade, caracterizado pelo fato de que as adaptações fisiológicas promovidas pelos exercícios físicos irão retornar ao status em que se encontravam no período de pré-treinamento, ou seja, quando o individuo retorna a vida sedentária.
Jakicic e colaboradores, no ano de 1995, realizaram um estudo cientifico evidenciando que a prescrição que orienta a fazer sessões acumuladas de atividade física, foi mais eficiente, no que diz respeito à adesão dos participantes do estudo, do que uma única sessão por dia. Esta pesquisa revelou que o consumo de oxigênio aumentou significativamente nos dois grupos, porém, houve uma tendência de perda de peso maior, no grupo de atividade física acumulada do que no grupo de atividade contínua. Outro estudo, comandado por Murphy e Hardman (1998), confirmou os resultados do estudo supracitado, visto que o grupo que realizou as atividades de forma cumulativa em comparação ao grupo que fez a mesma quantidade de exercícios, porém de forma contínua, melhorou a potência aeróbia, a pressão arterial, as dobras cutâneas, o peso corporal e a relação cintura-quadril em valores semelhantes ou superiores aos obtidos pelo grupo que realizou as atividades de forma contínua (MATSUDO & MATSUDO, 2006).
A realização de exercícios aeróbios não exclui a possibilidade de se trabalhar os exercícios resistidos com o obeso, muito pelo contrário, faz-se necessário entender que um trabalho conjunto pode vir a proporcionar maiores beneficios na prevenção da obesidade, pois tanto o exercício resistido quanto o aeróbio promovem beneficios substanciais em fatores relacionados à saúde e ao condicionamento físico, além de, tanto o exercício aeróbio quanto o resistido, por diferentes modos, afetarem algumas variáveis da síndrome metabólica, como a resistência à insulina, a intolerância a glicose e a obesidade, podendo, portanto, haver um somatório dos efeitos das duas atividades (CIOLAC & GUIMARÃES, 2004).
4. Considerações finais
As informações presentes neste estudo permitem considerar que os exercícios aeróbicos trazem resultados benéficos à saúde das pessoas obesas, visto que, proporcionam significativa redução da gordura corporal e visceral, redução das dobras cutâneas, redução dos níveis de pressão arterial de repouso e de esforço, perda de peso mesmo sem mudança de dieta, redução do risco de morte cardiovascular e câncer, além de outros benefícios correlacionados.
Importante também é a constatação de que a prática dos exercícios aeróbicos pode ser realizada de forma parcelada, ou seja, de forma cumulativa, sem necessariamente ser realizada toda de uma única vez, podendo ser dividida ao longo do dia, com resultados tão ou mais significativos do que a prática continua dos exercícios, além do que, a atividade física acumulada é uma boa opção para quem usa a falta de tempo como desculpa para não praticarem atividades físicas, sendo também uma proposta mais segura e eficaz para pessoas obesas, pois não os colocam em situações de desgaste muscular que o exercício físico continua poderia acarretar.
Percebeu-se que os exercícios aeróbicos associados aos exercícios resistidos trazem resultados positivos na prevenção da obesidade, visto que, tanto um como o outro proporcionam benefícios relacionados à saúde e ao condicionamento físico, havendo um somatório dos benefícios proporcionado por ambos.
Nessas questões, faz-se mister entender que, um trabalho com este grupo, para atingir seus objetivos, necessita de um equipe multidisciplinar bem articulada, com os profissionais de saúde assumindo um papel efetivo na construção de estratégias que possibilitem ganhos reais de melhoria de qualidade de vida, sendo fundamental que uma reeducação no sentido de proporcionar que o obeso assuma o ônus de reestruturar suas atividades em prol de uma saúde positiva, empenhando-se no aumento de seu tempo de prática de atividade física, bem como a opção por alimentos menos ricos em gordura e menos energéticos.
Referências
CHAVES, Célia Regina Moutinho de Miranda et al. Exercício aeróbico, treinamento de força muscular e testes de aptidão física para adolescentes com fibrose cística: revisão da literatura. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 7 (3 ): 245-250, Jul. / Set., 2007.
CIOLAC, Emmanuel Gomes; GUIMARÃES, Guilherme Veiga. Exercício físico e síndrome metabólica. Artigo de Revisão. Rev. Bras. Med. Esporte, V. 10, n. 4, Jul./Ago. 2004.
FILHO, Celso Ferreira et al. Benefícios do exercício físico na hipertensão arterial sistêmica. Artigo de Revisão. Arq. Med. ABC. 2007; 32(2): 82-87.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.
GUEDES, Dartagnan Pinto et al. Níveis de prática de atividade física habitual em adolescentes. Artigo de Revisão. Rev. Bras. Med. Esporte, Niterói, v. 7, n. 6, 2001.
MATSUDO, Victor Keihan Rodrigues; MATSUDO, Sandra Marcela Mahecha. Atividade Física no tratamento da obesidade. Einstein. 2006; Suplemento 1: S29-S43.
PINHEIRO, Anelise Rízzolo de Oliveira et al. Uma abordagem epidemiológica da obesidade. Rev. Nutr. V. 17, n. 4, Out. /Dec. 2004.
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