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A aprendizagem da patinação agressiva

El aprendizaje del patinaje agresivo

 

*Graduada em Educação Física pela Universidade Nove de Julho

Patinadora profissional

**Mestre em Educação Física

Professor da Universidade Nove de Julho

Samantha Augusto e Silva*

Dimitri Wuo Pereira**

dimitri@rumoaventura.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O surgimento dos patins é pouco preciso cronologicamente. Sabe-se, porém que ele evoluiu dos ossos de animais usados nos pés para deslizar no gelo. Sua evolução passou pelos patins com rodas paralelas, pelas rodas em linha, até chegar aos patins agressivos para manobras, cuja base serve para apoiar-se sobre obstáculos. A patinação de manobras, ou agressiva, foi a responsável pela popularização da modalidade, pois observar pessoas voando sobre rodas mexe com o imaginário dos jovens. A patinação agressiva associa-se as características da contemporaneidade, na sua relação comunicativa globalizada, e na tecnologia que permite divulgar a modalidade horizontalmente pelo mundo. A aprendizagem da patinação ressalta a necessidade do uso de equipamentos de proteção, a descoberta das melhores formas de manter o equilíbrio e os benefícios que essa prática pode proporcionar aos praticantes. Essa revisão de literatura, subsidiada pelas experiências dos pesquisadores permitiu deslizar rumo ao apaixonante mundo dos patins.

          Unitermos: Educação Física. Patinação. Esportes radicais.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A preocupação desse ensaio é apresentar os patins in line agressivos, isto é, a modalidade de patinação na qual se fazem manobras arriscadas e variadas, e, discutir o processo de aprendizagem da patinação, subsidiando o professor de Educação Física na aplicação dessa modalidade em sua atuação profissional. Justifica-se essa pesquisa a partir das constatações de Uvinha (2004) que demonstrou a atração dos jovens por esportes radicais devido a aproximação dessas práticas com as características dessa fase de desenvolvimento como: a formação de tribos, a linguagem própria, o comportamento contestador e o prazer nas atividades arriscadas de lazer, explicando a importância do domínio desse conteúdo pelo profissional de Educação Física.

    A metodologia empregada nessa pesquisa é a revisão de literatura, que segundo Mattos e col. (2008, p.77) é: “a crítica do material bibliográfico que aborda os objetos de estudo da pesquisa. Devem-se analisar as principais ideias dos autores, salientando suas contradições, divergências ou semelhanças, discordando ou concordando com elas”. Associa-se a revisão a discussão e interpretação dos dados a partir das experiências pessoais dos autores com o assunto.

Do surgimento à agressividade

    O surgimento dos patins carece de informações precisas, porém acredita-se que nos países do norte europeu já se usavam ossos de animais presos às botas, para deslizar no gelo desde 1000 anos antes de Cristo (BRANDÃO, 2009). O primeiro registro histórico de patins com rodas data de meados do século XVIII, como mostra uma gravura de um homem de patins feitos com apenas uma roda de madeira em cada pé. Essas eram semelhantes às de uma bicicleta em tamanho reduzido. Em 1733 o holandês Hans Brinker foi o primeiro fabricante de rodas metálicas utilizando-as sobre duas rodas em cada pé, porém esse modelo dificultava o equilíbrio e gastava os rinques de patinação de madeira. Em 1813 o francês Jean Garcin inventou uma roda de madeira, com o nome de cingar que foi mais utilizada (BRANDÃO, 2009).

    Em 1867 alguns britânicos aperfeiçoaram essa invenção de Jean Garcin e expuseram na feira mundial de Paris os patins de quatro rodas, sendo duas na frente e duas atrás. O mesmo foi patenteado nos EUA por, James Leonard Plimpton, porém ele acrescentou um freio, com um pedaço de borracha na parte da frente, criando então os patins sobre rodas como os conhecemos hoje (PRAZERES, 2008).

    Por outro lado, David (1996) afirma que os patins surgiram na Bélgica com Josef Merlin em 1760 e foram aperfeiçoados pelo francês Petitblend em 1819, que criou um modelo em madeira, que tornava as mudanças de direção bem difíceis. Para o autor os patins in line são a junção dos patins com rodas paralelas (roller) com os patins em linha feito com lâminas para deslizar no gelo.

    Seja qual for a verdadeira versão, é certo que a partir de então, a patinação foi se expandindo por toda a Europa, com a criação de diversos rinques. Iniciaram-se as Federações, apareceram as rodas de material plástico, as competições, as divisões em modalidades: artística, velocidade e hóquei, e surgiram os espetáculos na década de 1950. No Brasil a criação da Federação de Patinação ocorreu em 1975 (CBHP, 2009), mas os primeiros registros de patinação em nosso país ocorreram entre 1900 e 1930, quando eram usados como conteúdo da Educação Física no colégio Sion no Rio de Janeiro, para as meninas (GOMES, 2004).

    Percebe-se que essa fase dos patins sobre rodas coincide com a expansão e o desenvolvimento urbano e industrial dos países ocidentais. Há também uma clara demonstração de como essa atividade se apresenta como uma atividade de tempo livre da aristocracia burguesa, aproximando-se do conceito de lazer moderno.

    Van Cleaf (2003) aponta que os patins in line (com as quatro rodas em linha) foram inventados no ano de 1980 nos EUA, pelos irmãos Scott e Brendan Olson, que jogavam hóquei no gelo. Acredita-se que eles basearam em modelos da década de 1960. Eles fundaram a marca Roller Blade. Em 1988 a mesma marca produz o modelo Tarmac (com duas rodas no lugar de quatro, base com apoio para manobras em canos, cadarços e velcro) que permitiam fazer movimentos mais difíceis como saltos, curvas rápidas, apareciam então os primeiros patins “agressivos” (TUNNEY; PIEPER, 2006).

    Evidencia-se a ascensão da patinação agressiva (aggressive in line skating) a partir da exibição do filme Dare to Air. Neste a ideia de como o esporte: suas técnicas, as habilidades nas manobras, e o grau de dificuldade bastante elevado para a época o diferenciam da patinação praticada apenas como passeio. Em seguida surgiu The Hoax, com manobras mais agressivas em rampas, ruas, plataformas, escadas e canos (TUNNEY; PIEPER, 2006).

    Em 1994 no filme “Manobra Super Radical” a lenda da patinação in line Chris Edward realiza manobras tão difíceis e arriscadas que gera uma verdadeira mania pela prática, principalmente nos EUA. Constatou-se que 24 milhões de americanos praticavam aggressive in line, contra 4.5 milhões de americanos no skate, e 3.8 milhões no snowboard (TUNNEY; PIEPER, 2006).

    Percebe-se que a patinação agressiva conseguiu criar um público específico, e que a comunicação pelo vídeo foi fundamental para que isso ocorresse, pois ver as manobras era a melhor forma de compreender o motivo de tantos jovens andarem de patins. Além dos EUA (criadores do X Games, jogos de esportes radicais) e da Europa, também a Austrália apresenta grande crescimento dessa nova prática esportiva. O desejo de desafiar o espaço arquitetônico urbano expandiu-se nesses países mais desenvolvidos, chegando também ao Brasil, com a diferença de que o fator econômico e social era a mola propulsora desse crescimento e os países ricos tinham nítida vantagem nesse quesito.

    Os patins in line para manobras apareceram juntamente com o advento de novas tecnologias e sua divulgação em vídeos e filmes relaciona-se diretamente com os anseios da juventude como aponta Uvinha (2001).

As associações, os campeonatos e as manobras

    A Aggressive Skaters Association “ASA” foi formada em 1994 como um fórum para desenvolver normas que regessem as competições e equipamentos dos patins in line no mundo. Em abril de 1995, a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação nomeou Cecília Maria Simplício, mais conhecida como Tuca Reichert, como representante da Patinação Radical no Brasil, tendo início, a partir de então, todo o processo de regulamentação, formação de árbitros, atletas, e realização de diversos eventos em todo o Brasil, inclusive ocorrendo um intercâmbio com atletas profissionais como Chris Edward, Scott Bentley, Tascha Hodgson, Chad Croud (TUNNEY; PIEPER, 2006).

    Em 2000 o francês Taig Khris acertou pela primeira vez um Doublé Back Flip em um campeonato no Half-Pipe. Logo em seguida o Australiano Shane Yost acertou o primeiro 1260º (três giros e meio na base). Esses movimentos de grande dificuldade técnica aguçavam os jovens a evoluir cada vez mais. Nessa época surgiu também a atleta brasileira Fabiola da Silva, que rapidamente ascendeu na modalidade e passou a competir com os atletas masculinos. Mostrando mais uma vez que a patinação agressiva é um esporte pioneiro em inovações, Fabíola se sagrou tetra campeã nos X Games (SILVA, 2007). Nesse esporte em que as meninas já praticavam nas ruas, tanto quanto os meninos, por pura diversão, também nas competições uma mulher supera os homens e mostra que quando se permite e oferece oportunidade, as diferenças de gênero ficam diluídas e até desaparecem.

    Após essa explosão da patinação agressiva houve um declínio e diversos fatores contribuíram para isso como: valor do material, menor divulgação na mídia, preconceito pela prática de rua, entre outros. Restaram apenas os patinadores mais apaixonados.

    Recentemente as competições têm reaparecido e observam-se novas formas de divulgação das práticas (JORNAL CIDADES DE BARUERI, 2003). Alguns atletas criaram websites, como:

    Algumas marcas e lojas patrocinam os cerca de 20 campeonatos anuais no Brasil, entre elas: Life Street Wear, Power Slide Brasil, Brasil In Line e Traxart (TUNNEY; PIEPER, 2006). Atualmente no mundo o principal evento é o World Rolling Series (WRS).

A aprendizagem

    No aspecto competitivo ou no desafio de manobras por prazer verifica-se que os equipamentos de proteção podem resguardar a integridade do praticante e devem ser incentivados principalmente na iniciação (BARROS, 2009). São eles: capacete, cotoveleira, joelheira e wirstguard (protetor para o punho). Segundo Schieber (1996) a maior parte das quedas na patinação promove lesões nas mãos e braços, sendo, portanto o protetor de punhos e a cotoveleira importantes para evitar contusões e fraturas.

    A primeira dificuldade quando se patina é equilibrar-se sobre as rodas. Na prática de esportes radicais esse tipo de aprendizagem exige dedicação e nesse aspecto a superação de dificuldades ajuda a formar um caráter persistente na obtenção de metas pessoais. Segundo Machado (2009), o desafio e a paixão na prática levam a perceber que a satisfação decorrente das vitórias obtidas ao final dos exercícios são vitórias pessoais que dependem de esforço próprio, isso interfere diretamente na auto-estima do iniciante.

    Segundo Snyder (1993) a patinação é uma excelente atividade aeróbia, pois eleva menos a frequência cardíaca do que a corrida ou o ciclismo, em exercício com a mesma intensidade. Porém o equilíbrio que requer a patinação necessita uma aprendizagem mais orientada do que a corrida ou a bicicleta, para que se consiga o mesmo nível de intensidade no exercício, pois a coordenação e a possibilidade de queda são fatores a se considerar no processo de iniciação.

    Segundo Richardson (1989) metodologia significa a maneira, o modo, ou caminho para chegar a um determinado objetivo. Para Cervo e Bervian (1983) é uma forma mais adequada para chegar a um resultado. No caso dos patins não há um modo único de aprender, porém algumas informações podem facilitar na aquisição do equilíbrio e dos movimentos básicos, e assim proporcionar o prazer de deslizar sobre as rodinhas.

    Não se pretende apresentar um método fechado a ser seguido como manual de aprendizagem. A intenção desse texto é proporcionar a reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem do iniciante. Schmidt e Wrisberg (2001) afirmam que a instrução, a demonstração e os procedimentos de orientação são importantes para atingir a aprendizagem das habilidades motoras, como ocorre com o ato de patinar e fazer manobras sobre patins.

    As informações aqui contidas são baseadas principalmente nas experiências pessoais de patinar, e, nas observações de patinadores em situações de aprendizagem e treinamento.

    Calçar os patins já é uma tarefa de aprendizagem em si, pois sua correta fixação vai permitir firmeza e conforto ao deslocar-se.

    O segundo entrave é ficar em pé, pois é fácil escorregar enquanto se levanta. Nesse momento o auxílio de uma pessoa pode acelerar o processo. Ajoelhar-se no chão, depois apoiar um dos pés, colocar as mãos no joelho apoiado e em seguida trazer o peso do corpo para cima dessa perna é uma forma mais segura. Caso tenha um auxílio esse poderá firmar com o próprio pé o patins que está apoiado no chão e segurando um dos braços sustentar a pessoa enquanto esta se levanta.

    O passo seguinte é posicionar o corpo com os joelhos ligeiramente flexionados, inclinar o tronco à frente, manter a cabeça elevada, o olhar horizontal e permanecer com os pés formando uma letra V no chão, com calcanhares aproximados e pontas voltadas para fora.

    Para se deslocar um bom exercício é marchar movimentando rapidamente os pés, porém elevando-os minimamente do chão. Esse exercício feito com os pés em V e o tronco à frente permitirá um pequeno deslize, pois as rodas girarão e o centro de gravidade a frente pela posição do tronco irá proporcionar um deslocamento natural para frente.

    Em seguida esses movimentos podem ter maior amplitude, e, cada vez mais, colocar-se-á o peso do corpo sobre a perna que está em deslize, alternando essa mudança de centro de gravidade de uma perna à outra. Evita-se nesse caso as grandes aberturas das pernas, a elevação demasiada dos pés e joelhos, a impulsão com apenas um dos pés, a inclinação do tronco para trás, assim o equilíbrio será adquirido e começará um deslocamento contínuo e mais seguro.

    Agachar, flexionar e estender os joelhos parado e em movimento será essencial como exercício para impedir as quedas, ganhar velocidade e iniciar novos movimentos. Durante esses agachamentos manter os braços estendidos à frente será útil.

    Depois que já se consegue certa movimentação é necessário aprender a parar, afinal diferente do skate, nos patins não é possível descer do equipamento em movimento. Sugerem-se duas alternativas: A primeira é fazer uma posição em T com os pés arrastando ligeiramente as rodas no chão, e a outra é afastar as pernas forçando os calcanhares para fora com os joelhos semi flexionados. Alguns patins possuem freios de borracha em um dos pés, porém na prática de patins agressivo esses freios não existem, pois interferem nas manobras exigindo que se aprenda a parar através das técnicas sugeridas.

    Ao final do processo de aprendizagem do equilíbrio e de movimentação básica é possível começar a pensar nas técnicas básicas de manobras, que são (CASO, 2009, SOUZA, 2009):

    Quando se trata de patinar e realizar manobras deve-se salientar que o ambiente em que é feita essa ação interfere diretamente no resultado. Do ponto de vista da classificação, essa habilidade pode ser caracterizada como uma habilidade motora seriada, pois deslizar com os patins é uma habilidade motora cíclica somada ao movimento de saltar sobre um corrimão, por exemplo, que é um movimento com início e fim bem definidos (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Essa informação é importante para que se organize a aprendizagem do deslocamento em diversas velocidades e inclinações do solo antes de começar a fazer os movimentos aéreos.

    Recomenda-se que no processo de aprendizagem das manobras elas sejam realizadas levando em consideração a estabilidade do ambiente, pois habilidades motoras fechadas contém um espaço mais controlado e com menos variações. Numa pista com muitas pessoas passando pelos mesmos locais será mais difícil se aprender uma manobra, do que num local em que apenas o patinador e o obstáculo estão presentes. Na aprendizagem dos patins agressivos considera-se também o controle via circuito aberto (SCHMIDT; WRISBERG, 2001), pois como os movimentos são rápidos não é possível que o feedback extrínseco seja utilizado para corrigir um movimento durante sua execução.

    Salienta-se que os nomes em inglês são mantidos pelos patinadores do mundo todo para as manobras. A ausência de traduções reflete dois aspectos importantes dessa modalidade, bem como de outras radicais: Em primeiro lugar pode representar um consumo e aceitação da língua inglesa e costumes do povo americano como norma social, a crítica que se faz nesse sentido é a colonização cultural que o Brasil assimila sem reflexão. Em segundo lugar associa-se a ideia de globalização e mundialização, que incorpora hábitos e costumes valorizados como próprios da juventude sem discriminar fronteiras, as quais a própria juventude não criou. Essas contradições devem ser levadas à reflexão do iniciante que deve fazer suas escolhas na forma de se expressar em relação à prática.

Considerações finais

    A patinação pode ser um ótimo exercício, ela auxilia no desenvolvimento cardiovascular, na força, no tempo de reação, na agilidade, na tomada de decisão, entre outros benefícios. Em regiões urbanas pode ser uma forma de deslocamento importante para participar de uma mudança de mentalidade em relação ao consumo de fontes energéticas não renováveis como os combustíveis fósseis (gasolina, álcool, etc.).

    Uma necessidade imperiosa que talvez limite a aprendizagem, por boa parte da população é a necessidade de material específico, que pelo custo elevado não permite acesso a todas as pessoas. Porém, mesmo em localidades mais carentes observa-se a presença de patins in line como um objeto de desejo das crianças. Independente da qualidade ou marca dos equipamentos, os patins são sempre uma diversão garantida para os que se arriscam a aprender essa arte.

    Acredita-se que com esforço de professores de Educação Física nas escolas, em projetos sociais e em todos os âmbitos da atuação profissional relativa ao esporte é possível auxiliar no aprendizado da patinação. Pode-se inclusive proporcionar o conhecimento da patinação agressiva que permitirá ao praticante executar manobras radicais com alto grau de exigência física e psicológica, levando o iniciante a sonhar em voar sobre rodas.

Referências bibliográficas

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