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A aprendizagem da escalada esportiva: um relato de experiência

El aprendizaje de la escalada deportiva: relato de una experiencia

Learning the sport climbing: a case report of experience

 

*Bacharel em Educação Física – UNINOVE, SP

**Mestre em Educação Física – UNINOVE, SP

(Brasil)

Paula Aparecida Biolcati Queiroz*

Dimitri Wuo Pereira**

dimitri@rumoaventura.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Minha experiência com a dança me levou a querer experimentar a escalada desde que a conheci na graduação em Educação Física, pois me pareceu tão complexa quanto esta, nos aspectos da aprendizagem e treinamento. O objetivo dessa pesquisa surgiu espontaneamente pela interesse em aprender a escalar e conhecer mais sobre essa modalidade. A pesquisa descritiva do tipo relato de experiência proporcionou reflexões importantes a cerca dos aspectos técnicos, fisiológicos, cognitivos, psicológicos, biomecânicos, e pedagógicos da aprendizagem da escalada. A desorganização natural em qualquer processo novo de aprendizagem deu lugar a uma nova organização, que apesar de incompleta permitiu um crescimento intelectual e motor da pesquisadora e abriu a possibilidade de novas descobertas pessoais e acadêmicas.

          Unitermos: Escalada. Educação Física. Auto organização.

 

Abstract

          My experience with the dance made ​​me want to try sport climbing since I met in the Physical Education graduation because it seemed so complex as this, in aspects of learning and training. The objective of this research arose spontaneously by the interest in learning to climb and learn more about this sport. A descriptive account of the type of experience provided important reflections about the technical, physiological, cognitive, psychological, biomechanics, and pedagogical learning to climb. Disorganization natural in any new process of learning has given way to a new organization, which although incomplete intellectual growth and enabled a research engine and opened the possibility of new personal and academic discoveries.

          Keywords: Climbing. Physical Education. Self – organization.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A vida de um atleta exige disciplina e comprometimento, são muitas horas de treino e dedicação. No ballet não é diferente, a aquisição da técnica clássica exige muito trabalho, sem falar do controle do peso e do comportamento regrado. Os treinos longos duram o dia todo, divididos em aulas e ensaios para apresentações e competições de dança, visando o aperfeiçoamento da técnica. São muitos exercícios aeróbios, exercícios de força isométrica e de flexibilidade. Decididamente o mais difícil é realizar todos os movimentos com perfeição e beleza, ao mesmo tempo em que, se faz extrema força colocando todo o peso do corpo apenas nas pontas dos pés.

    Esse é o dia a dia da maioria das bailarinas clássicas em qualquer parte do mundo. Porém durante minha graduação em Educação Física em uma Universidade de São Paulo tive acesso à disciplina de Esportes Radicais, e um dos conteúdos ministrados foi a escalada. Esse novo aprendizado despertou o interesse pela prática e comecei a escalar para conhecer essa modalidade esportiva.

    Minha decisão em fazer esse estudo veio da reflexão sobre a dificuldade de aprender a escalar que senti no início dessas aulas, tal qual no começo do ballet. Percebi que a evolução dependeria da melhoria da técnica e de muito esforço. Decidi então me dedicar à escalada academicamente procurando sua relação com a Educação Física e verificar como seria a aprendizagem e o treinamento da escalada.

    A decisão por um estudo de caso cujo instrumento é um relato de experiência pessoal pareceu a mais acertada para descrever o processo de aprendizagem da escalada, pois como ainda não tinha vivência, as práticas poderiam levar a descobertas originais e gerar reflexões para aqueles que pretendem iniciar na escalada, bem como contribuir para a evolução de escaladores mais experientes que se dedicam à modalidade e possibilitar a área da Educação Física novos olhares sobre o movimento humano.

    Foram realizados dez dias de escalada em parede artificial com objetivo de aprender a escalar e compreender meu próprio aprendizado. Essa prática foi auxiliada por praticantes de escalada que compartilharam comigo sua experiência e pelo professor da graduação.

    Os locais escolhidos para essa experiência foram a parede de escalada da Universidade e um ginásio de escalada esportiva exclusivo para essa prática na cidade de São Paulo.

Compreendendo a escalada

    A escalada existe desde que os homens começaram a explorar a natureza. Seu marco histórico ocorreu em 1786 quando o médico Jean Michel Paccard e o garimpeiro Jacques Balmat queriam descobrir o que existia no topo do Mont Blanc, o ponto mais alto da Europa ocidental, com 4.800 metros de altitude, sempre coberto de neve e envolto por mitos sobre seres monstruosos que o habitavam. Essa aventura foi motivada por interesses científicos do naturalista suíço Horace Benedict de Saussure, que desejava testar as capacidades do corpo humano em local tão inóspito (PEREIRA, 2007).

    Já a escalada em paredes construídas pelo homem, ou indoor, surgiu no final da década de 1970, na Rússia pela necessidade dos escaladores locais de treinarem durante o rigoroso inverno, que os impossibilitava de sair para as montanhas. Desde então passaram a fixar agarras de madeira e pedra em paredes para completar seu treinamento. Essa forma de treino logo se espalhou pela Europa devido ao clima frio do inverno, e em 1984, na Bardonechia, Itália, realizou-se o primeiro campeonato de escalada indoor (BERTUZZI e col., 2005), criando um marco divisório e polêmico entre a escalada tradicional de montanhas com seus riscos e privações próprias de expedições em lugares inóspitos que delimitam esse esporte como perigoso e mortal (KRAKAUER, 1997).

    A nova modalidade era extremamente atlética, o grande feito se dava em alturas não superiores a trinta metros, com movimentos de equilíbrio e força que apenas os mais hábeis poderiam atingir, aproximando-os muito mais de ginastas do que de alpinistas, como são chamadas os montanhistas que escalavam os Alpes, Ferrer (2002) destaca essa nova forma de escalar denominando-a “esportivização do montanhismo”.

    Mas a escalada como afirma BECK (2001) é composta por diferentes jogos, ou de forma mais acadêmica é uma modalidade com diversas modalidades dentro de si. Essa colocação nos remete a percepção dos diferentes tipos de praticas de escalada e suas características distintas.

    Segundo PEREIRA (2007) as escaladas podem ser divididas em de gelo e em rocha, sendo a escalada em rocha subdividida em: Big Wall, escalar grandes extensões de paredes rochosas, utilizado materiais artificiais, isto é, ascender pelas cordas ou equipamentos presos a rocha, além de usar a técnica de escalada livre. Deve ter duração de mais de um dia. Esportiva, uma escalada que consiste em ascensão de rochas com o auxilio de equipamentos de segurança para o caso de queda, apenas utilizando o corpo e a força física para se atingir o topo. Ela se caracteriza pela ascensão de paredes de alto grau de dificuldade, e as proteções de segurança são sempre fixas a rocha, em geral as paredes de escalada esportiva têm em média trinta metros de altura. Boulder, ascensão de rochas mais baixas, com média de quatro metros de altura e proteção de colchões no lugar de cordas.

    A escalada em paredes construídas pode ser praticada no formato esportivo ou Boulder, simulando variadas formas de rochas, em placas de madeira e agarras para se segurar fabricadas em resina e pó de mármore, inclusive contendo desníveis, inclinações e obstáculos, simulando as situações encontradas na natureza (SOUZA, 2001).

    A escalada em paredes construídas é praticada com o sistema de segurança de top rope, isto é, com a corda passada pelo topo da escalada minimizando os riscos ao praticante. Outra opção é a técnica guiada, na qual o escalador leva a corda ao topo, tendo-a presa ao próprio corpo, nesse caso há riscos potenciais de queda maiores do que no top rope, sendo indicada a escaladores experientes (PEREIRA e ARMBRUST, 2010).

    Sobre a dificuldade de escalar evidenciam-se nessa modalidade as vias, ou caminhos com variadas dificuldades, podendo o escalador avaliar seu nível de desempenho pela via que consegue atingir sem quedas na primeira tentativa, isto é, à vista. Essa é a forma mais complexa, afinal o praticante não tem informações cinestésicas sobre essa nova via antes de sua tentativa (PEREIRA, 2010).

    Leva-se em consideração também que as paredes de escalada têm formas distintas sendo: Positiva, aquela com inclinação maior que 90º (em relação ao solo); Reta, ou perpendicular ao chão; Diedros e arestas, que são os encontros de faces maiores e menores do que 90 graus entre si; Negativa, aquela com inclinação menor que 90º; O teto que é paralelo ao solo. Essas inclinações aumentam consideravelmente o esforço físico, respectivamente, e a altura da parede exige uma continuidade do esforço que leva a exaustão pela repetição de movimentos e contração excessiva constante, principalmente dos membros superiores (PEREIRA, 2007).

    Outro aspecto decisivo na escalada são as formas das agarras para escalar, pois algumas provêm bons encaixes para as mãos enquanto outras permitem apenas para colocar as falanges distais, ou mesmo uma única falange (RESENDE JUNIOR, 1999). Além disso, o uso do sapato específico é essencial, a sapatinha como é conhecida tem solado de borracha aderente e fino, permitindo ótimo contato com as superfícies de apoio, mesmo as menores levando a um ótimo equilíbrio nas paredes.

    Sobre o desenvolvimento técnico de escaladores, um estudo realizado (PEREIRA e MANOEL, 2008), com escaladores de competição do estado de São Paulo traçou o perfil desses atletas. Os resultados mostram que a metade dos participantes treina entre cinco e seis vezes por semana e tem pelo menos cinco anos de pratica na modalidade. Esta frequência semanal de treinamento é semelhante à de atletas de futebol, voleibol, basquetebol, natação, ciclismo, corrida e judô apresentada por HERNANDES JUNIOR (2000). Além disso, para 43% dos pesquisados o treino de escalada ocorre nas próprias paredes, sem uso de outras estratégias como musculação, treinos aeróbios, ou outros. Poucos desses atletas têm treinador e eles dão pouca importância a esse profissional ser formado em Educação Física, apesar da literatura cientifica apontar o treinador como agente de melhora de desempenho.

    Considera-se nessa pesquisa que o treinamento organizado pode melhorar o desempenho e Barbanti (1979) define que o uso mais frequente do termo “treinamento” refere-se a uma instituição organizada cujo objetivo é a melhoria do condicionamento físico, psicológico, intelectual ou mecânico dos seres humanos. Na área do esporte, este termo é denominado treinamento esportivo e está relacionado com a preparação do esportista, visando o alcanço de níveis elevados de rendimento.

    DANTAS (2003, p.28) define treinamento como: “o conjunto de procedimentos e meios utilizados para se conduzir um atleta a sua plenitude física, técnica e psicológica dentro de um planejamento racional, visando executar uma performance máxima num período determinado”.

    A escalada trabalha com todos os grupos musculares, todavia há maior sobrecarga na região dos membros superiores, principalmente nas falanges e nos tendões flexores dos dedos. Ela costuma exigir agilidade, resistência de força pela exposição demorada em determinadas posições, força explosiva nos movimentos distantes e melhora a coordenação motora e equilíbrio, propiciando ao individuo superação de desafios cada vez maiores, onde envolvem cooperação e tomada de decisão entre os participantes, é corporais cinestésicas (GORDON, 1998).

    Criadas para trazer maior equilíbrio, poupar gasto energético e menor esforço as técnicas de escalada foram sendo desenvolvidas facilitando as mudança de direções, as posições nas diversas inclinações e diminuindo o esforço exercido nos pontos de apoio em cada situação. São elas:

    Observa-se que nessas técnicas a manutenção do cotovelo estendido, o centro de gravidade próximo dos pontos de apoio e um triângulo entre três pontos, para liberar um segmento para a próxima agarra, é o modo mais fácil de progredir (PEREIRA, 2007).

    Em relação às movimentações o equilíbrio estático é considerado mais preciso porque há mais certeza no alcance da agarra seguinte e melhor manutenção do equilíbrio durante a movimentação. No movimento em equilíbrio dinâmico, o escalador lança seu corpo para a próxima agarra, às vezes, desprendendo-se totalmente dos pontos de apoio. A vantagem, nesse caso está na economia de energia, pois a inércia ajuda a economizar energia muscular, porém perde-se em precisão.

A experiência de escalar

    Treino Paula Biolcati, 25 anos.

1° dia: 30/11/08:

    Esse primeiro dia foi marcado pelo excesso de ansiedade, como tudo que se faz pela primeira vez. Mas também pela frustração. Na primeira parede, acreditei que fosse capaz de subir, mas mal consegui começar, não entendia como deveria me posicionar a caí. Na segunda parede novo fracasso, escolhi errado uma agarra e não progredi. Na terceira parede, novamente uma tentativa ruim, não enxergava os movimentos que devia fazer e, após fadigar os antebraços, caí mais uma vez. Quarta via, cheguei ao meio da parede e fiquei nesse ponto por uns instantes, tentei, mas não saí do lugar. Quinta parede, antes de começar eu já não acreditava mais em chegar ao fim. Acho que foi por isso que nem cheguei à metade. Os sentimentos de irritação e vergonha me dominaram e acabei caindo.

    Na dança a maioria das coisas fazia, obtinha sucesso, mas na parede de escalada meu corpo parece não obedecer. Chego a ter raiva de mim e da via.

    Sinto como se estivesse fazendo uma conta de cabeça, daquelas bem grandes de três linhas, quando somo uma casa e vou para outra, já me esqueci o numero que ficou. Não consigo ler a via, meu pensamento se desorganiza e o esforço físico me impede de continuar.

    Resolvi tentar a sexta parede sentia que tinha que conseguir. Era questão de honra. Consegui ir mais alto do que em todas, só que quando estava próxima do fim meu corpo não respondia ao comando. Tive muita vontade de chorar, faltava muito pouco, muito pouco mesmo, era coisa de uma agarra, mas, não dava mais.

    Houve ainda uma sétima parede, mas estava exausta. Subi menos do que em todas as vezes que tentei e logo caí. Refleti sobre o lado psicológico do escalador, sobre o processo mental e emocional. Sobre o fato de acreditar, nunca deixar de tentar. Essa reflexão me deixou ainda mais com a certeza de que eu tinha que conseguir em outro dia, pois o cansaço era tremendo naquele momento. Pereira (2010) aponta que isso é resultado de um processo de desorganização não apenas mental, mas física, isto é, que toda minha estrutura corporal, mental e espiritual estava desajustada e que apenas com mais estímulo eu poderia-me auto organizar.

2º dia: 6/12/2008

    Fiz um breve aquecimento. E testei minha coragem numa parede de boulder caindo no colchão, foi tranquilo. Percebi que não tinha medo de me soltar, eu acreditava que o colchão podia me aparar. O boulder é um tipo de escalada que aprimora tanto as qualidades cognitivas e físicas do escalador quanto seu aspecto emocional, pois a ausência de cordas exige auto controle e fé em cada decisão tomada (PEREIRA e ARMBRUST, 2007).

    Também fiz um teste de isometria. Consegui ficar pendurada por um minuto e trinta e cinco segundos. Depois tentei uma flexão de braço na barra, mas não consegui fazer nenhuma.

    Essas percepções positivas do meu desempenho me fizeram muito bem, mas eu ainda estava apreensiva, devido ao dia anterior.

    A primeira parede pareceu muito mais fácil, estou conseguindo organizar meus pensamentos, o nível de dificuldade era o quarto grau, o mais fácil na escalada. Na segunda parede também consegui. Tudo pareceu mais fácil nesse dia. Na terceira e quarta tentativas não cheguei ao topo, mas as vias eram um pouco mais difíceis, um quarto grau superior.

    No último exercício fiz um trabalho de leitura de via em que memorizava as agarras que deveria usar para depois fazer a tentativa, foi um bom exercício, pois esse foi minha maior dificuldade no primeiro dia.

3º dia: 09/12/2008

    Em primeiro lugar fiz exercícios de resistência na barra fixa. Senti minhas mãos ardendo bastante, a pele ficou vermelha, por falta de costume em me pendurar.

    Realizei uma travessia na parede lateralmente, pensei que seria mais fácil. Já estou cansada.

    Fiz exercícios em top rope: subir quantas vezes conseguisse sem colocar o pé chão, sem seguir via, subir e descer desescalando, subir somente usando agarras pequenas. Ao final já estava bem cansada e não consegui terminar uma via.

    Nesse treino estava acompanhada de dois colegas da graduação e comparando meu desempenho com o deles, senti satisfeita, pois percebei que havia evoluído. Senti-me um pouco mais forte, resistente e confiante.

    No final desse dia, apareceu uma bolha enorme na minha mão direita que ardia muito. Aliás, as minhas mãos estavam ardendo muito e esfoladas. Mesmo assim continuei até a exaustão, tentando poupar minha mão e usar mais os pés e o corpo em equilíbrio. Quando o treino terminou, eu ainda tinha vontade de escalar mais, mas a minha pele não tinham nenhuma condição.

4º dia: 12/12/2008

    Após o aquecimento, fiz vários movimentos em travessia com variações: usando somente uma das mãos, somente um dos pés etc. Exercícios de equilíbrio e resistência muscular. O cansaço atrapalha a organização dos pensamentos. Fiz exercícios no qual uma pessoa mostra quais agarras posso segurar. Todos esses movimentos foram fadigando meus braços. Bertuzzi e colaboradores (2004) comentam que a força de preensão manual é um dos fatores primordiais na escalada esportiva e eu podia agora sentir isso.

    Comecei a olhar as agarras com apoio apenas para as falanges distais dos dedos como possibilidades reais.

    No final do treino fiz três vias em top rope, com quarto grau superior de dificuldade, todas até o fim. Uma felicidade infantil me atingiu.

5º dia: 15/12/2008

    Nesse treino conheci as técnicas de Flag, Back Step, Drop Knee e Twist Lock. Foram vários exercícios em travessias. A mudança que sinto é que mesmo fadigando consigo terminar o exercício. Começo a sair do quarto escuro em que estava escalando e consigo ver luz no fim do túnel. Percebe-se que o auxílio de um profissional competente na organização dos exercícios e no reforço motivacional pode alavancar os resultados de um escalador como aponta Costa (2004). Acredito que a formação em Educação Física somada a experiência de escalar do meu professor que ministrava os treinos era essencial no meu desenvolvimento.

    Além de vários exercícios: Escalar com uma fita amarrando nas mãos; Escalar procurando manter o corpo em apoios triangulares; Escalar descalça; Fazer cada movimento parando cinco segundos para depois seguir ao próximo movimento; Descansar uma das mãos enquanto a outra segura o peso do corpo. Esses exercícios baseiam-se na ideia de Quaine e Vigouroux (2004) de que devemos estimular diversas formas de segurar as agarras para um melhor posicionamento e utilização de força.

    Ao final fiz top rope. Mesmo com certa dificuldade escalei novamente um quarto grau superior.

    Consigo ver inúmeras possibilidades que não existiam antes para mim. Deixei de olhar as agarras e julgá-las pela aparência, tento pegá-las de qualquer jeito. Antes quando começava a fadigar simplesmente não sabia o que fazer, agora consigo controlar melhor isso. Tenho orgulho de mim. Quero contar as pessoas o que eu consigo fazer.

6º dia 17/12/2008

    Após o aquecimento e alguns exercícios na parede, fadiguei, mas tenho confiança que posso continuar, meu corpo já está mais adaptado aos estímulos.

    Escalei quatro vias sem cair, todas de quarto grau e repeti as mesmas novamente, para testar minha resistência. Caí na segunda tentativa. Queria muito progredir na parede, mas já estava no meu limite.

    Percebo que às vezes ainda peco por falta de atenção, em relação a equilíbrio, manter a posição de triangulo e saber como descansar sem descer da parede. Pijpers, Oudjeans e Bakker (2005) apontam em seu estudo, que em estado de fadiga a percepção do escalador muda, tornando mais difícil manter o desempenho.

7º dia 19/12/2008

    No aquecimento fiz uma via de travessia muito longa e o exercício três – três que consiste em cada escalador criar três movimentos e o seguinte repetir os movimentos e criar mais três e assim por diante até que a fadiga os derrube. Esse jogo ajuda a memorizar as agarras e os movimentos, além de ser divertido.

    Agora eu devia criar boulders para treinar e com o amigo do exercício anterior cada um criava para o outro, foi um bom teste para melhorar minha percepção dos movimentos e possibilidades do corpo na parede. Fizemos também os botes, que não consegui concluir nenhuma vez, mas que são importantes para aprender a soltar-se da parede mantendo a confiança em si.

    Apesar de cansada terminei com uma via de top rope em quarto grau superior.

8º dia 21/12/2008

    Fiz vários exercícios como nos dias anteriores, Realizei seis vias de quarto grau.

    Recebi elogios ao final o que me deixou bastante satisfeita, na verdade eram os primeiros elogios desde o início.

    Enquanto descansava fazia segurança para meu amigo que escalou cinco vias diferentes, eu deveria observar para aprender mais sobre movimentação. Acredito que não é fácil estabelecer essa relação entre visualizar e executar os movimentos.

9º dia 02/01/2009

    Foi um dia de Boulder. Parece ser outro mundo da escalada, muito mais cansativo e difícil. Os movimentos em equilíbrio dinâmico são muito exigentes fisicamente. Em menos tempo me sinto mais cansada do que em outros dias.  

    Tentei meu primeiro quinto grau e depois de algumas tentativas e quedas cheguei ao topo. Foi ótimo atingir um grau mais elevado, mas nunca tinha sentido dor dessa forma.

10º dia 05/01/2009

    Aquecimento em travessia. Permaneci na parede até ficar bem cansada. Hoje eu estava apreensiva só pelo fato de saber que é meu ultimo treino dentro da perspectiva de relatar minha experiência.      

    Fiz novamente o teste de barra, não mudei quase nada meu desempenho, não entendi o porquê, pois me sinto mais forte e resistente. Pereira, Nista-Piccolo e Araujo (2010) apontam que é uma questão de tempo de prática, pois as articulações e tendões das mãos devem se fortalecer e o tempo para que isso ocorra é mais demorado do que para que a musculatura de fortaleça.

    Na primeira via tentada completei um quinto grau à vista. Estava muito satisfeita, rindo a toa, me sentindo vitoriosa.

    No segundo cometi alguns erros, pulei algumas agarras, mas também consegui chegar ao final sem cair.

    No terceiro consegui mandar, era uma via difícil com um teto, mas consegui. Estava consolidado meu quinto grau.  

    Na quarta parede tentei um quinto superior numa parede menos negativa e com pequenas agarras, terminei mais uma vez.

    Quinta parede. Muito mais difícil, quinto superior, foram três tentativas só pra começar a via, e não consegui finalizar.      

    Percebi minha evolução quando ia para casa sorrindo.

Considerações finais

    Escalar talvez tenha sido um dos maiores desafios da minha vida. Tanto pela dificuldade do início da experiência, quanto pela real possibilidade de superação que me possibilitou como pessoa.

    Cada novo conhecimento adquirido no processo, quer seja acadêmico, ou corporal, foi um aprendizado que ficou marcado na em mim, pode-se dizer que foi incorporado.

    Pereira (2010) afirma que escalar é um processo de transformação do ser na rua relação com meio ambiente, em que o meio ao mesmo tempo em que cria condições desfavoráveis para o escalador ultrapassar, provém o mesmo de intenso prazer quando esse atinge seu objetivo. Ao final o escalador não é mais o mesmo, pois se tornou uma nova pessoa, nem melhor, nem pior, mas diferente daquela que não passou pelos obstáculos impostos pelo mundo vertical.

    A escalada enquanto cultura corporal deveria ser contemplada pela Educação Física como um conteúdo a ser desenvolvido e a desenvolver nas crianças e jovens os mesmos aspectos que atingi como: persistência, coragem, lógica, intuição, força, resistência, equilíbrio, controle emocional e por que não dizer alegria.

Referências bibliográficas

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