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Perfil nutricional e taxa de sudorese de nadadores juvenis

Perfil nutricional y tasa de sudor de nadadores juveniles

Anthropometric profile and sweat rate in young swimmers

 

*Graduanda do curso de nutrição do Centro Universitário São Camilo

**Nutricionista. Especializanda em Fisiologia e Metabolismo no ICB-USP

***Nutricionista. Coordenadora da Pós Graduação em Nutrição Esportiva

e Estética do Centro Universitário São Camilo

(Brasil)

Fernanda Medeiros*

Erika Borges**

Luciana Rossi***

lrossi@scamilo.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          A natação é um esporte praticado por indivíduos de todas as faixas etárias em ambos os sexos. A participação da criança e do adolescente em atividades esportivas é parte importante do processo de crescimento e desenvolvimento, porém o acompanhamento nutricional neste processo é essencial. O objetivo foi avaliar o perfil antropométrico, determinar a taxa de sudorese, o risco de desidratação e avaliar os hábitos dietéticos em atletas juvenis de natação. Os atletas apresentaram %G = 24,9 ± 9,2% e IMC=20,5 ± 3,78 kg/m² indicando acúmulo de gordura para a fase de estirão pubertário. A taxa de sudorese variou amplamente entre os nadadores, porém sem risco de desidratação devido à baixa perda de peso após o treino. Houve baixa ingestão do grupo das hortaliças e cereais. O baixo consumo de carboidratos, vitaminas e minerais observado podem diminuir a performance e rendimento esportivo. Sugere-se que sejam realizados novos estudos para adequadas estratégias de hidratação para essa faixa etária.

          Unitermos: Natação. Hidratação. Alimentação. Adolescente.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A natação é um esporte praticado por indivíduos de todas as faixas etárias em ambos os sexos. Têm-se notícia da existência de associações desportivas praticando natação como esporte competitivo desde 1839, porém desde a pré-história o homem já nadava, seja com finalidades para recolher alimento, seja em momentos de outras necessidades, como fugir de um perigo em terra, lançando-se no meio liquido e nele se deslocando (Museu do Esporte, 2009).

    A resistência da água é a principal força a ser vencida durante a locomoção aquática. Como a densidade da água é aproximadamente 800 vezes maior que a do ar isso requer um elevado gasto energético. O máximo desempenho na natação é conseguido por meio da associação da máxima potência metabólica (aeróbia e anaeróbia) e economia de locomoção do atleta (maximizar propulsão e minimizar resistência) (Caputo et al, 2006).

    A participação da criança e do adolescente em atividades esportivas é parte importante do processo de crescimento e desenvolvimento. Além da prevenção de diversas patologias, tais como obesidade, diabetes, hipertensão, o exercício oferece a oportunidade para o lazer, para a integração social e o desenvolvimento de aptidões que levam a uma maior auto-estima e confiança e também tem sido difundido que a prática regular da natação pode ser importante na ajuda ao tratamento da asma (Alves et al, 2007).

    A participação cada vez mais precoce de jovens em eventos competitivos e seu envolvimento em programas de treinamento intensos fazem com que os profissionais da saúde fiquem atentos a adoção de comportamentos alimentares que podem trazer conseqüências deletérias à saúde, tais como desidratação, práticas de controle de peso inadequadas e distúrbios alimentares (Juzwiak et al, 2000). No entanto, segundo posicionamento de entidades científicas, direcionado à nutrição e à performance atlética, o consumo de dieta variada e balanceada atende o incremento nas necessidades de micronutrientes gerado pelo treinamento (Panza et al, 2007).

    O aumento da sudorese durante o exercício, principalmente em altas temperaturas, leva a uma rápida desidratação, como grande parte da água perdida pela transpiração é proveniente do plasma sanguíneo, ocorre diminuição do volume plasmático e há uma redução da capacidade de trabalho, já que o fluxo sangüíneo tem que ser mantido para suprir o oxigênio e substratos aos músculos e dissipar o calor pela superfície da pele (Rossi e Tirapegui, 2001). Com 1 a 2% de perda hídrica em relação ao peso corporal, inicia-se um aumento na temperatura corporal considerável; em torno de 3% de desidratação, há uma redução importante no desempenho; com 4 a 6% pode ocorrer fadiga térmica e a partir de 6% ocorre risco de choque térmico, coma e morte (Perellan et al, 2005).

    A importância da nutrição na performance e saúde de atletas já se encontra suficientemente documentada na literatura (Lukaski, 2004). Pesquisas de consumo alimentar de atletas conferem grande contribuição no estabelecimento de orientações nutricionais específicas que possam auxiliar na melhora do desempenho físico e na manutenção da saúde do indivíduo (Mullinix et al, 2003). Sabe-se que a reposição hídrica adequada regula a circulação sanguínea, o volume plasmático e o controle da temperatura corporal. Não compensar a perda de líquidos, principalmente no exercício físico em ambientes quentes e úmidos, pode trazer sérias conseqüências a atletas em treinamento (Montain, 2008).

    O objetivo do estudo foi avaliar o perfil antropométrico, determinar a taxa de sudorese, o risco percentual de desidratação e avaliar os hábitos dietéticos em atletas juvenis de natação.

Procedimentos metodológicos

    Participaram voluntariamente do estudo 8 atletas, 7 do sexo masculino e 1 do sexo feminino, com idades entre 6 e 15 anos. Ambos os grupos de atletas encontravam-se em período de treinamento moderado, 5 vezes na semana com duração de 90 minutos cada treino. Participantes de competição há, no mínimo 1 ano. Nenhum participante tinha histórico médico com problemas de saúde.

    Todos foram informados e orientados com antecedência sobre a realização do estudo e os pais e/ou responsáveis por indivíduos menores que 18 anos, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, o qual garantiu a privacidade das informações pessoais conforme documento aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário São Camilo sob o número 097/06. O presente estudo atendeu às normas para realização de pesquisa em seres humanos, resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/96.

    Os dados antropométricos estudados foram: estatura corporal por meio de uma fita métrica com precisão de 0,5 cm, afixada em parede, sem rodapé (Rogatto, 2003). A medida de massa corporal foi feita antes do treino em balança tipo plataforma da marca Black & Decker com precisão de 100 gramas, com carga máxima suportada de 150 quilogramas (Rogatto, 2003). A partir das medidas de massa e estatura corporal foi calculado o índice de massa corporal (IMC) pela equação IMC = Peso/Altura² recomendados pela OMS (1997).

    Para avaliar o percentual de gordura (%G) foram mensuradas as dobras cutâneas tricipital e subescapular com plicômetro clínico da marca Cescorf, do lado direito do corpo, em triplicata, registrando-se o valor médio e calculou-se o %G pela equação proposta por Slaughter e colaboradores (1988) que é específica para crianças e adolescentes fisicamente ativos. Também foram coletados dados sobre idade e modalidade da competição.

    Para o estudo dietético foi empregado o questionário de freqüência alimentar semi-qualitativo, o qual foi comparado à Pirâmide Alimentar Brasileira proposta por Philippi et al, (1999). No questionário de freqüência alimentar, os alimentos foram divididos em nove grupos: carnes, leite e derivados, ovos, cereais, leguminosas, vegetais, frutas, gorduras e diversos, a fim de avaliar o consumo alimentar dos atletas.

    Um dia antes do primeiro treino, o estudo foi iniciado. Os atletas foram orientados a manter sua alimentação rotineira e treinamento normal.

    O estudo experimental constituiu em uma intervenção pareada. No dia antecedente ao treino, os atletas foram orientados segundo proposto por Prado et al (2009) para ingestão de aproximadamente 500 mL de líquido, cerca de 2h antes do exercício, para promover uma hidratação adequada e permitir que haja tempo para excretar o excesso de água ingerido. No dia do estudo nenhum atleta ingeriu água e/ou nenhum outro tipo de líquido durante treino. Foi requisitado aos nadadores que, se possível, não houvesse a ingestão de líquidos e nem a ida ao banheiro até a pesagem final, e apesar de não ser representada como uma norma impositiva, todos acataram estas recomendações, sem relatos de desconforto ou qualquer outro estresse quando questionados durante o treino conforme estudo de Reis et al (2009).

    No dia do treino a temperatura do ambiente manteve-se, em média, 27,4°C, assim como a temperatura da água manteve-se a 29°C e a umidade relativa do ar (URA) a 76,5% conforme determinada por um termo higrômetro marca Equiterm modelo TH439.

    Em cada treinamento, tanto antes como depois, os seguintes dados foram coletados: distância percorrida (em metros), consumo de líquidos (em mililitros), massa corporal (em quilogramas) e taxa de sudorese (em porcentagem). Após o treino foi aconselhada a ingestão de 1L a 1,25L de líquido para cada quilograma de água corporal perdido durante o exercício segundo Armstrong et al, (1996) e Casa et al, (1999).

    Para avaliação da sudorese utilizou-se metodologia recomendada pela Diretriz do American College of Sports Medicine - ACSM, (2001), que consistiu na pesagem imediatamente antes (peso inicial – Pi) e após o treino (peso final – Pf). A partir destes valores foi realizado o cálculo da taxa de sudorese (TS) através da fórmula: TS = [(Pi – Pf)x1000] / tempo total de atividade física (Perella et al, 2005). Também foi calculada a porcentagem de perda de peso (%PP) em relação ao peso inicial de cada atleta.

Resultados

    Os atletas apresentaram, em média, idade de 9,6 ± 3,54 anos, peso 45,7 ± 18,6 kg e estatura de 146,3 ± 20,65 cm. Quanto às medidas antropométricas, 55,5% dos atletas foram classificados com IMC sobrepeso e 45% eutróficos segundo as curvas de crescimento (WHO, 2007) (Tabela 1). O percentual de gordura (%G) médio dos nadadores juvenis foi de 24,9 ± 9,2%, e classificados como moderadamente alto (variação entre 20,01 a 25%) para crianças, porém com ampla variação, de 13,7 a 43,9%, classificados respectivamente como adequado e excessivamente alto (Deurenberg et al, 1990) (Tabela 1).

Tabela 1. Características antropométricas da população de nadadores. São Paulo, 2010.

    Após 90 minutos de treino, encontrou-se uma taxa de sudorese média de 5,4 ± 5,7 mL/min, com uma perda de 0,8 ± 0,7% do peso corporal inicial (Tabela 2).

Tabela 2. Pesos iniciais e finais, percentual da perda de peso, taxa de sudorese dos nadadores. São Paulo, 2010

    A análise da ingestão alimentar dividida por grupos alimentares comparada as propostas de Phillipi et al, (1999) encontram-se na Tabela 3 e Gráfico 1.

Tabela 3. Freqüência de ingestão de grupos alimentares da Pirâmide dos Alimentos. São Paulo, 2010

 

    Quanto às refeições diárias, 62,5% dos atletas, referiram fazer seis refeições diárias que incluem desjejum, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia. Dos atletas 25% referiram fazer 5 refeições diárias e 12,5% dos nadadores faziam somente 4 refeições diárias que incluíam café da manhã, almoço, café da tarde e jantar.

Discussão

    Ao analisar os resultados antropométricos do presente estudo, observa-se que os valores obtidos no IMC concordam com os valores obtidos para %G que são sobrepeso e moderadamente alto, respectivamente. Contudo, é importante ressaltar que 87,5% dos indivíduos estudados estão na fase dos 7 aos 10 anos de idade, a qual há maior velocidade de ganho de peso, principalmente gordura corporal devido a uma adaptação do organismo para que possa ocorrer o estirão pubertário (Brasil et al, 2007). No entanto, não deve ser descartada a informação de que crianças que apresentaram gordura corporal média bem próximas a 25% podem estar em risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, hipertensão, hipercolesterolemia e hiperlipidemia (Willians et al, 1992). Além disso, os resultados encontrados foram bastante superiores ao relatados por outros estudos no Brasil (Pires et al, 2002).

    Quanto à avaliação do percentual de gordura em crianças e adolescentes, a literatura refere ser uma determinação com alto grau de dificuldade devido à composição química da massa livre de gordura diferente da de adultos, e por alterações inerentes ao processo de maturação (Deurenberg et al, 1990). Informação que coincide com diferentes valores encontrados no presente estudo.

    Foi observado que mesmo com altas temperaturas e umidade relativa do ar, os atletas obtiveram uma taxa de sudorese (5,4 ± 5,7mL/min) considerada com pouco risco de desidratação, também com pouca percentagem de perda de peso de 0,8 ± 0,7kg. Estudos sobre taxa de sudorese em atletas na faixa etária do presente trabalho são escassos e dentre eles, pode-se citar os estudos de Perella et al (2005) e Reis et al (2008) que estudando taxa de sudorese e porcentagem de perda de peso encontraram resultados de (8,0 ± 3,7mL/min e 1,5 ± 0,7%) e (8,8 ± 6,6 mL/min e 0,9 ± 0,6%), respectivamente.

    Em temperaturas e umidades elevadas, o desempenho em exercícios prolongados é reduzido, podendo levar à fadiga (Maughan; Leiper, 1994). O estudo de Meyer et al (2008) relata que altas temperaturas durante um exercício físico levam a um alto risco de exaustão, de estresse e de possíveis danos à vida do atleta. Murray (1998) relata que os prejuízos desencadeados por uma hidratação inadequada, em temperaturas elevadas, prejudicam o desempenho, provocando riscos à saúde. Para pessoas que vivem ou competem nesses ambientes, recomenda-se uma boa dieta líquida, consumindo quantidades adequadas de fluidos durante as 24h que precedem o evento, especialmente durante a última alimentação e o exercício, para que o rendimento não seja prejudicado (Murray, 1998).

    É importante ressaltar que os atletas que costumeiramente se hidratam durante o treino (50%) demonstraram maiores valores de taxa de sudorese e %PP após o treino quando comparados aos atletas não tem o costume de ingerir líquido que resultaram em baixa %PP e taxa de sudorese. A desidratação, mesmo pequena (menor que 2%), diminui a performance, além de expor o atleta a sintomas como cãibras e exaustão térmica (Meyer et al, 2008). Murray (1998) em seu estudo levantou a hipótese sobre a ação do Hormônio Anti-Diurético (ADH) momento no qual há uma redução na produção de urina e um aumento da retenção de fluidos ingeridos tornado a urina mais concentrada para manter as quantidades de líquidos corporais. Uma segunda hipótese do autor é a do seqüestro da água no intestino para manter a hidratação durante o exercício.

    É sabido que jovens atletas que têm um aumento mais rápido da temperatura interna em comparação com os adultos para o mesmo percentual de desidratação, o que indica que possuem uma termorregulação menos eficiente, proveniente de sua menor taxa de sudorese e aumento na produção de calor me­tabólico (Meyer et al, 2008). Naughton e Carlson (2008), em sua recente revisão observam que a sensibilidade das glândulas sudoríparas e dos mecanismos de sudorese em resposta ao exercício no calor, em população mais jovem difere dos adultos, sendo que as crianças necessitam de um maior aumento da temperatura corporal antes que a sudorese ocorra. Embora nossos resultados não indiquem uma alta taxa de sudorese nos nadadores, isto não significa, necessariamente, que estes estavam fora de risco para desenvolvimento de hipertermia, sendo que, foi observado redução hídrica em relação ao peso inicial e peso final do treino em, pelo menos 50% da amostra.

    Relacionado à ingestão alimentar, foi observado baixo consumo de hortaliças que são fontes de vitaminas e minerais e funcionam como reguladores essenciais nas reações metabólicas (DRI, 2001). As vitaminas e minerais participam de processos celulares relacionados ao metabolismo energético; contração, reparação e crescimento muscular; defesa antioxidante e resposta imune (Lukaski, 2004). Contudo, o exercício de treinamento, pode levar a alterações no metabolismo, na distribuição e na excreção de vitaminas e minerais (DRI, 2001). Em vista disso, as necessidades de micronutrientes específicos podem ser afetadas conforme as demandas fisiológicas, em resposta ao esforço (Lukaski, 2004).

    Foi observado que há baixa ingestão de cereais, tubérculos e raízes. Segundo estudo de Philippi et al, (1999) a recomendação ingerir de 5-9 porções desse grupo. A média de ingestão dos nadadores foi de 3 porções do grupo estudado.

    O consumo apropriado de carboidrato é fundamental para a otimização dos estoques iniciais de glicogênio muscular, a manutenção dos níveis de glicose sangüínea durante o exercício e a adequada reposição das reservas de glicogênio na fase de recuperação (DRI, 2001). Além disso, a ingestão de carboidrato pode atenuar alterações negativas no sistema imune devido ao exercício. Existem evidências de que o consumo de dieta rica em carboidrato, em período de treinamento intenso, pode favorecer tanto o desempenho como o estado de humor do atleta (Achten et al, 2004).

Conclusão

    No presente estudo o percentual de gordura e índice de massa corporal mostraram-se acima da média quando comparados a outros estudos, fator que pode ser alterar com a fase de estirão da puberdade. Mesmo com um percentual de perda de peso e taxa de sudorese baixos, em relação a outros esportes, não há como afirmar que há um baixo risco de hipertermia induzida por fatores ambientais. No caso de esportes em locais fechados, onde variação de temperatura e umidade são altas o desempenho pode ser prejudicado. Para evitar uma alta perda de líquidos durante o treino e competições, são necessárias orientações individuais aos atletas quanto à ingestão de líquidos antes, durante e depois das atividades físicas, já que cada atleta tem necessidades hídricas diferentes. O baixo consumo de carboidratos, vitaminas e minerais podem causar diminuição da performance e rendimento esportivo. Sugere-se novos estudos para elaborar guias de adequada estratégia de reidratação e recomendações de consumo por kcal/peso nesta faixa etária.

Referências bibliográficas

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