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Sintomas de stress pré-competitivo em escolares 

praticantes de voleibol masculino da cidade de Pelotas

Síntomas de estrés precompetitivo en escolares que practican voleibol masculino en la ciudad de Pelotas

 

*Faculdade Sogipa de Educação Física, Porto Alegre

**Escola de Educação Física da UFRGS, Porto Alegre

(Brasil)

Esp. Fernando Jassin Gutierrez*

ferjgutierrez@hotmail.com

Dr. Rogério da Cunha Voser**

rpvoser@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo verificar os principais sintomas de stress pré-competitivo em escolares praticantes de voleibol masculino, da rede pública e particular da cidade de Pelotas/RS, com idades entre 15 e 17 anos. Com uma amostra de 37 alunos, o estudo caracterizado como uma investigação descritiva utilizou como instrumento de avaliação a Lista de Sintomas de “Stress” Pré-competitivo Infanto-juvenil (LSSPCI) proposto por De Rose Jr. (1998). Após análise dos resultados verificou-se que os sintomas mais frequêntes foram os relacionados com níveis elevados de ansiedade - "Fico empolgado (a)”; “Não vejo a hora de competir”, “Fico nervoso” e “Fico ansioso”. Situações relacionadas com a responsabilidade também foram sintomas que apareceram bastante entre as respostas dos atletas. Resultados esses que se assemelham também aos encontrados na literatura. Diante do exposto, sugere-se que novos estudos sejam realizados para que possa haver um melhor acompanhamento e controle sobre essas situações, podendo assim garantir resultados mais satisfatórios tanto no esporte quanto no desenvolvimento dos atletas.

          Unitermos: Stress. Ansiedade. Voleibol. Escola. Atleta.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Vários autores defendem a ideia de que a iniciação esportiva teve contribuição significativa para a formação do ser humano, podendo-se concluir então que a prática esportiva é uma atividade saudável que resulta na melhora funcional do indivíduo em geral.

    Contudo, inúmeros estudos vêm sendo feitos acerca das limitações dos benefícios que a prática da atividade física pode acarretar. Consequentemente, qualquer atividade física praticada requer atenção especial, pois funciona num sistema dinâmico bipolar onde um indivíduo pode ser treinado até atingir um nível de excelência atlética, porém a preparação deve considerar os efeitos não somente sobre o corpo, mas também sobre a mente, uma vez que uma prática incompleta pode gerar lesões e patologias permanentes (CARVALHO, 2007).

    Carvalho (2007), ainda nos diz que quando bem administrada, a participação em qualquer tipo de atividade física pode trazer benefícios ao seu praticante. Em caso negativo, poderá trazer malefícios físicos, orgânicos, mentais e por conseqüência influenciar seu desempenho. Alguns estudos na área da medicina esportiva impõem restrições à prática de esportes competitivos.

    De Rose Jr. (2004) citado por Silva et all (2011) nos diz que ser um atleta de alto rendimento pode ser uma condição desejada por muitos jovens, pois visualizam a possibilidade de uma ascensão social e financeira. No entanto, a carreira de um atleta exige dedicação aos treinos, às competições, viagens, compromissos, a pressão que têm que suportar para se manter na equipe ou na posição. Muitos conseguem lidar bem com estes fatores psicológicos, porém, outros possuem mais dificuldades em conduzir certas situações. A competição esportiva, por todas as questões que a envolve, e as cobranças que se apresentam durante o espetáculo, é considerada grande fonte de estresse.

    Segundo De Rose Junior (2002), dentro do ponto de vista físico e psíquico, o stress, de forma isolada, não é capaz de levar o atleta à fadiga ou à exaustão psíquica, porém o seu acúmulo pode levar, sim, ao esgotamento do atleta ou à redução de seu desempenho.

    Lipp (1996) define stress como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causadas pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, deixe-a irritada, a amedronte, excite, confunda ou mesmo que a faça imensamente feliz.

    Ainda Munomura e Caruso (1999) dizem que a palavra em si quer dizer "Pressão", "insistência", e estar estressado significa dizer "estar sob pressão", ou estar sob ação de estímulos insistentes

    Segundo Stefanello (2007) a competição esportiva nem sempre representa uma fonte de stress para o atleta. Ainda segundo ele pesquisas têm demonstrado que para alguns atletas a competição esportiva pode representar uma forte ameaça ao seu bem estar físico, psicológico e social e, para outros, pode ter um caráter desafiador e motivador.

    Já para Corbin e Lindsey (1994) citado por Munmura e Caruso (1999) estresse seria uma resposta não especifica do corpo a qualquer demanda com intuito de manter o equilíbrio fisiológico do corpo.

    De acordo com o descrito acima sobre as definições e situações causadoras do stress, pode-se afirmar então que o stress pode ser visto tanto de forma positiva quanto negativa.

    Para Anshel (1990) citado por De Rose Jr (1997) o estresse é positivo quando é visto como uma necessidade de alcançar ou manter uma ativação ótima antes e durante a competição, ou negativo quando derivado de pressões externas ou internas do próprio individuo.

    Porém, para Passer (1984) citado por De Rose Jr (1997), os atletas nem sempre encaram a competição como ameaçadora, em virtude da grande quantidade de recursos que ele possui para enfrentá-la. Quando isto ocorre, a competição passa a ser um desafio, um fato que pode considerado positivo para o seu desempenho.

    Já para outros atletas, no entanto, a competição é vista como uma grande ameaça e provoca altos níveis de estresse, tornando-se um fator negativo e redutor de desempenho. Para Miller et all (1990) citado por De Rose Jr (1997), atletas sob muita pressão tendem a ter menor controle sobre suas próprias ações e atividade, incluindo o seu desempenho esportivo.

    Contudo, porém, o grau de motivação do atleta é que fará com que ele continue ou não na prática esportiva, ou seja, um atleta desmotivado não suportará as mesmas situações de stress do que um atleta que esteja motivado.

    Baseado no exposto, o presente estudo tem como objetivo verificar os principais sintomas de stress pré-competitivo em escolares praticantes de voleibol masculino, com faixa etária entre 15 e 17 anos, da rede particular e pública de ensino da cidade de Pelotas/RS.

Materiais e métodos

    O presente estudo foi baseado em uma pesquisa do tipo descritiva que, segundo Thomas e Nelson (2002), é um tipo de pesquisa preocupada com o status e seu valor está baseado na análise e descrição objetivas e completas.

    A amostra da pesquisa foi composta por 37 atletas escolares de voleibol, da rede particular e pública de ensino da cidade de Pelotas/RS, de faixa etária de 15 a 17 anos. A coleta dos dados foi realizada durante o período de 21 de novembro de 2011 a 25 de novembro de 2011.

    Para verificar os sintomas de stress pré-competitivo foi utilizado um instrumento denominado Lista de Sintomas de “Stress” Pré-Competitivo Infanto-Juvenil - LSSPCI. Este instrumento é específico para determinar a frequência de ocorrência de sintomas de stress pré-competitivo podendo ser administrado em atletas com faixa etária entre 10 e 14 anos participantes de eventos esportivos de nível municipal, regional, estadual, nacional e internacional, podendo ser utilizado também em atletas de faixas etárias superiores, inclusive adultos, já que a linguagem está devidamente adequada às mesmas. A LSSPCI apresenta 31 sintomas de stress onde o atleta avaliado deve escolher, em uma escala de 1 a 5 (um a cinco), com que frequência determinado sintoma acontece com ele durante as 24 horas que antecedem a competição (DE ROSE JR, 1998).

    O estudo foi realizado em 3 etapas, que ocorreram durante uma competição escolar na cidade de Pelotas/RS (Jogos Escolares de Pelotas - JEPEL). Inicialmente foi feito contato com os Professores/Técnicos responsáveis pelas equipes e atletas para saber se havia interesse em participar do estudo. Após o aceite, foi entregue aos atletas o questionário (LSSPCI) e respondido por eles sem interferência de ninguém.

    Após coletar os dados foi feita uma análise para determinar os principais sintomas do stress pré-competitivo bem como a moda, descrito em valores percentuais apresentados posteriormente.

Resultados e discussões

    Com o objetivo de verificar os principais sintomas de stress pré-competitivo em escolares praticantes de voleibol masculino, com faixa etária entre 15 e 17 anos, da rede particular e pública de ensino da cidade de Pelotas/RS, foi aplicado o questionário LSSPCI.

    A frequência de cada resposta está descrita em valores percentuais na Tabela 1.

Tabela 1. Frequência de queixas de sintomas de “stress” pré-competitivo de escolares praticantes de voleibol, com idades entre 15 e 17 anos, da cidade de Pelotas (n=37)

    As respostas que mais se repetiram (Moda) estão descritas na Tabela 2.

Tabela 2. Frequência de queixas de sintomas de “stress” pré-competitivo de escolares praticantes de voleibol, com idades entre 15 e 17 anos, da cidade de Pelotas (n=37)

    A partir da análise dos dados foi possível verificar que, conforme dados da Tabela 1, o sintoma “Fico preocupado (a) com meus adversários” foi respondido por 43,24% dos escolares (Muitas Vezes e Sempre). Conforme Miller et all (1990) citado por De Rose Jr (1999) a expectativa sobre o adversário pode ser uma situação geradora de stress pré-competitivo, podendo alguns atletas, inclusive, apresentar esse comportamento até uma semana antes do jogo, podendo causar instabilidades como desentendimentos com familiares e amigo.

    Verificou-se também que os sintomas “Fico empolgado (a)” respondido por mais de 60% do entrevistado (“Muitas Vezes” e “Sempre”) e “Não vejo a hora de competir” respondido por aproximadamente 50% dos entrevistados (“Muitas Vezes” e “Sempre”) assemelham-se aos resultados encontrados por Oliveira et all (2011) no seu estudo com atletas de universitárias de handebol e voleibol.

    Silva et al (2011) em um estudo desenvolvido com 30 (trinta) atletas do sexo masculino praticantes de futebol, com idades entre 10 e 17 anos, demonstrou que, “Muitas Vezes” ou “Sempre” (100% das respostas) os atletas ficam empolgados e 84,4% não vêem a hora de competir ("Muitas Vezes” ou “Sempre”). Filho e Zaballa (2009) em um estudo com meninas praticantes de voleibol também verificou que muitas atletas se sentem empolgadas com a proximidade da competição, resultado encontrado também por Barbin (2003) em um estudo com 12 atletas infanto-juvenis praticantes de voleibol do sexo masculino.

    Segundo Weinberg e Gould (2001) atletas jovens desejam que a competição aconteça em seguida, pois o organismo tem uma reação de defesa com a proximidade de um evento, que apresenta uma tendência a evitar ou a eliminar alguma coisa que possa causar ameaça ao seu normal funcionamento.

    Mais de 50% dos escolares que participaram do estudo responderam que ficam ansiosos (Muitas Vezes; Sempre) no período que antecede uma competição. Weinberg & Gould (2001) afirmam que a intensidade da ansiedade que é vivenciada pelo atleta depende da sua personalidade no que se refere à maneira de encarar inúmeras situações, assim como o seu preparo psicológico para tal situação. Nervosismo, preocupação e agitação corporal são sintomas de ansiedade elevada, que precisa ser controlada para que não haja prejuízo do desempenho dos atletas. Os sintomas “Fico nervoso (a)” e “Fico preocupado (a) com o resultado da competição” que também apareceram com grande incidência entre as respostas podem justificar isso. De Rose Jr. et all (2000) em um estudo com 723 jovens esportistas brasileiros utilizando a LSSPCI verificou a frequência com que esses sintomas ocorriam, obtendo resultados semelhantes aos posteriormente encontrados aqui para essas três situações (“Fico nervoso (a)”, “Fico ansioso (a)” e “Fico preocupado (a) com o resultado da competição”).

    Situações relacionadas com a responsabilidade também foram sintomas que apareceram bastante entre as respostas dos atletas, podendo ser verificado nas questões “Sinto-me mais responsável” e “Tenho medo de competir mal”. No estudo de Rocha e da Silva (2005) com o objetivo de verificar os sintomas mais frequêntes de estresse pré-competitivo na natação números semelhante foram encontrados para esses dois sintomas citados. Hirota et al (2008) também encontraram valores elevados para esses sintomas em um estudo com atletas universitárias do sexo feminino do estado de São Paulo que praticavam futsal.

    Em contrapartida a esses sintomas que apresentaram altos índices de incidência positiva entre as respostas, os sintomas “Suo bastante”; “Fico preocupado (a) com as críticas das pessoas”; “Sinto muita vontade de fazer xixi”; “Rôo (como) as unhas”; “Minha boca fica seca”; “A presença de meus pais na competição me preocupa”; “Fico aflito (a)”; “Tenho dúvidas sobre minha capacidade de competir”; “Sonho com a competição”; “Fico emocionado (a)”; “No dia da competição acordo mais cedo que o normal” foram as situações que apresentaram “Nunca” com os maiores percentuais de respostas. Resultados semelhantes foram encontrados por Filho e Zaballa (2009) em seu estudo com praticantes de voleibol em relação às questões número 2, 5, 8 e 17 e por Silva et all (2011) com os mesmos sintomas incluindo “A presença de meus pais na competição me preocupa”.

Conclusões

    O presente estudo teve como objetivo verificar os principais sintomas de stress pré-competitivo em escolares praticantes de voleibol masculino, com faixa etária entre 15 e 17 anos, da rede particular e pública de ensino da cidade de Pelotas/RS. Com base na análise dos resultados obtidos (apesar das limitações) foi possível verificar que os sintomas de stress pré-competitivo que mais vezes apareceram nas respostas dos atletas foram os que proporcionam elevados níveis de ansiedade, tais sintomas são vistos como uns dos fatores que mais podem interferir no desempenho esportivo de jovens atletas. Situações relacionadas com a responsabilidade também foram sintomas que apareceram bastante entre as respostas dos atletas. Resultados esses que se assemelham também aos encontrados na literatura.

    Diante do exposto, sugere-se que novos estudos sejam realizados para que possa haver um melhor acompanhamento e controle sobre essas situações, podendo assim garantir resultados mais satisfatórios tanto no esporte quanto no desenvolvimento dos atletas.

Referências

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