efdeportes.com

Patinação Artística: possibilidades 

e dimensões no ensino fundamental

Patín Artístico: posibilidades y dimensiones en la enseñanza básica

 

*Profª de Ensino Infantil e Fundamental; Pesquisadora do Laboratório

de Pedagogia do Esporte (LAPE) do Núcleo de Pesquisa em Pedagogia

do Esporte (NUPPE) do Centro de Desportos (CDS)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

**Profº Dr. do Departamento de Educação Física (DEF); Pesquisador

do Laboratório de Pedagogia do Esporte (LAPE); Coordenador

do Núcleo de Pesquisa em Pedagogia do Esporte (NUPPE) do Centro

de Desportos (CDS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Nathalia Cristina Matos*

nathaliacm@hotmail.com

Edison Roberto de Souza**

edsonrs@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A Patinação Artística é um esporte que oferece os mais variados benefícios para o desenvolvimento do ser humano de forma integral. Observando e praticando este esporte por alguns anos, nasceu a idéia de desenvolver o estudo na perspectiva de compreender o significado da Patinação na formação e desenvolvimento da criança e jovem em idade escolar. Nesta direção investigou-se essas possibilidades a partir dos olhares dos docentes e discentes praticantes. A pesquisa foi descritivo-exploratória e busca de alcançar os objetivos propostos e foram aplicados questionários de forma presencial e virtual com nove professores e quinze alunos. A partir da análise das respostas obtidas, além de conhecer um pouco mais sobre este esporte, tão pouco conhecido e divulgado no Brasil, foi possível identificar a percepção dos docentes e discentes sobre a possibilidade de inclusão da Patinação como conteúdo curricular da Educação Física no Ensino Fundamental. Tantos os professores como os alunos entrevistados demonstraram grande interesse no tema, acreditando na possibilidade de incluí-lo nas aulas, e que alguns deles já trabalham desta forma. Em decorrência destes resultados, sugere-se ampliar a pesquisa em outras regiões e, paralelamente, investigar possíveis experiências da Patinação no ambiente escolar, para uma análise mais profunda do seu significado na formação e desenvolvimento da criança e do jovem. Em última instância, propõe-se a inserção como disciplina de formação docente em Cursos de Graduação em Educação Física, e a possível construção de um projeto que viabilize a inclusão deste esporte na escola, providenciando os materiais necessários para o processo de ensino e aprendizagem.

          Unitermos: Esporte. Educação. Patinação Artística. Desenvolvimento humano.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A Educação Física sempre teve seu espaço na escola, e é abordada de diversas maneiras ao longo dos tempos. Sabe-se que é uma disciplina fundamental no processo de desenvolvimento integral da criança e adolescente, e segundo o Coletivo de Autores (1992) o esporte tem sido o conteúdo mais abordado e querido na escola, contudo, atualmente sua finalidade está mais voltada para a perspectiva da saúde e bem-estar, manutenção da aptidão física e a busca de uma prática regular de atividade física, bem como a promoção de hábitos e conhecimentos que lhes permitam continuar o processo de desenvolvimento das capacidades físicas, para além do período de permanência na escola.

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s - Brasil, 1997, p.23) apontam que “a área da Educação Física contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento”, e consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde. Nesse contexto, um dos papéis fundamentais do professor é proporcionar um amplo repertório de vivências motoras na busca de incutir nos alunos o gosto pela atividade física. Entre as variadas atividades que se pode oferecer está a Patinação Artística, uma atividade cuja realização exige habilidades em que o controle do próprio corpo no espaço é um aspecto fundamental e que exige uma dominante necessidade expressiva, por envolver música, dança, coreografia, entre outros, além de aflorar uma grande variedade de capacidades físicas e habilidades motoras imprescindíveis para um desenvolvimento integral do indivíduo.

    Percebe-se que os PCN’s dão liberdade para o professor de Educação física trabalhar com os mais variados conteúdos, porém existe um fator que restringe essa liberdade, que são a estrutura das escolas e os recursos materiais disponíveis, pois “não basta querer oferecer uma variedade de experiências esportivas ou de outras atividades, se a escola não apresentar condições de espaço físico e de materiais para se fazer um trabalho de base” NEGRINI (1983, p. 324).

    Ao trabalhar com o esporte na escola, salienta-se que este deve estar relacionado com a educação, direcionado a objetivos multidisciplinares, fazendo parte do processo de ensino-aprendizagem e desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento corporal e social da criança. Esse fato ganha importância a partir do momento em que se utilizam as aulas de Educação Física na escola como meio educativo considerando o desenvolvimento das capacidades e habilidades corporais e a integração social, e evitando assim toda a prática que tenha como objetivo prioritário a especialização. (LETTNIN, 2005)

    Devido ao seu caráter atual voltado mais para o treinamento esportivo e para técnica, o aparecimento da Patinação Artística nas escolas ainda é incipiente. E é no ambiente escolar que esse esporte pode re-significar sua característica lúdico/recreativa, marcante na origem deste esporte. Isso sem contar que são notórios seus benefícios no desenvolvimento da criança.

    A Patinação Artística, como qualquer outro esporte tem a capacidade de oferecer estes aprendizados com amplo destaque para a área motora, pois desenvolve quase todas as valências físicas simultaneamente, e para a área social, visto que incute valores como a autoconfiança, autonomia, superação e formação do auto-conceito, características imprescindíveis para a formação do caráter e individualidade da criança e que a constituirá num adulto pronto para vida social.

    Assim, este estudo discutiu a idéia de inclusão da modalidade Patinação Artística como um conteúdo diferenciado nas aulas de Educação Física do Ensino Fundamental a fim de viabilizar suas possibilidades educativas, proporcionando aos alunos vivências desconhecidas ou pouco exploradas em outras práticas no âmbito escolar. Essa idéia se embasa também devido aos mais diferentes benefícios observados na prática da Patinação, porém pouco ou quase nada é relatado. Portanto, como professora, apaixonada pelo esporte e percebendo a necessidade de mais elementos, me atrevi a buscar respostas para a questão originada: quais as possibilidades de inclusão da Patinação Artística nas aulas de Educação Física?

Metodologia do estudo

    Para realização deste trabalho utilizou-se um estudo de campo do tipo descritivo-exploratório. Na perspectiva de consolidá-lo, foram aplicados questionários com o público alvo, para coleta de dados com o intuito de investigar e diagnosticar o conhecimento, a prática e a opinião deste público sobre as possibilidades da Patinação Artística na escola.

    A amostra compreendeu professores/técnicos de Patinação Artística das Regiões Sul e Centro-oeste do Brasil, onde há maior expressão da modalidade no Brasil, sendo escolhidos de forma aleatória através do site da CBHP (Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação), onde seus e-mails se encontravam disponíveis. Foram enviados 16 (dezesseis) e-mails para as escolas, clubes e academias de patinação dos estados das respectivas regiões, e recebidas oito respostas, ou seja, 50% de aproveitamento, somado ao questionário aplicado na cidade de Florianópolis/SC, único realizado na forma manual, pelo contato da autora com a academia. Entre os alunos/atletas das cidades de Florianópolis e Itajaí, do Estado de Santa Catarina, que responderam ao questionário foram trinta envios para quinze respostas recebidas. Destes trinta questionários, dez foram feitos de forma manual pela autora na academia de Florianópolis, sendo os dez respondidos corretamente, ou seja, aproveitamento de 100%. Quanto aos questionários realizados com os alunos/atletas de Itajaí, dos vinte enviados por e-mail, conseguidos através do site de relacionamentos Orkut, por já possuírem contato com a autora, apenas nove foram respondidos. Sendo que quatro destes não correspondiam à faixa etária a ser investigada nesta pesquisa, compreendida entre dez e quinze anos, idade correspondente ao ensino fundamental. A cidade de Itajaí foi escolhida devido à proximidade e relações existentes entre os dois clubes, e inicialmente a intenção era fazer o questionário presencial, porém não houve oportunidade e recursos.

Discussão dos resultados

    A análise e interpretação subjetiva foram produzidas a partir das respostas obtidas pelo questionário que os professores e praticantes de Patinação Artística responderam e buscou construir e esclarecer categorias de análise, a partir das hipóteses e questionamentos feitos. Nessa perspectiva, além de identificar e caracterizar os sujeitos, o estudo caminhou na direção de compreender e discutir suas concepções sobre as seguintes dimensões: metodologia de ensino; planejamento das aulas; significados e importância; valores motores; possibilidades pedagógicas e contribuições na Educação Física.

Identificação e caracterização docentes

    Foram questionados nove professores das regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, sendo um deles de forma presencial, e os outros oito via e-mail, com faixa etária entre 19 e 51 anos, dois do sexo masculino e sete do feminino, sendo dois deles ainda estudantes. A localização dos clubes onde esses professores ministram aulas foi bastante variada, havendo uma predominância no estado de Santa Catarina. Dos nove professores, três deles atuam em Santa Catarina (Florianópolis, Itajaí e São João do Oeste), dois atuam no estado do Paraná (ambos em Curitiba), dois em Minas Gerais (ambos em Belo Horizonte), um em São Paulo (que trabalha nas cidades de Santos e Praia Grande) e um atua no Rio Grande do Sul (nas cidades de Novo Hamburgo, São Leopoldo, Campo Bom, Gramado, Ivoti e Lajeado).

    Quanto à formação e atuação profissional percebeu-se que dos nove, sete são da área da Educação Física, o que mostra grande preocupação com a formação acadêmica voltada para atuação como professores, seriedade e respeito com a área. Dos sete professores com formação em Educação Física, dois ainda estão na graduação, e os outros dois que não são da área também possuem curso superior, sendo um licenciado em Pedagogia e outro bacharel em Administração, contudo todos são registrados no Conselho Regional de Educação Física (CREF) em seus respectivos estados de atuação.

    Investigou-se também sobre a realização de outros cursos voltados a área da Patinação Artística visto que o curso de Educação Física e o fato de serem ex-atletas não garantem conteúdo e métodos de ensino suficientes para o ensino deste esporte. Todos eles possuem algum tipo de curso voltado para área sendo que quatro dos nove professores tem certificado de curso de técnico, de coreógrafo e de arbitragem em Patinação Artística, dois deles possuem somente os cursos de técnico e arbitragem, um professor tem os cursos de técnico, coreógrafo e dança e expressão corporal, um possui os cursos de solo dance e livre (referente a modalidades da Patinação) e, por fim, um professor possui apenas o curso de técnico.

    Essas informações são relevantes, pois mostram que houve por parte deles o interesse em se aprofundar e aperfeiçoar seus saberes procurando por cursos mais específicos sobre a Patinação, visto que este esporte não faz parte do currículo da Educação Física. Pode se perceber, que os não formados na área, também buscam se qualificar, na perspectiva de melhorar a qualidade de ensino.

    Outra questão importante em relação às características dos professores foi saber se atuavam somente dando aulas de Patinação Artística, pois sendo um esporte ainda pouco divulgado em conhecido no Brasil esperava-se que exercessem outra função, entretanto quatro deles trabalham apenas nessa área. Esse número é bem expressivo, levando em consideração a limitação desse esporte em nosso país, e entre os outros professores, além de ministrar aulas de Patinação, também exercem outras funções tais como, professor de Educação Física na escola, personal trainer, funcionário público, comerciante autônomo e eventos de Patinação.

    Assim, apesar de ser positiva a informação referente aos docentes que trabalham somente com a Patinação, o número de professores que exercem uma função extra é maior e isto pode ser inferido devido a pouca divulgação do esporte, pela baixa remuneração e também pelo alto custo despendido pela prática. Somada a essa situação, ao identificar as funções que exercem no clube/escola em que ministram aulas de Patinação Artística, a grande maioria atua em mais de uma função, ou talvez não tenham sabido diferenciar uma da outra. Dos nove entrevistados, três assinalaram ter a função simultânea de técnico-coreógrafo-professor, dois têm a função de técnico-coreógrafo-instrutor-professor-monitor, um deles desempenha o papel de técnico-coreógrafo-instrutor-professor, outro é apenas técnico e um somente é professor. Acredita-se que cada função seja desempenhada a partir dos objetivos do professor para com as turmas e que uma auxilia no desenvolvimento da outra.

    Quanto ao tempo de prática do esporte pelos professores a resposta foi unânime, pois todos eles praticam Patinação Artística há mais de dez anos. Já o período que ministram aulas teve bastante variação, sendo cinco deles com experiência superior a dez anos, um de três a seis anos, dois professores de um a três anos, e por fim, um com menos de um ano.

Metodologia de ensino

    Uma das questões mais importantes do questionário aplicado é relativa à metodologia de ensino empregada pelos sujeitos do estudo em suas aulas. Através das respostas encontradas pode-se perceber que todos, apesar de formação nesta área, possuem um estilo individual de ensinar e raramente estabelece nexo com as concepções de ensino vinculadas à Educação Física. Porém, observou-se uma predominância do método tecnicista, já esperado para esse esporte que é mais notoriamente conhecido por suas competições de alto nível. Destaca-se abaixo, a fala que ilustra essa opção:

    Já foram vários métodos usados, e hoje eu utilizo o método tecnicista - assim como os italianos - numero 1 do mundo em patinação - mas somente para meus atletas de competição, que tem interesse em  campeonatos e resultados, pois acho que não pode ser diferente.

    No contexto do método tecnicista, foi citado por dois professores a utilização do método italiano, sem maiores explicações e argumentações sobre o mesmo, porém foi citado que:

    Não foi criado oficialmente nenhum método de ensino nesse esporte. Me baseio nas experiências que tive como atleta e procuro saber como outros técnicos de sucesso conseguiram fazer seus atletas evoluírem. Os técnicos italianos são os mais capazes até então.

    Alguns professores comentaram que variam sua metodologia de ensino de acordo com a turma e os objetivos a serem atingidos, pois acreditam que há um predomínio de crianças que tem demonstrado falta de interesse em praticar uma atividade física com responsabilidade. Por isso, essa variação no método é utilizada a fim de estimular o aumento do interesse das crianças pelo esporte.

    Acredita-se que se um método não está surtindo o efeito desejado talvez seja porque está no momento de rever os conceitos de professor e as metodologias de ensino adotadas, porém essa mudança constante pode apontar uma falta de ideologia e de conhecimento sobre o que se está ensinando. Todos os métodos devem respeitar a idade e nível de desenvolvimento motor, entretanto uma concepção de ensino deve nortear o processo de ensino-aprendizagem e para isso o professor deve seguir uma linha ou um conjunto delas, desde que não se contradigam e sirvam para o fim objetivado, trazendo benefícios e aprendizagem às crianças. Foi citado também o método de atividade física desenvolvimentista, onde alguns educadores mostraram se preocupar com o desenvolvimento das habilidades básicas com caráter educativo, sem priorizar a formação de atletas, mas sim, de cidadãos para a vida.

Planejamento das aulas

    O planejamento das aulas de Patinação Artística segundo as respostas dos professores leva em conta principalmente a parte técnica desse esporte, sobretudo no que se refere às competições realizadas nesse âmbito. Essa afirmação se torna evidente na fala de alguns dos professores ao citarem que,

    Planejo de acordo com o calendário previsto de eventos de tal ano, exigindo mais técnica quando perto de campeonato e montando novas coreografias para festivais e shows ou levo mais em consideração a técnica, para a melhor execução do movimento com economia de energia. E com a técnica bem trabalhada fica mais fácil montar coreografias para eventos.

    Acredita-se que o planejamento das aulas, independente do período de tempo que abranja é imprescindível para o bom andamento destas, visto que somente desta forma se poderá observar a evolução dos alunos e atingir as metas traçadas no início da prática. E ao pensar no treinamento de atletas ele é ainda mais importante, para que este esteja bem preparado e atinja todo o seu potencial.

    Assim, é fundamental, no processo de planejamento considerar o nível dos alunos, seguido pelo desenvolvimento das habilidades motoras básicas, a socialização e a diversão que as aulas promovem, procurando sempre aperfeiçoar o nível de aprendizado, principalmente técnico, e mantê-lo praticando uma atividade física.

    Buscou-se assim, com esta questão perceber se os professores têm conhecimento e hábito de planejar, na perspectiva de atingir os objetivos propostos no processo de ensino-aprendizagem e, paralelamente, atender os anseios dos alunos e, sobretudo, transcender as ações de improvisações tão comuns na prática docente de alguns ex-atletas sem formação na área específica, evitando aqui, generalizações, pois tal situação pode ocorrer também com profissionais habilitados.

Significados e importância da Patinação Artística

    Com o propósito de descobrir de que maneira os educadores percebem a Patinação Artística como ferramenta pedagógica no ensino escolar, foram obtidas nas respostas dos entrevistados a indicação de diversos benefícios e valores, tais como disciplina, respeito, educação, concentração, persistência, desinibição, liderança, entre outros, e que a partir destes elementos eles estarão aptos a lidar com a competitividade, a superar obstáculos, enfrentar desafios, enfim se auto-afirmar. Essas evidências se tornam claras nas falas abaixo:

    ...o aluno precisa de muita disciplina e concentração acima de tudo. Além da persistência e espírito de equipe e criatividade.

    ...o aluno deve ter responsabilidade, persistência e comprometimento com o seu treinamento. Respeito, disciplina e determinação são as necessidades da patinação.

    Realizar atividades deste gênero pode exigir uma carga emocional bastante grande para uma criança, contudo o receio dos desafios é trocado pelo prazer de superá-los, o que proporciona a satisfação pessoal, contribui para o desenvolvimento da confiança e aumenta a motivação para enfrentar outras situações de maior dificuldade, tão comuns e singulares na complexa prática dessa manifestação esportiva.

Valores da Patinação Artística

    Um aspecto bastante relevante quanto ao desenvolvimento de habilidades e domínios motores foi questionar quais as qualidades físicas os professores acreditam ser incrementadas pela Patinação. No questionário pediu-se que enumerassem por ordem de importância todas as nove qualidades (força, velocidade, resistência, ritmo, coordenação, agilidade, flexibilidade, equilíbrio e descontração), explicando ao final, o porquê dessa ordem numérica. Nenhuma das respostas coincidiu completamente, e apenas dois dos professores justificaram suas idéias sobre o assunto.

    Como houve bastante divergência optou-se por levar em conta as primeiras, segundas e terceiras posições a fim de verificar as três valências mais citadas pelos professores. Em primeiro lugar ficou o equilíbrio com cinco preferências, a coordenação com três e agilidade com um. Na segunda colocação a coordenação levou quatro votos, o equilíbrio levou dois e houve um empate de um voto entre velocidade, força e agilidade. Já no terceiro posto a resistência e agilidade contabilizaram dois votos, enquanto a coordenação, a descontração e a flexibilidade levaram um.

    A partir destas respostas foi possível notar que deve haver uma divergência muito grande em relação ao entendimento de alguns dos professores sobre o que representa cada qualidade física e/ou também às maneiras de ensinar e o que é desenvolvido nas aulas. Contudo, inferiu-se que o equilíbrio é a valência mais desenvolvida pela Patinação Artística, e em segundo lugar a coordenação seguida em terceiro pela agilidade. Acredita-se ainda que as demais qualidades físicas façam parte do desenvolvimento motor oferecido pela Patinação Artística, nas mais diversas fases de aprendizagem e treinamento deste esporte, cada qual com seu enfoque, dependendo dos objetivos almejados.

    Entre as considerações sobre os motivos de escolha da ordem de importância apenas dois professores teceram explicações, que pouco acrescentaram na análise. Talvez por esquecimento ou mesmo por não saber explicar de forma clara o porquê priorizaram tais valências.

    Porque a patinação é considerada um esporte completo. O peso dos patins leva a aumentar a força do quadríceps, o treino leva a ter resistência, os exercícios exigem ritmo para serem executados. Os shows contínuos deixam os alunos mais descontraídos, etc.

    Por que em primeiro momento o equilíbrio é fundamental. As demais valências são desenvolvidas praticamente juntas, porém a flexibilidade e a força dependem de um treinamento específico. O ritmo é conseqüência de treinos com músicas, mas existem pessoas que não conseguem desenvolver esta valência. Descontração: somente na parte recreativa!

    Essa fragilidade de argumentação indica falta de conteúdo ou aperfeiçoamento dos professores, porém a análise de suas ações pedagógicas fica limitada ao discurso. Não foi possível estabelecer nexos entre o dito e o feito, pois o estudo não investigou o docente no seu cotidiano de ensino. Apenas foi possível concluir que suas ações pedagógicas são justificadas a partir de um conhecimento empírico, fruto de suas experiências como atletas ou assimiladas por outros técnicos/professores.

Possibilidades pedagógicas e contribuições para a Educação Física

    Sobre as possibilidades de se incluir a Patinação Artística como conteúdo presente nas aulas de Educação Física, objetivo central do estudo, todos foram unânimes em aprovar a idéia. Alguns deles já trabalharam com este esporte na escola, outros ainda trabalham ou gostariam de atuar desta forma e crêem que seria muito significativo trazer a Patinação para as instituições de ensino

    Assim como, alguns relatos de outros professores mostrando que já tiveram um pouco de experiência com a Patinação Artística na escola e que defenderam ter dado muito certo, tanto pela novidade que o esporte representa como pelos desafios, e muito mais pelos benefícios que acrescenta as crianças, como pode ser percebido em algumas das respostas:

    Sim, já fiz parte de uma escola particular em que a patinação era uma atividade física opcional do currículo escolar, e mesmo apenas como aula semanal os alunos que optavam pela modalidade tinham melhor comprometimento com os estudos, melhor concentração nas aulas e melhor rendimento escolar, comprovado pela direção da escola. Alunos com problemas comportamentais mudaram suas atitudes em virtude da aula da patinação, que envolvia recreação (o lúdico é muito importante na escola), disciplina para o treinamento das novas técnicas passadas aula após aula. Uma atividade diferente que não caia nunca na monotonia, já que a cada aula novos exercícios eram passados e nem sempre a sua execução era garantida.

    Com certeza! De 1987 a 1992, no colégio Dom Bosco de Porto Alegre, foi implantada esta atividade do jardim até a 2ª série, e ficou constatado que o desenvolvimento da motricidade fina, escrita e coordenação para outras atividades foram maiores em relação às outras crianças que não praticaram a patinação (devido a não autorização dos pais) ou de turmas de anos anteriores.

    As experiências citadas caracterizam-se como atividade extraclasse, não constando no programa da Educação Física. Nas mesmas foi possível observar uma preocupação técnica, mas não se abandonou completamente a característica lúdica em suas propostas.

    A questão do planejamento variou de acordo com as concepções teóricas e metodologias adotadas pelo professor e sofre influência Projeto Político Pedagógico da escola, que muita vezes trata a Educação Física com descaso. E percebeu-se também que existe por parte dos professores a preocupação com a sua formação, o que mostra seriedade com o ensino e capacidade de ensinar muito mais do que apenas o “saber-fazer”. Apesar de existir a preocupação com o fato dos recursos necessários para o aprendizado desse esporte, somente um dos entrevistados citou este ponto:

    ...um esporte caro onde poucos têm acesso, porém acredito que seja quase impossível, pela dificuldade da escola adquirir material e por que seria necessário que o profissional de Educação física conhecesse pelo menos o básico do esporte.

    Dessa forma, acredita-se que talvez este fator não estabeleça tantas dificuldades como foi pensado anteriormente e que nem todos os professores encarem como um aspecto limitante para o ensino da Patinação na escola.

Identificação e caracterização dos discentes

    Foram realizados trinta questionários, dez na forma presencial em um clube de Florianópolis com aproveitamento de 100% e os outros vinte foram destinados via e-mail a um Clube de Itajaí, onde nove respostas retornaram, sendo apenas cinco aproveitados, devido à faixa etária limite estipulada, todas do sexo feminino.

    Das crianças do clube de Florianópolis, as idades variaram de dez a quinze anos, já as do clube de Itajaí, ficaram entre treze e quinze anos de idade. Ao analisar o tempo de prática de Patinação pode-se observar que as alunas de Itajaí possuem mais tempo, pois a maioria patina há cerca de sete a dez anos, enquanto as alunas de Florianópolis predominam entre um e três anos.

Escolha do esporte

    Um aspecto importante para esse trabalho foi desvendar o motivo pelo qual as crianças que praticam Patinação Artística escolheram este esporte, pois é para elas que nossa formação deve ser constante e que buscamos melhorar nosso trabalho. E também, de nada adiantaria dar origem a esta pesquisa se não pudéssemos supor através das vivências adquiridas, que este esporte traz alegria, prazer, satisfação e outros benefícios, que cativam cada vez mais crianças quando se deparam com a Patinação. A paixão pelo esporte é visivelmente notada na reposta abaixo:

    Minha mãe sempre me incentivou a fazer patinação, porém só com sete anos que comecei a praticar o esporte, nunca pensei que poderia ser uma das minhas grandes paixões. Hoje não gostaria de parar, não me vejo sem a patinação, o esporte faz parte da minha vida, da minha rotina. Faço patinação por saúde, por amor, acredito que ela ajuda muito em nosso senso competitivo (pois tem os campeonatos), equilíbrio, concentração, atenção.

    Como o esporte ainda é pouco conhecido e divulgado no Brasil, muitos lugares não possuem aulas de Patinação Artística, os que têm quase não são populares e por isso, a maioria das pessoas conhece por indicação de alguém que já faça ou por algum evento que ocorreu. E com as alunas entrevistadas não foi diferente, foram convidadas por amigas, tinham parentes atletas, viram um filme ou apresentação do esporte, gostaram e começaram a praticar. As meninas também demonstraram se preocupar com a importância de fazer atividades físicas, exercícios, e manter o corpo ativo, justificando com o cultivo da saúde o fato de praticar Patinação.

    Compreende-se, desta forma, o quão importante este esporte é na vida destas crianças e que para muitas delas surgiu por acaso. Contudo, a satisfação e envolvimento, entre outros, que ele oferece as crianças é algo indescritível e conquista a todas, que ao começar não querem mais largar os patins. Isso torna cada vez mais relevante este estudo, confirmando a aceitação do esporte pelas crianças que já o praticam, e que foram conquistadas pelo olhar. Hoje essas alunas dão vida a este trabalho, por terem mostrado nas suas respostas as razões que as levaram a patinar.

Possibilidades na escola

    Ao questionar as crianças sobre como percebem a Patinação buscou-se conhecer sua opinião como praticante e como elas compreendem e analisam a influência deste esporte sobre elas, e principalmente, se acreditam haver alguma possibilidade de incluí-lo nas aulas de Educação Física escolar. Das quinze alunas entrevistadas, seis expuseram ser contra a inclusão, enquanto nove foram a favor. Nas suas falas pode-se perceber uma forte preocupação com o fato de comprar os patins, que são caros, ou que poderia haver crianças que não gostariam/saberiam patinar. Isso pode ser percebido em algumas das respostas:

    Não, pois nem todos conseguirão patinar.

    Eu acho que não, pois o material necessário é caro, e nem todos vão ter acesso.

    Outras respostas levaram em conta que a Patinação é um esporte com um conteúdo muito amplo, e que as aulas de Educação Física não dariam conta de incluí-la, pois ainda tem que ensinar os outros esportes. Elas acham que na aula da escola só se aprenderia o básico e que por isso deve ser separado, como um momento de lazer, ilustrado na fala abaixo:

    Eu acho impossível, porque perderia muito tempo para aquecer e colocar os patins, e também tem muita gente que não gosta desse esporte. Na minha opinião a patinação artística não foi feita para ser como uma aula, e sim para ser um lazer. Claro que você pode competir e tudo mais. Mas a questão é que como aula você só aprenderia o básico, até chegar uma hora onde não tem mais o que fazer, porque se você for ensinar saltos duplos ou até de uma volta, você teria que se responsabilizar por cada pessoa que quebrar um braço, se machucar.

    Talvez possam existir todas essas dificuldades apontadas pela alunas entrevistadas, contudo, o esporte na escola deve partir do contexto e da realidade escolar, tendo caráter lúdico e pedagógico, e assim, apesar de sua técnica, a Patinação pode ser desenvolvida a partir destes dois princípios. E assim como o professor de Educação Física muitas vezes não dá conta de ensinar todos os conteúdos possíveis da cultura corporal humana, a Patinação, pode constituir-se numa possibilidade.

    Por isso, mesmo que os alunos não aprendam a dar saltos duplos ou simples, o fato de ter contato com um esporte diferente dos que se está habituado, desenvolvendo habilidades específicas, já dá significado a sua prática. Tal concepção é compartilhada por outras alunas entrevistadas que responderam achar possível o ensino da Patinação na escola, pois, segundo elas, a atividade seria uma novidade para as aulas de Educação Física e por isso muitos iriam gostar de participar.

    Foi relatado também, por uma aluna que pratica na escola um fato bastante interessante, relativo ao horário das aulas, pois se a Patinação estivesse incluída na Educação Física muitas de suas colegas poderiam participar, mas como é uma atividade extracurricular, elas não vão. E existe a preocupação com a questão financeira, pois as aulas de Educação Física são oferecidas gratuitamente pela escola, enquanto às de Patinação são cobradas. Todas essas inquietações podem ser ilustradas através de suas falas:

    Sim, porque é um esporte que quase todo mundo gosta e não precisaria pagar mensalidade.

    Sim, pois a maioria das meninas da minha sala gostaria de fazer ou aprender a patinar, mas não pode no horário que tem a patinação, daí a patinação fica no horário da aula de educação física.

    Após a discussão dessas dimensões questionadas, tanto os docentes como os discentes indicam este esporte como um conteúdo a ser pensado na proposta curricular da Educação Física Escolar do Ensino Fundamental, respondendo e sustentando as hipóteses proposta neste estudo.

Considerações finais

    Para chegar aos resultados, questionaram-se indivíduos que ministram e praticam Patinação, para através de suas falas e opiniões, traçar perfis e buscar compreender os modos de agir, e suas idéias a cerca deste esporte. Porque o escolheram? Como trabalham e quais são os seus métodos? Como as crianças percebem a Patinação? Será que já imaginaram tê-la incluída no conteúdo da Educação Física Escolar? Essas e outras questões foram abordadas e discutidas neste estudo e apresentaram resultados favoráveis as hipóteses.

    Quanto aos professores participantes deste estudo, observou-se que todos possuem bastante tempo de prática no esporte e que este fator influencia muito no método de ministrar aulas. Apesar de a maioria ter formação superior na área de Educação Física, este fato não mostrou grande relevância, pois alguns professores demonstraram não ter grandes conhecimentos sobre planejamento, didática, entre outros aspectos, importantes ao se levar em conta o papel educativo do esporte nas aulas de Educação Física. Outros mostraram interesse na parte educativa, sendo que uns já trabalharam desta forma e outros ainda buscam caminhar nesta direção, mas ainda há bastante forte a presença da técnica voltada para competições e espetáculos, não se constituindo num fator ruim, mas levando em consideração a evolução deste esporte e respeitando as etapas de desenvolvimento dos alunos. Por isso a faixa etária entrevistada se concentrou dos dez aos quinze anos, momento em que as crianças estão no auge do desenvolvimento de suas habilidades motrizes voltadas para a aprendizagem do esporte, de forma gradativa e seqüenciada.

    Todos os professores possuem também uma formação técnica voltada para sua atuação, esse fator se torna importante, pois mostra que estes buscam estar atualizados para o ensino e competição desta modalidade, contudo não mostrou se essa atualização é constante e suficiente para o desenvolvimento de uma pedagogia mais apropriada para o ensino da Patinação com crianças. Mesmo assim, todos foram unânimes em concordar que a Patinação agrega valores educacionais muito importantes e que por isso há grande relevância em levá-la para as aulas de Educação Física na escola, fato este que acrescentaria muitos benefícios e qualidades ao desenvolvimento integral dos indivíduos.

    No que se refere às crianças entrevistadas pode-se perceber que o esporte entrou em suas vidas das mais diversas maneiras, mas principalmente por indicação de alguém que já praticava anteriormente. Isso indica fragilidade de divulgação e de prática deste esporte nos municípios investigados. Quanto ao fato de incluir o esporte nas aulas de Educação Física da escola, a maioria delas se mostrou favorável. As que se mostraram desfavoráveis a implantação admitiram que este esporte é caro, e a falta de materiais e estrutura impossibilitam sua prática.

    No entanto, acredita-se que as possibilidades de incluir este esporte são concretas, e se justificam mesmo com as fragilidades relacionadas à formação docente e a infra-estrutura e equipamentos necessários para o seu desenvolvimento. A minimização desses fatores limitantes passa por uma mudança de atitude a partir dos gestores, professores e alunos da Instituição de Ensino Fundamental.

    Por fim, fica a sugestão de ampliar a pesquisa em outras regiões e, paralelamente, investigar possíveis experiências da Patinação no ambiente escolar, para uma análise mais profunda do seu significado na formação e desenvolvimento da criança e do jovem. Em última instância, propõe-se a inserção como disciplina de formação docente em Cursos de Graduação em Educação Física, e a possível construção de um projeto que viabilize a inclusão deste esporte na escola, providenciando os materiais necessários para o processo de ensino e aprendizagem desse esporte.

Referências bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 165 | Buenos Aires, Febrero de 2012
© 1997-2012 Derechos reservados