Os efeitos ambientais sobre o desenvolvimento motor de crianças com idade entre 18 e 42 meses de vida, na cidade de Santa Maria, RS Los efectos ambientales sobre el desarrollo motor de niños de 18 a 24 meses de vida, en la ciudad de Santa María, RS |
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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Física e Desportos Grupo de Desenvolvimento Motor |
Fábio Saraiva Flôres (Brasil) |
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Resumo Os primeiros anos de vida são de extrema importância para o desenvolvimento global dos seres humanos. Por este motivo, compreender o desenvolvimento humano é perceber quais os fatores que influenciam esse processo. É neste ponto em que surge a teoria dos Affordances de Gibson, a qual se refere ao que é oferecido à pessoa que está em interação com o ambiente, ou seja, às possibilidades de ação oferecidas pelo ambiente. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo estudar os efeitos ambientais sobre o desenvolvimento motor de crianças com idade entre 18 e 42 meses de vida, na cidade de Santa Maria, RS. Unitermos: Desenvolvimento global. Affordance. Efeitos ambientales.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os estudos sobre o desenvolvimento motor têm sido mostrados desde a década de 20. Neles existia uma visão, hoje considerada incompleta, de que o desenvolvimento era um processo apenas maturacional. Porém a partir da publicação, nos anos 70, do livro Mechanisms of motor skill development de Connolly, os pesquisadores voltaram suas atenções para a identificação dos possíveis mecanismos que levavam às mudanças no desenvolvimento (MANOEL, 2000).
Com a constatação de que a maturação não é o único mecanismo que atua no desenvolvimento humano, a visão tradicional passou a ser questionada, e assim as características do ambiente e da tarefa passaram a ganhar espaço (MANOEL, 2000; QUEIROZ e PINTO, 2010). Com isso, nos últimos quarenta anos pesquisadores têm empenhado esforços para mapear as relações entre o ambiente doméstico e os aspectos do desenvolvimento da criança (HAYDARI et al, 2009).
Os primeiros anos de vida são de extrema importância para o desenvolvimento global dos seres humanos. Nesta fase a criança vivencia experiências sensório-motoras importantes para o desenvolvimento de sua capacidade motora, de modo que estas ocorrem e são aprimoradas de acordo com a diversidade e complexidade do ambiente.
De maneira geral, o desenvolvimento humano se caracteriza por mudanças que ocorrem ao longo do tempo de forma ordenada e relativamente duradoura, que afetam estruturas neurológicas e físicas, os processos de pensamento, emoções, formas de interação social, dentre outros (NEWCOMBE, 1999). Para Gallahue e Ozmun (2005) o desenvolvimento é considerado como o aparecimento e a ampliação da habilidade de um indivíduo para funcionar em um nível mais elevado.
Compreender o desenvolvimento humano é perceber quais os fatores que influenciam esse processo. Com isso, Santos (2009) fala que este processo resulta de relações interdependentes como o domínio sensório-motor, cognitivo e sócio-emocional e podem ser influenciados por fatores biológicos, socioambientais e pela herança genética.
Nas literaturas são encontradas diversas definições para desenvolvimento motor. Haywood (1995) define como sendo um processo sequencial e contínuo, com relação à idade, onde um indivíduo progride de um movimento simples para outro de maior complexidade. Conforme Santos (2004) ele possibilita à realização de ações motoras essenciais a vida cotidiana, na medida em que o estilo de vida exerce influencia constante no desenvolvimento motor.
Em relação aos fatores que influenciam o processo de desenvolvimento, estão os intrínsecos – sexo, composição corporal e doenças e os extrínsecos são nível socioeconômico, influências culturais, ambientais e biológicas, nível de atividade física, nutrição, diferenças étnicas, e de clima e localização geográfica (CAMPOS e BRUM, 2004; HAYWOOD e GETCHELL, 2004; GALLAHUE e OZMUN, 2005; HAYDARI et al, 2009).
Pesquisas atuais sobre o desenvolvimento motor infantil sugerem que as aquisições de novas habilidades motoras surgem da interação dos múltiplos elementos do ambiente infantil e da tarefa a ser realizada através do processo de exploração do movimento (HAYDARI et al, 2009). Haywood e Getchell (2004) seguem a mesma linha, ao afirmarem que o processo de desenvolvimento revela-se por meio de mudanças que resultam de interações dentro do indivíduo e de interações entre o indivíduo e o ambiente.
Outras pesquisas sobre o desenvolvimento infantil indicam que existe um intervalo ótimo para ocorrer o desenvolvimento, aliado a forte estimulação do ambiente. Conforme apontado por Costa, Silva e Junior (2009) a criança é um ser em constante mudança, as quais provem da influência e estímulos do ambiente familiar, escolar, social, cultural e muitos outros.
É neste ponto em que surge a teoria dos Affordances de Gibson, a qual se refere ao que é oferecido à pessoa que está em interação com o ambiente (GÜNTHER, 2003), ou seja, às possibilidades de ação oferecidas pelo ambiente. A exploração do ambiente caracteriza-se como desencadeadora de diversas estratégias adaptativas que permitem ao ser humano a interação com o meio, assim, affordances somente serão construídos com base na experiência e exploração no ambiente.
As pesquisas realizadas por Nobre et al (2009) no estado do Ceará destacaram fatores como a existência e o tipo de espaços disponíveis para a locomoção da criança, a diversidade de brinquedos e objetos, as roupas que usa, o nível socioeconômico, entre outros, irão intervir nas oportunidades que proporcionam desafios ao indivíduo em desenvolvimento. Nesta perspectiva, podemos notar que o ambiente domiciliar tem um papel extremamente significante para aprendizagem e desenvolvimento nas primeiras idades.
A casa, entre as influências ambientais, que são vistas como fatores determinantes para a trajetória de desenvolvimento, é o primeiro e o mais importante agente a proporcionar contextos à criança (RODRIGUES, L.; GABBARD, C, 2007). Entretanto, com a mudança no contexto social nas últimas décadas, muitas famílias têm buscado novas opções alternativas para deixar seus filhos durante o período em que estão trabalhando.
Devido aos fatos expostos acima, é crescente do número de crianças em creches (BHERING e DE NEZ, 2002; MARANHÃO e SARTI, 2008; QUEIROZ e PINTO, 2010). Esta crescente demanda por instituições de educação infantil, nos últimos anos, é um fator que gera preocupações, pois existe notória diminuição da autonomia das crianças e do repertório motor, fatores que afetam o desenvolvimento.
Objetivos
Estudar os efeitos ambientais sobre o desenvolvimento motor de crianças com idade entre 18 e 42 meses de vida;
Verificar se existe uma distribuição demograficamente distinta nas regiões da cidade de Santa Maria na qualidade dos ambientes domiciliares para promover oportunidades para desenvolvimento motor;
Verificar se existe uma distribuição demograficamente distinta nas regiões da cidade de Santa Maria na qualidade dos ambientes das instituições de educação infantil para promover oportunidades para desenvolvimento motor;
Metodologia
A amostra foi escolhida para o estudo é composta por crianças de ambos os sexos, com faixa etária entre 18 e 42 meses devidamente matriculadas em instituições de ensino infantil da cidade de Santa Maria, RS. O contato com os responsáveis pelas crianças foi feito por meio das instituições a partir de um cadastro disponibilizado pela Secretaria Municipal de Educação (SMED). O instrumento utilizado foi Questionário AHEMD-SR (18-42 meses), o qual avalia a qualidade do ambiente doméstico.
Atividades desenvolvidas
As atividades desenvolvidas durante o período de experiência no Laboratório Pesquisa e Ensino em Movimento Humano – Desenvolvimento Motor foram a elaboração e planejamento das rotas de entrega dos questionários por meio de mapas da cidade de Santa Maria; participação na entrega e posterior busca questionários; bem como a sua aplicação junto às professores responsáveis pelas instituições; no processamento dos dados obtidos com os mesmos; organização e reorganização da planilha de análise; tabulação de 400 questionários; participação na análise dos dados e discussão dos resultados; elaboração de relatórios parciais; auxílio nos trabalhos de conclusão de curso dos acadêmicos envolvidos com o projeto - ajudando a analisar os valores obtidos com os programas de análise, a saber – SPSS 18.0 e Excel 2007; além de reuniões com os demais participantes do grupo de pesquisa e com o professor orientador; e participação na elaboração do artigo final.
Considerações finais
Quando falamos em desenvolvimento, estamos nos remetendo às mudanças que ocorrem em cada etapa da vida. O desenvolvimento motor por fazer parte do desenvolvimento humano, sofre influências de diversos fatores bem como apresenta características que o identificam e permitem relações diversas. O estudo dos primeiros anos de vida possibilita uma melhor observação, compreensão e interpretação das necessidades e possibilidades dessa fase. Assim sendo, considerando a importância e complexidade do tema abordado, considero que a experiência adquirida neste período de estudo foi de grande importância para o aumento do meu conhecimento específico da área estudada.
Referências
BHERING, E.; DE NEZ, T.B. Envolvimento de pais em creche: possibilidades e dificuldades de parceria. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Jan-Abr 2002, Vol. 18 n. 1, pp. 063-073
CAMPOS, W. de; BRUM, V. P. Criança no esporte. Curitiba, ed. Os Autores, 2004.COSTA, R. M. ; SILVA, E. A. A.; VIEIRA JUNIOR, R. C. . Escala de Desenvolvimento Motor de Rosa Neto: Estudo Longitudinal em uma Escola da Rede Particular de Ensino de Cuiabá-Mt. In: 1º Seminário de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar de Mato Grosso, 2009, Várzea Grande. Práticas Pedagógicas, 2009. P. 34-35.
Gabbard, C.; Caçola, P.; Rodrigues, L. (2008). A new inventory for assessing affordances in the home environment for motor development (AHEMD-SR). Early Childhood Educ. J. 2008; 36:5-9.
GALLAHUE, D. & OZMUN, J.C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte editora, 3ª ed., 2005.
GÜNTHER, H. Mobilidade e affordance como cerne dos estudos pessoa-ambiente. Estudos de Psicologia 2003, 8(2), 273-280
HAYDARI, A. Relationship between Affordances in the Home Environment and Motor Development in Children age 18-42 months. Journal of Social Sciences 5(4): 319-328, 2009.
HAYWOOD, K.M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
HAYWOOD, K.M. Life Span Motor Development. Champaign – Ilinois: Human Imprensa Universitária, 2ª ed. 1995.
MARANHÃO, D.G.; SARTI, C.A. Creche e família: uma parceria necessária. Cadernos de Pesquisa, v. 38, n. 133, p. 171-194, jan./abr. 2008
MANOEL, E.J. Desenvolvimento Motor: Padrões em mudança, complexidade crescente. Rev. Paul. Educ. Fis., São Paulo, supl. 3, p.35-54, 2000.
NEWCOMBE, N. Desenvolvimento Infantil: Abordagem de Mussen. 8ª ed., Porto Alegre: Artmed Editora, 1999.
NOBRE, F.S.S.; et al. Análise das oportunidades para o desenvolvimento motor (affordances) em ambientes domésticos no Ceará – Brasil. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2009; 19(1):9-18.
RODRIGUES, L.; GABBARD, C. Avaliação das oportunidades de estimulação motora presentes na casa familiar: Projecto affordances in the home environment for motor development. In Barreiros J, Cordovil R, Carvalheira S, editores. Desenvolvimento Motor da Criança. Lisboa: Edições FMH; p. 51-60. 2007
SANTOS, D.C.C.; et al. Desempenho motor grosso e sua associação com fatores neonatais, familiares e de exposição à creche em crianças até três anos de idade. Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 13, n. 2, p. 173-9, mar./abr. 2009
SANTOS, S et al. Desenvolvimento Motor de crianças, de idosos e de pessoas com transtornos da coordenação. Rev. Paul. Educ. Fís, São Paulo, v.18, p.33-44, 2004.
QUEIROZ, L.T.S; PINTO, R.F. A criança: fatores que influenciam seu desenvolvimento motor. Artigo de revisão. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Ano 15 - Nº 143 - Abril de 2010. http://www.efdeportes.com/efd143/a-crianca-seu-desenvolvimento-motor.htm
VIEIRA, M.E.B et al. Principais instrumentos de avaliação do desenvolvimento da criança de zero a dois anos de idade. Revista Movimenta: Vol 2, N 1. 2009
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