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Obesidade infantil: causas, conseqüências e a 

prática de atividade física na prevenção e tratamento

Obesidad infantil: causas, consecuencias y la práctica de la actividad física en la prevención y el tratamiento

 

*Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São Carlos

Professor da Escola Municipal de Ensino Fundamental

Profa. Mariana Gonçalves Dias. Barra Bonita, SP

**Departamento de Ciências do Esporte, Universidade Federal

do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG

Everaldo Martinez Parra*

everaldo.edufis@gmail.com

Gustavo Ribeiro da Mota**

grmotta@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: A obesidade representa o excesso de gordura corporal e tem sido considerada como grave problema de saúde pública em muitos países. Adicionalmente, teve sua prevalência aumentada nos últimos anos em crianças e adolescentes e, considerando que suas conseqüências podem ser estendidas para a vida adulta, torna-se necessária sua prevenção. Os indivíduos com excesso de gordura corporal possuem maior risco de desenvolver doenças crônicas degenerativas. Objetivo: Apurar as causas da obesidade infantil e suas conseqüências a saúde, os métodos utilizados para a prevenção e/ou tratamento desta patologia, e a eficiência do controle da obesidade infantil com a prática de atividades físicas e exercícios. Métodos: Foram utilizados nesta pesquisa de revisão os sites Lilacs, Scielo e Pubmed, com os seguintes termos: obesidade, infantil, criança, exercício e atividade física (AF). Resultados: Fatores de origem comportamental e ambiental são citados como principais causas da obesidade infantil. Por outro lado, para prevenir e tratar essa patologia AF e redução de ingestão alimentar é recomendado. Conclusão: Concluímos, com base nos resultados encontrados, que a obesidade infantil tem causas multifatoriais com conseqüências negativas para as fases posteriores da vida. Além disso, as crianças devem praticar atividades físicas com o objetivo de melhorar a composição corporal e prevenir a obesidade e as doenças degenerativas associadas.

          Unitermos: Obesidade infantil. Criança. Exercício e atividade física.

 

Abstract

          Introduction: Obesity is excess body fat and has been considered as a serious public health problem in many countries. In addition, its prevalence has increased, in recent years, in children and adolescents and, considering that their consequences can be extended into adulthood, it becomes necessary to prevent them. Individuals with excess body fat are at greater risk of developing chronic degenerative diseases. Aim: To investigate the causes of childhood obesity and its health consequences, the methods used for the prevention and or treatment of this pathology, and control efficiency of childhood obesity with physical activity and exercise. Methods: this study reviewed sites Lilacs, SciELO and Pubmed with the following terms: obesity, child, children, exercise and physical activity. Results: Factors behavioral and environment are cited as major causes of childhood obesity. On the other hand, to prevent and treat this pathology, physical activity and reduced food intake are recommended. Conclusion: We can conclude from the results found that childhood obesity is multi factorial causes with negative consequences for later life. In addition, children should practice physical activities aimed at improving body composition and prevent obesity and associated degenerative diseases.

          Keyword: Obesity child. Children. Exercise. Physical activity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Considerada problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é definida como o excesso de gordura corporal provocada pelo desequilíbrio entre ingestão e gasto calórico, sendo denominada obesidade exógena, ou por fatores metabólicos, neuroendócrinos, comportamentais, genéticos e psicológicos, denominada obesidade endógena (1). A obesidade em crianças e adolescentes teve sua prevalência aumentada nos últimos anos e como suas conseqüências e complicações podem ser estendidas para a vida adulta, torna-se necessária a sua prevenção e tratamento adequado (2, 3). Os indivíduos com excesso de gordura corporal possuem maior risco de desenvolver doenças crônicas degenerativas como hipertensão, diabetes mellitus, cardiopatias, acidente vascular cerebral, aterosclerose, as quais eram mais comuns serem observadas em adultos, agora está sendo cada vez mais diagnosticadas em crianças e adolescentes (4).

    Observar e avaliar os fatores que influenciam a regulação do peso corporal torna-se uma ferramenta importante para se orientar sobre qual a melhor maneira de intervir no processo de desenvolvimento da obesidade, em especial a infantil, visando sua prevenção e/ou tratamento. Sendo assim, esta revisão literária teve como objetivo apurar as causas da obesidade infantil e suas conseqüências a saúde, os métodos utilizados para a prevenção e/ou tratamento desta patologia e a eficiência do controle da obesidade infantil com a prática de atividades físicas e exercícios.

Métodos

    Foram utilizados nesta pesquisa de revisão os sites científicos Lilacs, Scielo e Pubmed para consultar as palavras-chave obesidade, infantil, criança, exercício e atividade física (AF). Foram selecionados os artigos que continham as palavras-chave no título ou no resumo, em revistas científicas indexadas em língua portuguesa e inglesa, editadas no período de 15 anos (1996 a 2011). Não foram selecionados os artigos de periódicos não indexados e publicações de sites informativos.

    Com a consulta da literatura científica foram verificadas as informações relacionadas sobre os seguintes aspectos:

  • Causas e conseqüências da obesidade na infância e adolescência;

  • Prevenção e tratamento para a obesidade infantil;

  • Prática de AF no controle da obesidade infantil.

Revisão da literatura

Causas e conseqüências da obesidade na infância e adolescência

    Definida como uma doença que provoca o aumento de gordura corporal, a obesidade possui diversas explicações sobre seus fatores causadores. As causas da obesidade se dividem basicamente em endógenas, onde é influenciada por fatores internos ao organismo e exógenas, onde é influenciada por fatores externos ao organismo (1).

    A obesidade endógena está ligada a fatores fisiológicos e psicológicos, sendo um deles o fator genético, onde pode ser explicado pela maior predisposição de crianças filhas de pais obesos de se tornarem obesos (5). Contudo, antes de considerar os fatores genéticos como principal causa da obesidade, devemos analisar que o aumento muito rápido das taxas de obesidade está mais relacionado à mudança do estilo de vida dos jovens, onde se destaca um aumento no comportamento sedentário, principalmente entre as meninas (2, 6). Fatores metabólicos e neuroendócrinos também apresentam grande influência na prevalência da obesidade infantil. Crianças que tiveram episódios de desnutrição durante alguma fases de sua vida apresentam deficiência na oxidação de gorduras, estando assim mais aptas a desenvolver a obesidade, o que seria um indicador para o aumento da prevalência de obesidade nos países em desenvolvimento (7). O imprinting metabólico é outro fator descrito por Balaban et al. (2004) onde uma experiência nutricional precoce atua num período crítico e específico do desenvolvimento, acarretando um efeito duradouro ao longo da vida, predispondo a doenças com a obesidade infantil. Para tanto essa privação nutricional ocorre no período de diferenciação do hipotálamo, onde alteram os centros hipotalâmicos reguladores do apetite (7). Redução das horas diárias de sono torna-se também um precursor da prevalência da obesidade infantil (8).

    Fatores ambientais (exógenos) como cultura, ingestão e gasto energético podem influenciar negativamente a prevalência da obesidade, tornando o principal responsável pelo aumento da obesidade entre crianças e adolescentes (4). A cultura de cada país pode influenciar positivamente ou negativamente no controle da obesidade infantil, como a China, por exemplo, onde pessoas obesas são vistas como felizes e afortunadas. Isso pode incentivar um aumento excessivo da ingestão alimentar (9). A obesidade também está associada ao nível socioeconômico das classes mais elevadas como a de maior prevalência, apesar dos índices de sobrepeso/obesidade estarem se elevando nas classes menos elevadas (2). Outras causas socioculturais para a elevação da obesidade infantil são a revolução tecnológica, aumento da violência e redução dos espaços para prática de AF, relacionamento intrafamiliar e interpessoais e baixa escolaridade por parte materna (2, 4, 5, 8).

    Um dos principais e talvez mais importante fatores de influência na prevalência da obesidade infantil é o aumento da ingestão energética e diminuição do gasto calórico (7) causando um desequilíbrio. O aumento da ingestão de alimentos com alto teor de gordura e açúcar tem contribuído para o aumento do índice de massa corporal (IMC) (10, 11), isso associado ao comportamento sedentário causado pela redução das atividades físicas diárias, redução do condicionamento aeróbio e o pouco tempo dedicado ao exercício bem como a sua intensidade reduzida (6, 10, 12). Também o difícil acesso a alimentos mais saudáveis e de qualidade, por serem difíceis de achar e mais caros, contribuem para o aumento do IMC (13). Crianças com sobrepeso/obesidade tendem a abandonar AF mais vigorosa, dando preferência às atividades com menos deslocamento de massa e uso de força (2).

    A televisão (TV) é citada como fator para aumento da obesidade infantil, uma vez que seu impacto trás a redução da prática de atividades físicas mais vigorosas e os efeitos na dieta, já que os alimentos são os mais anunciados e o fato de assistir TV é associado com lanches entre as refeições (14, 15).

    Referentes às conseqüências da obesidade infantil destacam-se os transtornos de ordem ortopédicos, aumento significativo do risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e pulmonares, diabetes mellitus tipo 2 e transtornos psicossociais como depressão, baixa auto-estima e diminuição da qualidade de vida (16, 17). Baixa auto-estima é associada com o aumento da tristeza, solidão e nervosismo, e também possui uma forte relação com as medidas mais elevadas do IMC (17). A obesidade é a condição social menos aceitável e estigmatizante na infância, promovendo maior risco de viver uma experiência psicossocial e de auto-estima pobres, onde comportamentos de tristeza, agressividade e irritabilidade são fortes indícios de quadros depressivos em crianças com sobrepeso/obesidade (4, 18).

    Assim como em adultos, a obesidade infantil provoca elevação do risco de doença arterial coronariana, hipertensão, diabetes mellitus, acidente vascular cerebral, dislipidemia, cálculo biliar e neoplasias, e com a permanência acima do peso facilita ainda mais o desenvolvimento dessas doenças na idade adulta, por essas crianças estarem sujeitos a complicações neurometabólicas e endócrinas (4, 16). O aumento da adiposidade interfere no número e função das células progenitoras endoteliais, onde essa imparidade causa o aumento de doenças ateroscleróticas, morbidade cardiovascular e moralidade (6). A qualidade da ingestão alimentar é um fator a ser observado na infância e adolescência, por ser um fator de risco para doenças coronarianas, em especial a aterosclerose por ter início nessa fase da vida, onde há o depósito de colesterol nas artérias musculares formando estrias de gordura, podendo ainda esse processo ser revertido em seu início de desenvolvimento (19).

    Sobrepeso/obesidade afeta de forma negativa o desempenho motor num todo, mas em especial as atividades que ocorrem o deslocamento da massa corporal (2) e o equilíbrio, devido às alterações posturais acometidas por intermédio do excesso de massa corpórea, causando assim intervenções na tríade do equilíbrio (20).

    Criança obesa tem risco, no mínimo, duas vezes maior de obesidade na idade adulta se comparada com crianças não-obesas. Ainda, crianças pré-escolares obesas têm cinco vezes mais risco de estar acima do peso na idade de 12 anos comparadas com pré-escolares peso-normal (7, 10). Ademais, criança com pais obesos tem duas a 3 vezes mais risco de se tornarem obesas na idade adulta do que crianças com peso normal, porém, sem pais obesos (3).

Prevenção e tratamento para a obesidade infantil

    Apesar dos fatores exógenos serem considerados os principais responsáveis pelo aumento na prevalência da obesidade infantil (4), é necessário o trabalho multiprofissional de médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos, entre outros, além do envolvimento dos pais e familiares devido à influência exercida no desenvolvimento de seus filhos, para o efetivo progresso do tratamento (17).

    Não tem sido fácil inverter a tendência de aumento em relação ao IMC em crianças, mas o aumento do gasto energético, através da prática de AF, associado à diminuição da ingestão alimentar, com a melhora da qualidade da dieta, tem sido a mais eficaz maneira de intervir tanto na prevenção como no tratamento da obesidade infantil (3, 16). Wilmore (1996) constatou em sua pesquisa que a AF induz a um déficit energético, quando é consumida uma dieta com reduzido teor de gordura, após o exercício. Contudo, na mesma AF, se essa dieta for rica em gordura a mesma prejudica o custo de energia gasto em excesso no pós-exercício (21) o que demonstra a importância da dieta adequada para o sucesso.

    O aleitamento materno, já muito defendido na prevenção de diversos fatores relacionados à saúde do bebê, também pode ajudar a reduzir o sobrepeso e colaborar na redução da obesidade infantil. Um estudo mostrou que a prevalência de obesidade de 4,5% em crianças que nunca foram amamentadas e de 2,8% nas crianças que receberam o aleitamento materno, constatando que o aleitamento colabora na prevenção da obesidade (7).

    Outro fator importante é o envolvimento da escola e da família. Uma pesquisa nacional nos EUA constatou que os pais procuram meios para combater a obesidade infantil mais em escolas do que com profissionais de saúde ou governo. A escola pode combater a obesidade infantil com disciplinas, como a Educação Física, educação voltada à saúde escolar e coletiva, alimentação balanceada (22) e por ser um importante canal de intervenção devido ao fato de oferecer acesso aos estudantes (14). Da mesma maneira, o ambiente familiar pode ajudar na prevenção e tratamento da obesidade, por meio de informações e exemplos positivos sobre comportamentos dietéticos (9) e de atividades físicas (3).

    A redução do comportamento sedentário está intimamente associada com o aumento da prática de AF (23), devendo ser de intensidade vigorosa, pois a mesma se mostrou mais eficiente na redução da massa corporal entre meninos e meninas (24).

    O tratamento da obesidade infantil de modo geral deve ser eficiente não somente para a perda de massa corporal e estética, mas sim voltado também para as relações psicopatológicas (18). Também foi observado num estudo que o número de horas de sono diárias pode favorecer a diminuição da obesidade infantil, devendo ser estimulados os casos de sobrepeso/obesidade (8).

Prática de atividade física no controle da obesidade infantil

    A prática de AF em crianças e adolescentes é fundamental para promover o controle e tratamento da obesidade infantil e suas morbidades. A AF deve fazer parte do âmbito escolar por ser um importante precursor de um estilo de vida saudável (16). A prevenção por meio de AF deve começar na infância (6), principalmente porque minimiza fatores de risco para doenças cardiovasculares, como lipídeos séricos e pressão arterial (12).

    Apesar de não ser amplamente pesquisado, estudos indicam que crianças ativas pesam menos e tem menos massa corporal em relação às crianças inativas (21), sendo assim é recomendado que crianças e adolescentes pratiquem 60 min de AF por dia, com a intenção de melhorar a aptidão cardiorrespiratória, pressão arterial, força muscular, assim como redução dos sintomas depressivos em curto prazo e melhora no rendimento escolar (22). Adolescentes obesas participaram de uma intervenção com exercícios aeróbios e melhoraram seus escores de depressão em relação às meninas que executaram outros tipos de exercícios (18).

    Kim et al. (2007) constatou melhora na composição corporal, na sensibilidade à insulina e na adiponectinemia com o aumento da AF em meninos obesos durante 6 semanas. Assim, propõem incrementar a AF para prevenir doenças crônicas degenerativas (25). Nesse sentido, crianças devem ser incentivadas a praticar AF regulares precocemente, assim como também a participação de toda família (1), com a devida supervisão de um educador físico, para que não ocorram exageros de exercícios e nem que pais desavisados sobrecarreguem a criança pra evitar acidentes com lesões e estresse (3).

Conclusão

    Concluímos nesta revisão que os fatores exógenos (comportamentais e ambientais) são os principais causadores da obesidade infantil. Destes, porém, o desequilíbrio entre ingestão calórica e gasto energético é o mais importante. Entre as conseqüências estão o aumento de doenças crônicas degenerativas, ortopédicas e psicossociais, as quais elevam os riscos de prevalência na idade adulta. Adicionalmente, o fundamental tratamento da obesidade infantil consiste em reduzir a ingestão calórica e aumentar o gasto energético por meio da prática de AF vigorosa. Essa prática, entretanto, deve ser incorporada o mais precocemente possível sendo indispensável sua inserção e oferta nas escolas, já que todos os cidadãos devem ter acesso ao ambiente escolar e, conseqüentemente, a esse tipo de educação e prevenção. Nesse sentido, o professor de educação física escolar deve se preparar melhor para atender essas importantes tarefas profissionais.

Referências

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