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Intoxicações exógenas ocorridas em pacientes atendidos 

nas Unidades de Saúde de Montes Claros, MG em 2010

Intoxicaciones exógenas sobrevenidas en pacientes atendidos en las Unidades de Salud de Montes Claros, MG en 2010

 

*Enfermeira Especialista em Saúde Pública/Saúde da Família

e em Gestão da Clínica. Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, MG

**Enfermeiro Graduado pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (FIP-MOC)

***Enfermeira Especialista em Saúde Pública. Diretora de Vigilância em Saúde

Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros e Docente

da Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES

Ludmila Pereira Macedo*

Patrick Leonardo Nogueira da Silva**

Rosangela Barbosa Chagas***

ludmilapmacedo@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo traça um perfil epidemiológico dos pacientes intoxicados por substâncias exógenas, de Janeiro a Dezembro de 2010, no município do Norte de Minas Gerais, Montes Claros. A coleta de dados ocorreu através de registros das fichas de notificação compulsória do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN). As variáveis utilizadas nas análises foram, além dos dados individuais, de residência e os antecedentes epidemiológicos, os dados de exposição, tal como o local da exposição, o agente tóxico, a via de exposição, a circunstância da exposição, o tipo da exposição, entre outras. Como método de análise estatística, as variáveis foram descritas pelas freqüências relativas e absolutas, com discriminação individualizada. Foram registradas 82 notificações de intoxicações exógenas, a maioria ocorrida no gênero masculino. A média de idade predominante foi de 20 a 34 anos. Os medicamentos foram o grupo de agente tóxico mais comum. Com isso, concluímos que o perfil dos pacientes intoxicados no ano do estudo, difere da grande maioria dos estudos no que diz respeito ao gênero, uma vez que no presente estudo a maioria dos pacientes eram do sexo masculino, mesmo que em diferença estatística pequena. Porém, a faixa etária e o grupo de agente tóxico se assemelham a diversos estudos encontrados na literatura brasileira. Os achados deste estudo enfatizam a necessidade de se desenvolver atividades educativas com a finalidade de modificar esse cenário epidemiológico

          Unitermos: Envenenamento. Substâncias tóxicas. Intoxicação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O termo intoxicação exógena ou overdose, conforme Chaves (2003) significa o uso de quaisquer drogas em quantidade ou combinação intoleráveis para o organismo. É a manifestação, através de sinais e sintomas, dos efeitos nocivos produzidos em um organismo vivo como resultado da sua interação com alguma substância química (exógena). É o efeito nocivo que se produz quando uma substância tóxica é ingerida ou entra em contato com a pele, os olhos ou as mucosas.

    As intoxicações constituem problema de saúde pública em todo o mundo. As intoxicações, acidentais ou intencionais, são consideradas também importantes causas de doenças. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 1,5 a 3% da população é intoxicada anualmente. Segundo o Sistema Nacional de Informação e Assistência Toxicológica (SINITOX), no Brasil, em 2003, foram registrados 82.716 casos de intoxicação humana, sendo estes com maior letalidade nas intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola (2,76%) e raticidas (1,09%). No que diz respeito ao tipo de exposição, mais de 70% das intoxicações são agudas, isto é, ocorrem em menos de 24 horas após a exposição. Em cerca de 90% destes casos, a via de exposição ao(s) agente(s) tóxico(s) acontece por via oral.

    Entre os mais de 12 milhões de produtos químicos conhecidos, menos de 3.000 causam a maioria das intoxicações acidentais ou premeditadas. Contudo, praticamente qualquer substância ingerida em grande quantidade pode ser tóxica. As fontes comuns de venenos incluem drogas, produtos domésticos, produtos agrícolas, plantas, produtos químicos industriais e substâncias alimentícias. Para que possa dar início a um tratamento eficaz, faz se necessária a identificação do produto tóxico e a avaliação exata do perigo envolvido.

    As crianças, especialmente aquelas com menos de três anos de idade, são particularmente vulneráveis à intoxicação acidental, assim como as pessoas idosas, os pacientes hospitalizados (por erros de medicação) e os trabalhadores da agricultura pecuária e da indústria. Essas ocorrências podem ser acidentais, como também intencionais. Cada vez mais temos visto o aumento do número de casos de intoxicação exógena nos atendimentos da Emergência.

    O paciente intoxicado diferencia, em alguns aspectos, daqueles assistidos no cotidiano de um atendimento de emergência. As diferenças estão nos aspectos clínicos, patológicos e farmacológicos, e, até mesmo no relacionamento profissional de saúde-paciente.

    Geralmente, não são pessoas doentes no sentido exato da palavra. Na maioria dos casos, trata-se de pessoas saudáveis, que desenvolvem sintomas e sinais decorrentes do contato com substâncias externas e dos efeitos sistêmicos delas.

Metodologia

    Este é um estudo descritivo, quantitativo e de análise documental retrospectiva, pois descreve as características de uma série de casos sobre todos os registros de intoxicações exógenas atendidos e notificadas no município de Montes Claros-MG no ano de 2010. A coleta de dados foi realizada por funcionários da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, no mês de Setembro de 2011, através das fichas de investigação e do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN).

    O universo estudado foi constituído de 82 indivíduos, sendo estes pacientes atendidos nas Unidades de Saúde do município de Montes Claros-MG em 2010. Neste estudo foram analisadas retrospectivamente as fichas de investigação de pacientes com diagnósticos de intoxicação exógena, atendidos entre Janeiro a Dezembro de 2010.

    Todas as fichas de investigação foram destacadas para a coleta de dados e com isso foi possível contemplar um vasto elenco de variáveis relacionadas à identificação do paciente, da Unidade de Saúde Notificadora, os antecedentes epidemiológicos, dados da exposição, tais como local, grupo do agente tóxico, nome do agente tóxico, via de exposição, circunstância da exposição, tempo decorrido da exposição até o atendimento, tipo de exposição, tipo de atendimento, hospitalização, evolução do caso, entre outras.

    O processamento dos dados se deu através do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 16.0, onde foi construído banco de dados com as informações coletadas.

    Foi realizada uma análise exploratória das informações, permitindo conhecer o perfil epidemiológico da amostra estudada. As variáveis foram estudadas e melhor visualizadas através de gráficos.

Resultados e discussão

    Analisando a distribuição dos casos de acordo com os meses do ano, observa-se a predominância da ocorrência dos casos de intoxicações nos meses Janeiro (n=15), Setembro (n=10) e Dezembro (n=9) (Gráfico 01).

    Tais dados podem incidir no fato dos meses de Janeiro e Dezembro serem considerados meses de férias, onde as pessoas estão instaladas, na maioria do tempo, em casa, conforme veremos no local de ocorrência mais comum das intoxicações.

Gráfico 01. Distribuição por meses do ano dos pacientes atendidos, em número, nas Unidades de Saúde de Montes Claros-2010

    A análise pontual da faixa etária nos mostra a predominância de intoxicações exógenas na faixa etária que compreende dos 20 a 34 anos de idade (n= 24), representando assim 29% dos casos (Gráfico 02).

    Talvez poderíamos explicar melhor esses dados pelo fato dessa faixa etária ter autonomia suficiente para ter acesso e autonomia a agentes tóxicos, o que facilitaria sua exposição a esses agentes.

Gráfico 02. Distribuição por faixa etária dos pacientes atendidos, em número, nas Unidades de Saúde de Montes Claros, 2010

    O gênero predominante foi o masculino, com 52% (n=43), enquanto feminino alcançou um percentual de 48% (n=39). TABELA 01

Tabela 01. Distribuição por gênero dos pacientes atendidos, em número, nas Unidades de Saúde de Montes Claros, 2010

    Quanto à raça, 85% (n=70) foram declarados como pardos.

    No que diz respeito à zona de residência, 97% (n=80) pertenciam a zona urbana, enquanto 3% (n=2) eram da zona rural.

    A residência foi o local onde mais as intoxicações ocorreram, apresentando 48 casos (58%).

    Quanto ao tipo de agente tóxico, os medicamentos predominaram (n=31), seguidos de alimentos e bebidas (n=16) e produtos de uso domiciliar (n=9) (Gráfico 03).

Gráfico 03. Distribuição por agente tóxico causador da intoxicação, em número, nas Unidades de Saúde de Montes Claros, 2010

    A via de exposição prevaleceu a digestiva, com 84% dos casos (n= 69).

    Dos 82 casos do estudo, 02 (2%) estavam relacionados ao trabalho.

    Quanto ao tipo de atendimento, 62 (75%) receberam tratamento ambulatorial.

    A internação foi necessária em 11 casos, o que representa 13% do total dos casos aqui estudados.

    Quanto ao tipo de contaminação, 40% (n=33) se deu pela forma acidental, seguida da tentativa de suicídio com 21% (n=18) e ingestão de alimentos, 19% (n=16) (Gráfico 04).

Gráfico 04. Distribuição por tipo de contaminação da intoxicação, em número, nas Unidades de Saúde de Montes Claros, 2010

    Quanto ao tipo de exposição, 77 casos foram definidos como aguda-única, representando 94% dos casos.

    Quanto à evolução, grande maioria dos pacientes aqui estudados, 95% (n=78) evoluiu com cura sem seqüela e 04 pacientes evoluíram a óbito como conseqüência da intoxicação sofrida. Gráfico 05.

Gráfico 05. Distribuição por evolução do caso, em número, nas Unidades de Saúde de Montes Claros, 2010

Conclusão

    As ocorrências de casos de intoxicações exógenas em pacientes atendidos nas unidades de saúde de Montes Claros, até então, não haviam sido estudadas satisfatoriamente. Com esse estudo foi possível caracterizar o perfil dos indivíduos que estiveram envolvidos com a intoxicação exógena, o que marca como ponto inicial para estudos futuros e mais aprofundados nessa área.

    Apesar de constituir um problema de saúde pública e absorver grande parte dos investimentos financeiros destinados à saúde, esse cenário é passível de transformação. Com a prevenção, podemos favorecer a situação atual, alterando as estatísticas e evitando a perda de tantas vidas em decorrência da intoxicação exógena.

    Se conseguirmos ensinar atitudes básicas de prevenção, poderemos oferecer mais proteção à sociedade.

    Sugerimos aqui a realização de campanhas educativas, amplamente divulgadas na sociedade, abordando os vários tipos de intoxicações, mas principalmente o uso indiscriminado de medicamentos.

Referências bibliográficas

  • Bortoletto M E, Marques M B, Bezerra M, Santana, Bocher R. Análise epidemiológica dos casos registrados de intoxicação humana no Brasil no período de 1985-1993. Rev. Bras. Toxicol. 1996.

  • Chaves VM. Droga-morte. Psicopedagogia on-line (serial on-line) Publicado em 22 de Maio 2003. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/opinião

  • Hesket J, Castro AG. Perfil Epidemiológico dos Atendimentos realizados nos Centros de Toxicologia de seis hospitais universitários do Brasil de 1994 a 1996. Centro de Controle de Intoxicações. Disponível em: http://www.hc.unicamp.br/servicos/cci/perfi l_new.html

  • Larini, L. Toxicologia. 3ª ed. Ed. Manole Ltda., São Paulo, 1999.

  • Pereira, M. G. Epidemiologia Teoria e Prática. Editora Guanabara Koogan S. A. Rio de Janeiro, 2001.

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