Esporte e anomia: um estudo de caso no futebol brasileiro Deporte y anomia: un estudio de caso en el fútbol brasileño Sport and anomy: a case study in Brazilian soccer |
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*Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília **Graduada em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília ***Mestrando em Atividade Física e Saúde pela Universidade Católica de Brasília (Brasil) |
Luis Otávio Teles Assumpção* Andréia Cristina Ferreira Gouveia** Marco Antonio Caetano Júnior*** |
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Resumo Grupos e pessoas, quando perdem uma posição social, especialmente quando esta envolve prestigio e poder, vivem, com maior ou menor intensidade, situações de instabilidade, insegurança e crise. O sociólogo Emile Durkheim utilizou o conceito de anomia (a= ausência, nomos= regra, norma, em grego) para melhor entender este processo. Neste trabalho tomaremos este conceito como importante referencia para analisar este estado de crise aplicando-o ao futebol brasileiro. Unitermos: Esportificação. Processo anômico. Sociologia.
Resumen Los grupos y las personas cuando pierden una posición social, especialmente cuando esta implica prestigio y poder, pasan, con más o menos intensidad, situaciones de inestabilidad, inseguridad y crisis. El sociólogo Emile Durkheim he utilizado el concepto de anomia (a= ausencia, nomos= regla, norma, en griego) para mejor entender esto proceso. En este trabajo se utilizará esto concepto para analizar esta crisis en el fútbol de brasileño. Unitermos: Deportivización. Proceso anómico. Sociología.
Abstract When groups and people lose a social position, especially when it involves power and social prestige, they experience situations of instability, insecurity and crisis in different levels of intensity. The sociologist Emile Durkheim, has applied the concept of anomy (a= absence, nomys= rule, in greek) to better understand this process. This article analyses this crisis situation in Brazilian soccer players. Keywords: Sportification. Anomic process. Sociology.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Situações de crise, ruína, desclassificação ocorrem com relativa freqüência no mundo do esporte profissional. Clubes esportivos, atletas e ex-atletas, vivem ou já viveram com maior ou menor intensidade tais situações. Compreender este processo é bastante salutar para aqueles que vivem, organizam, administram o universo esportivo em nível profissional. São momentos sócio-psíquicos complexos e delicados envolvendo situações por vezes bastante críticas e, para alguns, até mesmo traumáticas.
Compreender os sentimentos, os estados de ânimo, a perda de posição social, cultural e simbólica de um importante clube de futebol profissional brasileiro quando vivenciou um estado com características relativamente próximas a uma “pré-anomia”, orienta e norteia a realização deste estudo.
Materiais e métodos
A pesquisa foi estruturada em uma análise de discurso jornalística. Analisamos reportagens publicadas no caderno de esportes de um dos mais importantes jornais do Rio de Janeiro e do Brasil – O Globo, de circulação nacional nos anos 1996 a 1998. Identificamos e estudamos a maneira pela qual este conceituado veículo de comunicação de massa identificava, produzia, veiculava e dramatizava este processo.
Resultados e discussão
A grandeza do Fluminense Futebol Clube
Um dos marcos de referência esportivo-cultural do Brasil é o futebol. É tamanha a importância deste esporte no país que os brasileiros freqüentemente o denominam “O país do Futebol”. Tal apreciação não acontece por acaso: pentacampeão do mundo neste esporte, a única seleção nacional presente em todas as Copas do Mundo, jogadores de prestígio internacional, um dos maiores mercados – se não o maior – de atletas profissionais, o futebol é o principal esporte de massas no Brasil. Praticado cotidianamente nos lugares mais recônditos, a população se envolve com ele de forma profundamente afetiva. A chegada deste esporte no Brasil ocorreu no final do século XIX e sua presença se espalhou pelo país. Inúmeros clubes foram fundados nos estados, inclusive o Fluminense, que surgiu em 1902, no Rio de Janeiro. Esta cidade, na época, ostentava o status de capital federal e o poder político-cultural ali se concentrava. O Rio de Janeiro era a maior referência cosmopolita da nação. Rivalizava com a capital do estado vizinho – São Paulo – que detinha o poder econômico. Tal situação perdurou até 1960 quando a capital foi transferida para Brasília, cidade planejada e construída especialmente para sediar o governo federal. Nem por isso, no entanto, o Rio de Janeiro perdeu seu brilho e charme cultural. Até hoje alardeia o título, no imaginário coletivo, de “Cidade Maravilhosa”. O Fluminense Football Club – seu nome oficial – atualmente constitui, juntamente com o Clube de Regatas Flamengo, o Botafogo de Futebol e Regatas e o Clube de Regatas Vasco da Gama, uma dos quatro maiores forças do futebol desta cidade. Seu prestígio, seguramente, não se restringe ao Rio de Janeiro; ele é largamente conhecido e respeitado em toda a esfera nacional, constituindo-se uma das principais referências do futebol brasileiro. A existência do Fluminense é secular. Sua importância no mundo futebolístico nacional e no imaginário coletivo é demonstrada pelos inúmeros títulos conquistados, pelos atletas de prestígio que ali atuaram, pelos técnicos de respeito internacional que o dirigiram, pela grandiosidade da torcida espalhada por todo o país, pelo espaço cultural destacado do qual usufrui. Vejamos tal valor e elevado conceito em dados. Em toda sua longa história o Fluminense conquistou trinta títulos estaduais. Conquistou dois títulos do torneio Rio – São Paulo - o campeonato interestadual mais importante e de maior rivalidade do Brasil nos anos 30, 40 e 50, disputado pelas principais equipes destes dois centros políticos, econômicos, culturais e esportivo do país. Com exceção dos anos de 1998 e 1999 – objeto do nosso estudo – participou de todos os campeonatos nacionais da elite do futebol brasileiro (iniciado nos anos 60) tendo conquistado o título em 1984. Participou por três vezes do torneio mais prestigiado e cobiçado da América Latina – a Taça Libertadores da América (tendo conquistado o segundo lugar em 2008). Foi campeão do Torneio de Paris em 1976, vencendo a Seleção da Europa. Vários outros títulos fazem parte da sua história gloriosa Na equipe do Fluminense atuaram jogadores de prestígio nacional e internacional. Foram ídolos da torcida, personagens ilustres que infundem respeito. Muitos deles, por diversas vezes, atuaram na Seleção Brasileira de Futebol sendo que alguns chegaram a ser campeões do mundo, como por exemplo, Rivelino, Paulo César, Carlos Alberto Torres, Gerson, Didi, Castilho, Félix, Marco Antônio, Branco, Romário. Outros participaram da seleção brasileira disputando diversas Copas do Mundo, como foi o caso de Ricardo Gomes, Paulo Vitor, Renato Gaúcho, Preguinho (autor do 1º gol da seleção brasileira, em 1930), Ademir Meneses, Edinho, Dirceu, Rodrigues Neto, Marinho Chagas, Altair, Gil, Tim, Pinheiro, Bigode, Romeu, entre outros. O Fluminense, por diversas vezes, foi dirigido por técnicos de renome internacional, como o campeão mundial pela seleção brasileira Carlos Alberto Parreira.
Pois bem, esta equipe brilhante, de grande prestígio e elevado capital simbólico, atravessou um dos piores momentos de sua história no final do ano 90. No campeonato brasileiro de futebol de 1996 foi rebaixado à segunda divisão do campeonato brasileiro. Por manobras de bastidores foi mantido no campeonato do ano seguinte entre os principais clubes brasileiros. Entretanto, a medíocre campanha repetiu-se – o Fluminense caiu novamente. Não havia condições para uma segunda manobra política. O Fluminense amargou a disputa da segunda divisão. No entanto, o pior ainda estava por vir – o Fluminense caiu mais uma vez, e, desta feita, para a terceira divisão do campeonato brasileiro. Nunca um clube das dimensões e da tradição do Fluminense havia atingido uma posição tão baixa e desprestigiada.
Conceito de anomia
Para aprofundarmos o significado desta queda utilizaremos o conceito de anomia (talvez uma pré-anomia) o qual nos parece esclarecedor para melhor identificarmos a situação de crise analisada, trabalhado com bastante propriedade por Émile Durkheim, no clássico O Suicídio (1988). Trata-se de um conceito que se refere à importância da moral para a continuidade da sociedade, ou seja, em que condições um grupo se integra. A palavra “anomia” deriva do prefixo “a”, que significa “ausência” e da palavra grega “nomos”, que significa “norma”, “regra”, “lei”. Ou seja, trata-se da ausência e da desintegração das normas, o que provoca instabilidade, desmoralização, desinstitucionalização. Várias acepções são imputadas ao termo como o estado de espírito do indivíduo arrancado de suas raízes morais, sem padrões, obedecendo apenas a impulsos desconexos, sem qualquer continuidade de folk ou obrigação. A anomia surge em situações de crise social, quando se dá uma maior ausência da ação moral. Nestes instantes, as necessidades, os apetites, as paixões, estão descontroladas. A legitimidade das esperanças, diz Durkheim, estão confusas.
No estado de anomia estamos diante de um problema de controle social, com valores ausentes ou em conflito, onde os fins não estão ajustados às oportunidades, ocorrendo à anarquia e a ruptura do equilíbrio.
Uma sociedade perturbada vê-se diante da dificuldade de regulação. Configura-se o momento da crise, com ruína e desclassificação. Ocorre uma queda da posição anterior, o indivíduo ou o grupo é lançado em uma situação social inferior, tendo que diminuir suas exigências e restringir suas necessidades. Neste momento os frutos de sua ação social estão perdidos e a educação moral deve ser refeita. A sociedade necessita de tempo para a nova adaptação.
Esta situação anômica de ruína, desclassificação, restrição de necessidades e de exigências ocorreu com um dos mais importantes clubes de futebol profissional do Brasil - o Fluminense Football Club. Pequenas agremiações esportivas, quando perdem a posição de prestígio e de poder que exerciam não sofrem tantas recriminações nem se buscam tantas explicações. Mas, com um time das dimensões sociais, simbólicas, culturais e esportivas da magnitude do Fluminense, as coisas se dão de outro modo.
A queda
O Fluminense caiu para a segunda divisão do campeonato brasileiro no ano de 1996. A queda deste clube de futebol profissional, do ponto de vista sociológico, significou a derrocada do grande que, da noite para o dia, se vê reduzido à condição de pequeno. Ninguém passa incólume por um processo como este. A situação de conflito e de instabilidade anômicas pode ser identificada na medida em que se aproximava o “fantasma do rebaixamento”. A situação nas “Laranjeiras” – bairro da cidade do Rio de Janeiro onde está sediado o clube – ia se tornando cada vez mais tensa e fora de controle. A apreensão e o descontrole dominavam os ânimos.
A tensão rondava o clube carioca, os nervos estavam à flor da pele. No dia 11/11/1996, por ocasião do jogo Fluminense e Atlético Paranaense, o jornal O Globo mostrava que o revide de um ex-goleiro do Fluminense – Ricardo Pinto, atuando naquela ocasião pelo clube paranaense - provocou atos de fúria e vandalismo na impaciente torcida do Fluminense: “Torcida do Flu agride adversários”, “Flu em tempo de derrota, desespero e pancadaria”, “Pilhas e até um rádio foram atirados em direção ao goleiro do Atlético, Ricardo Pinto” (CARVALHO, p. 4).
Em 17 de novembro de 1996, véspera de um dos mais importantes clássicos do futebol brasileiro – Flamengo e Fluminense – a situação do clube tricolor ganhava cores dramáticas: “todos temem que o rebaixamento represente o fim do futebol nas Laranjeiras, pois os problemas financeiros, que já são imensos na primeira divisão, serão o caos na segunda” (FILHO; PENIDO, p. 66 ).
(RENATO GAÚCHO, UM DOS PRINCIPAIS JOGADORES E LÍDERES DO FLUMINENSE, PENIDO, p. 42)(...) tenho certeza que Deus não vai nos abandonar e vamos conseguir os três pontos de que tanto precisamos para começar a sair do sufoco. Para o torcedor, um recado: nós não vamos cair
A manchete de O Globo de 18/11/1996 revelava o estado de anomia: “Crença, tensão e frustração no Fla-Flu do desespero” (PENIDO, 1996, p. 5).
O imponente Fluminense vivia situações dramáticas: “o clássico que normalmente leva multidões ao Maracanã foi assistido por pouco mais de oito mil torcedores. Só 7.280 pagaram ingressos”.
O desespero aumentava a cada jogo: “A insônia da Segunda Divisão”. “Renato não consegue dormir, (...) em lágrimas, pede brio aos jogadores”, “nas Laranjeiras, emoção e lágrimas para motivar o time” (PENIDO; CLEMENT , 1996, p. 38 ).
O jogador Renato Gaúcho, em momento crítico, conclamava os companheiros de equipe:
Eu amo vocês. Se vocês estão comendo melhor hoje, é graças a mim, se têm carros melhores hoje, é por que foi a minha liderança na disputa do campeonato estadual do ano passado que permitiu a vocês saborearem o título e ganharem melhores salários. Se muitos de vocês estão aqui hoje, devem a mim. E estou com vergonha, sem poder sair de casa e cansado de ver o torcedor tricolor sofrer (PENIDO; CLEMENT, 1996, p. 38).
O Fluminense agarrava-se a qualquer fio de esperança, apelando para a força da memória e da tradição: “O Fluminense tem tradição na primeira divisão. Segunda divisão não é lugar para ele” (PENIDO,1996, p. 44) (...) O rebaixamento abalará ainda mais a saúde financeira do Fluminense e causará enorme desgosto à torcida tricolor (...). Mais do que nunca eles [os jogadores] prometem correr e honrar a camisa que tantas glórias acumulou (PENIDO, 1996, p.72).
Em processos anômicos, atitudes angustiantes e de instabilidade e tristeza tendem a ocorrer. Foi o caso do discurso do jogador Uidemar, escrito em seu diário às vésperas da queda do clube:
A situação que estamos vivendo é realmente muito difícil. Coisa que nunca passei na minha vida. Disputar um jogo tão importante como o Fla X Flu e ter a obrigação de vencer. Na partida, passei o pior momento da minha vida. Cheguei a chorar. E muito. Nunca havia perdido tanto. Ainda mais por um clube de tradição como é o Fluminense. Tenho certeza de que se trata do melhor clube em que joguei. Foi um dos jogos em que mais sentimos o calor da nação tricolor e não vencemos. Por isso me senti tão mal ao ver os meus companheiros perderem e por estar no banco de reservas sem poder fazer nada. Além de chorarmos no vestiário, fizemos quase oito milhões de tricolores chorarem com a gente (PENIDO, 1996, p. 70)
No entanto, o Fluminense não resistiu e acabou sendo rebaixado para a segunda divisão. Entretanto, em razão de seu elevado capital social, cultural, simbólico e esportivo, a equipe carioca, por manobras de bastidores, foi mantida na primeira divisão do ano seguinte. No entanto, a manobra política pouco adiantou. O Fluminense, desorganizado e apático, repetiu a fraca campanha do ano anterior e caiu novamente. Escreveu O Globo em 07/11/1997:
Os anos 90 já entraram para a história do Fluminense como a década perdida. À exceção do título estadual de 1995, conquistado graças à barrigada acidental do Renato, o torcedor tricolor só tem o que chorar. Nenhum craque foi revelado, o time cumpriu campanhas ridículas na maioria dos Estaduais e, humilhação das humilhações, foi rebaixado em dois anos seguidos para a segunda divisão do campeonato brasileiro (ORLETTI, 1997, p. 37 ).
A queda também implicava em vultosas perdas financeiras: “com o rebaixamento, o Fluminense perderá cerca de R$ 900 mil de cotas de TVs...” (PENIDO, 1997, p. 37).
A pior das quedas
E o pior ainda estava por vir. A campanha na segunda divisão foi tão desastrosa como a anterior. Em 05/11/1997 o Fluminense encontrava-se à beira da pior queda, prestes a ser rebaixado para a terceira divisão do campeonato brasileiro!
A manchete de O Globo de 26/09/1998 enfatizava a dramaticidade e a instabilidade do momento, típicas de situações anômicas:
Dirigentes já apelam às tradições do clube para evitar o rebaixamento para a terceira divisão do campeonato brasileiro (...). A diretoria já estuda uma maneira de salvar o time do rebaixamento: ‘o Fluminense mereceria uma anistia caso essa catástrofe acontecesse, pela tradição e torcida que temos’, justificou o presidente (CLEMENT, 1998, p. 43)
Tentativas desesperadas para evitar a queda eram tomadas. O lateral-esquerdo, ex-campeão do mundo pela seleção brasileira em 1994 e ex-jogador do mesmo Fluminense, embora um pouco fora de forma física, foi contratado às pressas.
Aos 34 anos, com o peso ainda superior ao que deve exigir um atleta, com o tornozelo coberto de esparadrapo para aliviar a dor e uma fissura, jogando literalmente no sacrifício, Branco restituiu ao time do Fluminense o que ele, Branco, tem de sobra: alma. (...) Mostrou aos companheiros em menos de 90 minutos que esteve em campo [na partida contra o modesto Juventus, de São Paulo], o que eles não tinham aprendido em meses de clube: como se joga com a camisa do Fluminense. Os jogadores do Fluminense não são bem o que o Fluminense precisa e merece (CALAZANS, 1998, p. 37)
“Se o Fluminense estivesse numa situação menos crítica, ele não precisaria se sacrificar. Branco está disposto a se sacrificar e seu empenho contagiou o grupo” (PENIDO, 1998, p. 4)
O atleta realizou apenas dois jogos. Após o primeiro, contra o Clube Atlético Juventus, de São Paulo, a imprensa o exaltou:
Justiça seja feita: apesar da barriga proeminente, do fôlego curto e do tornozelo baleado, Branco devolveu ao Fluminense a garra e a aura de time grande que estavam faltando há muito tempo na equipe tricolor (PRADO, 1998, p.37)
No entanto, ainda faltava o jogo decisivo, o qual seria realizado no estado do Rio Grande do Norte, contra o ABC de Natal, equipe detentor de um capital esportivo de magnitude nacional bastante inferior ao do Fluminense: “O time do ABC poderá empurrar o Fluminense para o buraco mais fundo que já caiu na sua história, à terceira divisão do Campeonato Brasileiro” (PENIDO, 1998, p. 39).
Escreveu Émile Durkheim que, em estado de anomia, os frutos da ação social se perdem. O Fluminense passava por tal situação. “O jogo era mais dramático ainda: uma derrota atiraria o Fluminense no precipício da terceira divisão, de onde, garanto eu, não há retorno” (CALAZANS, 1998, p. 37)
O técnico Sérgio Cosme – num momento difícil como este, quem tem estrutura para segurar é Branco, Nonato, Ronaldo e Adílson. Só gente muito jogada e experiente tem estrutura para suportar esse tipo de desafio (PENIDO, 1998, p. 41)
O momento crítico justificava a busca de soluções extremas. Um ato ecumênico nas Laranjeiras foi celebrado.
O momento vivido pelo Fluminense é tão delicado e difícil de ser resolvido pelos meios convencionais que dirigentes e associados resolveram se dar as mãos para fugir da crise (...) Ato ecumênico em prol da união tricolor (PENIDO, 1998, p. 41)
O dia do jogo – “o dia D da história do Fluminense” (CLEMENT, 1998, p. 40) - foi inesquecível na memória dos tricolores:
Os olhos da torcida carioca – espero que de toda a torcida carioca – estarão voltados hoje à noite para Natal, onde o Fluminense pode escapar da terceira divisão, se derrotar o ABC. O time ganhou uma certa arrumação com a entrada do técnico Sérgio Cosme. E com a entrada de Branco no campo ganhou personalidade, identidade e alma (CALAZANS, 1998, p.39)
Cores dramáticas emolduravam o jogo: “é o jogo mais importante da história do Fluminense” (PENIDO, 1998, p. 39)
O Fluminense acabou sendo rebaixado mais uma vez.
Conclusão
Com muita propriedade o articulista Roberto Pompeu de Toledo escreveu certa vez na revista Veja que a revolta não nasce apenas quando as coisas vão mal. Segundo ele, a revolta nasce quando já se provou do que é bom e subitamente isto nos é tirado. Continua ele: “luta-se mais para se conservar um privilégio do que para se exigir um direito”. Uma coisa é tirar, dizia Toledo, outra é não dar. Finaliza o articulista: “a decepção é mais forte do que o adiamento de uma promessa. É por amor-próprio, e não por carência, que as pessoas se revoltam”.
O Fluminense é um exemplo do grande time que foi ao fundo do poço. A dor de sua torcida, jogadores, dirigentes, por já terem conhecido e convivido com a glória e o prestígio tornava-se mais cruel e insustentável.
Referências
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CALAZANS, Fernando. Alma de Campeão. O Globo, Rio de Janeiro, p. 37. 30 de Set, 1998.
CARVALHO, Milton. FLU em tempo de desespero e pancadaria. O Globo, Rio de Janeiro, p. 4. 11 de Nov, 1996
CLEMENT, Paulo. O dia D da história do Fluminense. O Globo, Rio de Janeiro, p. 40. 06 de Out, 1998.
CLEMENT, Paulo. Presidente do FLU diz que jogadores podem reclamar. O Globo, Rio de Janeiro, p. 43. 26 de Set, 1998.
DURKHEIM, Émile. “O suicídio anômico”, in RODRIGUES, José Albertino (org.), Durkheim. São Paulo, Ed. Atica (Coleção Grandes Cientistas Sociais), pp. 97-117, 1988.
DUVIGNAUD, Jean. L’anomie, hérésie et subversion. Paris: Éditions Anthropos, pp. 27- 69, 1973.
FILHO, Antonio; PENIDO, Marcos. Um clássico marcado pelo desespero. O Globo, Rio de Janeiro, p. 66. 17 de Nov, 1996.
HORTON, John. “Anomia e alienação: um problema na ideologia da sociologia”, in FORACCHI, Marialice Mencarini e MARTINS, José de Souza (orgs.), Sociologia e Sociedade – leituras de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro, Livros técnicos e científicos, pp. 65-82, 1977.
MEIRELES, Marilucia Melo. Anomia. São Paulo, Casa do Psicólogo. (Coleção Clínica Psicanalítica), 2001.
ORLETTI, Carlos. Esperança no terceiro milênio. O Globo, Rio de Janeiro. p. 37. 07 de Nov, 1998.
PENIDO, Marcos. Barcelos analisa os erros e começa a planejar como será o FLU em 1998. O Globo, Rio de Janeiro, p. 37. 07 de Nov, 1997.
PENIDO, Marcos. Nova diretoria promete incentivo ao FLU. O Globo, Rio de Janeiro, p. 42. 16 de Nov, 1996.
PENIDO, Marcos. Técnico do ABC faz juras de amor ao FLU, mas o quer na “terceirona”. O Globo, Rio de Janeiro, p.39. 06 de Out, 1998.
PENIDO, Marcos. FLU marca ato ecumênico para se unir e sair da crise. O Globo, Rio de Janeiro, p. 41. 03 de Out, 1998.
PENIDO, Marcos. Num diário, Uidemar conta o seu drama e o do FLU na semana decisiva para o clube. O Globo, Rio de Janeiro, p.70. 24 de Nov, 1996.
PENIDO, Marcos. FLU na hora da verdade: é vencer, torcer e rezar. O Globo, Rio de Janeiro, p. 72. 24 de Nov, 1996.
PENIDO, Marcos. FLU adota a tática da psicologia. O Globo, Rio de Janeiro, p. 44. 23 de Nov, 1996.
PENIDO, Marcos; CLEMENT, Paulo. A insônia da segunda divisão. O Globo, Rio de Janeiro, p. 38. 19 de Nov, 1996.
PENIDO, Marcos. Crença tensão e frustração no FLA-FLU do desespero. O Globo, Rio de Janeiro, p.5. 18 de Nov, 1996.
PENIDO, Marcos. Nova Diretoria promete incentivo extra ao FLU. O Globo, Rio de Janeiro, p. 42. 16 de Nov, 1996.
PRADO, Renato. A cara do pai. O Globo, Rio de Janeiro, p. 37. 01 de Out, 1998.
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