Corpo e movimento: reflexões sobre a gestualidade em Tempos ModernosCuerpo y movimiento: reflexiones sobre la gestualidad en Tiempos Modernos |
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*Graduanda em Educação Física (UFRN) **Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento Laboratório Ver- Laboratório Visibilidade do corpo e cultura de movimento EDITAL MCT/CNPq Nº 14/2009 - Universal |
Maria Lúcia Sebastião* Dra. Terezinha Petrucia da Nóbrega** (Brasil) |
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Resumo A pesquisa caracteriza-se como uma reflexão sobre corpo, expressão e movimento, sobre o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin. Tendo como método principal a fenomenologia de Merleau-Ponty, onde foi possível observar as atitudes vividas relacionadas com a corporeidade de um modo reflexivo. Unitermos: Corpo. Movimento. Expressão.
Resumen La investigación se caracteriza por ser una reflexión sobre el cuerpo, la expresión y el movimiento sobre la película Tiempos Modernos de Charles Chaplin. Utilizando como método principal la fenomenología de Merleau-Ponty, fue posible observar las actitudes vivenciadas relacionadas con la corporeidad de una manera reflexiva. Palabras clave: Cuerpo. Movimiento. Expresión.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Falar sobre o movimento humano possibilita modos diversos de conhecer o corpo e suas expressões. Cada indivíduo tem uma maneira própria de se expressar, o que faz do homem um ser individual, mas ao mesmo tempo coletivo, uma vez que, ele é um entrelaçamento de tudo aquilo que vive e o envolve.
Em O olho e o espírito Merleau-Ponty (2004) afirma que ao mesmo tempo em que o homem toca, é tocado, é visível e sensível, constituído de uma face e um dorso, um passado e um futuro. Ao falar dessa sensibilidade do corpo, fica notório também essa sensibilidade do sentir o outro. E sobre isso ele fala:
O enigma consiste em meu corpo ser ao mesmo tempo vidente e visível. Ele, que olha todas as coisas, pode também se olhar, e reconhecer no que vê então o “outro lado” de seu poder vidente. Ele se vê vidente, ele se toca tocante, é visível e sensível para si mesmo (MERLEAU-PONTY, 2004, p.17).
Compreendemos que a expressão corporal não se limita as formas anatômicas ou gestos mecânicos, o corpo vai além dos dados biológicos, como afirma Merleau-Ponty (2004, p. 16): “É preciso reencontrar o corpo operante e atual, aquele que não é um pedaço de espaço, um feixe de funções, que é um entrançado de visão e movimento”.
Nesse contexto, esse trabalho trata-se de uma reflexão sobre corpo, expressão e movimento, a partir do filme Tempos Modernos de Charles Chaplin. Utilizamos como método principal, a fenomenologia, evidenciando pensamentos de Maurice Merleau-Ponty. Ao adotar a filosofia como referência metodológica, observamos atitudes vividas relacionadas com a corporeidade.
Desse modo, sendo a escolha intencional considerando a gestualidade expressa no filme Tempos Modernos. Sendo assim, apresentaremos nas linhas que seguem, alguns aspectos relevantes da vida de Charles Chaplin, e ainda, refletiremos sobre o trabalho corporal do ator e as cenas que nos permitem refletir sobre a corporeidade e a cultura de movimento.
Charles Chaplin e a corporeidade em Tempos Modernos
Charles Spencer Chaplin nasceu no dia 16 de 1889, em um subúrbio de Londres, passando boa parte de sua infância em um orfanato. Ele morreu aos 88 anos, no dia 25 de Dezembro de 1977, vítima de um derrame cerebral.
Considerado o gênio da sétima arte, por ser diretor, roteirista, ator, dançarino, músico e produtor, ele é considerado o maior ator da história do cinema. Dessa forma, ele inspirou a vida de muitas pessoas com suas comédias e personagens criativos.
Sabe-se que Charles Chaplin atingiu fama mundial através do cinema mudo, e com este, ganhou vários troféus. Seu envolvimento com o cinema ocorreu quando ele tinha apenas cinco anos de idade, o qual acabou construindo a sua vida a partir de uma paixão que também herdou de sua família, a paixão pelo teatro, como ele diz:
Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando, falei muitas vezes como um palhaço, mas jamais duvidei da sinceridade da platéia que sorria (CHARLES CHAPLIN, s/d).
No que se refere ao filme “Tempos Modernos” de Chaplin, observa-se uma representação do corpo-máquina e também a crítica a esse modelo e as possibilidades de compreender a corporeidade por meio da gestualidade do ator.
No filme o corpo é visto como máquina, sobretudo, no trabalho, destinado à repetição de movimentos. E, embora o corpo seja visto dessa maneira, ao estar inserido em um contexto social específico, que configura a corporeidade e a sua expressão, observa-se que ele não tem seus movimentos limitados e inexpressivos como da máquina.
Portanto, Charles Chaplin enquanto corpo que é, mesmo trabalhando de forma semelhante a uma máquina em alguns momentos, demonstra através de seus gestos e de sua expressão, elementos do sensível, que o faz ser mais que uma máquina, fazendo-nos pensar sobre o corpo e a vida social no mundo do trabalho.
Nesse sentido, compreendemos que cada individuo tem uma maneira própria de se expressar, o que faz do homem um ser individual, mas ao mesmo tempo coletivo, uma vez que, ele é um entrelaçamento de tudo aquilo que vive e o envolve.
Nesse contexto, compreendemos que a corporeidade configura-se no corpo em movimento, ou seja, na ação que é transmitida através dos seus gestos, levando em conta que esse movimento é intencional possuindo sentidos e significados onde podemos visualizar a relação do espaço e do tempo, relacionando com a cultura e com sua história. A noção de corporeidade perpassa o corpo vivo.
Sendo assim, o corpo não se assemelha nem a máquina, nem a um objeto, já que tem uma identidade e uma expressão que lhe é peculiar. Como diz Nóbrega (2005) “O corpo não é uma massa material e inerte, mas o lugar de nossas ações, sensações, esse corpo é sensualidade, é linguagem, é movimento, é obra de arte. Portanto, o corpo é movimento e expressão”.
Nesse sentido, o corpo expressa a unidade na diversidade, ou seja, cada corpo tem suas próprias experiências, podendo entrelaçar tanto o mundo biológico quanto o mundo cultural. Logo, é com meu corpo que opero o mundo e com ele tenho a oportunidade de traçar minhas próprias experiências, modelando meu corpo, e vivendo. Em outras palavras:
Realizar um movimento não seria simplesmente utilizar o equipamento anatômico, mas aprender as coisas do mundo de forma original, fornecendo uma resposta adequada á nova situação. Se o movimento não possui essa significação, essa intenção que o anima, ou melhor, se isso não é despertado, o movimento deixa de expressar a originalidade do sujeito e o corpo passa a condição de objeto, de coisa (NÓBREGA, 2005, p.66).
É assim que percebemos que não somos apenas uma máquina, mas um conjunto de tudo aquilo que nos rodeia, cujas emoções, expressões e movimento dão voz ao corpo, em cada celebração e criação expressiva.
O corpo é movimento, e sobre isso Merleau-Ponty (2004, p.16) afirma: “digo de uma coisa que ela é movida, mas, o meu corpo, ele se move, meu movimento se desenvolve”. De fato, existe um espaço em que cada corpo transita, ou seja:
Espaço é e em si, ou melhor, é o em si por excelência, sua definição é ser em si. Cada ponto do espaço existe e é pensado ali onde ele está, um aqui, outro ali, o espaço é a evidência do onde. Orientação, polaridade, envolvimento são nele fenômenos derivados, ligados á minha presença (MERLEAU-PONTY, 2004, p.28).
Usufruindo de todo movimento que o corpo consegue alcançar, compreende-se que o seu movimento é singular e cheio de sentidos. E nesse sentido, Merleau-Ponty fala sobre o movimento:
O meu movimento não é uma decisão do espírito, um fazer absoluto, que decretaria, do fundo do retiro subjetivo, uma mudança de lugar milagrosamente executada na extensão. Ele é uma seqüência natural e o amadurecimento de uma vida. (MERLEAU-PONTY, 2004, p.20).
O movimento é parte do nosso corpo, através de uma interação seja com os objetos, seja com os outros corpos, seja consigo mesmo.
Essa interação nos remete lembrar que juntos de outros corpos tocamos e somos tocados, é nesse momento que muitas vezes acontece que ao mesmo tempo em que olhamos para outro corpo percebemos que também somos observados.
Sobre essa interação entre dois corpos, Merleau-Ponty (2004) fala que é preciso que com meu corpo despertem os corpos associados, ou seja, os outros corpos que o envolvem nesse mundo, em um círculo de sensações onde a sensibilidade passa a transparecer.
Isso nos faz compreender que sendo um corpo capaz de olhar outro, ele jamais pode se olhar. Apenas sente as sensações quando entra em contato com outro corpo, ou seja, a carne a pele.
Essa reflexão tem um grande significado para compreendemos a importância do corpo, da interação, sensações quando dois corpos se juntam do movimento que estar entrelaçado com outros corpos.
Considerações finais
Compreendemos que a corporeidade evidencia que o corpo não é uma substância isolada no mundo, é um corpo dotado de sentidos e significados e ao mover-se e ao interagir com os outros corpos, não faz isso apenas mecanicamente ou biologicamente, mas estabelece em cada ato e movimento uma significação e um sentido.
Desse modo, acreditamos que o toque e a sensibilidade são expressão do corpo e que cada um, expressa de maneiras específicas esses fenômenos. Já que o corpo é corpo vivo, cheio de sensações inesperadas e um enigma humano, em outras palavras: “Na base de toda compreensão está o sentir, essa realidade pré-objetiva que temos que descobrir em nós mesmo” (NÓBREGA, p. 59, 2005).
No cinema podemos ter essa dimensão sensível do olhar do outro sobre o corpo, sua expressão e movimento. O filme Tempos Modernos nos oferece uma oportunidade para ampliarmos a compreensão de corporeidade como expressão do ser no mundo.
Sendo assim, acreditamos que compreender essas nuances constitui um contínuo desafio à Educação Física, ao disponibilizar sentidos e significados sobre o corpo e o movimento, permitindo um olhar mais sensível para se contemplar o corpo, as atitudes vividas e o movimento humano.
Referências
MERLEAU-PONTY, Maurice. O olho e o espírito. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
NÓBREGA, Terezinha Petrucia da. Corporeidade e educação física – do corpo objeto ao corpo sujeito. 2. ed. Natal: EDUFRN, 2005.
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