O efeito da prática variada e constante na aprendizagem do controle da força de preensão manual El efecto de la práctica variada y constante en el aprendizaje del control de la fuerza de prensión manual The effect of constant and varied practice in learning handgrip control |
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Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) |
Andréia Rodrigues de Souza Cardoso Gisella Alves de Mello Simone Goetz Malikoski |
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Resumo A pesquisa objetivou verificar o efeito da prática variada e constante na aquisição do controle da preensão manual. Doze sujeitos foram submetidos a um teste de força máxima de preensão manual no dinamômetro e separados aleatoriamente em dois grupos: prática constante (GC) e prática variada (GV). Na fase de aquisição, o GC realizou quinze tentativas a 60% da força máxima. Já o GV realizou cinco tentativas a 40% da força máxima, cinco tentativas a 60% e mais cinco tentativas a 80% da força máxima. Na fase de transferência todos os sujeitos realizaram cinco tentativas a 70% da força máxima. Os sujeitos do GV tiveram melhor média na fase de aquisição e os sujeitos do GC tiverem melhor média da fase de transferência, mas não houve diferenças significativas entre o GC e o GV. Unitermos: Prática constante. Prática variada. Preensão manual.
Resumen El objetivo de este estudio fue investigar el efecto de la práctica variada y constante en la adquisición del control de la presión manual. Doce sujetos se sometieron a una prueba de fuerza máxima en el dinamómetro y se dividieron aleatoriamente en dos grupos: la práctica constante (GC) y la práctica variable (GV). En la fase de adquisición de la GC hizo quince intentos para el 60% de la fuerza máxima. En la fase GV se hizo cinco intentos en el 40% de la fuerza máxima, cinco intentos en el 60% y más cinco intentos en el 80% de la fuerza máxima. En la fase de transferencia, todos los sujetos realizaron cinco intentos en un 70% de la fuerza máxima. Los sujetos de la GV tuvieron la mejor media en la fase de adquisición mientras los de la GC lograron un promedio mejor de la fase de transferencia, sin embargo, no hubo diferencias significativas entre la GC y la GV. Palabras clave: Práctica constante. Práctica variable. Fuerza manual.
Abstract The purpose of this study was to investigate the effect of variable and constant practice in the acquisition of grip control. 12 subjects underwent a test of maximum strength in handgrip dynamometer and were divided randomly into two groups, constant practice (GC) and variable practice (GV). In the acquisition phase GC made 15 attempts at 60% of maximum force and GV made five attempts at 40% of maximum force, five attempts at 60% and more five attempts at 80% of maximum force. During transfer phase all subjects made five attempts at 70% of maximum force. GV subjects had better average in the acquisition phase and the subjects of the GC had a better average of the transfer phase, however, the differences between GC and GV was not significant. Keywords : Constant practice. Variable practice. Handgrip.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os seres humanos têm uma capacidade notável de realizar habilidades motoras com precisão, consistência e mínimo desperdício de tempo e energia (PINHEIRO e CORRÊA, 2007). Durante anos pesquisadores investigam maneiras diferentes de estruturação da prática na aprendizagem de habilidades motoras.
De uma maneira bem abrangente, prática constante é aquela em que se repete o esquema motor por várias vezes, tendo como principal objetivo o desempenho, desenvolvendo a capacidade de realizar uma habilidade motora. Já a prática variada ensaia possíveis variações do movimento (SOUZA, 2006). A partir da década de 80, princípios e pressupostos de teorias e princípios de aquisição de habilidades motoras tem sido testados com a prática variada (MARINOVIC e FREUDENHEIM, 2001). Em geral, estes testes mostram a capacidade de adaptação da prática variada e a importância na aprendizagem de uma habilidade motora (SOUZA, 2006), embora proporcione pior desempenho na fase de aquisição, causa melhor transferência e retenção (TANI, et al, 2001), ou seja, a interferência que ocorre na memória durante a prática, de acordo com Tani e Chiviakowski (1997), tem como resultado a melhora do processo de elaboração e distinção, facilitando retenção e a transferência futuramente.
Enquanto alguns estudos mostram que práticas variadas possibilitam melhor consistência no desempenho do que a prática constante (Pellegrini e Corrêa 1996; CHIVIACOWSKY e TANI, 1997), outros asseguram que não se pode concluir a superioridade da prática variada (PINHEIRO e CORRÊA, 2007).
O teste de preensão manual (PM) é uma forma simples, rápida e prática de avaliação da força muscular. Está relacionado com a força geral do corpo e assim possui diversas aplicabilidades (ABREU, 2008). O estudo realizado com força de preensão manual de TANI (2000), mostrou que o grupo de prática constante obteve melhor desempenho a adaptação da habilidade motora.
O teste de força de preensão manual tem como objetivo quantificar e avaliar a força estática de preensão manual do avaliado. A força é uma das qualidades físicas que está presente em todas as modalidades esportivas e, na maioria das vezes, o indivíduo que possui esta qualidade apurada pode ter uma grande vantagem em relação aos demais, aumentando assim a probabilidade de melhor resultado esportivo (AFONSO, 2007).
Segundo Moro, 2005 os movimentos realizados pela mão como transporte, preensão e manipulação de objetos são essenciais ao dia-dia de cada ser. A complexidade dessa estrutura lhe confere características peculiares em relação a sua habilidade, como controle da força e da precisão conforme exigência de execução. Algumas tarefas exigem a manutenção da força de preensão por um longo período de tempo, provocando uma série de patologias.
A força de preensão pode ser utilizada como indicador do desenvolvimento da coordenação e no diagnóstico de disfunções neurológicas relacionadas à aprendizagem motora e à percepção e também como na identificação de patologias do membro superior, no controle do processo de reabilitação e no estabelecimento dos padrões suportáveis de aplicação ou sustentação de cargas.
Objetivo
Determinar qual tipo de prática, variada ou constante, tem melhor efeito na aprendizagem do controle da força de preensão manual.
Método
Sujeitos
Participaram desta pesquisa 12 alunos da 2a fase do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina, entre 18 e 25 anos, fisicamente ativos, escolhidos aleatoriamente sem critério de exclusão ou inclusão. O mínimo exigido foi a condição de ser capaz de apertar o dinamômetro com a mão dominante.
Instrumento da tarefa
Foi utilizado um dinamômetro manual da marca Jamar (Figura 1).
Figura 1. Dinamômetro da marca Jamar
Delineamento experimental e procedimentos
A pesquisa foi dividida em fase pré-teste, fase de aquisição e fase de transferência. A fase pré-teste tinha o objetivo de verificar a força máxima dos sujeitos para que fosse possível calcular percentuais de força máxima para as fases de aquisição. Para tanto, foram realizados duas tentativas no pré-teste e o menor valor (Kg) obtido foi descartado. Após o cálculo de 40%, 60% e 80% da força máxima, um grupo (GC) foi submetido à prática constante e o outro grupo (GV) à prática variada.
Na fase pré-teste os indivíduos foram orientados a realizar a força da seguinte forma, cada sujeito segurava o dinamômetro com a mão dominante, apoiando a barra de tração na falange distal dos quatro últimos dedos e a barra de apoio em contato com a palma da mão. O avaliado ficava na posição de pé, com os braços estendidos a um palmo de distância ao longo do corpo, devendo apertar o aparelho com o máximo de força que conseguir. E essa orientação foi fornecida também na fase de aquisição e na fase de transferência.
Na fase de aquisição o GC realizou 15 tentativas a 60% da força máxima e o GV realizou cinco tentativas a 40%, cinco tentativas a 60% e cinco tentativas a 80% da força máxima, nessa ordem. Os indivíduos eram informados sobre qual porcentagem de força deveriam alcançar e qual era esse valor em Kg/F. Depois de cada tentativa todos os indivíduos do GC e GC recebiam um feedback prescritivo.
Após sete dias os indivíduos foram submetidos a um teste de transferência. Primeiramente os sujeitos eram orientados sobre o posicionamento e execução corretos do movimento, assim como na fase de aquisição. Em seguida eram orientados a respeito da porcentagem da força que deveriam fazer. Os dois grupos realizaram cinco tentativas a 70% da força máxima. Nessa fase não foi dado conhecimento de resultado, sendo esse intrínseco ao sujeito.
Com o objetivo de estabelecer comparações entre os tipos de práticas analisadas nessa pesquisa, calculou-se a média da porcentagem da força dos sujeitos em cada tentativa.
Resultados e discussão
Para que fosse possível estabelecer comparação entre os grupos da prática constante (GC) e o grupo da prática variada (GV) os dados desse estudo foram tratados como porcentagem da força máxima de cada sujeito da pesquisa.
A tabela a seguir mostra a frequência de resultados para o GC.
Tabela 1. Freqüência dos resultados dos sujeitos da prática constante na fase de aquisição
É possível perceber que a maior frequência de resultados está entre 51 e 60% da força máxima que é exatamente o objetivo da prática, mostrando que durante a fase de aquisição os indivíduos da GC conseguiram realizar a tarefa com sucesso.
Tabela 2. Freqüência dos resultados dos sujeitos da prática variada na fase de aquisição
Os resultados da tabela 2 mostram que os sujeitos da prática variada também conseguiram realizar a maioria das tentativas com valores próximos da porcentagem de força de preensão manual objetivada para a prática, ou seja, quando o objetivo era 40% da força máxima os indivíduos realizaram a maioria das tentativas entre os intervalos de 31 e 40% da força máxima, quando o objetivo era 60% a maior frequência ficou entre 51 e 60% da força máxima e por último, quando o objetivo era realizar a força a 80% da máxima as tentativas foram mais freqüentes entre 71 e 80% da força máxima.
Na figura estão plotados os resultados das médias das forças realizadas pelos sujeitos do estudo dos GC e GV tanto na fase de aquisição quanto na fase de transferência.
Gráfico 1. Curva de desempenho das médias dos grupos GC e GV por tentativas nas fases de aquisição e transferência
A partir da observação do gráfico é possível verificar que na fase de aquisição as oscilações entre uma tentativa e outra do GC foram pequenas, atingindo valores bastante próximos ao estipulado para a prática (porcentagem alvo, 60% da força máxima), sendo que na última tentativa a média atingiu a marca exata. Para efeito de análise as tentativas serão analisadas em três blocos de cinco tentativas. Nas primeiras cinco tentativas as médias ficaram um pouco mais distantes da porcentagem alvo quando comparada com o segundo bloco de cinco tentativas, onde os valores ficaram mais próximos ao 60%, sendo que em duas das cinco tentativas o desvio em relação à força alvo foi de ±1, e nas primeiras cinco tentativas apenas a quinta tentativa teve valor de 61%. Essa melhora no resultado das primeiras cinco tentativas para as cinco tentativas seguintes se mantêm no terceiro bloco tentativas, os resultados são semelhantes às cinco tentativas anteriores sendo duas delas com desvio em relação a alvo igual a ±1. De uma forma geral pode-se verificar que o os sujeitos melhoram seu desempenho em relação as primeiras tentativas e mantiveram esse desempenho nas tentativas seguintes.
O GV realizou a prática em blocos de cinco tentativas a 40, 60 e 80% da força máxima. As primeiras cinco tentativas realizadas com alvo de 40% da força máxima, as médias tiveram grande oscilação quando comparadas com as tentativas seguintes, sendo que a segunda e a quinta tentativa tiveram resultado mais próximos à força alvo. O segundo bloco de cinco tentativas, com alvo de 60% da força, as oscilações foram bem menores em relação ao primeiro bloco. Das cinco tentativas uma foi exatamente a 60% duas a 62% uma a 63% e a que teve maior oscilação foi executada a 56%. No último bloco das cinco tentativas as médias das forças ficaram ainda mais próximas a força alvo (80%). Embora a segunda tentativa desse bloco a média da força tenha oscilado 7 pontos em relação a alvo (73%), três das quatro forças restantes tiveram um desvio em relação a alvo de ±1 (79%, 81% e 79%), e ainda a quarta tentativa desse bloco foi exatamente 80% da força. A partir dessa análise pode-se perceber que o GV melhorou o seu desempenho durante a prática.
Através da análise do gráfico pode-se perceber que o teste de transferência, onde os sujeitos realizaram cinco tentativas com o alvo a 70% da força máxima, os sujeitos do GC realizaram suas tentativas em valores mais próximos à força alvo quando comparado com o GV. O GC realizou a primeira tentativa a 73% da força máxima, a segunda a 76% da força máxima, a terceira tentativa a 80% da força máxima, a quarta tentativa atingindo a força alvo de 70% e a última tentativa a 74% da força alvo. O GV realizou tentativas com valores mais próximos a 80% da força, a qual foi o último alvo de porcentagem da força da fase da aquisição. Nas três primeiras tentativas as médias ficaram em um valor superior a 80% da força máxima (83, 81, 81, respectivamente), e diminui nas duas últimas para 75% e 76% respectivamente.
Com esses resultados pode-se concluir que os sujeitos do GV tiveram melhor média na fase de aquisição e os sujeitos do GC tiverem melhor média da fase de transferência, o que nos leva a supor que a prática constante é melhor para a aprendizagem e a prática variada é melhor para o desempenho. Corrêa et al. (2007) concluíram que a prática constante é benéfica para o processo adaptativo de aprendizagem motora. Entretanto, as diferenças entre o GC e o GV do prense estudo não são significativas e, portanto, não é possível dizer com precisão que esses resultados oferecem suporte válido para a confirmação de que a prática constante é superior a prática variada no que se refere à aprendizagem. Além disso, o pequeno número de participantes da pesquisa não fornece dados suficientes para uma análise precisa de resultados, tornando-os inconclusivo.
Referências
ABREU, Patrícia Silveira. O estilo de vida e os componentes da aptidão física e saúde de velejadores amadores da Lagoa da Conceição / SC. Monografia UFSC 2008 pg. 30.
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CHIVIACOWSKY, S; TANI, G. Efeitos da Frequência de conhecimento de resultados na aprendizagem de diferentes programas motores generalizados. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 15-26, jan./jun. 1997.
CORRÊA, U; PELLEGRINI, A. Interferência contextual em função do número de variáveis. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 10, n. 1, p.21-33, jan./jun. 1996.
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MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: Conceitos e aplicações. São Paulo: Ed. Edgard Blucher, 1984.
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MORO, Antônio Renato Pereira et al. Força de Preensão, Lateralidade, Sexo e Características Antropométricas da Mão de Crianças em Idade. Força de Preensão, lateralidade, revista Brasileira de Cineantropometria &desempenho Humano, Florianópolis, p.1-7, 2005.
PINHEIRO, J; CORRÊA, U. Estrutura de prática na aquisição de uma tarefa de timing coincidente com desaceleração do estímulo visual. Revista Portuguesa de Ciências Desportivas, v. 3, n. 3, p. 336-346, dez. 2007.
SCHMIDT, Richard A.; WRISBERG, Craig A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem baseada no problema. 2.ed. Porto Alegre: ARTMED, 2001. 352p.
TANI, G et al. A estrutura da prática variada em situações reais de ensino aprendizagem. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 9 n. 4 p. 55-63, out. 2001.
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SOUZA, A. Aprendizagem Motora. Escola Superior de Educação Física de Muzambinho, p. 51-52, 2006.
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