Aptidão física relacionada à saúde e condição econômica de alunos do ensino médio de uma escola estadual de Florianópolis, SC Aptitud física relacionada con la salud y el nivel económico de estudiantes de una escuela media estatal de Florianópolis, SC |
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*Licenciada em Educação Física pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, UNOESC, campus de São Miguel do Oeste, SC **Mestre em Educação Física pela UFSC, professora de Educação Física na Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC, campus de São Miguel do Oeste, SC (Brasil) |
Karine Fernanda Petry* Sandra Fachineto** |
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Resumo Objetivo deste estudo foi comparar as variáveis da aptidão física relacionada à saúde (ApFRS) e a condição econômica de 90 adolescentes matriculados no Ensino Médio de uma escola estadual de Florianópolis/SC, sendo 29 meninos e 61 meninas. A condição econômica foi avaliada através do questionário de Critério de Classificação Econômica Brasil, proposto pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP (2008). Utilizando-se da bateria de testes do PROESP-BR (2007), foram avaliados o índice de massa corporal (IMC), a Resistência Aeróbica, Força e Resistência Muscular e Flexibilidade. Para análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva (média, desvio padrão e freqüência absoluta) e teste t de Student para amostras independentes. Os resultados mostraram que os escolares analisados pertencem à classe média (n=65) e à classe baixa (n=25). Quando se compararam os níveis de condição econômica em relação às variáveis da ApFRS não foram observadas diferenças significativas. No que diz respeito à comparação das variáveis da ApFRS entre os gêneros observaram-se diferenças significativas para a resistência aeróbia e para força e resistência muscular sendo os valores médios maiores nos meninos. Observou-se que a maioria dos meninos e meninas analisados está abaixo da zona saudável de aptidão física (ZSApF) principalmente para a capacidade aeróbia e força e resistência muscular. Unitermos: Aptidão Física. Condição Econômica. Escolares. Ensino Médio.
Abstract This study aimed to compare the variables of health-related physical fitness (ApFRS) and the economic condition of 90 adolescents enrolled in high school to a state school in Florianopolis/SC, 29 boys and 61 girls. The economic status was assessed by questionnaire Brazil Economic Classification Criterion proposed by the Brazilian Association of Research Companies - ABEP (2008). By using a battery of tests PROESP-BR (2007), we evaluated the body mass index (BMI), aerobic endurance, muscular strength and endurance and flexibility. Data analysis was used descriptive statistics (mean, standard deviation and absolute frequency) and Student’s t test for independent samples. The results showed that the students analyzed belong to the middle class (n = 65) and the lower class (n = 25). When we compared the levels of economic status in relation to ApFRS variables were not significant differences. Regarding the comparison of variables ApFRS gender differences were observed for aerobic endurance and muscular strength and endurance is the higher mean values in boys. It was observed that most boys and girls are analyzed below the healthy fitness zone (ZSApF) mainly for aerobic capacity and muscular strength and endurance. Keywords: Physical fitness. Economic condition. School. High school.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A ApFRS congrega características que, em níveis adequados, possibilitam mais energia para o trabalho e o lazer, proporcionando, paralelamente, menor risco de desenvolver doenças ou condições crônico-degenerativas associadas a baixos níveis de atividade física habitual. (NAHAS, 2003)
A aptidão física e a saúde estão reciprocamente relacionadas, mas a saúde de uma pessoa não depende exclusivamente de um único fator, ela é influenciada por múltiplos fatores, como ambientais, sociais, atributos pessoais e características genéticas. Além de uma boa aptidão física, depende também do nível sócio-econômico, ou seja, condições inadequadas de trabalho, ambiente familiar, dietas inadequadas, falta de conhecimento sobre hábitos saudáveis de vida e acesso limitado aos serviços de saúde. (FERREIRA, 2001).
Em consonância, Ronque et al. (2007, p. 74) dizem que
[...] de forma semelhante a outros comportamentos de risco, tais como tabagismo, alcoolismo e hábitos alimentares inadequados, o estilo de vida tipicamente sedentário tem sido considerado um importante fator de risco à saúde em adultos, bem como em crianças e adolescentes, de ambos os sexos, em diferentes faixas etárias.
Como conseqüência deste processo, verifica-se que a aptidão física de crianças e adolescentes situam-se em níveis que geram preocupações na comunidade científica da área da saúde. (BERGMANN et.al., 2005).
Nesta perspectiva, este estudo objetivou analisar os níveis de ApFRS e a condição econômica de escolares do ensino médio de uma escola Estadual de Florianópolis/SC, partindo da premissa de que o desenvolvimento da ApFRS de crianças e adolescentes compete primeiramente à Educação Física Escolar.
Metodologia
Essa pesquisa caracterizou-se como descritiva e foi realizada com 90 alunos do Ensino Médio Diurno de uma escola Estadual de Florianópolis/SC, sendo 29 meninos (idade média de 15,79±0,86) e 61 meninas (idade média de 16,14±0,83), selecionados de forma intencional e voluntária. Foram incluídos no estudo todos os alunos que concordaram em participar, mediante assinatura dos pais ou responsável do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias.
As medidas de massa corporal e estatura; teste de abdominal de 1 minuto; teste de flexibilidade (sentar e alcançar adaptado - sem banco) e teste de 9 minutos foram utilizados para determinar os indicadores da ApFRS: índice de massa corporal (IMC), Força e Resistência Muscular, Flexibilidade e Resistência Aeróbica, respectivamente seguindo as diretrizes da bateria do Proesp-BR (2007). Para efeitos de análise os escolares foram classificados como: “abaixo da zona saudável de aptidão física” e na “zona saudável de aptidão física” (ZSApF). Para avaliação da condição econômica utilizou-se o questionário de Critério de Classificação Econômica Brasil, proposto pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP (2008), o qual utiliza como base os bens de consumo familiar e o grau de instrução do chefe da família. Com base nesse instrumento, os participantes foram classificados como pertencentes à “Classe Média” e “Classe Baixa“.
Para análise dos dados, foi utilizado o programa estatístico computacional SPSS, versão 11.5. Os procedimentos estatísticos corresponderam à estatística descritiva (média, desvio padrão e freqüência absoluta) para caracterizar a amostra e ao teste t de Student para amostras independentes, para comparação entre as classes econômicas e entre os gêneros.
Resultados
A tabela 1 apresenta as comparações dos participantes deste estudo em relação à condição econômica. Não houve diferenças significativas (p≤0,05).
Tabela 1. Comparação das variáveis da aptidão física relacionada à saúde dos alunos do Ensino Médio em relação à condição econômica
Na tabela 2 são mostradas as comparações dos participantes deste estudo em relação ao gênero. Houve diferenças significativas (p≤0,05) para a capacidade aeróbia (teste de 9 minutos) e para força e resistência muscular (teste de abdominal).
Tabela 2. Comparação das variáveis da aptidão física relacionada à saúde dos alunos do Ensino Médio em relação ao gênero
O gráfico 1 ilustra o número de alunos do gênero masculino e feminino classificados de acordo com o IMC: abaixo do peso, normal, com excesso de peso e obeso. A maioria dos escolares enquadrou-se com peso normal.
Gráfico 1. Frequência absoluta de escolares do gênero masculino e feminino classificados de acordo com o IMC
O gráfico 2 mostra o número de escolares do gênero masculino enquadrados abaixo e na zona saudável de aptidão física relacionada à saúde (ZSApF). Chama-se a atenção para o fato de que a maioria dos escolares está abaixo da ZSApF, principalmente na capacidade aeróbia (teste de 9 minutos).
Gráfico 2. Frequência absoluta de escolares do gênero masculino classificados abaixo da ZSApF
e na ZSApF para as variáveis de flexibilidade, força e resistência abdominal e capacidade aeróbia
Em relação às meninas, os resultados mostraram-se mais preocupantes para a força e resistência muscular e capacidade aeróbia (gráfico 3).
Gráfico 3. Frequência absoluta de escolares do gênero feminino classificados abaixo da ZSApF
e na ZSApF para as variáveis de flexibilidade, força e resistência abdominal e capacidade aeróbia
Discussão
Poucos estudos na literatura são documentados tratando da condição econômica. A maior parte deles traça um paralelo entre condição econômica e zona de moradia (rural ou urbana) como o de Dumith, Azevedo Júnior e Rombaldi (2008, p. 457) que ao avaliarem os componentes da aptidão física relacionada à saúde de 665 escolares do município de Rio Grande, Rio Grande do Sul, concluíram que:
Com relação à área geográfica, observaram-se diferenças para o IMC, RML e capacidade aeróbia. O menor IMC entre os escolares da zona rural pode ser explicado pelo seu menor nível socioeconômico. Além disso, muitos deles têm de se deslocar a pé para ir à escola e/ou ajudar a família em trabalhos manuais, o que aumenta o seu gasto energético. Um estudo realizado na Turquia verificou que crianças de nove a 11 anos da zona urbana possuíam maior IMC e percentual de gordura do que as crianças da zona rural.
Glaner (2005), sem levar em consideração a condição econômica, avaliou a aptidão física relacionada à saúde de 286 adolescentes rurais e 435 urbanos da região do oeste de Santa Catarina e Norte do Rio Grande do Sul, com idade entre 11 e 17 anos. Concluiu que a aptidão cardiorrespiratória dos adolescentes rurais é estatisticamente melhor em todas as idades quando comparada a urbanos. Enquanto que 88,81% dos adolescentes rurais atingem os critérios referenciados, apenas 43,68% dos adolescentes urbanos obtém o mesmo feito. Os adolescentes rurais também melhoram gradativamente a flexibilidade dos 11 aos 17 anos em 21%, já os adolescentes urbanos dos 11 aos 13 anos e dos 16 aos 17 anos apresentam comportamento oposto. Dos adolescentes rurais 28,32%, e dos urbanos 22,53%, atendem os critérios referenciados na força e resistência muscular.
Chama-se a atenção, portanto, que nosso estudo não apresentou diferenças entre as duas classes econômicas avaliadas, demonstrando que para este grupo a aptidão física não difere em relação ao contexto econômico. Embora Ferreira (2001) saliente de que o fato de vivermos numa sociedade dividida em classes sociais, nem todas as pessoas têm condições econômicas para adotar um estilo de vida ativa e saudável. Há desigualdades estruturais com raízes políticas, econômicas e sociais que dificultam a adoção desses estilos de vida.
No estudo de Dumith, Azevedo Júnior e Rombaldi (2008), os autores concluíram que a média do índice de massa corporal não foi diferente entres os escolares do sexo masculino e feminino. No que refere à flexibilidade, os autores observaram que os escolares do sexo feminino obtiveram aproximadamente 4 cm a mais no teste (variando, em média, de 3 a 5 cm). As meninas possuem maior flexibilidade de articulações na adolescência que os meninos, mas ambos tendem a regredir no decorrer do tempo, esse fato se deve mais a um padrão de atividade reduzido que pela idade. Para a variável resistência aeróbica, obtiveram resultado semelhante ao nosso estudo. Concluíram que a resistência aeróbica foi superior para os escolares do sexo masculino e que a maioria apresenta baixa aptidão para esta variável.
Índices inadequados de fortalecimento da musculatura abdominal estão associados a problemas posturais, articulares e músculo-esqueléticos, devido à musculatura fraca na região abdominal. (NAHAS, 2003). Além disso, a diferença na variável força e resistência muscular entre os sexos se dá porque,
Indivíduos do sexo masculino tendem a obter rápidos ganhos em resistência e em força muscular na adolescência, enquanto indivíduos do sexo feminino tendem a atingir seu pico por ocasião do aparecimento da puberdade e regredir ligeiramente no final da adolescência (GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 398).
Em um estudo feito por Verardi et al. (2007), os mesmos verificaram que a força e resistência muscular localizada, meninos e meninas tiveram em sua maioria seus desempenhos classificados como Fraco e Muito Fraco. “O desenvolvimento da força contribui também como fator determinante na manutenção ou no aumento da massa óssea. Em vista disso podemos ressaltar a importância dessa variável em qualquer faixa etária, como indicadora de saúde”. (VERARDI et al., 2007, p. 130).
Conclusões
Quando se compararam os níveis de condição econômica em relação às variáveis da ApFRS não foram observadas diferenças estatisticamente significativas. No que diz respeito à comparação das variáveis da ApFRS entre os gêneros observaram-se diferenças significativas para a resistência aeróbia (teste de 9 minutos) e para força e resistência muscular (teste de abdominal), sendo os valores médios maiores nos meninos.
Observou-se que a maioria dos meninos e meninas analisados estão abaixo da zona saudável de aptidão física (ZSApF) relacionada à saúde principalmente para a capacidade aeróbia e força e resistência muscular. Em função do diagnóstico sobre a ApFRS dos alunos do ensino médio da Escola Estadual avaliada, foi proposto um trabalho dentro das aulas de educação física voltado ao incentivo da prática da atividade física regular a fim de contribuir na melhoria da aptidão física dos adolescentes e, conseqüentemente, contribuir para promoção da saúde dentro do contexto escolar.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA (ABEP) (2008). Critério de classificação econômica Brasil. Disponível em: http://www.abep.org/codigosguias/Criterio_Brasil_2008.pdf. Acesso em: 01 de mar. 2011.
BERGMANN, G. G. et al. Alteração Anual no Crescimento e na Aptidão Física Relacionada à Saúde de Escolares. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, p. 56-61, mar/jul, 2005.
DUMITH, S. C.; AZEVEDO JÚNIOR, M. R. A.; ROMBALDI, A. J. Aptidão Física relacionada à Saúde de Alunos do Ensino Fundamental do Município de Rio Grande, RS, Brasil. Revista Brasileira de Medicina e Esporte, v. 14, n. 5, p. 454-459, set/out, 2008.
FERREIRA, M. S. Aptidão Física e Saúde na Educação Física Escolar: Ampliando o Enfoque. Revista Brasileira de Ciência e Esporte, v. 22, n. 2, p. 41-54, jan, 2001.
GALLAUHE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3 ed. São Paulo: Phorte, 2005, p. 281-296.
GAYA, A.; SILVA, G. PROESP-BR - Manual de Aplicação de Medidas e Testes, Normas e Critérios de Avaliação. p. 2-27, jul, 2007.
GLANER, M. F. Aptidão Física Relacionada à Saúde de Adolescentes Rurais e Urbanos em Relação a Critérios de Referência. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 19, n. 1, p. 13-24, jan/mar, 2005.
NAHAS, M. V. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3ª ed. Londrina: Midiograf, 2003.
RONQUE, E. R. V. et al. Diagnóstico da Aptidão Física em Escolares de Alto Nível Socioeconômico: Avaliação Referenciada por Critérios de Saúde. Revista Brasileira de Medicina e Esporte, v. 13, n. 2, p. 71-76, mar/abr, 2007.
VERARDI, C. E. L. et al. Análise da Aptidão Física relacionada à Saúde e ao Desempenho Motor em Crianças e Adolescentes da Cidade de Carneirinho-MG. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 6, n. 3, p. 127-134, 2007.
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