Análise cinemática da marcha em crianças com excesso de carga na mochila Análisis cinemática de la marcha en niños con excesso de carga en la mochila |
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*Licenciado e bacharelado em Educação Física pela Faculdade Assis Gurgacz **Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria Docente do Curso de Educação Física da Faculdade Assis Gurgacz, PR (Brasil) |
Cleverson Ricardo Pigoso* Carlos dos Santos* Dhioni Cleiton Gregol* Maycon Luiz de Almeida* Lissandro Moisés Dorst** |
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Resumo Este trabalho teve como objetivo analisar se o excesso de carga na mochila escolar, do tipo duas alças de alunos com idade entre 9 e 10 anos está provocando alterações no padrão básico da marcha. Após a carta informativa à escola e o TCLE devidamente preenchido e assinado pelos pais ou responsáveis, deu-se início a coleta dos dados. O estudo foi realizado de maneira descritiva transversal, com 10 alunos analisados entre 09 e 10 anos de idade dos sexos masculino e feminino de uma escola pública do município de Campo Bonito, Paraná. A idade média da amostra foi de 9,4 ± 0,52 anos, peso corporal médio de 27,14 ± 2,4 kg, carga carregada na mochila média de 3,4 ± 0,64 kg. Para realização da coleta foi utilizada uma balança antropométrica digital para aferição da massa corporal e da mochila; para a medida de estatura utilizou-se de um estadiômetro e para o comprimento do membro inferior uma fita métrica; para a aquisição das imagens foi utilizada uma câmera de marca Canon, a frequência de aquisição das imagens foi de 60 Hz. Além do sistema de análise Simi Twinner Pro, para o processamento dos dados, e um questionário de hábitos cotidianos que foi respondido pelos participantes do estudo. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, utilizando de média, desvio padrão e coeficiente de variação. Antes da análise houve necessidade de interpolação dos dados e este foi feito utilizando do Sistema Origin 6.0. Foram avaliadas as variáveis de tempo e distância como também as angulações do quadril e joelho. Analisando os resultados deste estudo, podemos observar que não houve diferenças significativas quanto às variáveis de tempo e espaço, porém, as angulações do quadril e joelho diferiram dos achados na literatura. Pode-se concluir que o sistema musculoesquelético dos analisados se adaptou a carga e ocasionou uma postura considerada incorreta para suprir o excesso de carga. Unitermos: Biomecânica. Sobrecarga. Marcha.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A marcha tem como principal função promover o deslocamento suave e eficiente do corpo no espaço, consistindo no avanço alternado de um membro inferior, enquanto o outro sustenta o peso do corpo. (FISBERG, 1995, apud YASUMITSU, 2006)
Tais movimentos de locomoção são altamente variáveis visto que cada indivíduo apresenta peculiaridades ao padrão básico de locomoção, tornando difícil o padrão fixo para a técnica da caminhada. Porém tal forma de progressão apresenta semelhanças, pois temos que oscilar as pernas de maneira que nosso corpo se levanta a cai a cada passo. (ROSE e GAMBLE, 1998).
Segundo Lippert (1996) apud Estrazulas, Pires, Santos, Stolt e Melo (2005), cada individuo tem um padrão de marcha que representa uma maneira de deslocar-se no ambiente, de maneira aceitável, com menor esforço físico e estabilização adequada. Entretanto, existem certas características na locomoção que permitem a padronização do movimento (BRUNIERA & AMADIO, 1993, apud ESTRAZULAS, BEZERRA E MOTTA, 2005).
Inman (1998) descreve a marcha como sendo um processo de locomoção em que o individuo o desenvolve em movimento, realizando um ciclo de apoiar-se primeiro em uma perna depois na outra. Gabbard em 1992 (apud PRETA e GOMES, 2004) corrobora quando afirma que o andar é a produção de movimento através da passagem do peso de um pé para o outro, mantendo pelo menos um dos pés em contato com o solo.
É de comum acordo de todos que a principal função da marcha, ou andar para alguns, se caracteriza em promover o deslocamento do corpo no espaço sendo feito com o uso dos membros inferiores.
O ser humano começa a desenvolver a marcha nos primeiros anos de vida e conforme Delisa (1992) apud Estrazulas, Pires, Santos, Stolt e Melo (2005), o padrão de marcha bípede do ser humano é adquirida na infância por volta dos 7 ou 8 anos, onde o sistema sensório-motor torna-se muito adaptado a gerar automaticamente um conjunto repetitivo de comandos de controle motor para permitir uma pessoa caminhar sem esforço consciente.
Tal conjunto de eventos repetitivos é descrito na literatura como Ciclo da Marcha, que segundo Rose e Gamble (1998) é um intervalo de tempo durante o qual se completa uma sequência de eventos. Os autores descrevem os eventos como sendo simplesmente o toque de um pé do solo e a elevação do outro pé. E como existem duas extremidades há quatro eventos são eles: o toque do pé no solo, a elevação do pé oposto, toque do pé oposto no solo e elevação do pé.
Ayyappa (1997) corrobora quando afirma que o ciclo da marcha é dividido em dois períodos, sendo o período de apoio o tempo em que o membro inferior estabelece uma cadeia cinemática fechada, ou seja, o pé esta em contato com o chão. Esta fase corresponde a 62% do ciclo da marcha. Já o período de balanço corresponde ao tempo em que o pé esta no ar. Esta fase corresponde aos 38% restantes do ciclo da marcha.
Para Viel (2006) a fase de apoio é subdivida em três períodos sendo eles: o primeiro apoio duplo, caracterizado pela transferência de carga para o membro que inicia o ciclo da marcha. O primeiro duplo apoio, conforme o autor explica, tem duas fases sendo elas, o contato inicial que inicia no instante que o pé toca o solo, tendo duração de 2% do ciclo da marcha e a reposta a carga que inicia após o contato inicial, perfazendo cerca de 2% do ciclo da marcha, terminando com a retirada do pé contralateral do solo, com 12% do ciclo da marcha.
O segundo período citado pelo autor é o apoio simples, que é quando o membro inferior que esta em apoio suporta o peso corporal durante a progressão do membro contralateral, que esta em balanço. Dentro do apoio simples ocorrem as fases de médio apoio, que inicia com a retirada do pé contralateral do solo, em 10% do ciclo da marcha, terminando com o início do apoio terminal, que ocorre com o desprendimento do calcanhar do solo em 30% do ciclo da marcha. O apoio terminal ocorre em 50 % do ciclo da marcha, com o contato inicial contralateral.
O mesmo autor ainda descreve o último período como sendo o segundo duplo apoio que prepara o membro para o balanço. A fase de pré-balanço, que compreende todo o duplo apoio, inicia a 50% do ciclo da marcha, com o contato inicial contralateral e termina com a retirada do pé do solo, a 62% do ciclo da marcha.
O movimento humano, em especial a marcha humana, é de difícil avaliação devido à sua complexidade durante a execução. A avaliação do movimento, por meio de uma análise subjetiva, é, portanto de forma qualitativa, apresenta dificuldades na descrição do movimento, devido ao número graus de liberdade envolvidos, na comparação intra e inter-sujeitos, em situações pré e pós-tratamento, entre outras, e na interpretação dos resultados obtidos, (ANDRADE 2002). Entre os fatores que podem alterar a marcha, encontra-se a carga carregada, pois, quanto maior a massa de um objeto, maior será a força necessária para produzir uma aceleração, o que pode ser aplicado ao uso da mochila. (FLORES, GURGEL, PORTO, FERREIRA TESSER GONÇALVES e RUSSOMANO, 2006).
Diversos estudos mostram uma grande preocupação com relação a mudanças no padrão básico da marcha em crianças com excesso de carga na mochila escolar (ROCHA e BARBOSA, 2008; NACIMENTO 2005; WONG e HONG, 1997), já que a recomendação da Organização Mundial da Saúde é de que a mochila escolar da criança não deve ultrapassar cerca de 10% do seu peso corporal. (OMS)
Rebellato, Caldas e Vitta (1991 apud NASCIMENTO 2005) em seu estudo sugeriram que as crianças deveriam transportar, no máximo, cargas que fossem iguais à força dos grupos musculares, de acordo com a idade e com o tipo de equipamento que utilizam para o transporte da carga.
Diferenças no padrão da marcha de crianças, bem como dores nas costas e possíveis problemas posturais estão diretamente relacionados ao mau uso de mochilas, ou seja, mochilas inadequadas, peso demasiado e incoerência no tamanho da mochila com o tamanho da criança. Assuntos como esses são tratados em meios de comunicação atualmente, principalmente em períodos de volta as aulas, porém nem todos têm acesso a essas informações ou ainda simplesmente não dão a devida importância.
Voll e Klimt (1979 apud CARVALHO, 2004) investigaram o transporte de material escolar e concluíram que estudantes alemães transportam aproximadamente 12% do seu peso corporal nas mochilas. Já Pascoe (1997, apud CARVALHO, 2004) relatou que escolares dos Estados Unidos da América com idade média de 11 anos, transportam valores acima de 17%. Carvalho (2004) encontrou valores acima de 15% em estudo realizado na cidade de Curitiba estado do Paraná, envolvendo escolares com idade entre onze e dezesseis anos.
Para saber se o peso demasiado da mochila implica em alterações no padrão da marcha é necessário que se faça um estudo cinemático. A cinemática é uma das subdivisões da biomecânica. Segundo Hall (2000) a biomecânica é a ciência dedicada ao estudo dos sistemas biológicos de uma perspectiva mecânica. E a autora ainda conceitua a cinemática como sendo a descrição do movimento, incluindo o padrão e a velocidade da sequência de movimentos realizados pelos segmentos corporais que correspondem ao grau de coordenação demonstrada por um indivíduo.
A integridade do sistema locomotor pode ser comprometida pelo transporte de determinados objetos, principalmente, quando esse é realizado de uma forma inadequada (MANN 2008).
O presente estudo teve como principal objetivo analisar se o excesso de carga, em mochilas, altera o padrão da marcha nos escolares entre 09 e 10 anos que estudam na rede pública de ensino do município de Campo Bonito, Paraná. Além de identificar e descrever o comportamento cinemático das variáveis espaciais e temporais da marcha em escolares com excesso de carga em suas mochilas. E ainda, comparar o comportamento cinemático das variáveis espaciais e temporais da marcha dos indivíduos analisados com o padrão descrito pela literatura.
Materiais e métodos
Inicialmente encaminhou-se a escola uma carta informativa, que explicava os objetivos do estudo, após o aceite da direção do colégio, foi enviado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para cada pai ou responsável dos alunos para que autorizassem a participação na pesquisa, com o termo devidamente preenchido e assinado deu-se início a coleta de dados.
De acordo com a resolução 196/96 que regulamenta estudos com seres humanos, o projeto foi avaliado e liberado pelo comitê de ética da Faculdade Assis Gurgacz, sob o parecer No 183/2009.
O estudo foi realizado de maneira descritiva transversal, com 10 alunos analisados entre 09 e 10 anos de idade de ambos os sexos (masculino e feminino), devidamente matriculados e que frequentam as aulas de uma escola pública do município de Campo Bonito, Paraná.
Foram incluídos no estudo os alunos que apresentaram o termo de consentimento livre e esclarecido preenchido e assinado e que apresentaram em suas respectivas mochilas carga superior a 10% do peso corporal.
Para a aferição da massa corporal e da mochila foi utilizada uma balança antropométrica digital, para a medida de estatura utilizou-se de um estadiômetro, para o comprimento do membro inferior uma fita métrica, e para o calculo do Índice de Massa Corporal (IMC) foi utilizado a equação peso corporal (kg) dividida pelo quadrado da altura (m), para a aquisição das imagens foi utilizada uma câmera de marca Canon, com frequência de aquisição das imagens de 60 Hz. Além do sistema de análise Simi Twinner Pro, para o processamento dos dados e um questionário de hábitos cotidianos que foi respondido pelos participantes do estudo.
A coleta de dados foi realizada em duas etapas: inicialmente foi aferida a massa corporal das crianças sem a mochila e depois com a mochila
O método para a realização da análise cinemática bidimensional foi por meio de imagens captadas, onde as crianças foram avaliadas individualmente em uma sala previamente designada pela direção da escola onde as crianças responderam o questionário de hábitos cotidianos e posturais. Logo em seguida demarcaram-se os pontos anatômicos das articulações do ombro, quadril, joelho e tornozelo de ambos os lados (direito e esquerdo).
Para a realização da análise cinemática bidimensional, foi solicitado que as crianças caminhassem normalmente e após um período de adaptação iniciou-se a gravação do movimento. A câmera ficou posicionada em um tripé de modo que filmasse uma passada completa da criança (distância entre o contato inicial do calcanhar de um pé até o próximo contato do calcanhar do mesmo pé), sendo que a criança realizava 3 ou 4 passos, antes de ser focada pela câmera. As variáveis cinemáticas analisadas foram: variáveis temporais; tempo de duplo apoio (1AD/2AD): tempo em que os dois pés estão em contato com o solo durante um ciclo do andar, que é medido a partir do contato do calcanhar de um dos pés até a retirada do pé contralateral. Existem em um ciclo dois duplos apoios, o 1o e 2o; tempo de apoio simples (AS/DIR – AS/ESQ): tempo em que somente um dos pés esta em contato com o solo, vai do contato inicial do calcanhar até a retirada deste mesmo pé do solo. Existe em um ciclo um apoio simples (direito ou esquerdo); Tempo do passo (TP/DIR – TP/ESQ): tempo entre contato inicial do calcanhar de um dos pés até o contato do calcanhar do pé contralateral. Existe o tempo do passo direito e o tempo do passo esquerdo; tempo de balanço (FB/DIR – FB/ESQ): tempo em que o pé está no ar, começa no momento em que os dedos começarem a deixar o solo até o início do contato do calcanhar com o solo. Existe o tempo de balanço direito e o tempo de balanço esquerdo; Tempo total do ciclo (ou da passada) (TPASS): tempo entre dois toques sucessivos de um ponto de referencia de um mesmo pé.
Variáveis espaciais: comprimento do passo (CP/DIR – CP/ESQ): distância entre o contato do calcanhar do pé contralateral na direção do deslocamento do passo direito e o comprimento do passo esquerdo. Comprimento do ciclo ou passada (CPASS): distância entre o contato inicial do calcanhar de um pé até o próximo contato do calcanhar do mesmo pé, na direção do deslocamento, ou seja, dois toques sucessivos do mesmo pé. Cada passada é composta por um comprimento do passo direito e um do passo esquerdo. Movimento de flexão e extensão do quadril: variação angular entre os seguimentos do tronco e da coxa durante o ciclo da marcha. Movimento de flexão e extensão do joelho: variação angular entre os seguimentos da coxa e da perna durante o ciclo da marcha.
Para processamento dos dados foi utilizado o sistema de análise Simi Twinner Pro, no qual foram analisadas as variáveis temporais e espaciais.
Os dados foram analisados através de estatística descritiva, por meio de medidas de tendência central (média) e medidas de variabilidade (desvio padrão e coeficiente de variação). Antes da análise houve necessidade de interpolação dos dados, e para isso utilizou-se do Sistema Origin 6.0.
Resultados
Foram analisadas 44 crianças, 22 ou (50%), apresentaram carga superior a 10% do seu peso corporal em suas respectivas mochilas.
Das 22 crianças que apresentaram carga superior a 10% do peso corporal, 10 responderam o questionário e geraram os seguintes resultados; 8 (80%), dos alunos deslocavam-se á pé para a escola e, 2 (20%), deslocavam-se de carro, e 100% dos alunos relataram carregar objetos apenas do lado direito do corpo. Os resultados referentes às medidas antropométricas são apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Medidas antropométricas dos sujeitos participantes do estudo
Os resultados das variáveis cinemáticas temporais estão sendo apresentados na tabela 2.
Tabela 2. Médias, desvio padrão e coeficiente de variação das variáveis temporais normalizadas
Na tabela 3 serão apresentados, os valores para o comprimento do ciclo e do passo normalizados pela estatura (h) e pelo comprimento do membro inferior (mi).
Tabela 3. Médias, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) das variáveis espaciais
No gráfico 1 é apresentado a curva dos graus de flexão e extensão do quadril durante um ciclo da marcha.
Gráfico 1. Curva de graus de flexão/extensão do quadril
No gráfico 2 é apresentado a curva dos graus de flexão e extensão do joelho durante um (1) ciclo da marcha.
Gráfico 2. Curva de graus de flexão/extensão do joelho
Discussão dos resultados
Na tabela 1 foram apresentados os valores referentes à idade, estatura, massa corporal da criança e da mochila e comprimento do membro inferior dos indivíduos analisados. Foram encontrados valores referentes ao peso da mochila com média de 3,40 ± 0,640 kg, isso significa que em média os alunos carregam aproximadamente 12,53 ± 2,17% do peso corporal na mochila.
A tabela 2 apresenta os valores das variáveis temporais dos dez sujeitos envolvidos na pesquisa, onde os valores encontrados foram de 0,122 segundos para o 1º duplo apoio (1º DA) o que corresponde a 12% do ciclo total da marcha, e os valores do 2º DA foram de 0,127 segundos correspondendo a 12,5% do ciclo total da marcha. Sabendo que o ciclo da marcha se divide em tempo de apoio e tempo de balanço (FB), o primeiro é a somatória do tempo de 1º DA e 2º DA com tempo de Apoio Simples (AS), totalizando 62% do ciclo. O grupo estudado gerou um resultado de 62,6%, que em segundos foi de 1,01. E o segundo (tempo de balanço) foi de 0,38 segundos perfazendo 37,4% do ciclo da marcha.
Comparando tais valores com o considerado normal pela literatura observa-se que não houve diferenças nas variáveis acima citadas, o que pode ser melhor visualizado no Quadro 1.
O tempo do passo direito apresentado pela amostra foi de 49,5% e o passo esquerdo exatamente 50,5%, podendo assim ser considerados valoras normais, quando comparado com os descritos normais, que apresentam 50% do ciclo da marcha. As variáveis temporais obtidas com o estudo ficaram iguais ou muito próximas aos números da marcha normal.
Sendo que, foram obtidos valores na mochila dos escolares acima do recomendado pela OMS, que seria de 10% do peso corporal, ficando assim caracterizado como sobrecarga na mochila (o valor encontrado foi de 12,53% do peso corporal), imaginava-se encontrar diferentes resultados quando relacionado com o normal, fato este que não ocorreu, levando em consideração que 20% da amostra se deslocava de carro até a escola, podendo ser esse um dos fatores que contribuíram para que não houvesse tais diferenças, entendo que as mesmas ficam pouco tempo com a sobrecarga presa às costas. Como não foi levantado um questionamento sobre a distância que as crianças percorrem até chegar à escola, este pode ter sido um dos fatores que não influenciou neste padrão, independentemente da forma que foram realizadas, (carro ou a pé).
Ainda sobre esses valores, podemos entender que o grupo estudado apresenta uma adaptação em relação à sobrecarga que estão sujeitos a carregar, sendo assim, de uma forma ou de outra, o corpo da criança tende a buscar uma forma de adaptação sobre as condições que a criança é exposta, a fim de minimizar os prejuízos oferecidos por essa sobrecarga.
Relacionando o estudo com o de MOTA e LINK (2001), realizado com crianças obesas, os valores foram diferenciados, sendo que o presente estudo foi realizado com crianças que apresentaram sobrecarga na mochila, esperava-se que assim como nos obesos, ocorressem diferenças no padrão da marcha o que não ocorreu, crianças obesas tendem a apresentar um tempo de passo maior que o normal a fim de ajustar o equilíbrio dinâmico. Quando sujeitados a uma sobrecarga o mesmo deveria ocorrer, por ser fato que se necessita uma melhor estabilização e acomodação das estruturas corporais para execução dos movimentos.
Sendo que estas diferenças não ocorreram, entende-se que o fato de as crianças serem eutróficas, e não estarem sujeitas a uma carga além da que já estavam habituadas, as diferenças não ocorreram pelo fato de já estarem adaptadas.
A tabela 3 apresentou os valores do comprimento do passo direito, comprimento do passo esquerdo e do comprimento da passada normalizados pela estatura e pelo comprimento do membro inferior.
Os valores encontrados não diferenciaram dos achados de MOTA e LINK (2001), em estudo realizado com crianças obesas, e que foram de encontro ao considerado normal por DAVID (2000).
O gráfico 1 apresenta a curva dos graus de flexão e extensão do quadril durante o ciclo da marcha. A primeira onda de flexão (flexão inicial) ocorre no início da marcha e de acordo com Rose e Gamble (1998), esse primeiro pico atinge 40o e a flexão máxima que ocorre no balanço terminal imediatamente anterior ao toque do pé no solo, a aproximadamente 80% do ciclo, alcança os 48o. O grupo analisado mostrou números relativamente baixos, comparados com estes dados da marcha normal, onde a flexão inicial atingiu 21o e a flexão máxima atingiu aproximadamente 24o. Percebe-se em relação à marcha normal, uma diferença de aproximadamente 50% nos dois picos, e isso é explicado, pelo fato de as crianças carregarem a sobrecarga em suas mochilas, fazendo com que as mesmas inclinem o tronco a frente, para suprir a força exercida pela carga.
Sendo que a criança deve gerar uma compensação do tronco na busca pelo equilíbrio do aparelho locomotor, quando estão ou são sujeitadas a uma sobrecarga, esse peso automaticamente irá fazer com que a criança faça uma força contrária a força da gravidade, no caso do estudo fará com que a criança realize uma extensão do quadril, a fim de suprir essa força e restabelecer o equilíbrio; o sujeito aplica uma força contraria através do tronco e pelve, diminuindo assim o grau de inclinação do quadril.
A extensão máxima que ocorre no momento do toque do pé oposto, a aproximadamente 55% do ciclo da marcha foi de aproximadamente - 8o, sendo relativamente maior que os valores próximos à - 12o encontrados por Rose e Gamble (apud YASUMITSU 2006) em estudos com crianças.
Os valores encontrados ficaram muito próximos aos achados de Yasumitsu (2006), obtidos em seu estudo com adolescentes obesos, que apresentaram valores de flexão inicial e flexão máxima próximos a 10o, e extensão máxima próxima a - 7o.
Comparando ao estudo de Estrazulas, Bezerra e Motta (2005), que analisou o andar de crianças transportando mochilas do tipo duas alças por 15 minutos, encontrou diferença na flexão inicial, flexão máxima e extensão máxima. A diferença constatada pode ser aplicada pelo fato de que o presente estudo apresentou uma carga média de 12,53% do peso corporal, justificando assim a angulação menor encontrada na flexão inicial, extensão máxima e flexão máxima (21o, -8o e 24o) respectivamente, já que o estudo citado foi realizado com carga de 10%.
A diferença de 2,53% a mais no peso da mochila faz com que a criança incline o seu corpo para frente, para recompensar a força exercida pela carga da mochila, tentando restabelecer o equilíbrio, diminuindo assim o ângulo.
No gráfico 2, observamos a amplitude do movimento em relação à primeira e à segunda onda de flexão. Segundo Rose e Gamble (1998) para o padrão normal da marcha, o 1o pico ocorre no duplo apoio inicial no momento do desprendimento do pé oposto (20%) do ciclo, atingindo 20o e o 2o pico de flexão começa no término do apoio simples, no momento do toque do pé oposto (80%) do ciclo, atingindo 68o. A média do grupo analisado mostrou uma pequena diferença no primeiro pico, sendo 15o uma diferença de apenas 5o em relação à considerada normal, já para o segundo pico a diferença foi de 13o, sendo que a amostra atingiu a média de 55o.
Em relação ao estudo de Yasumitsu (2006), realizado com adolescentes obesos, a amostra do presente estudo apresentou uma diferença de 5o na primeira onde de flexão, e de 8o na segunda onda de flexão.
Relacionando o presente estudo com o estudo de Estrazulas, Bezerra e Motta (2005), observou que os ângulos de flexão, na primeira e na segunda onda tenderam a diminuir, devido à carga exercida pela mochila, essa flexão menor do joelho deve-se a uma compensação do corpo na tentativa de minimizar o impacto da carga que esta excedendo a carga do organismo.
Conclusão
Os resultados deste estudo permitem observar que o excesso de carga apresentada pela amostra não influenciou no padrão da marcha, isso em relação às variáveis temporais.
Um dos motivos para não existir essa alteração foi porque as crianças ficaram pouco tempo com essa carga, pois 40% dos alunos se deslocam de carro para a escola, ou ainda pode-se entender que o restante da amostra possa estar adaptada com a sobrecarga.
Porém essas crianças sofreram alterações angulares nas articulações do quadril e do joelho (os ângulos foram menores do que o considerado normal), pois estando com a sobrecarga, o corpo deve de alguma maneira adaptar-se, portanto as crianças tendiam a inclinar o corpo a frente, com o intuito de minimizar o impacto da carga e recompensar a força exercida pelo peso da mochila, e, portanto, podendo prejudicar a saúde destes indivíduos.
Sugere-se que professores, principalmente, de Educação Física, devam observar as alterações que venham a ter entre os alunos, pois ele é um dos únicos profissionais da saúde que trabalha diretamente com as crianças no ambiente escolar, além de que os professores devem rever as atuações pedagógicas para que os alunos não transportem muito material para o colégio.
Sugere-se ainda, a realização de novos estudos nessa área, com cargas e amostras diferenciadas, com o intuito de aumentar o conhecimento científico e divulgar a importância desse caso.
Referências
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MANN, L; KLEINPAUL, J. F; TEIXEIRA, C. S; MOTA, C. B. A marcha humana: investigação com diferentes faixas etárias e patologias, motriz. Revista de Educação Física. UNESP, Rio Claro, SP. Jul./set.2008.
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PRETA, C; GOMES, C. J. A marcha, desenvolvimento de padrões motores. 4o Mestrado em desenvolvimento da criança. Faculdade de Motricidade Humana- Universidade Técnica de Lisboa. 2004.
ROCHA, J; BARBOSA, T. M. Estudo preliminar da cinemática da locomoção de crianças em idade escolar transportando mochilas às costas. 7o Congresso Nacional de Mecânica Experimental – CNME 2008.
ROCHA, J; BARBOSA, T.M. Estudo preliminar da cinemática da locomoção de crianças em idade escolar transportando mochilas às costas. 7º Congresso Nacional de Mecânica Experimental - CNME 2008
ROSE, J. e GAMBLE, J. G. Marcha humana, 2a ed. São Paulo, SP. Premier. 1998.
VIEL É. Marcha humana, a corrida e o salto: biomecânica, investigações, normas e disfunções. São Paulo: Manole, 2006.
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