Adoção e difusão de tecnologias no campo da saúde. Um breve relato das trajetórias tecnológicas na Educação Física Adopción y difusión de tecnologías en el campo de la salud. Un breve relato de las trayectorias tecnológicas en Educación Física Adoption and diffusion of technology in the field of health. A brief report of technological trajectories in Physical Education |
|||
*Graduada em Ciências Econômicas – UFBA Pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva – UFBA **Bacharel em Educação Física – FTC Especialista em Fisiologia e Prescrição do Exercício – UGF (Brasil) |
Danielli Nunes de Oliveira Costa* Marcos Vinicius Casais Barreto** |
|
|
Resumo O presente artigo discute o processo adoção e difusão da inovação no campo da saúde fazendo um breve relato sobre a trajetória tecnológica na educação física, destacando sua importância para o desenvolvimento em saúde. Para tal foram utilizados dados secundários provenientes de pesquisa realizada em bases de referências. Tomando como descritores: Tecnologia e Inovação; Educação Física, Desenvolvimento Socioeconômico e Nível de Saúde. Usou-se como fundamentação a teoria marxista, schumpeteriana e neo-schumpeteriana. Atentando para a conjetura de que existe uma correlação entre o desenvolvimento socioeconômico e o desenvolvimento em saúde. Observou-se que o investimento na produção de tecnologias hoje, além da finalidade a qual se destina, agrega uma maior difusão, menores custos, rapidez na informação e funcionalidade, ao mesmo tempo em que aumenta o bem estar da população. Unitermos : Tecnologia e inovação. Educação Física. Desenvolvimento socioeconômico. Nível de Saúde.
Resumen Este artículo aborda el proceso de adopción de la innovación y la difusión en el campo de la salud con una breve reseña de la trayectoria tecnológica en la Educación Física, destacando su importancia para el desarrollo de la salud. Con este fin, se utilizaron datos secundarios de bases de investigación de referencias. Tomando como descriptores: Tecnología e Innovación, Educación Física, nivel de desarrollo socioeconómico y de la salud. Se utilizó como justificación la teoría marxista, schumpeteriana y neo-schumpeteriana. Se parte de la conjetura de que existe una correlación entre el desarrollo socioeconómico y el desarrollo de la salud. Se observa que la inversión en tecnologías de producción hoy en día, más allá de la finalidad para la que se pretende, añade una mayor difusión, reduce los costos, aumenta la velocidad de la información y funcionalidad, al tiempo que aumenta el bienestar de la población. Palabras clave: Innovación y tecnología. Educación Física. Desarrollo socioeconómico. Estado de salud.
Abstract This article discusses the process of innovation adoption and diffusion in the health field with a brief account of the technological trajectory in physical education, highlighting its importance to health development. To this end, we used secondary data from research bases of references. Taking as descriptors: Technology and Innovation, Physical Education, Level of Socioeconomic Development and Health was used as justification to Marxist theory, Schumpeterian and neo-Schumpeterian. Attending to the conjecture that there is a correlation between socioeconomic development and health development. It was observed that investment in production technologies today, beyond the purpose for which it is intended, adds a greater diffusion, lower costs, speed of information and functionality, while increasing the welfare of the population. Keywords: Technology and innovation. Physical Education. Socioeconomic development. Health status.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Segundo o Dicionário Aurélio, a palavra “tecnologia” é “um conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade”. Segundo a teoria Marxista, a tecnologia serve para baratear mercadorias e encurtar a atividade de trabalho, elevando assim a produtividade. Deste modo o avanço tecnológico torna o processo produtivo mais eficiente.
Em casos em que ocorre o transbordamento tecnológico, uma externalidade positiva, o custo social de produção é menor que o custo privado. Finalidade pela qual o governo deve incentivar e promover o avanço tecnológico.
Dois grandes economistas formularam uma teoria geral na qual trata de desenvolvimento econômico. O Joseph A. Schumpeter e o Karl Marx. A diferença da teoria de desenvolvimento de Schumpeter para os teóricos neoclássicos, se dá devido ao fato de os neoclássicos considerarem como dada certas condições referentes a forças que afetam o desenvolvimento, tais como: cultura, meio-ambiente, dentre outros.
Para Schumpeter,
Devido a essa dependência fundamental do aspecto econômico de coisas sobre tudo o mais, não é possível explicar uma mudança econômica através somente das condições econômicas prévias. Isso porque o estado econômico de um povo não emerge simplesmente de condições econômicas anteriores [...] (SHUMPETER, 1957, pág. 64).
Para os neoclássicos são determinantes da produção: o nível tecnológico, que é dado; a quantidade e a qualidade da força de trabalho; a quantidade e composição de capital; e a natureza das condições dos recursos naturais. Já para Schumpeter são determinantes, fatores materiais, originários da produção como terra e trabalho de onde se procedem os bens; e fatores imateriais, que são os fatores técnicos e das organizações sociais (sócio-cultural). O conhecimento e o meio ambiente sócio-cultural são componentes da função de produção, Y = F (K, N, L, S, U), onde:
Y – Produção
K – Meios de Produção
N – Recursos Naturais
L – Força de Trabalho
S – Conhecimento
U – Meio Ambiente Sócio-Cultural
Segundo Schumpeter o desenvolvimento ocorre de forma desarmônica e envolve risco e incerteza. E três atores são imprescindíveis, o empresário; a inovação e o capital. O empresário é quem promove a inovação dentro de um processo produtivo – capaz de realizar coisas novas – não é um gerente nem um invente – não é motivado apenas pelo lucro. Inovação – significa fazer as coisas diferentes dentro da vida econômica. Ela pode ocorrer – através da introdução de um novo bem; a introdução de um novo método; abertura de um novo mercado; descoberta de uma nova fonte de matéria; ou reorganização de uma indústria qualquer. Já o capital é a reserva monetária na qual capacita o empresário ter o “poder de controle” sobre os fatores de produção serve para que o empresário desloque a força de trabalho para os novos usos que a inovação exige.
O inicio do desenvolvimento acontece quando há ruptura do fluxo circular seguido de alteração dos velhos sistemas de produção.
A inovação é um processo no qual as firmas apreendem e introduzem novas práticas, produtos, desenhos e processos que são novos para elas (Nelson, R. Richardson, 1993). Dentro dos conceitos descritos, o desenvolvimento econômico está ligado em conjunto ao processo de inovação tecnológica.
A inovação não é assumida como processo linear da pesquisa básica para a pesquisa aplicada, e depois para o desenvolvimento e implementação na produção. Ela envolve mecanismos de feedback e relações interativas entre ciência, tecnologia, o aprendizado, a produção e a demanda (Sbicca, A.; Pelaez, V. 2006. pág. 418.).
Dentro deste contexto o processo e inovação tecnológica no campo da saúde segue o mesmo raciocínio, é utilizada para melhorar as condições de vida dos indivíduos, ou seja, melhorando o tratamento de pacientes e barateando os custos para o sistema. Porém, segundo Porter (2007), no campo da saúde o processo de difusão da inovação além de se dá de maneira lenta, novos medicamentos, novas técnicas provocam altos custos, mas em longo prazo estas inovações podem gerar uma redução dos preços e possivelmente atingir um atendimento de qualidade.
Este artigo tem como objetivo geral discutir o processo adoção e difusão da inovação no campo da saúde fazendo um breve relato sobre a trajetória tecnológica na educação física. Tendo como objetivos específicos analisar como estas inovações tecnológicas podem influenciar o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento em saúde, atentando para o fato de que existe uma correlação entre estes e a qualidade de vida.
Metodologicamente, foram utilizados dados secundários decorrentes de pesquisa em bases de referências bibliográficas, tais como: MEDLINE, LILACS e Google Acadêmico. Tomando como descritores: Tecnologia e Inovação, Difusão de Inovação, Educação Física, Desenvolvimento Socioeconômico e Nível de Saúde. Para obter dado referente a patentes, foi utilizada a base de dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI e do site, Pesquisa de Patentes no Brasil e Patentes Brasileiras. Em relação, ao embasamento teórico econômico, o presente artigo toma como base as linhas de pensamento schumpeteriana, neo-schmpeteriana, e marxista.
Linhas de pensamento econômico - inovação tecnológica
Duas grandes linhas do pensamento econômico tratam dos impactos da inovação sobre a economia. São elas: a abordagem ortodoxa (visão oriunda da teoria neoclássica e da ideologia neoliberal) e a abordagem heterodoxa (esta visão é fundamentada em três pilares teóricos: marxista, pós-keynesiana e neo-schumpeteriana). Para a visão ortodoxa o processo de inovação é eficaz e deve ser feito por agentes privados, estes são mais eficientes que o Estado, portanto devem realizar e financiar a inovação. A inovação levaria a um aumento da produtividade e a uma alocação eficiente dos recursos trazendo benefícios para toda a sociedade. A visão heterodoxa vê a inovação como algo necessário ao crescimento econômico. É o processo de inovação que contribui para a instabilidade do sistema. A economia se desenvolve devido à instabilidade que é intrínseca ao sistema. Para Marx, a inovação é essencial para a manutenção do exército industrial de reserva. Já Schumpeter, entende a inovação como um processo de destruição criadora. Ela criaria novos produtos e oportunidades. A dinâmica capitalista depende do processo de inovação.
Os economistas neo-schumpeterianos procuram fazer uma analogia biológica com o processo evolutivo de desenvolvimento e coloca a dinâmica tecnológica como motor de crescimento das economias capitalistas. Identificam que a atividade inovadora na firma é o elemento central do progresso técnico.
Para Giovanni Dosi, a tecnologia é um complexo de conhecimentos práticos e teóricos que engloba não só equipamentos físicos, mas também métodos, procedimentos, reorganizações do serviço e experiências.
A inovação é a introdução de uma tecnologia na prática social. Segundo a portaria n° 2.510/90/GM de 19 de dezembro de 2005, tecnologia em saúde é: medicamentos, materiais, equipamentos e procedimentos, sistemas organizacionais, educacionais, de informações e de suporte, programas e protocolos assistenciais, por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são prestados à população (CONASS, p.2).
Uma inovação só produz impactos se vier acompanhada por difusão. Segundo o Manual de Oslo, sem difusão uma inovação não terá qualquer impacto econômico. Pois o processo de difusão provoca maiores impactos que a inovação, na medida em que representa a efetiva adoção de uma nova tecnologia por segmentos mais amplos da sociedade. Inovação é um processo simultâneo de mudanças, envolvendo uma diversificada gama de atividades internas e externas à empresa.
A difusão é o processo pelo qual uma inovação é comunicada através de certos canais, através do tempo, entre os membros de um sistema social. A inovação e a difusão têm que caminhar juntas. A difusão é quem alimenta e direciona a trajetória tecnológica.
As mudanças tecnológicas podem ser incrementais; que é o melhoramento ou modificações realizadas nas organizações, aprendidas por meio de rotinas; ou radical. Vários são os fatores que induzem a uma mudança tecnológica: a necessidade de usuários e consumidores; o fator autônomo, derivado de avanços na ciência; e custo dos fatores, ou seja, busca por fatores produtivos que diminua os custos de produção.
A base da inovação está na educação, pois é ela que trás a formação necessária para a capitação de mão-de-obra. “Apesar de a comunidade internacional transmitir métodos de ensino, a educação ocorre ainda na esfera nacional” (NELSON, Richard. R, 1993. p. 839). Pois é a qualidade da educação que gera habilidades muito diferentes para o trabalho no mercado nacional.
Tecnologia e inovação no campo da saúde
No setor saúde a incorporação de tecnologias pode ser determinada pela natureza da própria tecnologia ou pelas ações e interesse dos diversos grupos envolvidos. Segundo a teoria dinâmica do processo, existem cinco etapas para incorporação de novas tecnologias, são elas: o conhecimento da existência de inovação; a persuasão relativa à opinião favorável, ou não, formada na unidade de decisão; a decisão de adotar ou não a inovação; a implementação da inovação e a confirmação, que reforça a decisão.
Das estruturas do sistema de saúde com maior concentração de tecnologias são os hospitais.
Certamente os hospitais são as estruturas do sistema de saúde com a maior concentração de tecnologias, e as estratégias para facilitar ou restringir a entrada destas varia segundo os sistemas de gestão adotados (TRINDADE, Evelinda. p.2).
Segundo Greer (1985) os sistemas de gestão adotados para adoção de tecnologias, são: a abordagem de gerenciamento fiscal; a abordagem estratégica institucional e a abordagem individualista médico.
A adoção de uma nova tecnologia pode ser afetada por fatores em nível de: pacientes, médicos e sistema de saúde. Os pacientes interferem em relação ao aceitamento e satisfação (custo do procedimento médico, confiabilidade, percepção positiva para ouso da tecnologia, etc.); o médico em relação a sua característica (idade do médico, localização de sua clinica, especialidade, etc.) e o sistema de saúde, devido às características da tecnologia e do programa que utilizará tal tecnologia.
Os atores envolvidos nas decisões relativas à nova tecnologia são: gestores públicos e privados – interesse em um sistema de saúde efetivo e eficiente; pesquisadores médicos – que dentro da academia estão interessados em avançar na fronteira do conhecimento e adquirir prestigio; as empresas – que visam ter mais lucros; os que estão inseridos no sistema de saúde – interessados em melhorar a qualidade de vida; os pacientes – buscam solução para seu problema, visando melhorar seu estado de saúde e os cidadãos – esperam que os recursos provenientes de tributos sejam bem aplicados.
Uma tecnologia desenvolvida em uma área de conhecimento, dependendo dos atores envolvidos na decisão de adoção, pode ser adotada em outro campo. Ou seja, estar sujeito ao interesse e necessidade tanto da demanda quanto da oferta.
A tecnologia e inovação na área da Educação Física
Dentro do campo da saúde a área de educação física é uma das quais mais se investe em inovação tecnológica. Devido principalmente ao campo dos esportes de alto rendimento, aquele cuja finalidade é se preparar fisicamente para determinada modalidade esportiva, na qual tem por objetivo o desempenho físico elevado e a diminuição do risco de lesões.
Porém,
(...) observa-se que diversas evoluções tecnológicas na área da Educação Física não têm contribuído apenas para a evolução das modalidades esportivas, mas também para a melhoria da condição de saúde e segurança daqueles que buscam na atividade física uma forma de buscar o bem-estar e a qualidade de vida (RODACKI, Cintia. 2006. p.11).
Sabe-se que a adoção de tecnologia no campo da educação física não é algo recente, seus primeiros registros são da civilização helênica, legado que foi transmitido à civilização ocidental. Na Grécia antiga, século 776 a.c, com as Olimpíadas surgem as primeiras inovações.
As jornadas de treinamento dos atletas gregos incluíam programas e recursos de exercícios físicos diferenciados em função da modalidade competitiva, metas de rendimento, recuperação pós-esforço e diagnoses acerca dos níveis de preparo para se obter performances (GAMA, Dirceu. 2006. p. 70).
Em razão dos treinamentos, surgem nesse período os primeiros equipamentos, ainda rudimentares: halteres, sacos para socar, cordas, traves de madeira, dentre outros.
No século XIX, com a modernidade, surge o primeiro aparelho que visa mensurar a força muscular, o ergógrafo. Inovação realizada pelo italiano, Ângelo Mosso (1843-1910), que tinha como finalidade a melhoria da saúde do trabalhador. Nesse século começa a aparecer às primeiras doenças derivadas do trabalho exaustivo nas fábricas, decorrente da I Revolução Industrial.
No inicio do século XX, com a volta das olimpíadas, novas técnicas e tecnologias surgem. No Brasil, as primeiras inovações datam deste período. Em, 1908 é criada, no Rio de Janeiro, a Academia Éneas Campelo de cultura física, instituição pioneira, que contribuiu para a produção de pesquisa e inovação tecnológicas no campo da atividade física. Em, 1920 destacou-se pela fabricação de aparelhos de treinamento de força.
O desenvolvimento de uma nova tecnologia só se efetua por meio da construção de um conhecimento que compreende o aprendizado, a aquisição, a consolidação e o domínio. Uma trajetória é construída.
O investimento na produção de tecnologias hoje, além da finalidade a qual se destina, agrega uma maior difusão, menores custos, rapidez na informação, funcionalidade e praticidade. Seguindo essa linha vários aparelhos da área de saúde passaram a ser utilizados tanto para monitorar alguns tipos e condições de determinada patologia como para analisar o desempenho de dada atividade física. O exemplo disso são as inovações em equipamentos e medicamentos aplicadas para tratamento de doenças como a diabetes que segundo dados do ministério da saúde (2005) atingem 8% da população brasileira.
O campo da saúde alia a possibilidade e a necessidade de inovação. No tratamento de doenças cardiovasculares, por exemplo, podem-se observar novas tecnologias que vão desde aparelhos que analisam o quadro clinico do paciente, como aparelhos que analisam a morfologia, estrutura e funcionalidade do coração.
No tratamento do diabetes avanços tecnológicos foram adotados melhorando o tratamento ajudando na manutenção da qualidade de vida dos pacientes. O glicôsimetro é uma dessas tecnologias. Aparelho de uso portátil e doméstico, a fim de mensurar a glicemia e determinar o tratamento a ser adotado pelo medico e paciente, tornando o tratamento mais efetivo, mantendo assim a glicemia dentro dos níveis de normalidade (Junior, 2010, p.4). Além de sua utilidade no tratamento da diabetes este também é muito utilizado em estudos no campo da fisiologia do exercício, para determinar estratégias de suplementações de atletas nas diversas modalidades esportivas e o no comportamento do metabolismo relacionado à fonte energética.
No campo da fisiologia dois inventores são considerados os percussores: Jean Baptiste Auguste Chauveau e Étiènne Jules Marey. Estes foram percursores na invenção de aparelhos para verificação da frequência, força e velocidade do fluxo sanguíneo sobre o funcionamento do coração (estudo esse realizado em animais). Marey através de suas invenções padronizou os instrumentos médicos de tal forma que poderiam ser utilizados sem dificuldade em diagnósticos clínicos em qualquer lugar do mundo. Outro grande invento no campo da cardiologia foi o esfigmômetro.
Um dos primeiros aparelhos, utilizados para verificar a funcionalidade do coração data do final do século XIX e inicio do século XX, o esfigmógrafo avançado de Marey, na qual servia para fazer as determinações do pulso. Tal tecnologia foi a precursora do monitor de frequência cardíaca. Pode-se também mencionar a inovação de Boas e Goldschmidt, estes foram citados em um texto de 1932, relatando suas experiências humanas com o primeiro cardiotacômetro, e nesse mesmo artigo Goldschmidt é citado como o inventou do ressonador de pulso, aparelho que registra a frequência de pulso. São aparelhos para aferir a pressão arterial com seu uso mais comum no campo da atividade física e no monitoramento dos picos de pressão arterial em praticantes de atividade física com problemas de hipertensão ou nas avaliações físicas.
Uma atividade inovadora depende da experiência adquirida, como se vê na trajetória tecnológica, como visto na figura 1.
Figura 1. Trajetória tecnológica do esfigmomanômetro.
Fonte: Própria. Dados secundários – história do esfigmomanômetro.
Visto isso, e seguindo a trajetória tecnológica, uma inovação mais recente é o ventilômetro, aparelho de origem nacional, datado de 1997 (patente) e que tem por finalidade analisar a expiração dos indivíduos, na qual seus valores fornecidos servem de base para estabelecer o Limiar Anaeróbico Ventilatório.
Segundo seu inventor, Alex Oliveira da Silva, patente nº PI9702499-6A, o aparelho é mais rápido na identificação dos valores, mais higiênico, menos doloroso, mais barato que o convencional e mais acessível ao grande público.
O Limiar ventilatório foi descrito inicialmente por Wasserman et al. 1994 onde se observou o aumento exponencial da ventilação através da pressão de CO2 arterial (PaCO2) e passou a ser utilizado na prescrição do treinamento, respeitando um dos princípios da preparação física a Individualidade Biológica.
A ventilometria é uma versão simplificada da espirometria que é baseada na resposta ventilatória pulmonar. Essa técnica analisa e determina variáveis metabólicas, respiratórias e cardiovasculares. Através deste teste o avaliador/treinador é capaz de verificar a capacidade funcional do individuo, determinando capacidade aeróbia máxima (VO2 max.) e o Limiar anaeróbio (LA) e torna o treinamento mais individualizado possível. Segundo Guimarães (2003) a ergoespirometria é um misto da interpretação clinica e eletrocardiográfica do teste ergométrico convencional com a análise de variáveis ventilatórias, gases expirados e oximetria.
O limar anaeróbio caracteriza-se em função das trocas respiratórias recebendo a denominação de limiar ventilatório (BARROS NETO et. Al. Apud, 1994; p. 5), pode ser definido como a intensidade de esforço, ou o maior captação, utilização e transporte de oxigênio, acima da qual o aumento de ácido láctico supera sua própria remoção, provocando hiperventilação (BARROS NETO et. Al. Apud WASSERMAN & McILROY, 1964; p. 7).
Durante o exercício físico acontecem aumentos proporcionais do consumo de oxigênio e da eliminação de gás carbônico até determinada intensidade. Barros Neto et. Al. Apud Wasserman e McIlroy (1964) sugeriram o termo limiar anaeróbio, caracterizado a partir da qual a ventilação e a produção de gás carbônico aumentam desproporcionalmente, elevando o quociente de trocas gasosas expresso pela razão entre o gás carbônico produzido e o consumo de oxigênio.
Comentários
Sabe-se que uma nação ao gerar conhecimento este se converte em riqueza e desenvolvimento. Isto depende de instituições tais, como: universidades, empresas e governos. Países como China, Portugal, Alemanha, são exemplos de países que se desenvolveram graças ao conhecimento e ao desenvolvimento tecnológico. A China, por exemplo, chegou a ser a sociedade tecnologicamente mais avançada do século XIV. Hoje, século XXI, é uma potencia econômica mundial, graças ao seu desenvolvimento cientifico e tecnológico isso se deve a: um mercado consumidor potencial, ao estimulo a concorrência e investimento em conhecimento.
O cenário pós Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria “molda a trajetória de desenvolvimento dos países europeus destruídos pela guerra e dos países Leste Asiáticos, como Japão e China” (RIBEIRO, Valéria Lopes, p. 8). No final da década de 70, o Estado Chinês implementa uma grande reforma econômica, focado em quatro elementos, “Quatro Modernizações”: agricultura, indústria, tecnologia e forças armadas. Além da reforma econômica, a China passou por uma reforma educacional. De 1978 para 1998, o orçamento anual para Educação passou de 6,8% do orçamento total do país para 14,6%, segundo a Academia de Ciências Sociais da China (China: um país bem educado). O investimento nas universidades é focado em ciência e tecnologia. E se não possui o profissional, ele importa, ou seja, os chineses contratam professores nos Estados Unidos e na Europa para terem centros de ensino de excelência.
A inovação tecnológica é um processo dinâmico e constante, é influenciada, de fato, por vários fatores, desde a interação entre os pesquisadores até a questão mais formal da própria estrutura organizacional, ambiente econômico, político, social, etc. Igualmente é influenciada por um ambiente de incentivo á pesquisa nas estruturas formais de P&D, isto é, as instituições (tanto públicas e privadas) (TAVARES, Paulino Varela. p. 3).
Segundo dados do INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial, no Brasil de 2007 para 2009 houve um aumento de 71% de número de patentes concedidas (Figura 2).
Figura 2. Patentes Concedidas. Extraído de: INPI. Boletim Estatístico de Patentes. Nov. 2010.
Uma inovação tecnológica na maioria das vezes se difunde lentamente, não gera melhorias de valor como se deveria, e muita das vezes é de alto custo, não chegando a ser acessível ao grande público. A competição no mercado de saúde é restrita, o que eleva os custos.
A competição em valor deve girar em torno de resultados. Os resultados que interessam são os efeitos no paciente por unidade de custo no nível de condição de saúde (PORTER, Michael E; TEISBERG, Eisabeth Olmsted. 2007. p.23.).
Há décadas atrás, acreditava-se que a base para a riqueza e desenvolvimento de uma nação era a vantagem comparativa. A teoria das vantagens comparativas foi formulada por David Ricardo. O princípio de tal teoria explica o motivo pelo qual os países comercializam entre si. A teoria diz que se cada país se especializar em produzir aquilo que lhe for mais vantajoso em termos de custo, em um sistema de livre-comércio, haveria um número muito maior de mercadorias à disposição para melhor satisfazer a demanda de sua população, um país tem vantagens comparativas na produção de um bem se o custo de oportunidade da produção de um bem em termos de outros bens é mais baixo que em outro país. Desta forma, a abundância em terra, o clima, etc. poderia ser uma vantagem que traria riqueza e desenvolvimento para tal região. Hoje, sabe-se que não só capital, trabalho e terra são insumos para criação de riqueza, mas também o conhecimento.
Ainda é um desafio para o sistema de inovação brasileiro, propiciar o diálogo da ciência e tecnologia com a produção e desenvolvimento, o dialogo entre universidades e centros de educação tecnológica com a empresa pública e privada. Pois o conhecimento difundido, é a base para o desenvolvimento. Um desenvolvimento na qual propicie a ampliação da capacidade de os indivíduos terem opções, fazerem escolhas, um aumento da riqueza e principalmente, maior bem-estar e qualidade de vida.
Há uma desarticulação entre o sistema de saúde e o sistema nacional de inovação em saúde. O progresso tecnológico é dinâmico, ocorre cada dia em um curto período de tempo. O sistema de saúde concomitantemente alia a possibilidade com a necessidade de inovação. Porém, há uma demanda social por bens e serviços de saúde que não é atendida. A inovação não chega a todos os cidadãos, ou seja há uma iniqüidade de acesso.
As inovações tecnológicas contribuem para o desenvolvimento econômico de um país e com o desenvolvimento em saúde, ao mesmo tempo em que aumenta o bem estar da população, contribui para a melhora da qualidade de vida, porém apenas uma parcela dos cidadãos tem acesso a ela.
Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica Diabetes Mellitus. Cadernos de Atenção Básica - n.º 16. Brasília – DF. 2006.
CAMPOS, Lívia Flávia de Albuquerque. OLIVEIRA, Verônica de Paula Zanotti Tavares de. MENEGUCCI, Franciele. SILVA, José Carlos Plácido da, PASCHOARELLI, Luis Carlos. Expoentes da Fisiologia na História da Ergonomia. V CIPED. 10-12 out/oct. Bauru-SP. Brasil. ISSN 2175-0289. 2009.
CASTRO JUNIOR, Roberto. Glicosimetro de Pulso/ R. Castro Junior. Ed. rev . São Paulo, 2010. Pg. 165. Tese Doutorado – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Telecomunicação e controle.
CONASS. As organizações sociais como alternativa de gerência para estabelecimentos públicos de saúde. (Nota Técnica 17). Brasília, 22 de agosto. 2006. 82. P. Disponível em: http://www.conass.org.br/admin/arquivos/NT22-07.pdf. Acesso em: 09 de junho 2011.
CHERCHGLIA, Mariangela Leal. Terceirização do trabalho nos serviços de saúde: alguns aspectos conceituais, legais e pragmáticos. Curso de educación a distancia en gestión de recursos humanos en salud, OPS-OMS- NUTES. UFRJ. 25. P.
GREER A, L. Adoption of medical technologies: the hospital’s three decision systems. Int J Technol Assess Health Care 1985; 4:17-26.
INPI – Instituto de Nacional de Propriedade Industrial. Boletim Estatístico de Patentes 2010. Disponível em: http://www.inpi.gov.br/menu-superior/imprensa/informacoesparaimprensa/estatistica, Acesso em: 12 de janeiro de 2011.
MCARDLE, William D.; KATCH, Frank I. ; KATCH, Victor L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5ª edição. P. XXV- LIX.
NORMATIZAÇÃO DE TÉCNICAS E EQUIPAMENTOS PARA REALIZAÇÃO DE EXAMES EM ERGOMETRIA E ERGOESPIROMETRIA. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. [online]. Vol. 80, n.4, pp. 457-464. ISSN 0066-782X. doi: 10.1590/S0066-782X2003000400011. 2003.
PESQUISA DE PATENTES NO BRASIL E PATENTES BRASILEIRAS. Disponível em: http://www.patentesonline.com.br/ Acesso em: 11 de fevereiro de 2011.
PONDÉ, João Luiz. Instituições e Mudança Institucional: uma Abordagem Schumpeteriana. 25. P.
RIBEIRO, Valéria Lopes. A China e a economia mundial: uma abordagem sobre a ascensão chinesa na segunda metade do século XX. 28. P.
TAVARES, Paulino Varela. et al. Economia Neoschumpeteriana: expoentes evolucionários e desafios endógenos da indústria brasileira. 10. P.
TIGRE, P. Gestão da Inovação: a economia da tecnologia no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier. (capitulo 5). 2006.
TRINDADE, Evelinda. A incorporação de novas tecnologias nos serviços de saúde: o desafio da análise dos fatores em jogo. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(5):951-964, mai. P. 951-964. 2008.
WASSERMAN, K.; MACILROY, M. B. Detecting the threshold of anaerobic metabolism in cardiac patients during exercise. American Journal of Cardiology. 14:844-52. 1964.
WASSERMAN, K.; HAUSEN, J. E.; SUE, D. Y.; WHIPP, B. J.; CASABURI, R. - Principles of exercise testing and interpretation. 2ª ed. Pennsylvania, Lea & Febiger. 479. P. 1994.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 16 · N° 165 | Buenos Aires,
Febrero de 2012 |