A percepção de alunos no terceiro ano do ensino médio sobre a importância da Educação Física escolar La percepción de los alunos de tercer año de escuela media sobre la importancia de la Educación Física escolar The importance of physical education as perceived by students in the third year of high school |
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*Universidade Estacio de Sá **Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Brasil) |
Profa. Camille Borges de Souza Moraes Rego Gomes* Prof. Dr. José Antonio Vianna** |
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Resumo Esse estudo se propôs identificar a importância da Educação Física escolar na percepção de alunos durante a preparação para o vestibular. Foram entrevistados 22 participantes do sexo masculino e 18 do sexo feminino, com média de 18 anos de idade. Os participantes no estudo responderam a uma entrevista semiestruturada. A estatística descritiva determinou a frequência e a média das respostas para interpretação dos dados. Segundo os alunos entrevistados (75%), as aulas de Educação Física no terceiro ano do ensino médio são importantes no período do vestibular, e ajudam a relaxar. Os alunos (48%) afirmaram que a Educação Física tem a mesma importância de outras disciplinas do currículo escolar. Unitermos: Educação Física escolar. Ensino médio. Vestibular.
Resumen Este estudio tiene como objetivo identificar las percepciones de los estudiantes de tercer año de la escuela secundaria durante el período de preparación para los exámenes de ingreso a la universidad. 22 participantes eran varones y 18 mujeres, con una edad media de 18 años. Los participantes del estudio respondieron a un cuestionario semi-estructurados. La estadística descriptiva determinó la frecuencia y las respuestas del promedio y, posteriormente, la información recogida fue sujeta a la interpretación y comparación con los resultados encontrados en la literatura. Para la mayoría de los estudiantes entrevistados (75%) las clases de Educación Física en el tercer año de la escuela secundaria son importantes, porque para la mayoría (22%) le ayuda a relajarse. Los estudiantes piensan (48%) que la Educación Física tiene la misma importancia que otras materias del currículo escolar. Palabras clave: Escuela. Educación Física. Escuela media.
Abstract This study aims to identify the perceptions of students in middle school preparation for college entrance exams. 22 participants were male and 18 female, with a mean age of 18. Study participants answered a semi-structured questionnaire. Descriptive statistics determined the frequency and average responses to interpretation and comparison with results in the literature. For most students interviewed (75%), Physical Education classes in the third year of high school are important during the exam, because for most (22%) help you relax. The students think (48%) that the physical education has the same importance as other subjects in the school curriculum. Keywords: School. Physical Education. High school.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Tornou-se comum a observação de jovens estudantes no terceiro ano do Ensino Médio que abrem mão de participar das aulas de Educação Física escolar, bem como professores e instituições escolares que não observam a legislação que tornou obrigatória a Educação Física em todos os anos do Ensino Médio, salvo em casos especiais - para trabalhadores, militares, pessoas com mais de trinta anos e mulher com prole.
No entanto, segundo a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9.394/96) a Educação Física é componente curricular obrigatório na Educação Básica, devendo se ajustar às faixas etárias dos educandos e integrar a proposta pedagógica da escola, portanto a escola tem o dever de cumprir com sua responsabilidade e oferecer a disciplina na grade curricular, embora a crença popular valorize mais as disciplinas avaliadas nas provas do vestibular do que as aulas de Educação Física escolar.
A fim de entender as racionalidades dos jovens em preparação para o vestibular, este estudo se propôs a verificar a percepção de alunos no terceiro ano do ensino médio estudantes em escolas particulares em um bairro de classe média no município do Rio de Janeiro.
O contexto teórico
Mattos e Neira (2004) argumentam que a vida escolar foi bastante modificada pela nova LDB, dando abertura às escolas e à equipe pedagógica, de incluir o professor de Educação Física no processo pedagógico e exigir à sua qualificação e uso de seu conhecimento, principalmente no que corresponde ao planejamento de atividades que venham de encontro aos interesses e necessidades dos alunos. No entanto, embora garantida por lei, a Educação Física no Ensino Médio é desvalorizada porque os alunos ficam preocupados com o vestibular (MELO; FERRAZ, 2007). Os autores argumentam que trabalhar com a Educação Física no Ensino Médio é um desafio, pois quase sempre as turmas são compostas por alunos com dificuldades de coordenação e desinteressados pela prática de atividade física. A falta de material na escola e a indisciplina de certos alunos também geram dificuldades.
Dos 35 alunos entrevistados por Montes et al. (2010), 11 informaram que tiveram aula de Educação Física até o 2º ano do Ensino Médio, não tendo aula de Educação Física no último ano escolar, o que significa que algumas escolas não seguem a lei que garante a obrigatoriedade da disciplina Educação Física até o 3º ano do Ensino Médio. Os autores constataram que mesmo com a maioria das escolas tendo a disciplina Educação Física até o 3º ano do Ensino Médio, em muitas escolas os alunos não são obrigados a participarem da aula.
Segundo Matos e Neira (2004) um aspecto que não estimula a participação discente é que a maior parte das aulas tem característica recreativa e os alunos frequentam as aulas, muitas vezes de forma descompromissada com o que está sendo ensinado. Ao que tudo indica a origem das aulas de educação Física com cunho mais recreativo pode ser encontrada na proposta da pedagogia nova (LOVISOLO, 1995), que preconizava que as atividades corporais lúdicas contribuiriam mais para o desenvolvimento integral dos alunos do que a rigidez das ginásticas analíticas. Atualmente, estudos de Darido fazem referência crítica à aplicação de atividades lúdicas e recreativas nas aulas sem que ocorra a sistematização das mesmas ou sem a existência de qualquer vinculo com as propostas pedagógicas.
A evasão também ocorre quando há a constatação do fracasso no desempenho motor - por não conseguirem obter a performance desejada ou compatível com os colegas de turma, os alunos não participam das aulas. (MATTOS; NEIRA, 2004).
A qualidade das aulas também pode ser comprometida devido à baixa aderência ou ausência dos alunos e o planejamento inadequado. O que pode ocorrer quando o professor elabora o seu planejamento de aula sem a atenção a especificidade do grupo. No entanto, é o conteúdo que deve se adequar ao aluno e não o aluno ao conteúdo, ou seja, o professor, ao se manter rígido na condução dos conteúdos em desacordo com os interesses dos alunos, termina em afastá-los da disciplina. Segundo Matos e Neira (2004), o professor deve conversar com os alunos, descobrindo os conteúdos de sua preferência, o que não significa abrir mão do seu trabalho.
A sugestão dos autores parece refletir a criticada ausência de aprofundamento dos conhecimentos na Educação Física escolar, diferente de outras disciplinas escolares, que propõem conteúdos mais elaborados e complexos nas diferentes séries ou anos de escolaridade.
Outro fator complicador na Educação Física no ensino médio está situado no local e horário das aulas. Muitas escolas por causa da preparação dos alunos para o vestibular colocam as aulas da disciplina Educação Física, em horário diferente das demais disciplinas. O que reforça a percepção de que a Educação Física não faz parte da grade curricular, é mais um apêndice do que uma disciplina escolar. Nota-se uma visão dicotômica e tradicional na formação escolar, na qual as disciplinas ditas teóricas são responsáveis pela formação intelectual e a Educação Física pela formação corporal. Os argumentos de que se deve abrir mão da especificidade da Educação Física escolar -o movimento humano- parecem fortalecer esta perspectiva dicotômica e negar a integralidade do ser humano.
No estudo de Darido et al. (1999) os professores preferiam as aulas de Educação Física ministradas no mesmo horário das demais disciplinas, para “facilitar o acesso e a presença dos alunos na escola” e valorizar a integração da disciplina com as outras disciplinas escolares. Os professores que achavam que a disciplina deveria ser ministrada em outro horário argumentaram que algumas escolas não têm uma boa infraestrutura para atender os alunos no mesmo período das demais disciplinas e também pelo fato de os alunos voltarem suados para as demais aulas, o que é alvo de reclamação de professores de outras disciplinas. Ao que parece, estas informações revelam também as falhas na infraestrutura escolar que não dispõe de instalações para higienização adequada dos alunos após as aulas, assim como a falta de previsão do tempo necessário entre as aulas para que os mesmos possam assear-se.
Darido et al. (1999) constataram que a busca por uma definição profissional no período do vestibular e a pressão social para investir no futuro pessoal e profissional joga a Educação Física para segundo plano. Os alunos atribuem um sentido utilitário ao investirem mais em conhecimentos que serão avaliados no vestibular.
Leiro e Nunes (2009), verificaram alguns motivos para haver dispensas das aulas de Educação Física: praticar atividades esportivas em outra instituição, morar em outra cidade, problemas de saúde/doença, trabalhar no momento da aula, falta de interesse, estudar para o vestibular, não ter Educação Física no 3º ano e participar de curso pré-vestibular no horário da aula. Segundo os autores, nas escolas particulares é pior no 3º ano do Ensino Médio, quando os alunos são dispensados das aulas de Educação Física sob a justificativa de preparação para o vestibular.
Parece ser difícil ao professor sustentar a importância dos conteúdos da Educação Física se estes conhecimentos não serão alvo da avaliação no vestibular. No entanto, Montes et al. (2010), observaram que a Educação Física é algo relevante para alunos do 3º ano do Ensino Médio.
Delgado et al. (2010) entrevistaram alunas de escolas públicas e particulares. As alunas responderam que 100% das aulas de Educação Física na escola particular são somente compostas de esporte. Já na escola pública 92% das entrevistadas afirmaram que as aulas são compostas de esporte e 8% disseram que as aulas são constituídas basicamente a partir de ginástica. Quando as alunas foram perguntadas sobre o que poderia ser feito para melhorar a aula de Educação Física, as entrevistadas indicaram maior diversificação do conteúdo, ampliação do tempo de aula, mais competições intercolegiais, aulas mais motivantes, mais materiais, acrescentar dança nas aulas e a não obrigatoriedade das aulas.
Para superar a percepção de que os conteúdos das aulas devem ser focados em esportes, Mattos e Neira (2004) sugerem que devem ser implantados programas que desenvolvam não só os conteúdos esportivos, mas também conteúdos relacionados ao conhecimento sobre o corpo e a aquisição e manutenção da saúde - em grande parte, essas mudanças são responsabilidades dos professores de Educação Física.
Maia e Lima (2010), afirmam que apenas contemplar o esporte como conteúdo no Ensino Médio leva o aluno a adotar uma atitude de passividade e falta de criatividade, e que outras atividades como a dança, teatro, capoeira, relaxamento entre outros, podem colaborar na formação integral do educando.
Ao que tudo indica, a eficácia do processo de ensino situa-se no estabelecimento de acordos entre as propostas institucionais e os interesses e necessidades dos alunos. Assim, conhecer a expectativa dos sujeitos é fundamental na elaboração dos procedimentos pedagógicos. Delgado et al. (2010), evidenciaram a importância do professor e da escola, para desenvolverem métodos e estratégias que considerem a opinião dos alunos na aplicação e desenvolvimento de suas aulas e na escolha dos conteúdos que serão abordados durante as aulas, a fim de aumentar o interesse e diminuir a evasão dos alunos das aulas de Educação Física.
Frey (2007) procurou descrever a opinião dos alunos do Ensino Médio sobre as aulas de Educação Física. Nas entrevistas verificou-se que comparada às disciplinas do currículo escolar, a Educação Física é a disciplina que os alunos mais gostam. Por outro lado, pelo fato dos alunos não verem significado nas aulas de Educação Física, acreditam que ela não seja tão importante quanto às outras disciplinas - a falta de contextualização dos conteúdos transmitidos pode justificar o porquê dos alunos não acharem as aulas importantes. Pode-se entender que os indivíduos não percebem nesta disciplina um sentido utilitário. A autora concluiu que a Educação Física necessita de modificações e que os objetivos e conteúdos das aulas têm que ser reformulados para que a disciplina seja valorizada e tenha importância para os alunos dentro do ambiente escolar. Na opinião de Frey, essa mudança pode ocorrer a partir do momento em que os professores de Educação Física comecem a perceber que a opinião e participação dos alunos no processo de planejamento é importante para o desenvolvimento tanto das aulas, quanto dos próprios alunos.
A crença nos benefícios das aulas de Educação Física no ensino médio está presente na fala dos professores no estudo de Moreira e Ferreira (2009). Na percepção dos sujeitos as aulas no terceiro ano do ensino médio não atrapalham os estudos de outras disciplinas, mas auxiliam a relaxar e ter um rendimento escolar melhor. Segundo os entrevistados é necessário que o aluno tenha momentos de lazer e momentos para a prática de atividade física.
A percepção dos professores confirmam as expectativas de alunos investigados por Montes et al. (2010). Segundo os entrevistados a Educação Física ajuda a relaxar, exercitar, evitando o estresse, sedentarismo, ganho de peso e também ajuda a extravasar a pressão gerada pelo vestibular e pela própria escola. Quando questionados sobre a possível contribuição da aula de Educação Física para melhorar o rendimento nas outras disciplinas durante o 3º ano do Ensino Médio, alguns alunos acreditam que ficam com mais energia e ânimo e isso é bom para estudar as outras disciplinas escolares. Conclui-se então, que a Educação Física seria muito importante para suprir esta necessidade. No entanto, alguns alunos não concordam com a importância das aulas de Educação Física no período de pré-vestibular e deram respostas contrárias, utilizando como justificativa a baixa qualidade das aulas. Esses entrevistados acreditavam que as aulas acabavam sendo perda de tempo, pois não os exercitava ou acrescentava algo.
O presente estudo se justifica por verificar a importância da Educação Física para o aluno que está prestando vestibular, bem como fornecer informações aos professores e gestores escolares da relevância desta disciplina escolar na formação dos alunos. Este estudo pode também colaborar para aprofundar e ampliar os conhecimentos sobre a importância da aula de Educação Física escolar na percepção dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio em preparação para o vestibular.
Assim, esta investigação se propõe a identificar a percepção de alunos no terceiro ano do ensino médio em preparação para o vestibular sobre a importância da Educação Física escolar neste período.
Metodologia
No presente estudo descritivo (THOMAS; NELSON, 2002) foram entrevistados 40 alunos do terceiro ano do ensino médio em processo de preparação para o vestibular de duas escolas particulares situadas no bairro de Freguesia – Jacarepaguá, município do Rio de Janeiro. 22 participantes do sexo masculino e 18 do sexo feminino, com média de 18 anos de idade.
Após a assinatura do Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido para menores, os participantes responderam a uma entrevista semiestruturada que abordou os temas: a importância da Educação Física escolar na formação do aluno, a preferência pelas atividades, a prática de atividade física extracurricular, a contribuição das aulas de Educação Física para a formação e a valorização da Educação Física escolar.
A estatística descritiva determinou a frequência absoluta e relativa das respostas (GOMES, 1994).
Resultados e análise dos dados
Os entrevistados (63%) acreditam que a Educação Física no terceiro ano do ensino médio deve ser obrigatória, enquanto 37% dos alunos tem opinião contrária. Ao justificarem as suas respostas, os entrevistados informaram que a disciplina deve ser obrigatória por evitar o sedentarismo (3), aliviar o stress (12), exercitar o corpo (5) e melhorar a saúde (2). Enquanto aqueles que acreditam que a educação física não deve ser obrigatória, justificaram a resposta dizendo que a mesma pode provocar a distração dos estudos (6) e diminuir o tempo dedicado a preparação para o vestibular (12)
Dois entrevistados apresentaram um sentido utilitário para as aulas:
“Porque não basta ter eficiência mental se o corpo não está preparado para a maratona de provas” (entrevistado 2)
“Porque é um momento para desestressar, já que neste ano estamos concentrados no vestibular.” (entrevistado 8)
Os entrevistados informaram que os esportes coletivos (38%) e as suas regras (25%) são os conteúdos mais comuns nas aulas. (Tabela 1).
Tabela 1. A percepção de alunos sobre os conteúdos mais abordados nas aulas de Educação Física
Quando questionados sobre a importância da aula de Educação Física ministrada no terceiro ano do ensino médio, 75% dos alunos entrevistados consideravam as aulas importantes, enquanto 25% dos alunos não. A justificativa dessas respostas segue na tabela 2.
Tabela 2. A importância das aulas de Educação Física: a opinião dos alunos
No estudo de Moreira e Ferreira (2009), os professores entrevistados informaram que na opinião dos alunos que estão prestando vestibular, a Educação Física ajuda a relaxar nesse momento de tensão e, consequentemente, a terem um rendimento melhor - o que confirma os dados acima quando a maioria dos alunos entrevistados (22%) afirma que as aulas são importantes para relaxarem.
No entanto não existe consenso entre os entrevistados.
“Porque o tempo utilizado para a Educação Física pode ser melhor aproveitado para outros estudos e pelo fato de ser ministrada uma única vez na semana, o que não a caracteriza como atividade física ideal.” (entrevistado 10)
Os argumentos de Barbosa (2001) são confirmados na resposta dada pelo entrevistado 10 de que uma ou duas aulas por semana, como acontece na maioria das escolas, não se produzem efeitos fisiológicos significativos sobre o corpo humano. Por outro lado, também reforçam os dados de Delgado et al. (2010) de que as aulas de Educação Física deveriam ter uma maior duração - o que corresponde a uma valorização das aulas e busca por melhorias decorrentes da prática.
Entende-se que programas que desenvolvam não só conteúdos desportivos, mas também conteúdos sobre a manutenção da saúde (MATTOS; NEIRA, 2004), pode ser uma opção para que os alunos valorizem mais as aulas de Educação Física e passem a considerar as aulas mais importantes, mas corre-se o risco de agradar os que se sentem desatendidos e desagradar os que valorizam as aulas (a maioria).
Para Mattos e Neira (2004), o professor de Educação Física precisa buscar uma integração com o trabalho desenvolvido na escola, colocando a disciplina Educação Física no mesmo nível das demais disciplinas no compromisso com a formação dos alunos, pois os autores acreditam que em diversas escolas, a Educação Física se encontra em segundo plano. No entanto, quando os alunos foram questionados sobre a importância da aula de Educação Física na formação do aluno, quando comparadas com as aulas de outras disciplinas do currículo escolar, a maioria dos entrevistados 19 (48%), acha que a Educação Física tem a mesma importância em sua formação, enquanto dois (5%) alunos não acreditam que a Educação Física tenha importância, como mostra a Tabela 3.
Esse resultado está em desacordo com o estudo de Frey (2007) segundo o qual os alunos não acreditam que a Educação Física seja tão importante como as outras disciplinas.
Tabela 3. A importância Educação Física comparada com outras disciplinas do currículo escolar: a percepção dos alunos
Quando perguntados em quais aspectos as aulas de Educação Física contribuem para a sua formação, 40% dos alunos entrevistados responderam que as contribuições se situam na interação com os colegas e 15% dos alunos respondeu que as aulas de Educação Física ajudavam a diminuir o estresse (Tabela 4).
Tabela 4. A percepção dos alunos sobre a função das aulas de Educação Física
Ao que parece, as aulas de Educação Física se enquadram nas recomendações de Mattos e Neira (2004) - as aulas práticas em grupo exigem dos alunos conviverem com as diferenças individuais respeitando os outros alunos e as regras estabelecidas e também para os alunos conquistarem a autonomia é preciso considerar tanto o trabalho individual quanto o coletivo-cooperativo. O individual é alcançado pelas exigências feitas aos alunos no sentido de se responsabilizarem por suas tarefas. Já o trabalho em grupo, está em valorizar a interação aluno-aluno e professor-aluno como fonte de desenvolvimento social, pessoal e intelectual.
Quando os alunos foram questionados se acham importante praticar atividade física durante o período de preparação para o vestibular, 39 (98%) alunos entrevistados acham importantes, enquanto um (2%) aluno não acha importante. “A pessoa tem que se preocupar com as provas.” (entrevistado 24).
A informação do entrevistado 24 leva ao seguinte questionamento: por que se preocupar com uma disciplina escolar cujos conhecimentos não são verificados no vestibular? Ao que tudo indica, embora seja considerada importante na formação dos alunos, a Educação Física escolar ainda não constituiu um corpo de conhecimentos reconhecido a ponto de ser objeto de avaliação nas provas do vestibular.
Questionados sobre o que mais gostam nas aulas, 98% dos entrevistados citaram os esportes como preferência. Pode-se interpretar que a falta de vivências de outras atividades orientaram as respostas dos respondentes ou que as evidências não fornecem sustentação às teorias que criticam o esporte como instrumento pedagógico. (Tabela 5).
Tabela 5. A atividade que os alunos mais gostam nas aulas
Os dados revelam que os esportes coletivos são as atividades que os alunos mais gostam nas aulas de Educação Física. Embora a natação e polo aquático não sejam atividades comuns nas escolas públicas, estas informações retratam uma particularidade do grupo investigado - alunos de escolas particulares com uma infraestrutura de melhor qualidade ou com convênio com clubes situados próximos as instituições escolares, contratados para a utilização das instalações para as aulas de Educação Física escolar.
A melhoria na atuação dos professores aparece na fala dos entrevistados como o principal aspecto a ser melhorado nas aulas. Procedimentos que são de responsabilidade do professor – melhor utilização do espaço (8%), estimular mais os alunos (22%), diversificação de conteúdos (11%), seriedade dos professores (18%), aulas teóricas (8%) e ensinar regras – revelam que os pontos mais vulneráveis nas aulas estão concentrados na atuação do profissional. (Tabela 6).
Tabela 6. A opinião dos alunos do que deve melhorar nas aulas de Educação Física
A implementação de programas que desenvolvam não só os conteúdos desportivos, mas também conteúdos relacionados ao conhecimento sobre o corpo e a aquisição e manutenção da saúde, em grande parte, são responsabilidades dos professores de Educação Física, mas vale ressaltar que a eficácia do processo de ensino-aprendizagem passa também em atender a expectativa dos alunos.
Conclusões e recomendações
Na percepção dos entrevistados a aula de Educação Física no terceiro ano do ensino médio deve ser obrigatória, pois ajuda a aliviar o estresse e exercitar o corpo. Os alunos também acreditam que a prática da Educação Física no período de preparação para o vestibular é importante e tem a mesma importância das demais disciplinas do currículo escolar.
O que foi mais comentado durante as entrevistas é que a Educação Física neste período da vida dos alunos pode servir como válvula de escape, por ser uma forma dos alunos esquecerem um pouco do vestibular e terem um momento de prazer, para relaxar e aliviar as tensões. Nesta fase os alunos sofrem muitas pressões por parte dos pais e da escola, e mesmo para aqueles alunos que realizam atividade física extracurricular, a Educação Física escolar se torna uma forma de socialização, pois muitos dos alunos passam muito tempo estudando e com isso acabam se isolando do convívio social.
Os sujeitos entrevistados acreditam, em sua maioria, que a aula de Educação Física, ajuda em sua formação, pois ajuda no controle da agressividade, no trabalho em grupo e a diminuir o estresse. Sobre as atividades que eles mais gostam de praticar durante as aulas de Educação Física, a maioria prefere os esportes coletivos e para melhorar as aulas de Educação Física sugerem que deveria ter mais tempo de aula e mais seriedade dos professores, assim estimulando mais os alunos.
Assim, no que diz respeito a não utilização do esporte como conteúdo da Educação Física escolar, corre-se o risco de agradar a minoria dos entrevistados que não gosta de esportes por motivos diversos e desagradar à maioria que prefere a sua prática.
A ampliação do número de sujeitos investigados poderá lançar mais luz sobre o fenômeno aqui investigado.
Referências
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