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O professor de Educação Física e a inserção do Programa 

de Saúde da Família em escolas: desafios e possibilidades

El profesor de Educación Física y la inserción del Programa de Salud de Familia en las escuelas: desafíos y posibilidades

 

Licenciada em Educação Física (FASB) e pós-graduanda

em Saúde Coletiva com Ênfase em PSF (FG)

(Brasil)

Deise Bastos de Araújo

deisetkd@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O Programa de Saúde da Família (PSF) possui correlações significativas com as entidades educacionais, por ambas promoverem ações em prol da qualidade de vida da sociedade em geral. Baseando-se nisso, o professor de Educação Física é um profissional que apresenta características relevantes para que a junção destes elementos sejam postos em prática. No entanto, muitos são os desafios que surgem mediante as possibilidades, e é pensando nisto que essa pesquisa bibliográfica visa apontar estes fatores e despertar diferentes olhares sobre esta prática.

          Unitermos: Programa de Saúde da Família. Educação Física Escolar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O Programa de Saúde da Família enquanto integrante da Atenção Básica de Saúde, “fundamenta-se na promoção da qualidade de vida através de práticas de saúde centradas na família e na comunidade, gerando um novo modelo de atenção à saúde, mais justo, eqüitativo, democrático, participativo e humanizado” (CARDOSO et al, 2005, p. 430).

    Partindo deste conceito, em que o PSF tem a família como o cerne de seu desenvolvimento, torna-se claro que este é um caminho essencial para a construção de uma sociedade mais saudável, assim sendo preciso educar para se obter hábitos saudáveis, pois:

    A educação é considerada um dos fatores mais significativos para a promoção da saúde. Ao educar para a saúde, de forma contextualizada e sistemática, o professor e a comunidade escolar contribuem de maneira decisiva na formação de cidadãos capazes de atuar em favor da melhoria dos níveis de saúde pessoais e da coletividade (BRASIL, 1990, p. 61).

    Neste contexto, é preciso por em evidência que a escola tem a família como principal aliada na construção de saberes, pois como afirma SILVA 2010:

    O processo educativo global do indivíduo e os efeitos produzidos pela escola não podem ser entendidos independentemente dos fatores e intervenções educacionais não escolares, haja vista que ambos interferem continuamente na ação escolar às vezes para reforçá-las, como também para contradizê-la. (SILVA, 2010, p. 1).

    Neste caso, é preciso destacar que a família, enquanto principal fonte de conhecimento extraescolar enquadra-se no perfil de educação informal, ou seja, “aquela na qual qualquer pessoa adquire e acumula conhecimentos, através de experiência diária em casa, no trabalho e no lazer” (SILVA, 2010, p. 2).

    A partir disso, pode-se notar que há uma correlação entre o PSF e as entidades educacionais, nessa lógica a união destes elementos somar-se-ão aos recursos pertinentes a melhoria da qualidade de vida da sociedade em geral e o professor de Educação Física pode ser um dos principais mediadores para que esta junção se concretize, já que este se encontra numa posição privilegiada de atuação.

    Em fim, esta pesquisa bibliográfica visa apontar os desafios e as possibilidades da inserção do Programa de Saúde da Família na Escola, colocando o professor de Educação Física como elemento fundamental para este acontecimento. Esta por sua vez, também esta baseada na perspectiva de aumentar reflexões e ações sobre esta prática.

2.     Programa de Saúde da Família – PSF

    Após a crise do Programa de Agente Comunitários de Saúde (PACS), surgiu a necessidade imediata de uma nova estratégia no modelo assistencial de saúde, neste propósito, o Ministério da Saúde (MS) iniciou no ano de 1994 a formulação do Programa de Saúde da Família (PSF), dessa forma:

    O PACS pode ser considerado o antecessor do PSF por alguns de seus elementos que tiveram um papel central na construção do novo programa. Entre elas, enumeramos o enfoque na família e não no indivíduo e o agir preventivo sobre a demanda, constituindo-se num instrumento de organização da mesma. De certo modo, o que se percebeu é que houve a adoção de uma prática não reducionista sobre a saúde, evitando ter como eixo apenas a intervenção médica e buscando a integração de fato com a comunidade (BRASIL, 2003, p. 113).

    Neste sentido, o PSF visa à ampliação do projeto antecessor, tanto na inclusão de outros profissionais – em que são montadas as equipes multidisciplinares, quanto na acessibilidade do público-alvo ao atendimento básico de saúde, ou seja, respaldando-se “numa concepção que procura atender tanto as necessidades individuais quanto as coletivas” (SILVA et al, 2006, p. 74), oferecendo este suporte à família como um todo:

    E não somente o indivíduo doente, introduzindo nova visão no processo de intervenção em saúde na medida em que não espera a população chegar para ser atendida, pois age preventivamente sobre ela a partir de um novo modelo de atenção (ROSA e LOBATE, 2005, p. 1028).

    Com isso, podendo estimular um movimento significativo na reorientação do Sistema Único de Saúde (SUS), pois calcado nos preceitos de promover a saúde de forma geral, o PSF atualmente:

    Tem provocado um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS. Busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais e tem produzido resultados positivos nos principais indicadores de saúde das populações assistidas às equipes da saúde da família (BRASIL, 2011).

    Sobretudo, existem fatores culturais, sociais e econômicos que podem interferir nos procedimentos e na implantação do PSF, dessa forma cabendo aos profissionais envolvidos “adaptar-se às novas condições de trabalho, muitas vezes de maneira mecânica e burocratizada” (FAVORETO e JR, 2002, p. 64), e nas questões que ultrapassam a necessidade do saber técnico-científico, FAVORETO e JR apontam que estes profissionais:

    Tendem a se instrumentalizar de práticas que consideram ‘não-científicas’ e que estariam mais próximas de suas qualidades individuais natas, como o carinho e a piedade, entre outras, adquiridas empiricamente durante as suas vidas pessoais e profissionais (FAVORETO e JR, 2002, p. 64).

    Este novo perfil de atendimento do SUS, favorece ao trabalho multidisciplinar e descentralizado, já que “esse grupo de profissionais com diferentes habilidades precisa unir seus saberes para oferecer à população uma assistência humanizada, baseada nos princípios do SUS, pois ao contrário, voltaremos ao modelo centrado” (FRANCISCHINI et al, 2008, p. 27).

3.     A correlação do PSF com a Educação Física Escolar

    A educação enquanto contribuinte essencial para o desenvolvimento individual e coletivo, “abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organização da sociedade civil e nas manifestações culturais” (LDB, 1996).

    E mediante a isso, a escola é o espaço ideal para a mediação de valores culturais e sociais, e esta tem como principal aliada ao processo de ensino-aprendizagem dos educandos: a família, pois o ato de educar não é só competência da escola:

    É sumamente importante lembrar que o que vale não é o tempo que se passa junto com os filhos, mas a maneira como estabelecem as relações com eles. Isso é o que importa, pois se os filhos sabem que podem contar com os pais quando necessitarem, se os pais têm uma parte do seu tempo diário e de lazer reservado para dar atenção e conversar com os filhos, se os limites são estabelecidos com flexibilidade e justiça, sem culpas ou necessidades compensatórias, pode-se esperar, então, menor probabilidade de problemas (FUSVERKI e PABIS, 2008, p. 3).

    Nestas circunstâncias, a possível relação entre o PSF e a Escola poderá resultar em benefícios para ambos, já que:

    Pelo bom senso, a escola, acompanhada do engajamento da família e das políticas governamentais de saúde, seria o local ideal para o início da educação para a saúde e a Educação Física Escolar seria a condutora principal deste processo pedagógico (MIRANDA, 2006, p. 647).

    Aproveitando a oportunidade, vale fazer uma ressalva aos registros da primeira revista de esporte e saúde brasileira a: Educação Phýsica, que analisada por SCHNEIDER e NETO, consta que historicamente a saúde e a educação se associam desde a suas origens e que:

    As propostas de promoção da saúde por meio da escola, percebendo-se esta como instituição privilegiada para aplicar um programa de intervenção intensivo e extensivo, estiveram sempre nos horizontes dos intelectuais que se organizaram em torno da revista Educação Physica, os quais a compreendiam como um instrumento biopsicossocial de transformação das energias latentes dos brasileiros em possibilidade de ação (SCHNEIDER e NETO, 2006, p. 89).

    Neste contexto, o âmbito escolar quando apontado como local ideal para a atuação dos (as) professores (as) de Educação Física, possibilitará a mediação de conteúdos relacionados à promoção da saúde, em que estes profissionais em conjunto com professores de outras disciplinas, deverão:

    Dirigir a sua prática no sentido de conscientizar os alunos a respeito da importância da criação de um estilo de vida ativo e de hábitos de vida saudáveis, pois a aptidão física relacionada à saúde representa um papel importante na promoção de uma vida longa e saudável, de um estilo de vida ativo e, também, para a prevenção de várias doenças crônico-degenerativas (ORFEI e TAVARES, s/a, p. 83).

    De acordo ao mencionado, diante das especificidades da Educação Física e de suas vastas metodologias, nas possíveis intervenções dos (as) professores (as) desta disciplina, estes (as) poderão:

    Atuar avaliando o estado funcional e morfológico dos sujeitos acompanhados, estratificando e diagnosticando fatores de risco à saúde; prescrevendo, orientando e acompanhando atividades físicas, tanto para as pessoas ditas "saudáveis", objetivando a prevenção e a promoção da saúde, como para grupos portadores de doenças e agravos, utilizando-a como tratamento não farmacológico, e intervindo nos fatores de risco; socializando junto à comunidade a importância da atividade física com base em conhecimentos científicos e desmistificando as concepções equivocadas acerca de sua prática (COQUEIRO et al, 2006, p. 1).

    Em suma, esta é uma proposta que visa ampliar programas já existentes, como é o caso do Programa de Saúde na Escola (PSE), “resultado de uma parceria entre os ministérios da Saúde e da Educação que tem o objetivo de reforçar a prevenção à saúde dos alunos brasileiros e construir uma cultura de paz nas escolas” (BRASIL, 2008), pois o PSF na escola possibilitará que a família não seja apenas componente da comissão intersetorial de educação e de saúde, mas que eles também sejam acompanhados por estas equipes de atenção básica de saúde, que podem ser incluídos outros profissionais, com isso reforçando as possibilidades de atingir os objetivos almejados.

Considerações finais

    Um dos principais desafios encontram-se presentes, em iniciativas tanto dos gestores da Saúde Primária e da Educação Básica Brasileira, quanto dos professores de Educação Física Escolar, que precisam por em prática projetos, como o supracitado, que dê suporte mais amplo às necessidades de uma sociedade envolvida.

    Ainda na esfera dos desafios, pode-se também colocar o público-alvo como coautores de propostas como esta, devido à relevância de suas ações quanto à manifestação de seus interesses e exposição de suas necessidades, que devem ser investigadas, refletidas e retribuídas. Dessa forma, podendo inicialmente projetar este programa de forma adequada, para que em sua execução haja coerência com as classes gestoras, interventoras e atendidas, garantindo a implantação e a continuação deste projeto.

    Entre os possíveis benefícios advindos desta prática pode-se citar a melhoria da convivência familiar, quando a família passará a estar mais presente na vida escolar de seus filhos (as); na ampliação da atenção básica de saúde, que com esta inserção será uma nova alternativa de acesso; na economia de recursos financeiros, por ter a escola um espaço físico existente, podendo ele ou não precisar de grandes adequações; a inserção de outros profissionais da saúde na esfera escolar, já que o trabalho multidisciplinar torna-se mais eficiente; dentre outros fatores benéficos à Saúde Pública Brasileira.

    Entretanto, é preciso destacar que as intervenções ligadas diretamente ao atendimento à Saúde da Família na escola, não se realizar-se-ão nos horários de aula de Educação Física, para que não seja revivido o período higienista, mas esta atenção será aplicada num cronograma extracurricular preestabelecido pela comunidade escolar.

    Contudo, sobre estas análises provenientes de pesquisas bibliográficas, espera-se que este trabalho inicie algumas discussões acerca da temática abordada, por ser perceptível a carência quanto aos estudos relacionados a esta questão na literatura, podendo dessa forma sugerir, que novos estudos sejam realizados com o intuito de ampliar esta discussão.

Referências

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  • BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde. 1990. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro092.pdf. Acesso em: 03 de novembro de 2011.

  • BRASIL, Portal Brasil. Portal da Saúde. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=29109&janela=1. Acesso em: 03 de novembro de 2011.

  • CARDOSO, I. M., MURAD, A. L. G., BOF, S. M. S., A Institucionalização da Educação Permanente no Programa de Saúde da Família: Uma Experiência Municipal Inovadora. REVISTA TRABALHO, EDUCAÇÃO E SAÚDE, v. 3, n. 2, p. 429 – 439, 2005.

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  • FUSVERKI, E. V, PABIS, N. A. A participação dos pais na escola influencia para uma melhor aprendizagem. Revista Eletrônica Lato Sensu, v. 3, n. 1, p. 1 – 15, mar. 2008.

  • ORFEI, J. M., TAVARES, V. P. Promoção da Saúde na Escola Através das Aulas de Educação Física. Departamento Escolares da Unicamp, Campinas, p. 81 – 87.

  • MIRANDA, M. J. Educação física e saúde na escola. Revista UCG, Goiânia, v. 33, n. 7/8, p. 643 – 653, jul./ago. 2006.

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  • SILVA, A. Educação em outros espaços de aprendizagem. Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos. Porto Alegre, jul. 2010. Disponível em: http://www.agb.org.br/evento/download.php?idTrabalho=3782. Acesso em: 03 de novembro de 2011.

  • SILVA, C. C., SILVA, A. T. M. C., LOSING, A. A integração e articulação entre as ações de saúde e de educação no programa de saúde da família – PSF. Revista eletrônica de enfermagem, v. 8, n. 01, p. 70 – 74, 2006.

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