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Introdução

    Propriocepção foi primeiramente introduzido por Sherrington em 1906, que a descreveu como um tipo de feedback dos membros ao sistema nervoso central (SNC)¹. Outro estudo que vem ao encontro ao de Dover et al, é o Lephart et al, no qual menciona propriocepção como sendo um tipo de informação vinda dos membros até o SNC². Beynnon et al, relata que o SNC processa estas informações vindas de terminações nervosas especializadas ou de mecanorreceptores que estão localizados na pele, músculos, tendões, cápsulas articulares e ligamentos. Juntamente com os inputs vestibular e visual, os mecanorreceptores fornecem ao SNC informações sobre a posição do membro³.

    Outro termo utilizado por autores e livros é que a propriocepção tem por definição a capacidade inconsciente de sentir o movimento e a posição de uma articulação no espaço caracterizada por aferencias neurais cumulativas originadas de mecanorreceptores. Na articulação do joelho esses mecanorreceptores situam-se nas capsulas, ligamentos, músculos e tendões com aferencias ao sistema nervoso central⁴. Outros autores ainda consideram que o termo propriocepção tem um sentido mais amplo, abrangendo e incluindo o controle neuromuscular⁵.

    Sendo assim, quando o individuo pratica esporte, ele produz uma adaptação e desenvolve consciência para estratégias posturais, podendo proporcionar ao individuo o desenvolvimento de sincronismo maior entre os segmentos corporais quando comparados com pessoas que não praticam atividades fisicas⁶.

    Com isso, podemos citar que comprometimento do sistema proprioceptivo acarreta déficits na estabilização articular neuromuscular, que pode contribuir para a ocorrência de lesões como distensão excessiva das cápsulas e ligamentos articulares e, conseqüentemente, para a desestabilização postural⁷.

    No entanto os exercícios proprioceptivos demonstram uma grande ação profilática e de reabilitação em lesões musculoesqueléticas, pois exigem da modalidade sensorial maior precisão para obtenção de informações referentes à sensação de movimento e posição articular, com base em elementos de outras fontes que não a visual, a auditiva ou a cutânea superfcial⁸.

    Ao praticar alguma modalidade esportiva o atleta está sujeito há vários tipos de lesões, seja por traumatismo local direto, seja por sobrecarga repetitiva. Seu padrão neuromuscular se altera profundamente, assim como suas atividades proprioceptivas, que ao longo do tempo poderá influenciar negativamente em todas as suas valências físicas, reduzindo o desempenho geral, principalmente pela presença da dor, edema, isquemias, tensão muscular, contratura muscular reflexa, que são fatores limitantes⁹. Tendo em vista o citado anteriormente, o objetivo deste estudo é relatar através da literatura existente a importância da propriocepção no contexto geral.

Metodologia

    Para a realização deste artigo, buscou-se artigos científicos nas bases de dados Pubmed e da Bireme, cruzando as palavras: propriocepção, importância da propriocepção, propriocepção no joelho, e propriocepção no tornozelo, também sendo observados, e procurados artigos das referências bibliográficas para a realização do presente artigo e compreensão do tema abordado. Os artigos selecionados foram decorrentes do ano de 1985 a 2011, e que estavam disponíveis para acesso on-line. Os artigos selecionados foram avaliados pelo autor da pesquisa, e aqueles que não se enquadravam no tema proposto foram desconsiderados.

Resultados e discussão

Importância da propriocepção

    Para o profissional que trabalha na área torna-se indispensável à prescrição e enfoque de exercícios adequadamente planejados que melhorem a acuidade proprioceptiva e o controle motor após lesões músculo-esqueléticas com o objetivo de restabelecer os déficits originados, sendo assim obtendo efeitos em curto prazo a longo prazo, atenuando o sucesso do processo de reabilitação, pois processos lesivos acarretam características sensório-motoras alteradas.^{10,11,12,13,14,15}.

    A propriocepção humana é deteriora pela fadiga o que teoricamente seria uma das causas para a piora das respostas motoras. A fadiga muscular como casuística altera adversamente a propriocepção e o controle postural e concorrem para o aumento da possibilidade de ocorrência de lesões¹⁶.

    Em relação à utilização do treinamento proprioceptivo, pesquisas realizadas em atletas, observou-se pouca utilização da mesma e um baixo índice de conhecimento sobre o conceito de propriocepção e uma elevada freqüência de lesões osteomioarticulares acometidas tanto durante os treinos quanto os jogos, sendo o tipo de lesão mais comum encontrado a entorse de tornozelo e joelho e a distensão muscular na coxa ¹⁷.

    Em contrapartida um estudo apontando a importância do treinamento proprioceptivo com atletas com idade entre 13 e 15 anos, da categoria mirim e infantil, sendo 10 atletas da categoria mirim e 12 atletas da categoria infantil do Club Athletico Paulistano (CAP) apontou resultados positivos da propriocepção. O treinamento proprioceptivo teve duração de seis meses, sendo realizada um avaliação pré e uma reavaliação após esse período. O tempo de treinamento desses atletas consiste em quatros horas, sendo: uma hora de preparação física, trinta minutos de descanso, trinta minutos de treinamento proprioceptivo e duas horas de treinamento específico da modalidade. A cada teste realizado, foi emitido um relatório pelo software com os cálculos dos índices de estabilidade. Concluído o estudo, foi possível observar que a utilização desses exercícios reduziu as lesões específicas ou gerais de membros inferiores no basquetebol e por isto, estes exercícios podem ser mais uma alternativa para a redução da incidência de lesões relacionadas a práticas dessa modalidade¹⁸. Colaborando para que o fato do treinamento proprioceptivo se tornar fundamental nesses casos para a prática esportiva.

Propriocepção na reabilitação do joelho

    Os testes de propriocepção consistem no senso de posição articular e sinestesia são os mais utilizados, porém não reproduzem uma função empregada nas atividades habituais. Nesse caso, os testes que simulam atividades mais funcionais para os membros inferiores são os meios mais adequados para verificar a propriocepção¹⁹.

    A integridade da propriocepção no joelho é essencial para o controle neuromotor, sendo sua avaliação, o teste proprioceptivo, um importante método de informação diagnóstica e prognóstica, podendo gerar evidência da eficácia (ou ineficácia) de procedimentos terapêuticos, bem como aumentar a compreensão do grau de disfunção após lesão²⁰.

    A propriocepção é dependente de receptores do sistema somato-sensorial periférico presentes nos ligamentos, capsulas articulares, tendões e músculos. Diante desse fato, a redução da propriocepção não esta relacionada exclusivamente com a ruptura do LCA e não se evidencia déficit proprioceptivo em relação ao senso de posição articular em indivíduos com disfunção femoropatelar ^21,22. Em contrapartida outro estudo nos mostra que há déficit proprioceptivo em relação a reconstrução do LCA evidenciando que o joelho com ligamento cruzado anterior reconstruído possui deficiência proprioceptiva significante quando comparado com o joelho contralateral normal²³.

    Autores mostraram em diversos estudo que alem da função mecânica do LCA, ela possuí um papel importante no que se refere a propriocepção, controle da postura e do movimento, fornecendo feedback neurológico que atua mediando diretamente a sensação de posição articular, o limiar de detecção do movimento passivo e a estabilização muscular reflexa da articulação^24,25,26.

    Considerando as funções proprioceptivas dos ligamentos, entende-se que quando há alguma lesão em algum grau variado nesses ligamentos, o que pode ocorrer é uma perda parcial das aferencias, produzindo redução na acuidade da propriocepção, equilíbrio e influenciando na postura e predispondo a novas lesões e desta forma um ciclo de lesões se inicia.^26,27,28

    Outro trabalho importante para esta temática, realizado por Baldaço et al, avaliou a eficiência de um protocolo de exercícios proprioceptivos no equilíbrio de atletas de futsal feminino. Com uma amostra foi composta por cinco atletas do time de futsal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Os treinamentos ocorreram três vezes por semana, durante um mês. As atletas foram avaliadas pré e pós-treinamento em uma plataforma de força no Laboratório de Biomecânica do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM. O protocolo de propriocepção sugerido demonstrou maior controle de equilíbrio postural nas condições e na amostra avaliada. Os achados do presente estudo podem ser sistematizados nos seguintes aspectos como pouco conhecimento sobre propriocepção dos participantes assim como não incorporado ao treino. Outra conclusão constatada é que o treinamento proprioceptivo é um método efetivo para melhorar o equilíbrio e a estabilidade postural, principalmente no controle médio lateral favorecendo tanto a melhora do controle do equilíbrio, quanto a prevenção de lesões corporais dos praticantes. Em vistas desses achados, sugere-se que protocolos proprioceptivos sejam aplicados durante período e amostras maiores, com participação de grupo controle, para que se possa futuramente padronizar períodos e técnicas mais efetivas para este tipo treinamento²⁹. Outro estudo divulga um método de reeducação proprioceptiva aplicado em 247 pacientes com lesão do LCA e secundariamente apresentam uma técnica de avaliação proprioceptiva. Enfatizam a importância desse método no processo de reabilitação de pacientes com lesão do LCA, com ou sem reconstrução. O objetivo é devolver a esses pacientes a habilidade, agilidade e confiança, através do aumento da velocidade da resposta de defesa e da estabilidade articular. Como dados subjetivos relatam a perda do me do que os pacientes adquirem quando da lesão ressaltando a importância da propriocepção³⁰.

Propriocepção na reabilitação do tornozelo

    Com objetivo de analisar o efeito do treinamento proprioceptivo e de força resistente sobre a incidência de entorses de tornozelo e lesões musculares em futebolistas, foi realizado um estudo composto por 13 atletas. A incidência de lesões musculares nos membros inferiores e entorses de tornozelo que não decorreram de traumas diretos foram registrados durante duas temporadas. Os sujeitos da pesquisa passaram por treinamentos proprioceptivos e treino de força resistente. Consistiu em uma avaliação pré-teste e pós-teste. Através deste estudo conclui-se que exercícios simples de propriocepção e de força resistente diminuem a incidência de lesões em futebolistas sendo, portanto de caráter preventivos³¹. Outro estudo que corrobora com este, teve como conclusão que a pratica de exercícios proprioceptivos em entorse de tornozelo, reduz novas ocorrências de entorse de tornozelo, sendo eficaz para este contexto³².

    Madras, observou que há evidência para sugerir que um programa de treinamento para indivíduos com instabilidade de tornozelo que inclui disco proprioceptivo para o tornozelo ou atividades de cambalear na tábua ajuda na melhora do equilíbrio uni podal e diminua a probabilidade de entorses futuros³³.

    Salgado já citava exercícios proprioceptivos como programa final de reabilitação em entorses de joelho e tornozelo, citando uma evolução de descarga bipodal para unipodal em exercícios com a prancha de Freeman e Balancim³⁴.

    Fu e Hui-Chan avaliaram aumento dos erros de reposicionamento de tornozelo e balanço da posição postural em jogadores de basquetebol com entorses de tornozelo. Tais achados realçam a necessidade pela reabilitação de pacientes com entorses de tornozelo, incluindo treino proprioceptivo e treinamento de equilíbrio³⁵.

    Russo e Moreira referem que na prevenção dos entorses do tornozelo o trabalho proprioceptivo é de grande importância para os treinamentos dos atletas, pois possibilitaria uma diminuição significativa de recidivas ou mesmo do primeiro episódio de entorses³⁶.

Conclusão

    Através desta pesquisa conclui-se que o pouco se utiliza propriocepção como critério de prevenção aumentando assim recidivas de lesões em atletas.É indispensável a prescrição de exercícios adequadamente planejados que melhorem a acuidade proprioceptiva e o controle motor após lesões músculo-esqueléticas com o objetivo de restabelecer os déficits originados. A maioria dos achados, sugere que a propriocepção é um fator importante na reabilitação e deve ser realizada tanto como prevenção como no tratamento de lesões do joelho e tornozelo tendo efeitos consideráveis a curto e longo prazo.

Agradecimentos

    Gostaria de agradecer a Ademir Conduta e Rosa Maria Lopes pelo apoio e incentivo diário.

Referências

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