A dança nas aulas de Educação Física: Hip Hop como instrumento El baile en las clases de Educación Física: el Hip Hop como instrumento Dance lessons in Physical Education: Hip Hop as a tool |
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*Aluna do curso de Licenciatura em Educação Física da Faculdade Ingá **Prof.º Mestranda do Programa de Pós-Graduação Associado UEM/UEL em Educação Física (Brasil) |
Anny Danielle Rosa Marchioro* Flávia Évelin Bandeira Lima** |
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Resumo Um dos locais que a dança pode ser ensinada e praticada são nas aulas de Educação Física Escolar. Dentro dos elementos do Hip Hop temos a dança como uma expressão física que tem como característica marcante gestos “quebrados”. Com a perspectiva de que a dança ajuda no desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, social e cultural, este estudo tem como objetivo principal fazer um levantamento do contexto histórico do Hip Hop, quais as suas principais influências, público alvo e, principalmente, como essa modalidade de dança pode ser inserida e trabalhada na escola, ajudando a ampliar o repertório de atividades na Educação Física Este estudo verificou que a dança nas escolas não é um conhecimento específico e com uma linguagem expressiva própria. O Hip Hop, inserido nesse contexto, pode ser incluído nas aulas de Educação Física. Assim, há uma possibilidade maior de que as aulas atinjam todos os alunos. Unitermos: Hip Hop. Dança. Educação Física Escolar.
Abstract One of the places that dance can be taught and practiced are in school physical education classes. Within the elements of Hip Hop dance as we have a physical expression that has the remarkable characteristic gestures "broken." With the prospect that dance helps develop motor, cognitive, emotional, social and cultural, this study's main objective is to survey the historical context of Hip Hop, what are their main influences, target audience, and especially as this type of dance can be entered and worked in school, helping to expand the repertoire of activities in Physical Education This study found that the dance school is not a specific knowledge and a very expressive language. Hip Hop, inserted in this context can be included in physical education classes. Thus, there is a greater chance that students pass all classes. Keywords: Hip Hop. Dance. School Physical Education.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A dança é uma das mais antigas manifestações humanas, traduzida em linguagem gestual ultrapassa gerações e está presente no cotidiano. Analisando sua história é possível conhecer costumes e hábitos de uma sociedade (GRANDO & HONORATO, 2008). A escola, instituição socialmente criada com a finalidade de permitir às novas gerações a apropriação da cultura, em seus conhecimentos científicos e sociais, vem assumindo variados papéis no percurso da história social, por isso pode-se afirmar que a Educação Física faz parte da cultura humana. Segundo Daolio (1996) a Educação Física se constitui numa área de conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao movimento criadas pelo homem ao longo de sua história: os jogos, as ginásticas, as lutas, as danças e os esportes.
Silva (1995) afirma que nas aulas de Educação Física os conteúdos devem ser oferecidos para integrar e introduzir os alunos na cultura corporal de movimento ajudando a transformar a prática educativa. A escola precisa ser uma instituição que promove relações sociais e contribui na construção do conhecimento devendo oferecer oportunidades de vivenciar as diferentes manifestações da cultura corporal. Uma dessas manifestações segundo Ferreira & Mendes (s/d) pode ser a dança, pois esta pode contribuir para a saúde, enriquecer a sociabilidade e pode refletir os diversos aspectos culturais dos povos.
A vertente da dança no Brasil ligada à Educação Física surgiu por volta de 1920, por agregação de movimentos ginásticos às suas bases elementares, constituindo práticas ofertadas pelas então denominadas “academias”, geralmente conduzidas por bailarinas vindas do exterior. A partir da Resolução 03 de 1987 do Conselho Federal de Educação, que reformulou a Licenciatura e o Bacharelado em Educação Física, inicia-se um processo progressivo de adaptação regional dos currículos desta formação profissional em nível superior. Nesta perspectiva, a dança foi favorecida por já ter uma tradição de meio século na licenciatura em Educação Física, como também pela maior possibilidade de optar por práticas de preferência local em comparação com as demais disciplinas (VIEIRA, s/d). Na década de 1990 surgem evidências de que o método Dança-Educação Física vinha sendo fortalecido como proposta teórica relacionada ao trabalho corporal, voltada para a integração do indivíduo como um todo. Este método era comprometido com um trabalho educativo e formativo de base predominantemente preventiva, visando resgatar, no ser humano, um trabalho de conscientização corporal (VIEIRA, s/d).
Atualmente a perspectiva educativa da dança implica em proporcionar aos alunos, além do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social (numa perspectiva da cultura corporal), o que tem de mais peculiar: expressividade acompanhada do ritmo. Em termos de Educação Física, essa formulação trata da arte/modalidade/atividade como promotora de desenvolvimento e autonomia corporal. Para afirmar a importância na formação das crianças em idade escolar os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs (BRASIL,1999, PARANÁ, 1999) classifica a dança como um dos conteúdos da Educação Física, possibilitando o desenvolvimento da cultura corporal na comunidade escolar. Nestas circunstâncias, o entendimento da dança na Educação Física hoje, pressupõe a variedade em suas modalidades de práticas, incluindo desde o ballet clássico ao hip hop e danças folclóricas.
Buogo e Lara (2008) apresentam que a primeira sistematização da dança na Educação Física, em nível federal, deu-se pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). A dança foi pensada como atividade rítmica e expressiva, sendo sugeridos como conteúdos: danças brasileiras, urbanas e eruditas, danças e coreografias associadas a manifestações musicais, brincadeiras de roda e cirandas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997 são organizados em três blocos: conhecimento sobre o corpo; atividades rítmicas e expressivas; jogos, ginásticas, lutas e esportes, indicam que a dança deve ser articulada aos conteúdos do corpo e aos dos esportes, jogos, lutas e ginásticas.
A dança Break dos guetos norte-americanos invadiu novos territórios, transpôs barreiras nacionais e conquistou jovens de várias classes econômicas, ensinando aos jovens a possibilidade de produzir novas formas de existência na vida e na dança. O Hip Hop é uma manifestação juvenil teve origem nos bairros negros e latinos de Nova Iorque na década de 60. A invenção de novas maneiras de ser jovem na cidade, não demorou a ecoar em outros locais, ao sabor de outras “galeras” e de outras culturas corporais de movimento (ALVES e DIAS, 2004). Segundo Cazé e Oliveira (2008) O Hip Hop é uma estratégia de sobrevivência da cultura popular, é uma forma de visibilidade de grupos de excluídos das possibilidades. É uma ação política que acontece a partir do corpo que dança, desenha, pensa, fala, reflete, sobre os problemas que reverberam nas estruturas sociais em que estes corpos co-habitam.
Com a perspectiva de que a dança ajuda no desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, social e cultural, este estudo tem como objetivo levantar do histórico do Hip Hop, quais as suas principais influências, público alvo e, principalmente, como essa modalidade de dança pode ser inserida e trabalhada na escola, ajudando a ampliar o repertório de atividades na Educação Física.
História do Hip Hop
O termo hip hop, alguns dizem que foi criado em meados de 1968 por Afrika Bambaataa. Ele teria se inspirado em dois movimentos cíclicos, ou seja, um deles estava na forma pela qual se transmitia a cultura dos guetos americanos, a outra estava justamente na forma de dançar popular na época, que era saltar (hop) movimentando os quadris (hip). Souza, Fialho e Araldi (2005) afirmam que os jovens artistas do gueto do Bronx, em nova Iorque, foram os primeiros a pensar em uma forma de transformar por meio de linguagens artísticas como a dança, a música e o grafite, os jovens que sofriam com discriminação social, racial e pelo acesso a criminalidade e as drogas, com as atividades esses jovens passaram a ocupar seu tempo para se divertir e aprimorar suas habilidades com o objetivo de se destacarem nos campeonatos de break, grafite e do rap, onde os vencedores recebiam prêmios que iam desde roupa, comida, bonés, tênis até território liderado por cada gangue.
Lindolfo Filho (2004) diz que o Hip Hop é uma cultura inventada por jovens afro-americanos, a partir de influência afro-jamaicanas, reinventada nas periferias das grandes metrópoles. As tribus hip hoppers têm logrado um certo respeito para as periferias e têm servido como elemento de identificação para muitos jovens das camadas médias da sociedade, e inspiração para renomados artistas plásticos e estilistas. Em contrapartida Tavares (2010) diz que historicamente, o hip-hop se refere ao movimento cultural produzido por jovens negros e latinos, surgindo em espaços segregados de grandes metrópoles dos Estados Unidos e da Inglaterra no final dos anos 1960, por intermédio da influência dub (música instrumental combinada com efeitos eletrônicos) de origem caribenha que chegava aos EUA trazida por imigrantes. Naquele período, havia uma profusão de estilos subculturais que se estruturavam gradualmente sob a ótica de uma cultura transnacional, globalizada, como ocorria com o rock, o reggae, entre outros.
O Hip Hop, no Brasil, inicia-se na década de 1980 e a cidade de São Paulo é uns dos principais centros desse movimento no país. O primeiro elemento a tornar-se conhecido, enquanto parte do Hip Hop, foi o break, por intermédio, em grande parte, dois filmes: Beat Street e FlashDance. O primeiro, produzido por Sidney Portier em 1984, mostrava a cultura Hip Hop como um estilo de vida, e possuía participação de dançarinos famosos como os da New York Breakers. O segundo, produto típico da mídia hollywoodiana, em uma de suas cenas, mostra uma batalha de break. Os primeiros dançarinos de break se reuniam na Estação São Bento de metrô em São Paulo e ali entre palmas ritmadas, batidas em latas e beat box criavam os primeiros MCs de RAP que logo criariam um território próprio, a praça Roosevelt, berço da primeira posse brasileira, o Sindicato Negro (BLACK SOUND, 2009).
Dentro dos elementos do Hip Hop temos o, que é a dança. É a expressão física que tem como característica marcante gestos “quebrados”. É uma dança praticada em roda, onde os dançarinos mostram uma variedade de passos (SOUZA; FIALHO; ARALDI, 2005). O break foi um dos elementos que contribuiu por meio de suas formas rítmicas, para que os DJs criassem bases apropriadas para combinar com as “quebras” do breaks. O break vai muito além de uma dança, é uma luta entre dançarinos, geralmente em círculos, que é formado espontaneamente. O break foi influenciado pelo funk, soul, discos, danças caribenhas, movimentos da ginástica olímpica, o kung fu e a capoeira. Geralmente é dançado com rap de batidas aceleradas ou com “mixagens” também conhecidas por breakbeats.
Ligado diretamente ao Break tem-se o DJ e o MC. DJ ou disc-jockey, é o instrumentista do Hip Hop que acompanha o MCs tendo como principal ferramenta o toca discos. Os primeiros DJs surgiram na Jamaica na década de 60 através de recriação rítmica como base para as raízes musicais jamaicanas entre ela o reggae. O MC ou mestre de cerimônia, é o porta-voz que relata, por meio de articulações de rimas, os problemas, carências e experiências em geral dos guetos. Não só descreve, também lança mensagens de alerta e orientação, o MC tem como principal função animar uma festa e contribuir com as pessoas para se divertirem (VITORINO & FIALHO, 2008). Cultura Hip Hop é uma lógica organizativa de partida que se dá a partir do encontro do Rap, do Break e do Graffiti. No inicio deste encontro, especificamente nos EUA, estavam presentes corpos negros e latinos; grupos que não eram apoiados pelo sistema e procuravam uma forma de produzir uma cultura local que lhes permitissem visibilidade (CAZÉ e OLIVEIRA, 2008).
A relação do jovem com o Hip Hop varia muito de acordo com sua classe social, pois cada um integra-se a este movimento com objetivos diferentes (VITORINO & FIALHO, 2008). Um dos objetivos deste movimento é aproximar-se dos jovens e exercer sobre eles uma influência positiva, impedindo que as drogas e as influências negativas da mídia destruam a vida dos jovens e dos adolescentes da periferia (TELES, 2001). O Hip Hop leva o jovem da periferia buscar seus valores, se integrar na sociedade, resgatar sua identidade, vencendo preconceitos.
Souza, Fialho e Araldi (2005) descrevem que o Hip Hop tornou-se ao mesmo tempo artístico, político e ideológico. Ele apresentou através da arte, as experiências vividas na periferia mostrando o desemprego, os conflitos nas relações de poder, o preconceito social e racial, as condições de moradia, de saúde e educação, a falta de perspectiva para o futuro, o narcotráfico e o crime. Além disso, e talvez o mais importante que tornar públicas as necessidades da periferia, o Hip Hop permitiu a juventude negra sentir-se capaz de expor seus ideais e se orgulhar da sua origem e cultura. Segundo Tavares (2010) o hip-hop é um fenômeno cultural que engloba estéticas artísticas, como o break ou street dance, o grafite, o DJ e o rap. O hip-hop, desde sua origem, tem sido associado a uma arte voltada para segmentos excluídos no espaço urbano, como jovens imigrantes, negros, mulheres, entre outros. Forman (2002) e Pough (2004) apontam que o hip-hop representa, a partir de sua estética, propostas políticas, um tipo de arte social, com apelos frente à questão da exclusão social (classes), da marginalização no espaço urbano expressa através da construção de um imaginário da periferia, frente à questão da segregação racial e, mais recentemente, à questão de gênero.
As principais danças do hip hop que estão na moda possuem movimentos de dança popularizados ao inverso dos estilos que são geralmente executados nas festas. O Hip Hop se divide em trê estilos segundo Cazé e Oliveira (2008): breaking, locking e popping. Estes estilos são os mais antigos e presentes em todas as danças do estilo. Eles conseguiram notabilidade em todo mundo, além de constantemente aparecerem em filmes e serem motivos para competições, principalmente na Europa. O Breaking ou a breakdance foi criado no Bronx, em Nova Iorque, durante a década de 1970. O breaking inclui quatro movimentos fundamentais: toprock, os passos realizados em pé; downrock, realizado no chão para apoiar o seu peso; freezes, onde se faz poses elegantes com as mãos; e power moves, os mais difíceis, com impressionantes movimentos acrobáticos. Um movimento extra que é frequentemente utilizado em batalhas de b-boys e principalmente entre crews é a apache line.
O Locking, originalmente chamado de campbellocking foi criado em Los Angeles por Don Campbell e introduzido no país por seu grupo, o The Lockers. O locking moderno possui movimentos similares ao popping, e é muitas vezes confundido com este. No locking, o dançarino deve ter as pernas alongadas. O lock é o movimento inicial usado na dança, o qual é similar ao freeze da breakdance ou uma pausa repentina. Um dançarino de locking é caracterizado pelas constantes paradas de ação e rápido reinício do movimento. Popping e locking são dois estilos de dança diferentes com suas próprias histórias, seus próprios conjuntos de movimentos, e suas próprias categorias de competição. Um dançarino pode realizar um ou outro, mas não ambos ao mesmo tempo.
O Popping foi criado por Sam Solomon, em Fresno (Califórnia) e realizado por sua equipe, a Electric Boogaloos. É baseado na técnica de rápida contração e relaxamento dos músculos para causar um empurrão no corpo do dançarino, referido como pop ou hit. Cada hit deve ser sincronizado com o tempo e as batidas da música. O popping também é usado como um termo para se referir a uma gama superior a 10 outros estilos de dança semelhantes. Este estilo inclui dois movimentos principais, deslizar e flutuar, que são movimentos feitos com a parte inferior do corpo, especificamente os pés e as pernas. Quando feito de modo correto, dá a impressão que o dançarino está deslizando sobre o gelo. Em oposição a esses dois movimentos, há o tutting, onde é utilizada a parte superior do corpo - braços, mãos e punho - para formar um ângulo reto de 90º (CAZÉ e OLIVEIRA, 2008).
Dança enquanto componente curricular
O ensino da Educação Física está presente no trabalho de buscar a superar todo e qualquer tipo de discriminação e exclusão social, valorizando o aluno, incentivando o desenvolvimento de todas as suas potencialidades. Onde toda e qualquer manifestação da cultura corporal seja ela o jogo, a brincadeira, a dança, a ginástica, a luta, os esportes, desperte o desejo de superar a si próprio, empenhando-se para aperfeiçoar cada vez mais suas habilidades e destrezas. A Educação Física também deve contribuir para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, cooperação, responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal (FERREIRA & MENDES, s/d). Libâneo (1990) diz não basta que os conteúdos da Educação Física sejam apenas ensinados, ainda que bem ensinados é preciso que se liguem de forma indissociável a sua significação humana e social.
Segundo a Lei nº 9.394, Artigo 26º inciso 3º das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar. A Educação Física Escolar é a disciplina onde dá oportunidade aos alunos a conhecerem seus corpos, que incluem suas valências físicas e a conviverem com a diferença entre si, já que a escola é composta por indivíduos com vários credos, pessoas com famílias que possuem diferentes rituais, opções sexuais distintas, que devem ser respeitadas (BRASIL, 2000). As Escolas, todas elas sem exceção, devem ser multifacetadas, ou seja, os educandos precisam apreender a pluralidade cultural com diversas orientações sexuais, que estão a porte dos educadores (BRASIL, 2000).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de Arte (1997/98) e as Diretrizes (2002) apontam que a educação física é um dos objetivos educacionais da dança é a compreensão da estrutura e do funcionamento corporal e a investigação do movimento humano. Com isso, surgiu a proposta da divisão dos conteúdos em três grupos, que levantam diferentes aspectos da dança: (a) a dança na expressão e na comunicação humana: abordando conhecimentos de anatomia; forma, volume e peso dos corpos; fatores de movimento (parte da teoria de Rudolf Laban), análise da qualidade dos movimentos e estudos do espaço geral e pessoal; experimentação de técnicas de expressão, improvisação, composição coreográfica e apreciação em dança; (b) a dança como manifestação coletiva: abarca os elementos citados anteriormente experienciados por meio da integração, da comunicação com outros e da exploração de diferentes grupos com variação de formações; (c) a dança como produto cultural e apreciação estética: procura conhecer dançarinos/coreógrafos e grupos de dança que contribuíram para a dança nacional em diferentes épocas e regiões para fazer uma reflexão sobre a escolha dos movimentos que criam em sala de aula com o gênero e estilo dos coreógrafos estudados; faz uma análise, registra e documenta seus trabalhos em dança, bem como de outros dançarinos/coreógrafos; passa pelo reconhecimento das subjetividades e o contexto sociopolítico e cultural de cada um; procura refletir sobre o papel do corpo na dança em suas diversas manifestações artísticas (BUOGO e LARA, 2008).
Nas aulas de Educação Física escolar, geralmente o professor desenvolve seu trabalho de forma mecânica, repetitiva, reproduzindo os mesmos testes no início e no final dos períodos letivos, ao longo dos anos (SILVA, 1995). Esse processo, as vezes é inconsciente por parte do professor, e faz compreender a dificuldade relatada pelos professores em trabalhar com turmas heterogêneas em termos de habilidades motoras, cognitivas, socias, afetivas (DAOLIO, 1996). Levando em consideração que o ser humano possui múltiplas habilidades físicas, a dança pode ser um dos conteúdos aplicados nas aulas de Educação Física escolar, pois pode ajudar os alunos, através do movimento corporal, o crescimento e desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social. Bernardino et al. (2010) afirmam que dançar é uma das maneiras mais divertidas e adequadas para ensinar, na prática, todo o potencial de expressão do corpo humano.
Segundo os dados divulgados pela UNESCO o aluno não abandona seus problemas “sócio-histórico” ao entrar para escola. A maioria dos conflitos vivenciados pelos alunos fora da escola poderão ser mais bem compreendidos por ele se a instituição escolar souber posicionar-se diante do mundo do aluno (ANDRADE, 1999). No entanto, Gariba (2005) coloca que a dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola, com ela, pode-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e/com os outros; a explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a criarem. A explorarem novos sentidos, movimentos livres. Ou seja, a dança pode aproximar os alunos deles mesmos e/ou dos demais.
Hip Hop na escola
Nessa realidade de aproximar os alunos da escola, diminuir os problemas sociais, afetivos, cognitos intra e inter-alunos, o Hip Hop pode ser uma das modalidades de dança aplicadas no contexto escolar. Vitorino e Fialho (2008) dizem que o Hip Hop na escola pode apresentar-se como expressão artística onde os alunos poderão re-significar sua realidade, valorizando as estéticas urbanas e as culturas aí implícitas que representam as histórias de vida de adolescentes e jovens. Trazer o Hip Hop para a escola, é também abrir espaço para projetos que são desenvolvidos fora do ambiente escolar possam ser realizado e compartilhado na escola. Desta forma, essa intervenção pôde abrir uma comunicação entre as atividades cotidianas dos alunos e a produção de conhecimento na escola. Com isso, pode-se dizer que o Hip Hop contribuir para que os alunos possam se expressarem e descobrirem valores e conteúdos, que vão configurando suas visões de mundo e da sociedade em que vivem (SOUZA, 2007).
Andrade e Terezani (2011) fizeram um projeto em uma escola baseados em uma revisão de literatura para verificar a atuação dos profissionais da Educação Física no âmbito escolar; analisar a ferramenta Hip Hop como meio para o progresso cultural; estudar os Parâmetros Curriculares Nacionais de forma construtiva e não como (engessamento) das aulas; observar como a Dança se manifesta e pode se manifestar na aula de Educação Física; verificar o histórico da Dança como contribuição para a Educação Física; entender os ritmos como interfaces para a aprendizagem; mostrar quais os processos do Hip Hop que devemos ter como base para iniciar as aulas sobre esse tema. Ao iniciarem o projeto em uma escola da Lapa os pesquisadores identificaram a falta do conteúdo dança nas aulas de Educação Física então em comum acordo com a direção da escola implantaram aulas de Hip Hop durante o estágio. Um dos resultados que os pesquisadores/estagiários encontraram com a implantação do Hip Hop na escola foi a melhora na relação entre estagiário, professor de Educação Física e a direção da escola, os alunos sentiram prazer nas atividades, passaram a respeitar o ambiente escolar, se interessar pelas disciplinas, e alguns até melhoram o empenho nos estudos.
A abordagem do Hip Hop se faz necessária para repensar os conceitos do que são arte e cultura para a escola, no mundo contemporâneo e seus objetivos. Cabe aos educadores compreender tais manifestações e abrir espaço de diálogo e intervenção sócio-educacional por meio de uma linguagem comum aos estudantes urbanos, sejam do centro ou da periferia (VITORINO & FIALHO, 2008). O Hip Hop pode ser um movimento que age na transformação da sociedade por meio de técnicas artísticas e reflexivas que estão inseridos nos conteúdos da disciplina de artes, e que não se desvincula do conhecimento científico. Por isso, ele pode/deve ser inserido no conteúdo escolar para aproximar alunos, professores, escola e sociedade.
Considerações finais
Considerando estudo bibliográfico com o objetivo de verificar como a dança ajuda no desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, social e cultural, e, ainda, fazer um levantamento do histórico do Hip Hop, quais as suas principais influências e como essa dança pode ser inserida e trabalhada na escola nas aulas de Educação Física. Este estudo verificou que a dança nas escolas não é um conhecimento específico e com uma linguagem expressiva própria. Isto se dá pelo fato da dança estar atrelada ao pensamento pedagógico brasileiro, dualista e racional, quando, há séculos, tem valorizado o conhecimento linear, intelectivo e racional em detrimento do conhecimento sintético, sistêmico, corporal e intuitivo.
O Hip Hop, inserido nesse contexto, pode ser incluído nas aulas de Educação Física. Assim, há uma possibilidade maior de que as aulas atinjam todos os alunos, sem discriminação dos menos hábeis, ou das meninas, ou dos gordinhos, dos baixinhos, dos mais lentos, partindo do pressuposto que os alunos são diferentes, recusando o binômio igualdade/desigualdade para compará-los. Pois como um dos conteúdos artístico, social, cultural, esportivo, pensando no Hip Hop como movimento cultural e social, para a que aconteça a inclusão de todos os alunos, estabeleça uma relação professor-aluno-escola-sociedade.
A dança é de fundamental importância no contexto da Educação Física pois ela pode possibilitar a aplicação de um conteúdo bem diversificado, e na escola não está preocupada em formar bailarinos, mas sim possibilitar ao aluno a conhecer a si próprio podendo proporcionar isto e muito mais.
Podemos sugerir que seja feita uma pesquisa de campo, para ver se existem danças nas aulas de Educação Física, pois é um elemento importante para cada cidadão vivenciar esta prática, e tornar pessoas melhores como apresentado parcialmente neste estudo bibliográfico.
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