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A Dança na perspectiva da Cultura Corporal. Quais os interesses?

La Danza en la perspectiva de la Cultura Corporal. ¿Cuáles son los intereses?

 

Graduando do curso de Licenciatura plena da

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB

(Brasil)

Wagner Barbosa Matias

wagneruesb@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A dança é uma das principais manifestações culturais do ser humano, em todos os momentos da vida o homem utilizava a para representar a alegria, tristeza, miséria. No entanto com o desenvolvimento industrial e a consolidação do sistema capitalista ela vem ganhando novos contornos. Como todas as ações humanas possuem interesses a dança também representa interesses de classe. Sendo assim, neste ensaio objetivamos compreender os interesses que a dança possui nas aulas de educação física sustentada pela proposta critico-superadora. Numa breve analise, podemos perceber que essa manifestação cultural será tematizada pelos professores de educação física, na busca de que os estudantes possam entender tanto ela como a própria sociedade que estão inseridos.

          Unitermos: Dança. Cultura Corporal. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Não têm como compreender as manifestações culturais sem entender o contexto que os seres que as constrói estão inseridos. A grande maioria das pessoas vive, ou melhor, sobrevivem atualmente em condições vergonhosas. São milhões de indivíduos que são privados de possuírem os bens produzidos pela humanidade, nisto inclui-se a ausência de condições básicas - comida, moradia.

    A sociedade capitalista é dividida em classes sociais diferentes, estando em confronto em todos os espaços para afirmarem seus interesses sejam eles imediatos e/ou históricos. Hegemonicamente a burguesia busca ampliar suas riquezas e manter a sua posição dominante. Enquanto a classe trabalhadora vem tentando assumir a direção da sociedade e construir uma hegemonia popular.

    A ideologia elaborada pela classe dominante busca em todos os momentos determinar os hábitos de vida dos indivíduos, estabelecendo formas de perceber a realidade que estão imersos. Mas, como a atual sociedade é estruturada em classes sociais antagônicas, logo existem grupos e indivíduos que mesmo com as fortes influencias da elite, vão de encontro ao “canto da sereia” construindo estratégias e representações simbólicas diferentes. Sobre isso Assumpção coloca que:

    Essas formas distintas de estarem presentes numa mesma realidade nos são perceptíveis à medida que observamos as manifestações socioculturais de cunho popular e/ou erudito. As manifestações artísticas e culturais estão histórica e socialmente ligadas a formas de organização social em que foram produzidas. (2002 p. 2).

    Desta forma, buscaremos entender os interesses que estão em torno do ensino da dança nas aulas de educação física na perspectiva da cultura corporal. Uma vez que, a dança é uma das manifestações culturais que podem expressam tanto a dor dos oprimidos quanto a camuflagem dela.

Consenso e conflito

    As danças comerciais são um típico exemplo de artificialidades das expressões corporais desses últimos anos. Como diz Melo et al (2002, p.144) “seu vocabulário corporal restrito e pobre e ausência de liberdade de criação e expressão a que eles submetem os corpos, já que obrigam o publico a reprodução de certos modelos, lembrando mais um bando de robôs”. A escola apropria desse modelo da indústria cultural onde existe uma supremacia da técnica e reproduz no seu interior podando a expressividade e criatividade, características principais desta manifestação cultural.

    Em contraponto e como possibilidade de superação do atual modelo hegemônico, tem se quando a dança é percebida enquanto arte. Segundo Fiamoncini (2002, p.62) “arte implica em modificar (criativamente) o existente para que ele chegue a ser outra coisa”. Assim, o trabalho com essa manifestação pode obter significados nas aulas de educação física, já que, valoriza a capacidade do ser humano construir o próprio caminho, a partir dos seus desejos, sentimentos e da realidade que está inserido.

    Dessa forma o trato pedagógico com a dança nas aulas de educação física pode enveredar tanto para o caminho do consenso como para o do conflito. No primeiro se aceita a impossibilidade da transformação social, ficando ela restrita ao “movimento físico”, descontextualizado da realidade social e dos sentimentos dos indivíduos.

    No entanto, deste mesmo contexto surge outra pedagogia que permite a negação desta forma que estrutura o ensino da dança e busca compreender-la a partir das nuances que a envolvem. Assim a dança será entendida como “[...] uma linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, dos hábitos, da saúde, da guerra, etc.” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 82).

    Marinho coloca que

    A educação é uma pratica social que colabora tanto para a manutenção do status quo quanto para encontrar brechas para uma práxis pedagógica transformadora. A educação física também participa desse processo. Seus professores ora transmitem valores consensuais, ora procura desvelar as contradições da sociedade (1994, p. 33).

A dança na educação física escolar

    Nesse segundo momento a intenção é compreender como a dança esta inserida na educação física a partir da proposta sistematizada critico-superadora. É importante colocar que pela complexidade da obra, o caráter aqui será de apresentação e, não de discussão aprofundada sobre essa abordagem.

Proposta critico-superadora

    O livro Metodologia do ensino de educação física é uma das obras mais significativas no campo da educação física escolar fruto das ambições e intenções de todo um movimento político dentro da área, da qual faziam parte de seus autores, esquerda da educação física. Sustentado pela pedagogia histórico-critica, a obra propõe uma nova percepção sobre as práticas corporais.

    Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da historia, exteriorizadas pelas expressões corporais: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólicas de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas. (p. 38).

    A obra é dividida em quatro capítulos, onde, segundo os autores, os autores encontrarão elementos básicos para: a) elaboração de uma teoria pedagógica; b) elaboração de um programa especifico para cada um dos graus de ensino (ibid, p. 18). Percebe o enorme desafio que os autores assumiram, uma vez que, buscaram produzir uma alternativa teórica e apresentar um modelo didático.

    No primeiro capitulo trata do desenvolvimento da educação física no currículo escolar, apontando formas e concepções do trato pedagógico dessa disciplina na escola. Nele “o professor sentir-se a apoiado, no desenvolvimento da sua reflexão, com elementos teóricos sobre a concepção de currículo escolar vinculada a um projeto político pedagógico que destaca a função social da educação física [..]”. (p.18).

    No segundo capitulo os autores constroem uma rápida analise das tendências que “fornece elementos de base para a construção de uma perspectiva pedagógica superadora” (p.56).

    No terceiro capitulo está a parte principal da obra por concentrar esforços para demonstrar como lidar com os conteúdos e as diferentes formas de trabalhá-los dentro dos ciclos de escolarização.

    Na proposta teórico-metodológica do coletivo de autores não há uma seriação nas escolas, mas sim os ciclos de aprendizagem que se estendem da educação infantil ao ensino médio. Sendo “a educação física a disciplina que trata pedagogicamente os elementos da cultura corporal, que expressam um sentido/ significado. No caso da proposta os conteúdos devem ser trabalhados do ponto de vista da classe trabalhadora” (p. 63).

    No ultimo capitulo os autores apontam como deveriam ser a avaliação nas aulas de educação física. “O coletivo de autores não faz uma sistematização completa do seu modelo de avaliação, com métodos e instrumentos. O que traz são apontamentos de como se deve promover uma avaliação com foco na perspectiva critico superadora” (SILVA, 2005, p. 28).

    Rocha Junior fazendo uma síntese da obra diz:

    "O livro pauta-se em fazer uma analise da educação e da educação física, tendo por base a estrutura político- econômica da nação para daí poder apresentar sua proposta pedagógica dentro de uma vertente ideológica eleita pelos autores numa compreensão de que o que acontece na sociedade repete na escola e na educação física”. (2000, p. 13).

    Em contrapartida Teles (2005) coloca que: essa concepção carrega o mérito de ter despertado e firmado a posição pedagógica da educação física escolar, mostrando que nesse espaço, essa disciplina poderia e deveria ter um caráter não apenas pratico, e a serviço dos interesses da sociedade capitalista.

A dança na proposta critico superadora

    No livro a dança é tratada enquanto uma arte que “deve encontrar seus fundamentos na própria vida, concretizando-se numa expressão dela, e não numa produção acrobática” (Strazzacappa, 2002, p. 82). Dessa forma, o movimento oportunizado por essa manifestação cultural possibilita o individuo transcender a simples execução de passos, mas sim valorizando a expressividade do individuo que sofre interferência do meio.

    Uma das dificuldades para o ensino da dança é conciliar a apreensão dos estudantes dos gestos técnicos com a expressividade da representação do contexto de vida dos discentes. Para isso os autores propõe o desenvolvimento paralelo da técnica formal com o pensamento abstrato (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 83).

    Em relação aos desenvolvimentos das habilidades técnicas, sugerem o ensino do: a) ritmo; b) espaços; c) energia. E do conteúdo expressivo: a) as ações da vida diária. B) os estados afetivos; c) as sensações corporais; d) os seres e fenômenos do mundo animal, vegetal e mineral; e) o mundo do trabalho; f) o mundo da escola; g) os problemas sócio-políticos atuais (ibid, 84).

Considerações finais

    A sociedade capitalista é composta por classes divergentes, logo toda ação humana pode possuir interesses diferentes. Uma das formas de perceber essas distintas posições é através das artes, uma vez que, constituem na representação da vida dos seres humanos na sociedade, podendo está contribuindo para o consenso ou para o conflito.

    Uma das manifestações artísticas mais apreciadas desde os primórdios é a dança que inicialmente caracterizava como manifestações coletivas, construídas nas relações dos indivíduos mantiam, com o passar dos anos novos sentidos foram sendo construídos na construção de projetos individualistas.

    A disciplina de educação física na perspectiva da cultura corporal, busca compreender as manifestações corporais dentro de um contexto social, tendo os conteúdos tematizações para que os estudantes tornem sujeitos na construção de sua própria historia.

    A dança como conhecimento a ser pedagogicamente tratado pela educação física, proporcionara na proposta critico-superadora além da apropriação dos elementos técnicos, também a valorização e reflexão a cerca dos conteúdos expressivos que a compõe.

Referencias bibliográficas

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • OLIVEIRA, Vitor Marinho. Consenso e Conflito da Educação Física brasileira. Campinas: Papirus, 1994.

  • ROCHA JUNIOR, Coriolano P. Propostas pedagógicas em educação física: um olhar sobre a cultura corporal. Rio de Janeiro: PPGEF/UFG, 2000.

  • SILVA, Diego Teles. Concepções de Avaliação na Educação Física Escolar. Jequié: UESB, 2005.

  • STRAZZACAPPA, Márcia. Dança na Educação discutindo questões básicas e polemicas. In Pensar a pratica: revista da pós-graduação em educação física. Universidade de Goiás. V. 6, jul-jun, 2002-2003. Goiânia: ed. UFG, 1998.

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