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Vila Olímpica Ary Carvalho: designação 

para atendimentos além do esporte

Villa Olímpica Ary Carvalho: asignación de servicios más allá de los deportes

Olympic Village Ary Carvalho: designation for service beyond sports

 

*Mestrando em Ciência do Movimento Humano

pela Universidad Autónoma de Asunción, PY

**Laboratório de Estudos da Cultura Social Urbana, LECSU

*** Doutorado em Ciência da Motricidade Humana

pela Universidade Técnica de Lisboa, PT

Tibério Costa José Machado* **

tiberiojose@gmail.com

Angelo Vargas** ***

angelo.vargas@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A Vila Olímpica Ary Carvalho é um Projeto Sócio-Esportivo desenvolvido na comunidade da Vila Kennedy e que objetiva proporcionar benefícios no âmbito social, utilizando o esporte como estratégia. Atendendo prioritariamente as camadas carentes da sociedade, o referido projeto buscou o desenvolvimento de alternativas que possam corroborar para o desenvolvimento social de seus participantes, englobando em seu contexto atividades que não possuem ligação com o esporte. Foram utilizados dois recursos metodológicos distintos, pesquisa documental e pesquisa observacional não participante, com intuito de propiciar uma profunda investigação. Os resultados permitem depreender que o Projeto Sócio-Esportivo, Vila Olímpica Ary Carvalho, possui significante função no que diz respeito à oferta de atividades que objetivam o desenvolvimento social de seus participantes, ofertando atividades que transcende o cenário esportivo, mas que corroboram positivamente para esta parcela da população que carece de alternativas e assistência.

          Unitermos: Pobreza. Problemas sociais. Políticas Públicas.

 

Abstract

          The Olympic Village Ary Carvalho is a Socio-Sports Project developed in the community of Vila Kennedy and which aims to provide benefits in the social field, using the sport as a strategy. Given priority to needy parts of society, this project sought to develop alternatives that may concur to the social development of its participants, in their context encompassing activities that are unrelated to the sport. We used two different methodological resources, document research and non-participant observational research, aiming to deepen the investigation. The results allow to conclude that the Socio-Sport Project, Olympic Village Ary Carvalho, has a significant function with regard to the provision of activities that aim at social development of its participants, offering activities beyond the sporting scenario, but positively to corroborate this portion of the population in need of alternative and care.

          Keywords: Poverty. Social problems. Public Policies.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os Projetos Sócio-Esportivos podem ser definidos como iniciativas surgidas na sociedade brasileira na década de 80, com o objetivo de utilizar o esporte como estratégia para afastar a população de comunidades carentes, sobretudo o público jovem, do contato com as situações classificadas como de risco social. Dentre as situações que exprimem risco social podem ser elencadas a violência, o consumo de drogas e a criminalidade, como as ações que alcançaram substancial destaque e necessitaram ser combatidas prioritariamente. Entretanto, com o passar dos anos, os Projetos Sócio-Esportivos ganharam magnitude e consolidação, apresentando formas de aprimoramento e potencialização dos serviços oferecidos. Dentre os meios encontrados, os projetos passaram a objetivar o desenvolvimento de atividades de cunho estritamente social, atendendo assim outros objetivos que são necessários para a sociedade.

Comunidade da Vila Kennedy: o retrato de um intrigante cenário

    A comunidade da Vila Kennedy surgiu no cenário carioca no ano de 1964, em decorrência de uma política de realocação habitacional desenvolvida pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. Esta política caracterizou-se pela remoção de famílias das respectivas regiões da cidade: Favela do Esqueleto, localizada onde atualmente temos a Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, Morro do Pasmado no bairro de Botafogo, Favela da Praia do Pinto na Lagoa e de algumas áreas do bairro de Ramos. Todas as famílias envolvidas no processo de realocação habitacional foram enviadas para uma mesma região na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, originando a localidade nomeada como Vila Kennedy. Entretanto, com o passar dos anos esta região apresentou significativo crescimento populacional e uma lacuna foi deixada pelo Poder Público no que tange a oferta dos serviços públicos. Estabelecendo como parâmetros dados extra-oficiais, obtidos pela Associação de Moradores da Vila Kennedy – AMOVIK, atualmente vivem no “Complexo da Vila Kennedy” cerca de 120 mil moradores, distribuídos em dezesseis comunidades: Metral, Estrada Sargento Miguel Filho, Favela do Quiabo, Vila Progresso, Estrada da Saudade, Estrada Guandu do Sena, Rua Congo, Alto Kennedy, Barrão, Jardim do Éden, Manilha, Malvinas, Conjunto Sociólogo Betinho, Conjunto Antônio Gonçalves, Quafá e Castor de Andrade III. As comunidades enunciadas encontram-se no entorno da comunidade da Vila Kennedy e sua origem é oriunda do aumento demográfico da região. (Figura I).

Figura I. Disposição gráfica da Comunidade da Vila Kennedy e subdivisões componentes da região

    Segundo dados do ano de 2000, do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que é uma medida criada com a finalidade classificar regiões tendo como parâmetros três indicadores sociais, o bairro de Bangu e por conseqüência a comunidade da Vila Kennedy, apresentou baixa classificação, ocupando a 96º posição entre os bairros da cidade. Utilizando como parâmetro o Índice de Desenvolvimento Social – IDS, outra medida classificatória de regiões que utiliza como parâmetro dez indicadores sociais, novamente o bairro de Bangu apresenta uma baixa classificação. Com base no IDS de 2000, o bairro de Bangu obteve a 125º posição entre todos os bairros da cidade do Rio de Janeiro.

    As referidas classificações corroboram para o entendimento do contexto social apresentado na região, que exprimiu como característica o crescimento e desenvolvimento do processo de favelização, fato que denotou a ausência de atuação do Poder Público e que leva os residentes a uma situação considerada como de exclusão social, além de propiciar espaço para o desenvolvimento de atividades que podem expor os residentes a possíveis riscos.

Atuação do poder público

    Em concordância com o ex chefe de Polícia Civil da Cidade do Rio de Janeiro no ano de 1995, em entrevista para o documentário “Notícias de uma guerra particular”, que retratou a violência e a realidade do tráfico de drogas na cidade do Rio de Janeiro de três diferentes pontos de vista: ótica do morador de comunidade, do policial e do traficante, estes locais podem ser denominados como locais com características fidedignas de exclusão social, pois receberam pouca ou nenhuma assistência do Estado, sofrendo com a falta de acesso a bens e serviços, à segurança, à justiça, à cidadania. Sposati (1998) definiu a exclusão social como o não direito a cidadania, que segundo Ferreira (1993) é o direito de ter direito. Logo o cidadão que não possui esse direto, que não possui cidadania, pode ser considerado um excluído, podendo estar em situação de risco social. Le Breton (1995) depreendeu que a situação de risco social apresenta como característica a ocorrência de momentos onde o indivíduo encontra-se envolvido com situações como freqüentes em acidentes de trânsito, suicídios e tentativas de suicídios, fugas do meio familiar e afastamento das instituições de socialização primária, envolvimento na delinqüência, alcoolismo e uso de drogas e problemas de comportamento alimentar. Os jovens estão mais suscetíveis e vulneráveis aos problemas enunciados.

    Como abordado, os jovens possuem maior característica de vulnerabilidade de envolvimento com os problemas classificados como de risco social, em decorrência de encontrarem-se na fase de formação, desenvolvimento e amadurecimento biológico, que objetiva adequação e adaptação ao meio físico e social. De acordo com os postulados filosóficos de Marx e Engels (1848), o Homem figurou como produto do meio social, sofrendo as circunstâncias e interveniências presentes. este argumento favoreceu a compreensão de que esta mesma casuística atinja os mais jovens, quando expostos a situações de risco social, já que encontram-se em processo de formação e de criação de uma identidade. Vargas (2002) corroborou inferindo que os mais jovens acabam por reproduzir os atos, gestos e ações presenciadas em seu cotidiano e ambiente de convívio.

    Com finalidade de retratar o cenário encontrado na comunidade da Vila Kennedy durante a realização dos estudos, tornou-se possível asseverar que outros problemas foram encontrados na região. Importa ressaltar que outras dezesseis comunidades localizadas na cercania da comunidade da Vila Kennedy, apresentam os mesmos problemas. Importa ressaltar que estas comunidades formam um complexo, haja vista a proximidade existente entre as localidades.

    Como forma de combate a todos os problemas apresentados, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2003, inaugurou na comunidade da Vila Kennedy um Projeto Sócio-Esportivo intitulado Vila Olímpica Ary Carvalho, onde o objetivo preponderante centrou-se em promover a transformação social através de esporte. A nomenclatura do projeto, ocorreu em homenagem ao jornalista Ary Carvalho, falecido no mesmo ano.

    Com objetivo de apresentar a Vila Olímpica Ary Carvalho, tornou-se possível depreender que na atualidade, de acordo com informações da Secretária do Projeto Sócio-Esportivo, a Vila Olímpica Ary Carvalho atende aproximadamente dois mil indivíduos, oriundos da comunidade da Vila Kennedy, demais comunidades da região e bairros vizinhos, ofertando vinte e duas modalidades esportivas: futebol de campo, futebol society, futsal, natação, hidroginástica, pólo aquático, atletismo, karatê, judô, taekwondo, capoeira, dança do ventre, step, alongamento, ginástica, iniciação desportiva, voleibol, basquetebol, handebol, tchoukball, badminton e hóquei sobre grama. Todas as atividades são ministradas gratuitamente e na própria Vila Olímpica.

    Além disso, a Vila Olímpica Ary Carvalho, seguiu um modelo de gestão e funcionamento padronizado pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer - SMEL. Neste modelo de política pública, caracterizou-se por apresentar como objetivo promover a formação de uma juventude com valores morais e assim retirá-los do contato com a violência e a criminalidade, sendo assim uma ação do governamental nos locais considerados de risco social. Indícios indicaram que esta política alcançou substancial destaque, com bons resultados no âmbito sócio-esportivo.

    Para instalação deste tipo de Projeto Sócio-Esportivo, foram escolhidos locais que apresentaram em seu contexto social baixo índice de IDH e características de risco social. Sendo assim o público carente tornou-se o principal alvo a ser atendido, entretanto outras classes sociais também podem ser beneficiadas. Além destes aspectos, outros pontos são observados para implementação do projeto em uma determinada comunidade, assim como foi mo caso da comunidade da Vila Kennedy, como viabilidade técnica de construção, comprometimento da comunidade com o projeto, densidade demográfica da região estudada, facilidade de acesso, circulação e impacto econômico.

    Desta forma, o presente estudo objetivou investigar a ocorrência de atividades que sejam destinadas ao desenvolvimento social dos participantes, já que a promoção social configurou-se como um dos objetivos do Projeto Sócio-Esportivo, Vila Olímpica Ary Carvalho.

Metodologia

    Utilizou-se no estudo duas abordagens metodológicas distintas. O primeiro modelo empregado foi a pesquisa documental, que segundo Rampazzo (2005) caracteriza-se pela utilização de documentos de fonte primária, podendo ser estes arquivos, fontes estatísticas e fontes não-escritas. Além disso, este recurso metodológico possibilita a utilização de fonte rica e estável de dados, que são os documentos. Com intuito de aprofundar as investigações, empregou-se um segundo recurso metodológico denominado pesquisa observacional não participante, que se caracteriza pelo pesquisador assumir o papel de espectador do contexto, não ocorrendo interação do pesquisador e o contexto investigado. Este afastamento do pesquisador ocorre com finalidade de não interferir ou influenciar os acontecimentos. Além disso, este método propiciou observar as ocorrências na Vila Olímpica Ary Carvalho, sem a influência de pessoas ligadas ao Projeto Sócio-Esportivo.

Resultados

    Neste capítulo serão apresentados os achados que possuem relevância com o objetivo do estudo.

    Durante as investigações, tornou-se possível compreender o desenvolvimento de atividades com objetivos sociais e que não apresentaram ligação com o âmbito esportivo. Todas as atividades são realizadas na própria Vila olímpica Ary Carvalho e contaram ou não com o apoio de outras Instituições.

    Na apresentação dos resultados os achados foram divididos em dois grupos: atividades com cunho social e que possuem apoio de outras Instituições e atividades com cunho social e que são desenvolvidas e mantidas pela Administração da Vila Olímpica Ary Carvalho.

Atividades com cunho social desenvolvidas pela Vila Olímpica Ary Carvalho em parceria com outras Instituições

Atividades com cunho social desenvolvidas somente pela Vila Olímpica Ary Carvalho

Discussão

    Contijo e Medeiros (2009) e Polleto, Koller e Dell'Aglio (2009) ressaltaram a importância de se atentar ao ambiente de inserção de um indivíduo, em decorrência da influência que pode ser exercida, sobretudo quando encontramos a presença do público infanto-juvenil. Bronfenbrenner (1992), Krebs (1997) e Vargas (2002) depreenderam que o contexto social de inserção de um determinado indivíduo apresenta substancial importância através da influência exercida na sua formação, podendo este indivíduo refletir características positivas e negativas presentes e vivenciadas ao longo de sua vida. Estes argumentos concorrem por favorecer o entendimento de importância assumido pelos Projetos Sócio-Esportivos.

    Morais (2006) inferiu que regiões com as peculiaridades semelhantes a comunidade da Vila Kennedy, apresentam em seu cenário situações que podem ser consideradas de magnitude prejudicial aos jovens, prioritariamente. Para Naiff e Naiff (2005) e Ferreira (2006) estes locais caracterizaram-se pela ocorrência de ausência do Poder Público e pobreza, além de promoverem a exposição principalmente dos jovens a situações classificadas como de risco social.

    Ribeiro e Lago (2001) asseveram que as favelas da zona oeste da Cidade do Rio de Janeiro, possuem um percentual maior jovem em sua composição demográfica do que as demais favelas localizadas ao longo da cidade, fato que faz da presente região, uma local que necessita atenção por parte do Poder Público. Vargas (2002) corroborou apresentando que a maioria dos meninos de ruas investigados em seu estudo eram oriundos da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, sendo um indivíduo oriundo da comunidade da Vila Kennedy. Os relatos apresentados favoreceram a compreensão da função assumida pela Vila Olímpica Ary Carvalho no cenário da comunidade da Vila Kennedy e demais regiões do entorno, efetivando-se principalmente no combate a ociosidade, que pode promover ou tornar maiores as chances de envolvimento com situações classificadas como de risco social, assim como abordaram Lopes et. AL. (2008) e Cheluchinhak e Cavichiolli (2010).

    Para Vianna e Lovisolo (2009) e Backes et. al. (2009) o esporte pode ser entendido como uma substancial estratégia quando o assunto é o alcance da inclusão social. Este argumento favoreceu ao entendimento do esforço realizado pela administração do Projeto Sócio-Esportivo em ofertar atividades outras atividades e assim auxiliar na realização deste processo de inclusão do indivíduo na sociedade. Demo (2005) inferiu que existe a necessidade da inclusão digital para o público de baixa renda, assim como um dos programas implementados pela Vila Olímpica Ary Carvalho.

    Outro fator relevante atribuído ao esporte na esfera dos Projetos Sócio-Esportivos foi apresentado por Dória e Tubino (2006), onde os resultando apontaram que uma determinada ação desta magnitude contribuiu positivamente no que tange a percepção de cidadania dos envolvidos.

    Machado, Dória e Vargas (2011), depreenderam que os Projetos Sócio-Esportivos cresceram na sociedade, concomitantemente ao crescimento dos problemas sociais, sendo na atualidade uma realidade cidade do Rio de Janeiro e com substancial potencial de expansão, fato que remeteu a execução da determinação promulgada através do Artigo 217 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Conclusão

    Os achados do estudo permitem depreender que o Projeto Sócio-Esportivo, Vila Olímpica Ary Carvalho, objetiva proporcionar benefícios, além dos proporcionados pelo esporte, através do desenvolvimento de atividades que não possuem ligação com o esporte, entretanto apresentam significativa relevância social, sobretudo para formação do cidadão. Além disso, a oferta de outros serviços pode representar uma forma de suprir as lacunas existentes nesta localidade, que pelo contexto social apresentado, padeceu com a falta de assistência por parte do Poder Público.

    O desenvolvimento de programas em parceria com outras Instituições representa um esforço coletivo, com o objetivo de auxiliar esta parcela da população que se encontra carente de alternativas. Além disso, esses esforços podem possibilitar uma maior demanda de atendimento e desenvolvimento de um universo que não se restringe ao âmbito esportivo.

    Desta forma, sugere-se o desenvolvimento de novas investigações acerca da temática relacionada aos Projetos Sócio-Esportivos com a finalidade de compreender a forma com que os mesmo estão sendo desenvolvidos, além de compreender suas designações na sociedade contemporânea.

Referências

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