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Relação do uso do protetor bucal e traumatismo 

dental durante a prática esportiva: revisão de literatura

Relación del uso del protector bucal y traumatismo dental durante la práctica deportiva: revisión de la literatura

 

*Acadêmica do Curso de Odontologia SOEBRÁS/FUNORTE

Bolsista de Iniciação Científica. Montes Claros, MG

**Professor Titular dos Cursos de Odontologia

e Fonoaudiologia SOEBRÁS/FUNORTE. Montes Claros, MG

***Acadêmicas do Curso de Odontologia

SOEBRÁS/FUNORTE. Montes Claros

Jéssica Camila Santos Silveira*

Daniel Antunes Freitas**

Stephany Ketllin Mendes Oliveira***

Mayane Moura Pereira***

danielmestradounincor@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho foi direcionado à realização de uma revisão de literatura sobre protetores bucais e a sua relação com traumatismo dental, enfatizando a importância do seu uso, durante a prática de esportes de contato e movimentos, como prevenção a injúrias traumáticas a estruturas bucais. As práticas esportivas estão cada vez mais envolvidas no cotidiano das pessoas, aumentando assim significantemente os tipos de modalidades e a quantidade de atletas envolvidos nas últimas décadas, expondo a essa população, traumas nos tecidos bucais e peribucais. A utilização deste dispositivo bucal individual oferece proteção física, proporcionando confiança ao atleta durante a realização da prática esportiva. Além disso, a maioria deles é confortável e apresenta compatibilidade fisiológica com os tecidos, não prejudicando a fala e nem a respiração. A literatura demonstrou que o uso de protetores bucais na prática regular de esportes reduz em média 60 vezes a severidade, gravidade, extensão e o número de casos de acidentes registrados.

          Unitermos: Protetores bucal. Traumatismo dental. Prática esportiva.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introduçâo

    O traumatismo dental é um conjunto de acidentes ocasionados pelas feridas e contusões, que causam em perdas de uma ou várias estruturas bucais, como os elementos dentários completa ou parcialmente. Esse evento tem maior incidência em praticantes de esportes e/ou alunos do curso de educação física, seja de qualquer modalidade e o praticante de qualquer idade. Acredita-se que entre 4% a 30% da população já sofreu ou sofre com isso. Além de ser um dos principais fatores etiológico de injúrias orofaciais, sendo um crescente problema de saúde pública, deve ser considerado também o alto impacto emocional e físico, por se tratar de uma experiência dramática e às vezes irreparável, potencializando uma interferência negativa nas relações sociais. A perda ou fratura dos dentes anteriores é o problema dental que provoca maior impacto emocional e constitui uma experiência dramática para todos, podendo ser um fator direto de futuros problemas psicológicos e desvios de comportamento (CHELOTTI, VALENTIM, 1988).

    Existe uma particularidade que difere o traumatismo dental no esporte daquele ocorrido em outras áreas, que é a possibilidade de prevenção, reduzindo ou até mesmo impedindo o número e a severidade das lesões nessas estruturas, segundo SANE e YLIPAAVALNIEM (1988). Medidas preventivas ganharam popularidade considerável durante a última década, refletindo uma tentativa de reduzir a quantidade de traumatismos conforme Andreasen e Andreasen (2001).

    O uso de dispositivos de proteção bucal individual, os protetores bucais, durante as práticas de esportes, tem sido destacado como um tipo de prevenção mais indicado para os traumatismos dentais, pois oferecem proteção as estruturas dentais e periodontais, segundo Heintz (1968) e Fitzner (1979) apud Ferrari (2000). Deve-se considerar que a incidência de traumatismos dentais só diminui com o uso, e mesmo assim de maneira correta e adequada desses dispositivos, além de acompanhamento periódico com um cirurgião-dentista. A literatura atual situa que há uma perda de cinco milhões de dentes por ano devido a práticas de esportes sem protetores bucais.

    Os traumas dentais ocorridos no ato esportivo representam o terceiro atendimento mais procurado relacionado a traumas de face, segundo Gurgel (2005) e Andreasen (1984). Ferrari et al (2000) afirma que o aumento da parcela de praticantes de atividades físicas, principalmente as de maior contato, e também da competitividade, elevou conseqüentemente a um aumento na quantidade de acidentes traumáticos no esporte.

    Este trabalho objetiva, por meio de revisão de literatura, discorrer sobre o uso de protetores bucais durante a prática esportiva, assim como seus efeitos na prevenção de traumatismos dentais.

Metodologia

    Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, em bases de dados eletrônicos (PubMed, SciELO e LILACS), a respeito do uso de protetores bucais como prevenção de traumatismos dentais, incluindo artigos publicados em periódicos da literatura nacional e internacional e livros da última década (2000 a 2010), que corresponde a 72% de todos já publicados, devido à carência de dados sobre o comportamento desse assunto. Dissertações, teses, trabalhos de conclusão de curso, anais de congressos, documentos eletrônicos e materiais não publicados não foram considerados nessa pesquisa.

    Hoje já se sabe que a prática de esportes é benéfica à saúde humana. Essa maneira de atividade física é, no entanto, um dos principais fatores etiológicos de injúrias orofaciais. Tais lesões podem gerar traumatismos dentários irreversíveis e até impactos emocionais, por diversos motivos, como uma possível experiência dramática para os envolvidos. Pesquisas revelam que o rendimento esportivo do atleta diminui em 22% em razão de distúrbios na saúde bucal (CARVALHO et al. 2007).

    O traumatismo dental é considerado uma situação de urgência odontológica, já que nesses casos os dentes sofreram fortes choques. Representam cerca de 14% a 39% dos traumas que ocorrem durante práticas de esportes (Sane e Ylipaavalniemi, 1988), momento de maior incidência, e resultam na perda de estruturas bucais, constituindo-se como um problema de saúde pública em nossa sociedade, assim atingindo uma considerável parcela da população, visto que hoje há uma maior busca por exercícios físicos, ocasionando em uma ou várias perdas dentais, irreparáveis em alguns casos, tanto no momento do acidente como no decorrer do tratamento, ou até mesmo anos após, devido às seqüelas. Diversos trabalhos indicam que os índices de traumatismos em esportes são altos, variando com o esporte praticado, e superior se comparado ao índice global da população segundo Andreasen (1994), Sane e Ylipaavalniemi (1988). De acordo com Galeia (1984) apud Campos et al (2006), o sexo masculino é acometido três vezes mais que o feminino e a faixa etária mais freqüentemente envolvida é a que compreende de 07 a 11 anos.

    A prevenção dessas injúrias é um objetivo constante na prática da odontologia. A ocorrência dessas injúrias é uma conseqüência comum nos esportes, principalmente os de contato físico, que geram impactos de maneira direta ou indireta à região bucal, e por freqüentemente os atletas negligenciarem um possível aconselhamento ou atendimento de um cirurgião-dentista, que atua em equipes multidisciplinares. Os traumatismos dentais ocasionados no esporte possuem uma particularidade, pois podem ser prevenidos, diferentes de outros traumatismos, havendo a possibilidade de reduzir consideravelmente a incidência de sua ocorrência a partir do surgimento e instalação de dispositivos bucais individuais, além de diminuir a extensão e a gravidade das lesões, um ganho considerável.

    Uma grande porcentagem desses praticantes de esportes está sujeita a sofrer lesões em tecidos moles, como cortes nos lábios, bochechas e língua, bem como em tecidos duros, como fraturas dentárias e ósseas, como da face e, mais seriamente, em danos cerebrais e em regiões de pescoço, segundo Rood, Chesham (1997). Conforme a National Youth Sports Foundation, é estimada devido às práticas esportivas, em geral, a perda de cinco milhões de dentes ao ano; este tipo de trauma representa o terceiro atendimento mais procurado relacionado a traumas na face, resultando na perda de elementos dentários imediata ao acidente ou tardia devido a complicações posteriores de outras estruturas bucais que foram envolvidas. Contudo, apenas uma pequena parcela de praticantes de esportes é informada e/ou esclarecida quanto à importância do uso dos dispositivos, os protetores bucais, e onde adquiri-los, visto que esse assunto ainda é pouco divulgado ou até mesmo ignorado.

    Em muitos países, há uma enorme preocupação com os riscos que esportistas estão expostos durante treinamentos e competições. Por esse motivo, há uma grande busca através de levantamentos epidemiológicos sobre esse tema e com isso criam e estabelecem métodos preventivos. Em um estudo divulgando um levantamento nos Estados Unidos recentemente, estimou-se que por volta de 150.000 lesões traumáticas aos componentes da boca são prevenidas através do uso dos protetores bucais durante a prática esportiva.

    Já em outro estudo publicado pela American Dental Association (ADA), aproximadamente 200 mil traumas são evitados por ano devido ao uso de protetores bucais, não só nos momentos da competição, mas também nos períodos de treinamento.

    Também já foi relatado que todo atleta em atividade esportiva de contato físico tem 60 vezes mais chance de sofrer lesão facial durante essa prática se estiver sem o uso do protetor bucal, dispositivo esse, que na grande maioria dos casos, evita ou minimiza os efeitos de um possível trauma (RANALLI, 1995; RIBEIRO, et al 2002). Segundo Sequeira (2005) este equipamento funciona como almofadas distribuindo as forças durante o acidente, prevenindo, assim lacerações e equimose dos lábios e bochechas durante o impacto, protegendo as estruturas dentais e periodontais.

    Na literatura, são descritas as principais funções dos protetores bucais, não somente para os dentes, mas para toda região orofacial. Funções como manter os tecidos moles afastados dos dentes, amortecerem golpes frontais diretos contra os dentes anteriores absorvendo os impactos e redistribuindo suas forças por todo o maxilar evitando danos, segundo a AMERICAN DENTAL ASSOCIATION. Evitar e/ou prevenir distúrbios na ATM e danos internos no cérebro considerados mais sérios, estabilizar fraturas ósseas e dentes avulsionados, sustentar dentes, fazendo a prevenção de possíveis fraturas e a deglutição ou inalação acidental de algum fragmento, também são citados; e, com certeza estabelecer vantagens psicológicas, assim elevando a confiança e desempenho do atleta, em aproximadamente 30%. Há uma recuperação da confiança do atleta com o uso de protetores bucais na prática de esportes, segundo Ribeiro et al. (2002).

    De acordo com a ‘National Youth Sports Foundation’ (NYSF), os praticantes de esportes de contato tem cerca de 10% a mais de possibilidade de sofrer lesões orofaciais durante uma competição esportiva, sendo de 33% a 56% durante toda a sua carreira.

    Nos EUA, a ‘Academy For Sports Dentistry’ listou 40 esportes aos quais o protetor bucal seria vantajoso aos seus praticantes. Dentre eles, boxe, basquetebol, handebol, artes marciais em geral, hóquei na grama e no gelo, futebol americano, rugby entre outros. (PADILLA et al. 1996). Em confronto, Oliveira e Lemos (2007) relatam que mesmo em esportes sem confronto direto, não implicando em contato corporal e tendo os menores índices de prejuízos esportivos, como a canoagem, em decorrência dos problemas bucais não devem ser ignorado o uso de protetores bucais.

    A AMERICAN DENTAL ASSOCIATION apud GURGEL, em 1984, recomenda que durante a fabricação do protetor bucal deve ser levado em consideração alguns critérios como adaptação, retenção e estabilidade do material. Depois de confeccionado deve interferir o mínimo possível na fala e na respiração, ser confortável, resistente, sem odor, sem gosto, ter excelente ajuste, ser de fácil limpeza e de espessura suficiente em áreas críticas.

    POWERS et al (1984) descreveram as características dos protetores bucais recomendadas pela ‘Americam Society for Testing Materials’ (ASTM) que sugeriam que os protetores fossem confeccionados de material resistente, recobrindo todos os dentes, de preferência para serem utilizados na maxila, além de serem confortáveis e não atrapalhar na fala nem na respiração (GUEVARA e RANALLI, 1991; JOHNSEN e WINTERS, 1991).

    Existem vários tipo de protetores bucais, os mais conhecidos e usados são os do tipo I, II, III e IV. O protetor do tipo I é pré-fabricado, de estoque, que tem como objetivo oferecer proteção limitada pelo fato de não possuir adaptação, e assim não interfere na fala e ou respiração de seus usuários. Geralmente são encontrados em tamanho padrão, confeccionados em borracha ou algum material plástico e podem ser encontrados em lojas de artigos esportivos. O tipo II é o protetor pré-fabricado termoplástico, considerado melhor que o tipo I, porém não estabelece uma ideal retenção, já que sem qualquer orientação profissional, pois é plastificado em água aquecida e adaptado aos dentes e mucosa pelo próprio usuário. Se cuidadosamente forem ajustados, favorecem a um razoável ajuste. Tanto o protetor do tipo I e do tipo II não garante uma satisfatória adaptação, não exercendo assim, sua função fundamental: proteção. Já o tipo III é o protetor individualizado ou considerado personalizado confeccionado exclusivamente pelo cirurgião-dentista por meio de um modelo de gesso em um aparelho a vácuo, e diante disso oferece melhor adaptação e proteção superior. Esse tipo de protetor é usado na região superior, pois são os dentes mais atingidos, mas em usuários de aparelhos fixos é colocado nas duas arcadas, pois disponibilidade a ferimentos é maior. Muitos estudos mostram que esse tipo é o mais confortável, pois existe uma maior adaptação e retenção, melhor distribuindo as forças do impacto e proporcionando maior segurança ao usuário (ANDREASEN e ANDREASEN, 2001; CANTO et al, 1999). Existe ainda um tipo semelhante confeccionado em varias camadas, classificado como tipo IV, os personalizados laminados, podem ser feitos por cirurgiões-dentistas ou em laboratórios especializados, com confecção semelhante a do anterior, porém com equipamento pressurizado. Por ser de custo elevado é ainda pouco utilizado aqui no Brasil além da baixa divulgação e conscientização dos prováveis usuários. (RANALLI 1995; RIBEIRO et. al. 2002).

    Em um estudo publicado por Yamada et al. (1998) apontou 32,3% de ocorrência de traumatismos bucais no esporte, sendo que apenas 0,8% ocorreram em atletas que usam o protetor bucal.

    No Brasil, ainda é bastante ignorada a área da Odontologia direcionada ao esporte, esquecendo o cirurgião-dentista, que pode ser considerado um dos ou até mesmo o principal responsável em prevenir as lesões bucais, em virtude de considerações estéticas, funcionais, psicológicas e econômicas que tais danos acarretam (RODD, CHESHAM, 1997). Por haver essa necessidade constante de estudos nessa modalidade surgiu a ‘odontologia desportiva’, que visa o tratamento e prevenção de traumas originados de práticas esportivas, segundo Ferreira (1998). A odontologia desportiva segundo Carvalho et al (2007), é aquela na qual o profissional dentista atua em uma equipe multidisciplinar, visando contribuir para o quadro geral de saúde do atleta proporcionando-lhe melhor desempenho em suas atividades. A função do odontólogo em uma equipe esportiva é segundo Sequeira (2005), garantir uma excelente saúde bucal ao desportista, detectando fatores prejudiciais a ele, como: respiração bucal, posicionamento de dentes de forma inadequada e administração de medicamentos com substâncias impróprias. Há o esquecimento desses profissionais, que pode ser justificado pela escassez de conhecimentos, ou oportunidade de até mesmo o profissional requerer e ocupar seu espaço, bem como de fazer orientações aos seus próprios pacientes que são praticantes de esportes. Assim mesmo, destaca-se a importância dos educadores físicos na divulgação e incentivo ao conhecimento desse assunto.

    Sequeira (2005) destaca-se a importância da conscientização do praticante frente ao uso do protetor bucal durante treinamentos ou mesmo competições, baseado na Academia Americana de Odontologia Desportiva, mostra que esse aparelhos diminuem cerca de 80% o risco de trauma.

    Por isso evidencia-se a inclusão dos dispositivos de proteção individual bucal, os protetores, independente do tipo a ser usado, durante toda atividade física, através da divulgação, incentivos e imposições dos vários profissionais de diferentes áreas para reduzir drasticamente a ocorrência de conseqüências traumáticas em acidentes durante a prática de esportes.

Considerações finais

    Nota-se que atualmente, com o aumento da competitividade entres atletas dos diversos esportes tem ficado cada vez mais acirrada. A procura incansável por patrocinadores e superação do próprio atleta, estabelece um ritmo de treinamento muito intenso. A ânsia por destaque no esporte tem ocasionado a alguns atletas vários tipos de trauma. Essas injúrias uma vez associados à face são na maioria das vezes traumas que envolvem a integridade bucal, como fraturas coronárias, lacerações labiais, lesões de tecidos moles e fraturas ósseas já foram bastante descritas por acontecem com mais frequência sem o uso de proteção adequada. Dependendo do empenho e estágio de treinamento que o atleta estiver, acidentes como estes podem ocasionar um desgaste mental dificultando consideravelmente seu desempenho e sua conquista diante as disputas.

    Porem, o uso apenas do protetor bucal em si, não soluciona o problema de todos os atletas, leis sobre como usar e sua maneira de confecção têm sido atualizado para que haja uma padronização, como a classificação de acordo com a evolução do artefato: I, II, III e IV, onde o protetor do tipo III que é aquele confeccionado pelo próprio cirurgião dentista é o mais eficaz e ainda sendo o menos usado.

    Diante todas as informações que foram disponibilizadas nesse trabalho, podemos falar que o uso de protetores bucais nos esportes de contato é mais do que essencial, entretanto os traumas aparecem em qualquer disputa.

    Após a revisão acima pesquisada, chega-se a um desfecho que nos esportes não obrigatórios, fica a critério do atleta o uso ou não do protetor bucal, sabendo que, com o uso, a prevenção de seqüelas dos possíveis traumas é bastante efetiva.

    Necessita-se da execução de uma ampla divulgação dos protetores bucais para que haja a sua aceitação, de todos inclusive dos atletas.

    Por fim, estima-se que esta revisão literária forneça um bom embasamento para novos estudos relacionados a essa temática e auxilie na amenização da carência literária existente em torno desse assunto.

Referências bibliográficas

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