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Estudo do fenômeno do regresso de 

ex-atletas sul-mineiros de futebol do exterior

Estudio del fenómeno del regreso del exterior de ex-jugadores del fútbol del sur de Minas Gerais

 

FUPAC

(Brasil)

Leonardo Paul Ribeiro de Freitas

leonardoedfis@yahoo.com.br

João Rezende da Costa Neto

netounipac@hotmail.com

Ronan Martins Cardoso

rmc_0103@hotmail.com

Maria Paula Pereira Ferreira

mpaulapf@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Todos os anos, centenas de jovens jogadores deixam o Brasil, seduzidos pelo futebol estrangeiro, retornando pouco tempo depois, seja por não conseguir se adaptar ao exterior ou outro motivo. O presente estudo teve o propósito de esclarecer quais os verdadeiros problemas que foram encontrados por ex-atletas de futebol que atuaram no exterior. Os dados foram colhidos por pesquisa quantitativa, por meio de questionário, aplicado em dez ex-atletas sul-mineiros de futebol que tiveram experiência no exterior, seja como jogador profissional ou amador, mensurados em gráficos através de porcentagem simples e apontam que os principais problemas que influenciam na adaptação são a falta de familiares e ou amigos, a discriminação sofrida e a dificuldade de comunicação. O fator psicológico possui um enorme peso quanto à adaptação em meio a uma nova cultura. Mesmo com a globalização muito difundida, o que auxilia no processo de adaptação cultural, a presença familiar ou de amigos íntimos é peça fundamental na obtenção do apoio necessário ao atleta que planeja seguir carreira no exterior.

          Unitermos: Futebol. Exterior. Retorno. Transtornos de adaptação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Percebe-se que nas ultimas décadas, o Brasil tornou-se um enorme exportador de matéria prima para o futebol mundial. Jovens jogadores saem do clube de formação ao completarem 18 anos e partem para a Europa e outros centros futebolísticos sem ao menos serem reconhecidos pelos torcedores brasileiros enquanto atuam no país. Casos como o de Kevin Dennis Kurányi, centro-avante do Dínamo de Moscou, que deixou o Rio de Janeiro aos 15 anos e foi contratado pelo Stuttgart, tendo inclusive se naturalizado alemão para jogar pela Seleção Alemã.

    Segundo ZAGO (2008), bacharel em Educação Física pela UNICAMP e colunista do site www.futeboltatico.com, em 2007, mais de mil jovens jogadores rumaram para o exterior – um aumento de 25% em comparação ao mesmo período de 2006 – durante as janelas de transferências, que estão em vigor desde a temporada 2004, sendo instaurada pela CBF por pressão da mídia, do público e dos próprios clubes pelo prejuízo técnico causado por essas saídas.

    Segundo Caetano e Rodrigues (2009), as conquistas das Copas do Mundo de 1994 e 2002, juntamente com as alterações inseridas no futebol, valorizaram bastante os jogadores brasileiros em geral. A Tabela 1 traz o número de transferências registradas de jogadores brasileiros, exercidas por país desde 2003, apontando Portugal, Japão e Itália como os maiores consumidores de talentos brasileiros.

Figura 1. Número de transferências de jogadores brasileiros (2003 – 2008)

 

Tabela 1. 20 Países que mais importaram jogadores brasileiros (2003 – 2008)

    Contudo, também existe um aumento da porcentagem de regresso desses atletas. Seja por falta de adaptação à cultura estrangeira, por falta de visibilidade ou para encerrar a carreira. A Tabela 2 mostra a diferença entre o número de jogadores que se transferem para o exterior em relação aos que retornam ao país.

Tabela 2. Diferença entre saídas e retornos dos jogadores brasileiros (2005 – 2008)

    Com relação ao retorno, Portugal e Japão também lideram como os países com o maior número de regresso, seguido por Alemanha. A Tabela 3 mostra quais são os países com maior relação de retorno de jogadores brasileiros.

Tabela 3. Retorno de jogadores brasileiros por país (2005 – 2008)

    Percebe-se na Tabela 3, a inclusão de países que não estão presentes entre os 20 maiores exportadores de jogadores brasileiros, como Arábia Saudita e Polônia.

    O presente estudo teve o propósito de esclarecer quais os verdadeiros problemas que foram encontrados por ex-atletas de futebol que atuaram no exterior.

Metodologia

    Como método de investigação, foi utilizada a pesquisa de campo, de forma quantitativa. Participaram deste estudo dez ex-atletas de futebol, residentes em Itajubá, Maria da Fé, Piranguçu e Santa Rita do Sapucaí, que tiveram a oportunidade de atuar no exterior. Destes, três atuaram como profissionais e sete aturam como amadores, intercalando o futebol com outros trabalhos. O período de vivência no exterior variou de seis meses a um ano e nove meses. Todos os entrevistados chegaram a viver no exterior por um período sem a presença de familiares e amigos íntimos. Para detectar os principais problemas encontrados por jogadores brasileiros de futebol no exterior, foi aplicado um questionário simples, claro e objetivo, com o intuito de apontar quais as maiores dificuldades encontradas durante a vivência no exterior. Os dados foram mensurados em planilha do Microsoft Excel e os gráficos foram confeccionados com auxílio do Microsoft PowerPoint.

Resultados e discussões

    Como procedimento para aquisição de dados, foi proposto um questionário simples, claro e objetivo, com alternativas pré-definidas, com o propósito de analisar a opinião dos entrevistados sobre os principais fatores que dificultam a adaptação no exterior.

    Com posse dos questionários respondidos foi realizada a análise dos dados obtidos nas respostas e os resultados serão apresentados nos gráficos a seguir.

Gráfico 1. Fatores que apresentam maior dificuldade de adaptação em um país estrangeiro

    De acordo com os resultados acima, observa-se que 40% dos entrevistados apontaram a discriminação ou desconfiança como principal obstáculo no exterior. Tal resultado vai de acordo com Oliveira (1998), que apontou que os tratamentos distintos entre nativos e estrangeiros são óbvios e estão presentes todo momento, não somente no trabalho, mas de uma forma geral, em toda a sociedade.

Gráfico 2. Aspectos culturais que apresentam maior dificuldade de adaptação

    De acordo com os resultados acima, observa-se que 50% dos entrevistados apontaram a religião como aspecto cultural de maior dificuldade de adaptação. Segundo Epelboim (2006), as diferenças entre as religiões são motivadas pelas emoções, que por sua vez são as principais sustentadoras da fé. O questionamento dos princípios adotados pode ser interpretado, pelos seguidores da crença religiosa, como desrespeito à sua religião.

Gráfico 3. Presença de familiares ou amigos íntimos como fator facilitador de adaptação no exterior

    Os resultados acima indicam que 100% dos entrevistados concordam que a presença de familiares e ou amigos íntimos facilitaria a adaptação no exterior. Para Carvalho e Almeida (2003), a família é apontada como elemento-chave não apenas para a "sobrevivência" dos indivíduos, mas também para a proteção e a socialização de seus componentes.

Gráfico 4. Relacionamento com demais jogadores

    Os resultados obtidos apontam que 70% dos entrevistados julgavam ter um bom relacionamento com dos demais jogadores. Carvalho e Trevisan (2004) afirmam que ter consciência da diversidade cultural possibilita respeito e consideração às diferenças, favorecendo assim, o estabelecimento de relações de trabalho mais flexíveis e inovadoras e contribuindo para o desenvolvimento da organização.

Gráfico 5. O relacionamento com os demais atletas influencia na adaptação ao exterior?

    Os resultados acima indicam que 80% dos entrevistados concordam que o relacionamento com os demais atletas influencia na adaptação ao exterior. Para Carvalho e Almeida (2003), aqueles que possuem uma maior compreensão da diversidade cultural têm mais facilidade para entender o outro e conseqüentemente relacionar-se com ele. Por outro lado, os que não possuem esta compreensão irão enfrentar dificuldade maior.

Gráfico 6. Maiores dificuldades encontradas durante os treinamentos e jogos

    Os resultados mostram que 40% dos entrevistados apontaram as condições precárias de para treinos e/ou jogos como maior dificuldade encontrada para exercer a profissão no exterior.

Gráfico 7. Classificação de experiência no exterior

    Os resultados obtidos demonstram que 60% dos entrevistados classificaram como boa, a experiência que tiveram no exterior.

Considerações finais

    Verifica-se que a discriminação e desconfiança são os fatores que geram maiores dificuldades de adaptação ao exterior. Tais valores estão profundamente marcados nas culturas estrangeiras, que muitas vezes enxergam os expatriados como usurpadores de empregos, principalmente em tempos de crises econômicas. Cabe aos expatriados reverter tal visão, pois é relativamente normal e compreensível que não haja confiança em quem não se conhece.

    Outro fator que gera muitas dificuldades para atletas que migram para o exterior na esperança de encontrar uma melhor oportunidade na carreira futebolística é a falta de familiares ou amigos íntimos nos primeiros meses de adaptação cultural. Muitas vezes o atleta embarca sozinho rumo a uma cultura diferente, comunicando-se com familiares ou amigos, quando permitido, esporadicamente com uso de cartas, telefone e internet.

    A presença de familiares durante o processo de adaptação cultural protege e auxilia o atleta durante seu desenvolvimento social em meio a uma nova cultura.

    Outro elemento social a ser considerado é a relação entre o atleta estrangeiro e os demais atletas nativos. É fundamental para a adaptação do estrangeiro que ele seja recebido com hospitalidade e respeito, contudo o expatriado também deve mostrar os mesmos valores acima citados. O respeito mútuo entre estrangeiros e nativos é um dos pilares para uma boa adaptação.

    Quanto aos aspectos culturais, percebe-se que a religião é aquele que apresenta maior dificuldade de adaptação, visto que em países muçulmanos sua prática beira o fanatismo e seus hábitos são muito diferentes dos praticados pelos brasileiros em geral. Mas as diferenças não se aplicam apenas ao Islamismo. O Hinduísmo e o Budismo também trazem singularidades que tornam difícil uma adaptação em curto prazo.

    Em relação às condições de treino e jogos, percebe-se que as condições precárias são pontos relevantes. Jovens jogadores saem do país em direção à Europa, Ásia e Oriente Médio, sem ao menos saber quais as reais condições serão encontradas para que possam desenvolver seu trabalho. Assim como no Brasil, existem diversos clubes menores espalhados na Europa, Oriente Médio e Ásia que não possuem estrutura capaz de atender às expectativas previamente criadas. Isso pode causar decepção e sensação de engano, o que culmina no regresso precoce do exterior.

    Por fim, nota-se que a maioria dos atletas que regressam ao país classificam suas experiências no exterior como gratificantes e esperam novas oportunidades para atuar no exterior.

    Os pontos aqui levantados não implicam de maneira alguma em verdades absolutas. Existem exceções. É necessário que novos estudos sejam feitos com um numero maior de entrevistados e com diferentes técnicas de colhimento de informações.

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