Análise de diferentes protocolos para predição de consumo máximo de oxigênio: interferências metodológicas
Análisis de los diferentes protocolos para predecir el consumo máximo de oxígeno: interferencias metodológicas |
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*Doutor em Biologia Funciona e Molecular Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. **Licenciado em Educação Física e Bacharel em Esporte pelas Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas, METROCAMP |
Joaquim Maria Ferreira Antunes Neto* Thiago Huais Duarte Simas** (Brasil) |
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Resumo O objetivo deste trabalho foi verificar diferenças entre resultados obtidos em protocolos de predição de testes de consumo máximo de oxigênio em situações de esteira com ventilometria, teste de corrida em pista de 12 minutos, e dois protocolos distintos para cicloergômetros, adaptados de Astränd. Participaram do estudo quinze alunos adaptados às práticas de atividades físicas (n=15), que participaram de todas as análises ao longo de um mês. Tiveram uma semana de recuperação entre um teste e outro. Os parâmetros estudados foram freqüência cardíaca e os índices de consumo máximo de oxigênio. Os materiais e métodos utilizados foram uma esteira computadorizada da marca Imbrasport®, sendo que a captação do volume respiratório se deu por estratégia ventilométrica (ventilômetro VLA SG6 CEFISE®) para os testes de corrida em esteira com incremento de velocidade; os testes de 12 minutos ocorreram em pista oficial de atletismo; os cicloergômetros são adaptados para mudança de carga, para alterações em 100 Watts e 150 Watts. Os resultados mostraram que a variabilidade maior para consumo máximo de oxigênio deu-se nos testes de esteira e corrida, onde lançamos a hipótese de maior requerimento de massa muscular e, desta forma, geração de energia; quanto à freqüência cardíaca, os protocolos que exigiram maiores dificuldades, mesmo metodológicas (ventilometria e cicloergometria com 150 Watts) foram aqueles com maiores índices para este parâmetro. Unitermos: Consumo máximo de oxigênio. Ventilometria. Teste de 12 minutos. Protocolo de Astrand para cicloergômetro. Fadiga muscular. Freqüência cardíaca.
Abstract The objective of this study was to assess differences between results obtained in protocols of tests predicting maximal oxygen consumption treadmill with situations in running test with spirometry, 12 minutes test running, and two different protocols for cycle ergometer, adapted from Astrand. The study included fifteen students adapted to the practice of physical activities (n = 15) who participated in all tests over a month. They had a week of recovery from one test to another. The parameters studied were heart rate and indexes of maximum oxygen consumption. The materials and methods used were a computerized treadmill Imbrasport ® brand, and the uptake of respiratory volume strategy was characterized by spirometry (VLA spirometer SG6 CEFIS ®) for running tests on a treadmill with increasing speed, the tests of 12 minutes occurred in official running track, cycle ergometers are adapted to the load change, for changes in 100 Watts and 150 Watts. The results showed that the variability increased to maximum oxygen consumption took place in the test track and race, where we launched the event of further application of muscle mass and, thus, power generation, as heart rate, the protocols that required difficulties, even methodological (respirometry and cycle ergometer at 150 Watts) were those with the highest rates for this parameter. Keywords: Maximum oxygen consumption. Spirometry test. 12 minutes running test. Astrand cycle ergometer protocol. Muscle fatigue. Heart rate.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As ciências do esporte têm evoluído muito nestes últimos anos, mas, com tantas vantagens tecnológicas, as pessoas fazem cada vez menos atividades físicas no seu cotidiano e, com isso, surgiram ou sinalizaram as patologias ligadas ao sedentarismo, como obesidade, hipertensão e as cardiopatias, conhecidas em seu conjunto como Síndrome Metabólica (Ciolac, Guimarães, 2004). A associação entre a prática de atividades físicas e a melhoria nas condições de saúde vem sendo relatada extensamente na literatura ao longo dos anos e aumentando na década atual, especialmente nos estudos relatados por Matsudo et al., 2000; Biassio et al., 2004; Matsudo et al, 2009). Os resultados mostram evidências de que problemas epidemiológicos agravam-se em situações onde a prática de atividades físicas não é rotineira. Atualmente, as questões relacionadas à saúde e atividade física estão preocupando a sociedade. Tais preocupações, que antigamente eram apenas com adultos e idosos (Matsudo et al., 2009), já estão se transferindo para as crianças e, especialmente, os adolescentes (Tesitano et al., 2007).
De acordo com Weineck (1999, p. 50) “a avaliação do desempenho e o planejamento do treinamento constituem um requisito decisivo no direcionamento do treinamento”. Os testes de potência aeróbia diretos, conhecidos como ergoespirométricos, submetem o indivíduo a uma carga crescente, geralmente na esteira rolante ou bicicleta ergométrica, até o esforço máximo. Segundo Ghorayeb et al. (1999) nesses testes o volume de ar expirado, as frações expiradas de oxigênio e o gás carbônico são medidos de forma direta e através de sistemas informatizados e depois calculados os principais índices de limitação funcional cardiorrespiratória, o consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) e o limiar anaeróbio (LA). Portanto, um protocolo de análise da capacidade cardiorrespiratória pode trazer informações que vão além das questões relacionadas ao consumo de oxigênio, instrumentalizando o preparador físico ou o técnico esportivo com variáveis que remetem a dados de natureza metabólica e de fisiologia sistêmica integrada.
O VO2 máximo pode ser definido como a maior taxa de consumo de oxigênio possível de ser atingido durante o exercício máximo ou exaustivo realizado ao nível do mar (Wilmore et al., 2008). Já o LA representa o maior consumo de oxigênio antes do inicio do acúmulo de lactato. (Ghorayeb et al., 1999), ou seja, onde ocorre o limite de tamponamento dos íons H+ para manutenção do pH fisiológico. Outro parâmetro de suma importância abordado em ambos os testes, direto e indireto, é a freqüência cardíaca (FC), que, segundo a literatura, tem forte relação com o VO2 máximo e o LA. A FC é considerado o índice fisiológico mais simples e que mais nos fornece informações cardiovasculares facilitando a monitoração e controle do esforço (Foss, Keteyian, 2000; Wilmore et al., 2008).
A capacidade cardiorrespiratória, através do consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo), é um dos determinantes da capacidade física que oferece condições para a prescrição do treinamento e aumento da performance, pois, além de auxiliar no diagnóstico e tratamento de determinadas doenças ligadas ao sedentarismo é também onde reflete a interação de vários sistemas que servem de suporte ao desenvolvimento das capacidades físicas. Sabemos que o teste de Astrand baseia-se no steady-state (estado de equilíbrio) para predizer o VO2 máximo. Leite e Farinatti (2003) indicam que, para uma mesma intensidade de esforço, quanto menor a freqüência cardíaca atingida no steady-state, maior a capacidade funcional do coração. Astrand e colaboradores consideram (2003) que a obtenção desse estado de equilíbrio coincide aproximadamente com a adaptação do débito cardíaco, da freqüência e da ventilação pulmonar. Segundo Araújo (1984), as metodologias de mensuração de VO2 máximo devem ser muito bem analisadas, pois os equipamentos podem alterar a biomecânica do ato convencional de pedalar, modificando a eficiência mecânica e, portanto, a relação carga / consumo de oxigênio, o que poderá acarretar um erro na predição do consumo máximo de oxigênio, quando ele é feito a partir de dados obtidos nestas condições.
A escolha por um protocolo de avaliação do VO2 máximo, bem como do equipamento e situação (direto ou indireto) é outro fator que pode trazer variações nos resultados. No caso de indivíduos que estão em fase inicial da prática de atividades físicas, a escolha de testes laboratoriais pode induzir uma situação totalmente diferente para o avaliado, o que pode trazer alterações nos dados. Contribuindo, indivíduos que não possuem o hábito de correr ou pedalar, os testes que se utilizam desta forma de mensuração da capacidade cardiorrespiratória pode induzir uma fadiga muscular localizada, muito mais de característica neuromuscular do que metabólica.
Sendo assim, o objetivo de nosso trabalho foi analisar 3 protocolos distintos de predição de VO2 máximo – o teste de ventilometria em esteira, o teste de análise de freqüência cardíaca por cicloergômetro (cargas de 100 Watts e 150 Watts) e o teste de corrida de Cooper de 12 minutos. Nosso intuito foi compreender se protocolos que buscam validar valores de VO2 máximo para prescrição de atividades físicas aeróbias, apesar das distinções metodológicas, chegam a indicar índices confiáveis e próximos.
Materiais e métodos
Sujeitos. Participaram desta pesquisa 15 indivíduos (n=15), do sexo masculino, fisicamente ativos. Os dados relativos aos voluntários encontram-se na Tabela 1. Todos foram informados a respeito do protocolo e assinaram um termo de compromisso e compreensão das propostas da pesquisa, informando-nos que estavam em condições ótimas de saúde. Também concordaram com os termos livres e esclarecidos do Comitê de Ética de Pesquisas da METROCAMP.
Tabela 1. Caracterização física dos sujeitos voluntários da pesquisa
Mensuração do VO2 máximo em teste de esteira. A mensuração de VO2 máximo ocorreu em uma esteira computadorizada da marca Imbrasport®, sendo que a captação do volume respiratório se deu por estratégia ventilométrica (ventilômetro VLA SG6 CEFISE®). Os sistemas para medidas de ventilação do CEFISE® permitem a determinação de limar ventilatório, consumo de O2 (indiretamente), gasto energético em diferentes intensidades de exercício, etc. O programa utilizado para a organização dos dados e indicação do limiar anaeróbio/VO2 máximo foi o “Limiar Anaeróbio 6.0”. Os dados foram tratados pelo pacote de estatística “Origin 6.0”. O protocolo de corrida foi classificado como contínuo, progressivo e de carga máxima. Os voluntários iniciaram em velocidade de 6 Km/h e a carga foi incrementada de dois em dois minutos em 1 Km/h. Não houve alteração na inclinação da esteira. O teste era interrompido quando o voluntário chegava numa velocidade que gerava desconforto ou quando a freqüência cardíaca aproximava-se do que era estabelecido como 100%.
Mensuração do VO2 máximo em Cicloergômetro. O protocolo de Astränd adaptado para cicloergômetro foi utilizado nos mesmos voluntários participantes do protocolo mencionado anteriormente. A carga de trabalho inicial tende a variar de acordo com o sexo. No nosso caso, como analisamos apenas sujeitos do sexo masculino, utilizamos uma carga correspondente a 100/150 watts, que corresponde a 2 e 3 Kg, aproximadamente. O procedimento inicia-se com o avaliado pedalando por 2 minutos para um aquecimento, seguindo a parte principal do teste. Esta etapa corresponde à realização de 5 minutos de pedalar, com monitoramento da freqüência cardíaca no quarto e quinto minutos, respectivamente, obtendo-se, assim, o valor médio. O cálculo do VO2 máximo é predito através da equação em l.min-1):
Mensuração do VO2 máximo em teste de pista. O teste tem como objetivo avaliar o rendimento cardiorrespiratório através da estimativa do consumo máximo de oxigênio (VO2máx) durante um teste de corrida de 12 minutos. Para este teste, após aquecimento e alongamento, o sujeito avaliado correu por 12 minutos a máxima distância conseguida. Importante: o sujeito devia manter-se motivado a correr, através de estímulos do avaliador; para que o resultado fosse positivo; o sujeito não podia economizar performance ou, então, correr o máximo que consegue apenas durante um curto tempo. O teste exige que se mantenha um padrão constante de velocidade de corrida. Após a corrida, calculou-se a velocidade média em m/min e substituiu-se o valor na equação:
VO2máx (mL/kg/min) = 33.3 mL/kg/min + 0.178 x (velocidade m/min – 150m/min)
Os valores da equação acima foram derivados de dados científicos de estudos de Balke (1963), que observou que a velocidade de corrida em 150 m por minuto requer 33.3 mL de oxigênio por quilograma corporal por minuto e que cada metro, acima ou abaixo desta velocidade, requer um consumo de oxigênio adicional de ±0.178 mL.
Análises Estatísticas. As análises estatísticas foram feitas através do programa GraphPad Instat® (San Diego, CA). Utilizamos o teste ANOVA para amostras pareadas e, como pós-teste, foi adotado o teste de Tukey. Valores de P < 0.05 foram considerados significativos. Para a realização de testes de correlação, utilizamos o coeficiente de correlação de Pearson.
Resultados
Figura 1. Valores de média e desvio-padrão de consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) obtidos em teste de carga máxima de esteira, protocolo de Cooper de 12 minutos
de corrida (pista) e protocolo modificado de Ästrand para cicloergômetro (cargas de 100 Watts e 150 Watts).Onde * = P < 0.05 em relação aos testes de esteira e pista.
A Figura 1 mostra que não há diferenças médias significativas entre os protocolos de esteira e pista (com valores respectivos de 49,3 ± 3,79 e 47,2 ± 3,44). Contudo, os protocolos realizados em cicloergômetro apresentaram valores bem abaixo dos obtidos nos protocolos já citados, com significância estatística de P < 0.001. Os valores médios foram para a carga de 100 Watts de 33,9 ± 6,1, enquanto para a carga de 150 Watts de 35,05 ± 5,04.
Figura 2. Valores individuais amostrais (n=5) de consumo máximo de oxigênio (VO2 max) obtidos em teste de carga máxima de esteira, protocolo de Cooper
de 12 minutos de corrida (pista) e protocolo modificado de Ästrand para cicloergômetro (cargas de 100 Watts e 150 Watts). Onde: p<0.05 para
os valores obtidos em protocolos de pista e esteira em relação aos vistos para os testes em cicloergômetros
A Figura 2 apresenta valores individuais de VO2 máximo. Fica evidente a aproximação dos valores vistos para os testes de esteira e pista (média de 48,25 mL/Kg/min), enquanto há grande discrepância deste valor médio para os valores individuais obtidos nos protocolos de cicloergometria em 100 Watts (sujeito 1 = 38,2; sujeito 2 = 35,1; sujeito 3 = 35; sujeito 4 = 38) e de 150 Watts (sujeito 1 = 39,7; sujeito 2 = 32,2; sujeito 3 = 41,3; sujeito 4 = 31; sujeito 5 = 31).
Figura 3. Valores de média e desvio-padrão da freqüência cardíaca obtida imediatamente após os protocolos de carga máxima de esteira, protocolo de Cooper de 12 minutos
de corrida (pista) e protocolo modificado de Ästrand para cicloergômetro (cargas de 100 Watts e 150 Watts). Onde * = P < 0.05 em relação ao protocolo de esteira
Os valores médios de freqüência cardíaca mostram que o protocolo de carga máxima realizado em esteira induziu os maiores valores finais (195,4 ± 3,91), enquanto que para pista, cicloergômetro em 100 Watts e 150 Watts foram, respectivamente, de 162,4 ± 15,12, 152 ± 25,61 e 167,2 ± 18,3. Há uma aproximação entre os valores obtidos em pista e no teste de cicloergômetro com carga de 150 Watts, porém isso não se reproduziu nos valores de VO2 máximo.
Figura 4. Valores individuais amostrais (n=5) da freqüência cardíaca obtida imediatamente após os protocolos de carga máxima de esteira,
protocolo de Cooper de 12 minutos de corrida (pista) e protocolo modificado de Ästrand para cicloergômetro (cargas de 100 Watts e 150 Watts)
A Figura 4 mostra que há uma coesão nas freqüências cardíacas finais obtidas pelo teste de carga máxima em esteira, aonde praticamente os voluntários chegam próximos ao que determinamos como 100%. A grande variação observada para os demais protocolos deve, numa análise preliminar, induzir as diferenças observadas nos valores de VO2 máximo, sobretudo para o protocolo de cicloergometria.
Discussão
A busca pelas atividades de academias de ginástica, na última década, ganhou maior importância pelo fato destas estarem, no inconsciente coletivo, relacionadas à generalidade do tema “qualidade de vida”. Os aspectos relacionados à qualidade de vida nas academias de ginástica, logicamente, passam pelo senso comum da promoção da saúde. Porém, em muitas oportunidades, o que mais se visa é um tipo de inclusão social ou engajamento em meios sócio-etários desejáveis de acordo com as fases das nossas vidas. De acordo com Pereira (1995), se tratarmos as academias de ginástica como centro de serviços de saúde, o termo passa a ser designado à promoção, proteção ou recuperação da saúde, em regime de internação ou não (hospitais, centros de saúde, consultórios, etc.). Portanto, o enfoque clínico-médico não se adéqua com objetivos mais alicerçados no conhecimento da Educação Física para promoção da saúde.
Considerando a temática específica deste trabalho, há necessidade de escolher os testes de avaliação cardiorrespiratória, praticados, em grande parte, no momento em que o aluno inicia seu programa de treinamento aeróbio; na seqüência da programação do treinamento, o aluno passa por reavaliação e retomada da estruturação da carga. Logicamente, que pensamos numa estrutura onde o aluno tenha todo um respaldo de conhecimento por parte dos professores e recursos tecnológicos – que são baratos em relação às famosas baterias de testes que vemos os jogadores de futebol realizarem em suas pré-temporadas.
Considerando a Figura 1, podemos observar que não houve diferença estatística entre o teste de corrida em esteira (utilizando sistema de ventilometria acoplado ao corredor) e o teste de corrida de 12 minutos em corrida oficial de 400 metros. Aqui surgem duas situações que nem todas as academias estão adaptadas para lidar com seus alunos. Porém, volto a ressaltar os valores extremamente acessíveis dos equipamentos de ventilometria e, até por questões de motivação, propor ao aluno a realização de uma atividade fora do espaço da academia (teste de corrida de 12 minutos em pista oficial de 400 metros rasos). Quanto aos dados obtidos, não houve alteração significativa entre testes em esteira (49,3 ± 3,79 mL/Kg/min) e pista (49,3 ± 3,79 mL/Kg/min) de corrida. Não deixa de ser um dado curioso, pois não demos um tempo de adaptação ao aluno para ter contato com o aluno. Geralmente, o aluno realiza de 3 a 5 testes para adaptar-se a máscara com válvulas de anti-refluxo, que impedem que haja liberação máxima gás consumido, pois o mesmo vai para um ducto que se interliga a um biosensor capaz de traduzir a quantidade de gás consumida durante o esforço. Outro ponto é a corrida na esteira, pois, dependendo do protocolo, há aumento da inclinação e velocidade da mesma. Como nosso objetivo era promover uma prática semelhante à corrida em pista de atletismo, não houve aumento em inclinação da esteira Apesar de não ser uma questão da pesquisa, podemos especular que, com os compromissos profissionais dos voluntários, mesmo com a baixa idade destes, muitos mantêm suas atividades de condicionamento físico em casa, complementando com corrida em esteira.
Já, considerando os valores para os testes de cicloergometria (Figura 1), uma das explicações possíveis é a instalação de fadiga muscular localizada, pois os membros inferiores são utilizados intermitentemente na execução do protocolo, diferentemente dos demais testes, esteira e pista, onde há uma conciliação entre musculaturas superiores e inferiores. A produção de energia através do maquinário aeróbio, que envolve o aparato mitocondrial (ciclo de Krebs e cadeia de transporte de elétrons) é um processo incessante, porém insuficiente, em algumas circunstâncias, para produção elevada de ATP (a molécula de energia). Haverá um momento, durante a execução de um exercício de alta intensidade, onde a produção constante de ATP via o metabolismo aeróbio não será suficiente para o rendimento muscular; desta forma, a célula precisará acelerar um mecanismo mais rápido para produção de ATP e que requeira menos enzimas degradativas envolvidas no processo: o metabolismo anaeróbio. O lactato é um metabólito final dos eventos ditos glicolíticos anaeróbios. A glicose possui duas fases de degradação. Uma fase citosólica, através de um maquinário constituído por dez enzimas, tendo como produto final piruvato e um rendimento de dois ATP, e uma fase mitocondrial, onde o piruvato transforma-se em substrato energético para os dois sistemas mais efetivos de produção de ATP: o ciclo de Krebs e a cadeia de transporte de elétrons, com produção final de 38 ATP. Este segundo evento - fase mitocondrial - envolve um aparato mais complexo, o que deixa o processo de produção de ATP mais lento, porém mais rentável (Marzzoco, Torres, 1999; Houston, 1995). Em condições onde há a necessidade de uma alta taxa de produção de ATP, a célula não poderá contar apenas com o aparato mitocondrial: os eventos citosólicos são acelerados e a produção de ATP por este mecanismo torna-se elevada: apesar de um rendimento menor - 2 ATP-, a aceleração do processo supre as necessidades instantâneas de energia (Antunes Net et al., 2006).
O grande problema é que a concentração de coenzimas NAD+ no citosol é limitada e há impossibilidade destas transportarem todos os elétrons liberados nas reações químicas da glicólise anaeróbia até a mitocôndria. A estratégia celular para poder “liberar” as coenzimas dos elétrons é repassar tais elétrons para o produto que também está sendo formado em excesso: piruvato. Quando o piruvato, já em excesso pelo fato da alta intensidade do exercício, interage-se (acepção) com os íons H+ livres no citossol, formando uma situação de tamponamento temporário. Assim, os íons livres H+, no citossol, não atuam como espécies reativas ou radicais livres, e o piruvato, que não conseguiu estabilizar-se com essa reação radicalar, pode ser liberado por proteínas específicas localizadas no músculo, para a corrente sanguínea, chegando até o fígado e ativando o processo de gliconeogênese. Quando ao lactato acumulado nas células, observa-se que, com a interrupção ou diminuição da intensidade do esforço, o processo mitocondrial acelera suas funções enzimáticas, diminuindo drasticamente a concentração de lactato, piruvato e íons H+. Mas quanto ao lactato acumulado na musculatura, proteínas especializadas, chamadas transportadoras de monocarboxilato (TMC), conduzem o lactato para a corrente sanguínea e este toma o caminho das reações gliconeogênicas hepáticas (Garcia et al., 1995; Bone, 2000). Importante ressaltar que o treinamento aumenta a quantidade de TMCs, da atividade mitocondrial e, consequentemente, dos processos retardatórios da instalação da fadiga muscular.
Os resultados da Figura 1 trazem um interessante ponto de reflexão para os profissionais de academia, pois os dois protocolos de corridas (esteira e pista) demonstram certa fidedignidade de apontamentos. Os testes de corrida de 12 minutos ou o teste de Cooper foram extremamente testados e validados, há décadas, o que permite que os docentes utilizem-se também destes recursos mesmo quando não há recursos para investimento em tecnologia. A Figura 2 é apenas uma amostragem aleatória de 5 alunos dos 15 alunos testados, indicando que houve relação direta entre os testes.
A Figura 3 consegue traduzir a capacidade de modulação do sujeito em situações limites de estresse. Pelo fato do teste em esteira ter controle autonômico da velocidade, o voluntário necessita ajustar-se à carga de treinamento, sem poder recuar na velocidade imposta. Ele pode solicitar a interrupção da corrida em quaisquer situações ou quando a freqüência cardíaca atinge valor considerado de risco pelo avaliador. Não foi o caso dos nossos voluntários, que eram sujeitos treinados em corrida (195,4 ± 3,91 bpm). Agora, analisando os resultados de freqüência cardíaca no teste de 12 minutos, obtivemos valores médios mais baixos (162,4 ± 15,12 bpm). Novamente, surge a situação de modulação da atividade, pois quem tem o controle do teste agora é o aluno e não o avaliador, apesar deste ficar em local de destaque na pista dando ordens de comando, para que não haja queda brusca na freqüência da corrida. Mas, mesmo assim, verifica-se que é uma situação normal quando os fatores não estão sob controle nas dimensões de um laboratório.
Abad e colaboradores (2010) apontam dados que a variabilidade da freqüência cardíaca, que estava diminuída durante o exercício moderado, aumenta gradativamente após uma sessão de exercício aeróbico, porém não atinge os valores obtidos no basal após 30 minutos de recuperação; contudo, em relação ao exercício resistido, verificaram que o componente simpático da FC permanece elevado e parassimpático diminuído durante o período de recuperação independentemente da intensidade do exercício (40% ou 80% de uma repetição máxima). No entanto, estudos relacionando alterações autonômicas nos diferentes tipos de exercício ainda são escassos. O que se propõe é que o comportamento da FC durante a execução do exercício depende do tipo, da intensidade e do tempo de execução. No início, a elevação da FC ocorre graças a uma rápida retirada vagal. Por sua vez, no exercício aeróbico, ocorre uma vasodilatação generalizada, diminuindo a resistência vascular periférica, o que explica a manutenção da pressão arterial diastólica (Forjaz, Tinucci, 2000). Porém, também ocorre aumento da atividade nervosa simpática por excitação dos mecano e metaborreceptores musculares, contribuindo para o aumento da FC, do débito cardíaco e da pressão arterial sistólica (Brum et al., 2004; Forjaz, Tinucci, 2000). A Figura 3 possibilita visualizar, de modo amplo, que o exercício com maior requerimento muscular - o teste de corrida de 12 minutos – eleva mais a FC, provavelmente por todas as condições simpáticas excitatórias. Figura 4 apresenta os dados, de modo aleatório na escolha dos voluntários, reafirmando variabilidade nos níveis de FC.
Concluindo, os testes de esteira com ventilometria e de pista de 12 minutos possuem validação constante na literatura. Basta o profissional de academia ou “personal training” ter sua estruturação de treinamento com objetivos e metas bem estabelecidos. Quanto aos testes com cicloergômetro, que são muito utilizados nas academias, é importante ressaltar também que, embora tal exercício resistido demonstre desbalanço autonômico com diminuição vagal e predomínio simpático, este tipo de treinamento propicia adaptações musculares benéficas e importantes para a qualidade de vida do indivíduo, inclusive para um bom desempenho no exercício aeróbico (Feigenbaum, Pollock, 1999).
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