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A intervenção do profissional de Educação Física

na natação para bebês na cidade do Rio de Janeiro

La intervención del profesional de Educación Física en natación para bebés en la ciudad de Río de Janeiro

 

*Doutor em Educação Física. Universidade Gama Filho (UGF/RJ)

**Especialista em Educação Física Escolar

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

***Mestrando em Educação Física. Universidade Gama Filho (PPGEF/UGF)

****Graduada em Educação Física. Universidade Gama Filho (UGF/RJ)

(Brasil)

Prof. Dr. Silvio Telles*

Prof. Esp. Thulyo Lutz**

Prof. Ms. Rômulo Reis***

Prof. Erika Magalhães****

Prof. Lívia Ribeiro****

thulyolutz@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo identificar as estratégias de intervenção utilizadas pelos profissionais de Educação Física no ensino da natação para bebês de 0 a 24 meses, assim como suas ações, conhecimentos, metodologias, técnicas, condições e ambiente de trabalho. Utilizou-se como instrumento de medida um questionário com perguntas abertas e fechadas, aplicado em 20 academias da cidade do Rio de Janeiro. Além disto, foi observada e registrada uma aula em cada estabelecimento, onde após a estratificação dos dados foi agregado valor por meio de uma prévia revisão da literatura. Os resultados apontam que a intervenção dos profissionais segue uma conduta semelhante, assim como as atividades propostas durante as aulas, a hora aula tem um valor muito baixo e a psicomotricidade aparece como hegemônica dentre as ferramentas pedagógicas.

          Unitermos: Natação para bebês. Intervenção profissional.

 

Abstract

          This study aimed to identify intervention strategies used by professionals in the teaching of Physical Education swimming for babies from 0 to 24 months, as well as their actions, knowledge, methodologies, techniques, and work environment conditions. Was used as a measuring instrument questionnaire with open and closed questions was applied in 20 gyms in the city of Rio de Janeiro. Besides, it was observed and recorded a classroom in each school; where after stratification of the data was added value through a prior review of the literature. The results indicate that the intervention of professionals follows a similar course as well as the proposed activities during class, time class has a very low value and psychomotor appears as hegemonic pedagogical tools.

          Keywords: Swimming for babies. Professional intervention.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Dentre as atividades ofertadas no campo da atividade física para bebês, a natação configura-se como uma das mais populares. A prática desta modalidade pelos bebês atinge diferentes objetivos tais como: benefícios físicos, orgânicos, sociais, terapêuticos e recreativos, melhora a adaptação na água, aprimorando a coordenação motora, noções de espaço e tempo, preparação do psicológico e do neurológico para o auto-salvamento, aumento da resistência cardiorrespiratória e muscular. Ainda desenvolve a segurança, aumentando o conhecimento e domínio do corpo, favorecendo a comunicação entre o bebê, o adulto e as outras crianças que estão ao seu redor. A natação ajuda também a tranqüilizar o sono, estimular o apetite, melhorar a memória, além de prevenir algumas doenças respiratórias (FERREIRA, 2007 apud AZEVEDO et al., 2008).

    Sabe-se que desde o nascimento o bebê já possui reflexos e respostas motoras dentro do ambiente líquido. As crianças quando submetidas à adaptação e estimulação no meio líquido apresentam aquisição de equilíbrio e estabilidade postural, assim como melhores níveis de desenvolvimento motor (BRESGES, 1980; DORADO, 1990; LIMA, 2003)

    No que tange ao desenvolvimento infantil, especificamente durante o período sensório-motor, correspondente ao nascimento até o 24° mês de vida, o bebê tem adaptações comportamentais e ainda não desenvolveu a habilidade de raciocínio. Com isso, comportamentos adaptativos, utilização de brinquedos, imitação de animais aquáticos, brinquedos cantados e o mundo imaginário são estratégias para o professor estimular a criança na água (PIAGET, 1982).

    Para que o profissional de Educação Física atue de forma satisfatória ao ministrar aulas de natação para bebês, faz-se necessário uma gama de conhecimentos a respeito do desenvolvimento infantil, métodos de ensino da natação, dentre outros. Diante desse pressuposto mostra-se relevante investigar como atuam profissionais de Educação Física que ministram aulas de natação para bebês em academias do Rio de Janeiro?

    Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi identificar quais as estratégias de intervenção utilizadas pelos profissionais de Educação Física, atuando em ambiente líquido com bebês de 0 a 24 meses.

    Os objetivos específicos do estudo configuram-se em:

  1. Identificar os conhecimentos teóricos dos profissionais ouvidos;

  2. Detectar os tipos de metodologias e técnicas utilizadas;

  3. Identificar as condições e estrutura física para o desenvolvimento das aulas.

Método

    Esta pesquisa tem o caráter descritivo e exploratório com enfoque na intervenção do profissional de Educação Física na natação para bebês. Assim, seguimos os preceitos de Gil (2009) onde o autor afirma que pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximado, acerca de determinado fato ou fenômeno e que muitas constituem a primeira etapa de uma investigação mais ampla. Em contrapartida podem ir além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação para proporcionar uma visão diferenciada do problema investigado.

    O estudo desenvolveu-se com uma amostra composta por 20 profissionais atuantes em academias das Zonas Norte, Oeste e Sul da cidade do Rio de Janeiro, por meio de um questionário misto aplicado aos profissionais, composto 15 por perguntas abertas e fechadas referentes às aulas ministradas, incluindo assuntos:

  1. Formação profissional;

  2. Utilização da psicomotricidade como meio para o desenvolvimento das aulas;

  3. Infraestrutura física e estrutura do ambiente líquido;

  4. Freqüência dos alunos e duração das aulas;

  5. Instrumentos pedagógicos;

  6. Remuneração profissional;

  7. Metodologia da academia;

  8. Custo das mensalidades.

    Além disso, observou-se uma aula de cada profissional, as quais foram devidamente registradas e transcritas em um plano de aula. Após a estratificação dos dados, realizamos a correlação dos conteúdos das aulas com a revisão da literatura específica da área agregando valor aos mesmos.

    Finalizamos o procedimento seguindo os preceitos legais e orientações das Normas e Diretrizes Regulamentadoras da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos – Res. CNS 196/96, II4, com a obtenção das autorizações dos atores sociais participantes através do Termo Consentimento Livre e Esclarecido, onde os envolvidos tomaram ciência do estudo, objetivos propostos, permitindo a observação da aula e a utilização dos dados.

Revisão bibliográfica

    Damasceno (1994) explicita que o uso da natação no processo evolutivo do ser humano deverá ter como objetivos: a promoção das condições fisiológicas, educativas e recreativas da criança, desde o seu nascimento, favorecendo seu crescimento e desenvolvimento; proporcionar a estimulação maturacional e de aprendizagem nos aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores com os instrumentos que estimulam esse processo; e despertar a curiosidade e observação da criança para a interpretação do mundo que a rodeia. Desse modo, Velasco (1997) ressalta que o bebê poderá ingressar nas aulas de natação com aproximadamente três meses de idade, pois é um período que o bebê possui um bom número de anticorpos e sustenta melhor a sua cabeça, fazendo com que resista melhor ao transporte na piscina. Nessa fase o bebê realizará a aula com a mãe, o pai ou algum parente próximo. A primeira meta a ser desenvolvida pelo professor é a socialização, porém não é recomendado substituir os pais pelo professor na fase inicial da adaptação.

    Entre 0 e 24 meses de vida, os bebês se encontram no período sensório-motor de desenvolvimento (PIAGET, 1982). Neste período, desde o nascimento até o quarto mês de vida os momentos em que o bebê está no banho são importantes para a adaptação ao meio líquido, pois é quando ele começa a sentir o prazer pela água. A partir do sexto mês de vida é que o bebê passa do comportamento involuntário para movimentos voluntários (BRESGES, 1980). Nesta fase o bebê já é capaz de observar tudo o que está ao seu redor, se movimentando com o auxilio do professor, que usualmente se utiliza de brinquedos cantados para obter a atenção.

    Segundo Lima (1999), a partir do oitavo mês se inicia um período propício para as aulas, pois os brinquedos e músicas que apenas chamavam a atenção do bebê, já podem ser objetos de integração aos exercícios. Com 12 meses, o bebê consegue reconhecer quem é o professor, saltar da borda, se deslocar sem ajuda, abrir os olhos dentro da água e consegue prender a respiração dentro do meio líquido por até 20 segundos. Bem como, trocar de posições, fazer giros e também flutuar por até 15 minutos (LIMA, 1999).

    Lima (1999) acrescenta que entre o 12º e 18º mês o bebê possui a capacidade de realizar os movimentos das pernas semelhantes com o engatinhar e sua percepção com relação ao ambiente melhora substancialmente. Nesta fase o receio de colocar os pés no fundo da piscina surge e somente a partir do 18º mês o bebê começa a realizar movimentos mais rudimentares de braço, efetuar mergulhos percorrendo pequenas distâncias, além de realizar a respiração a partir da imitação.

    Algumas peculiaridades podem ocorrer durante as aulas de natação. Acredita-se que bebês entre três a 12 meses de idade sejam capazes de se integrarem satisfatoriamente ao grupo e ao professor; imergir com o auxílio da mãe ou professor na vertical e horizontal; sentar na borda da piscina e jogando-se para mãe e/ou professor; iniciar o rastejar ou engatinhar no tapete flutuante e também permanecer sozinho na bóia redonda. Para os bebês de um a dois anos de idade, espera-se que sejam capazes de engatinhar e andar no tapete flutuante; imergir e deslocar-se até a mãe e professor; andar sozinho na parte rasa da piscina; ficar sozinho com as bóias nos braços, com isso contribuindo para a autonomia, desenvolvendo a psicomotricidade, reforçando o início da personalidade (DAMASCENO, 1994).

    Quanto à infraestrutura física das aulas para bebês, Camus (1995) sugere que as aulas sejam ministradas em piscinas com em média 16 metros de comprimento e oito metros de largura, com profundidade entre 0,4 e 1,2 metros. A temperatura da água deva estar entre 30 e 31 graus Celsius, ministrada em torno de 10 e 30 minutos. Com a relação à freqüência semanal, Velasco (1997) defende que as aulas devem acontecer no mínimo duas vezes por semana e as turmas devem possuir no máximo seis bebês para cada professor, em aulas realizadas com a presença dos pais ou em grupo.

Resultados e discussão

    Os resultados da pesquisa revelam que quanto à formação profissional, entre os vinte profissionais entrevistados apenas seis se formaram em universidades públicas, os demais são oriundos de instituições privadas, assim distribuídas: Universidade Castelo Branco – UCB (seis), Universidade Gama Filho – UGF (quatro), Universidade da Cidade (três), Universidade Estácio de Sá – UNESA (dois) e Celso Lisboa – UCL (um). Na esfera pública encontramos profissionais graduados em Educação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (quatro). Consideramos esta amostragem de instituições significativa dentro do universo da cidade do Rio de Janeiro ressaltando-se a pluralidade dos cursos ofertados em seis tipos de currículos distintos.

    Observa-se que os profissionais se graduaram recentemente, em torno de quatro a seis anos de conclusão da graduação. Quanto ao grau de titulação, todos são graduados, dentre estes quatro possuem especialização e apenas dois são mestres. Ao serem questionados sobre o conhecimento acerca da natação, especificamente para bebês, durante o período da graduação, 17 profissionais relataram que apreenderam apenas o conteúdo básico sobre natação, especializando-se posteriormente, em especial no trato para bebês através da realização de cursos externos.

    As evidências encontradas na pesquisa mostram indícios de que em geral, os cursos de graduação em Educação Física enfatizam o ensino dos quatro estilos (crawl, peito, costas e borboleta), negligenciando a natação para bebês, a qual é citada pelos professores respondentes de nosso estudo como um dos primeiros empregos ou estágios para profissionais e estudantes.

    Outro fator percebido foi a baixa remuneração ofertada pelo mercado de trabalho aos profissionais. Tal situação possivelmente acaba atraindo professores recém-formados e estagiários. Quando questionados a respeito do valor pago pela hora/aula, 25% não quiseram informar. Contudo, para a maioria dos profissionais o pagamento ficou na faixa entre R$ 8,00 a R$ 12,00 por hora/aula e em um dos locais o valor da hora/aula alcançou o mínimo de R$ 7,00.

    Em última instância, a médio/ longo prazo os profissionais mais experientes podem se afastar, pois na busca por uma melhor valorização/remuneração acabam abandonando a área. Desta forma, o ciclo de vagas disponíveis no mercado tende a ser preenchido por recém-formados acompanhados de muitos estagiários que por fim, muitas vezes são contratados quando o profissional desmotivado despede-se do emprego.

    Ao serem questionados sobre o uso do conhecimento oriundo da psicomotricidade no desenvolvimento das aulas, 18 profissionais relataram utilizar exercícios e brincadeiras com o intuito de desenvolver habilidades físicas tais como: coordenação motora, equilíbrio e agilidade.

    No assunto infraestrutura física e estrutura da piscina, especificamente quanto às suas dimensões, foi possível observar uma discrepância enorme entre os tamanhos apontados pelos entrevistados, onde a menor piscina encontrada foi de 03 metros de comprimento por 02 metros de largura. Em contrapartida, a maior piscina apresentou 25 metros de comprimento por 05 metros de largura. Consultando a literatura, Camus (1995) destaca que as piscinas mais aconselhadas são aquelas com aproximadamente 16 metros de comprimento por 08 metros de largura. Todavia, acreditamos que as dimensões da piscina não interferem diretamente no processo de ensino e aprendizagem quando não se encontram inseridas nos extremos, ou seja, nem muito pequena ao ponto de atrapalhar o deslocamento, nem muito grande para minimizar o surgimento de um ambiente mais aconchegante.

    A profundidade da piscina se apresentou de forma muito variada de um estabelecimento para o outro, sendo que a menor piscina apresentou 0,78 metros, enquanto a maior apresentou 1,5 metros. Para Camus (1995) a profundidade deve variar entre 0,4 e 1,2 metros, permitindo maior segurança no decorrer das aulas. Nas piscinas exclusivas para bebês, os chamados “aquários”, encontramos um ambiente mais propício para o desenvolvimento das aulas, tendo em vista que favorece a manutenção da higiene, uso de materiais exclusivos e próprios para a faixa etária em questão. Com isso, apresentando-se como um local favorável a um número maior de estímulos em virtude dos mais variados estilos de decoração, com figuras relacionadas ao universo aquático.

    A temperatura da água e o nível de salinização foram aspectos abordados nos 20 estabelecimentos visitados, dos quais 11 informaram que a temperatura da água ficava entre 30ºC e 32ºC; em três estabelecimentos a temperatura era a mesma do meio ambiente; em quatro estabelecimentos a temperatura permanecia entre 29ºC e 31ºC. Apenas dois estabelecimentos se afastaram um pouco deste limiar, apresentando temperaturas que oscilavam entre 22ºC e 25ºC em um e 32ºC a 34ºC no outro. Comparando estas informações com a literatura especializada, Velasco (1997) sugere que a temperatura da água seja de 32ºC no inverno e no verão para crianças até seis meses, e 31ºC no verão para crianças acima de sete meses. No que se refere à salinização, ou seja, o tratamento da qualidade da água da piscina, apenas 10 estabelecimentos visitados informaram valer-se desta tecnologia.

    Com relação à faixa etária para o inicio da natação, Velasco (1997) afirma que a natação pode ser iniciada com três meses de idade. Não obstante, Barbosa (1999) defende que as aulas de natação para bebês devem ter seu início entre os três e seis meses de idade. Considerando a literatura e as informações coletadas, notamos que em todos os estabelecimentos visitados a matrícula de bebês é permitida com no mínimo seis meses de idade. Observou-se que em 10 estabelecimentos as aulas duravam em torno de 30 minutos, outros oito mantinham aulas com cerca de 20 minutos de duração e apenas dois possuíam aulas com duração de 40 minutos. Confrontando os dados com a literatura percebemos uma substancial diferença à medida que Velasco (1997) sugere que a duração da aula não ultrapasse 30 minutos.

    Dentre os estabelecimentos visitados, em 14 deles a freqüência das aulas permaneceu entre duas a três vezes por semana. Em relação ao número de alunos por turma, oito estabelecimentos oferecem aulas individuais, seis oferecem aulas coletivas e nos demais as aulas aconteciam de forma mista, tanto individual quanto coletiva. Perez et al. (1997) acreditam que quanto menor o numero de bebês por turma, maior a probabilidade de êxito no processo ensino-aprendizagem. Por isso, defendem que cada turma deve ser constituída por seis a oito bebês e os respectivos pais. Quanto à freqüência de aulas, todos os estabelecimentos estavam alinhados com a revisão de literatura, duas a três vezes por semana.

    Em relação aos materiais utilizados durante as aulas, os mais citados pelos professores foram tapetes, bóias, brinquedos flutuantes e bolas. Velasco (1997) afirma que os brinquedos como: bolas plásticas de diferentes cores e tamanhos, palmares, tubos plásticos, bambolês, argolas, baldes, tapetes flutuantes, pranchas, flutuadores e brinquedos podem ser úteis para o desenvolvimento das aulas.

    Localizados nas zonas norte, sul e oeste da cidade do Rio de Janeiro, os estabelecimentos seguem o seguinte mapeamento:

Quadro 1. Mapeamento dos estabelecimentos visitados

    Conforme dinâmica exposta no quadro 1, observa-se que os estabelecimentos visitados concentram-se na região da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, representando 65% do total da amostra. Estes bairros se caracterizam por ter como residentes em sua maioria pessoas consideradas de classe média (classe B e C), classe socioeconômica que cresce muito no Brasil devido à atual conjuntura econômica do país.

    O valor das mensalidades variou significativamente entre os estabelecimentos, principalmente comparando uma região para outra. O valor máximo de mensalidade encontrado foi em um estabelecimento localizado na Barra da Tijuca (bairro de classe socioeconômica emergente) atingindo R$ 308,00 e a de menor valor no bairro de Irajá (classe C) R$ 55,00. Desse modo, é possível concluir que o valor da mensalidade varia substancialmente de região para região.

    A seguir está exposto o quadro 2 com o valor do ticket médio das mensalidades por cada região.

Quadro 2. Ticket médio dos estabelecimentos visitados

    Relacionando classe socioeconômica com a remuneração do professor, os dados coletados mostram que apesar de haver diferença no valor dos tickets médios das mensalidades, o valor da remuneração dos profissionais não acompanha a mesma tendência. Portanto, as academias que cobravam altos valores não pagavam melhor seus profissionais.

    Dentre os aspectos investigados buscamos também aprofundar a temática conhecendo a metodologia aplicada pelos profissionais e/ou estabelecimentos para o desenvolvimento das aulas. Quatorze estabelecimentos e/ou profissionais revelaram não utilizar nenhum método específico para o ensino da natação. No entanto, três utilizam o método chamado “Gustavo Borges” (MGB), proposta de ensino desenvolvida pelo ex-atleta olímpico Gustavo Borges e sua equipe, cuja finalidade é disponibilizar uma fonte de soluções e alternativas para embasar o trabalho dos professores, dos gestores e das instituições ligadas à água (BORGES e DE LIMA, 2008). Os demais se baseavam em materiais elaborados pela equipe e por profissionais externos tais como apostilas, livros e cursos de atualização.

    Com o intuito de apresentar de uma forma geral o conteúdo e as aulas observadas e relatadas nos planos de aula/relatórios, procuramos descrever os processos interventivos que os profissionais desenvolveram durante as aulas. Tabulamos e descrevemos as atividades, condutas e procedimentos mais freqüentes, demonstrando assim de que maneira as aulas transcorriam. Optou-se por dividir esta explanação em duas partes, a primeira com aulas para bebês até 11 meses, e a segunda com bebês a partir de 12 meses de idade. Esta divisão se deve ao fato de as aulas para os bebês ate 11 meses serem usualmente individuais, e para os maiores, de forma coletiva.

    Na primeira parte, observamos uma aula em cada um dos 20 estabelecimentos visitados. Aulas para bebês com até 11 meses que eram em sua maioria individuais e com a presença dos pais. Apenas em três estabelecimentos não havia a presença dos pais, eles deixavam os filhos com os professores, observavam de fora da piscina ou mesmo se retiravam para depois buscá-los.

    Na maioria das aulas o professor seguia a mesma progressão pedagógica, no primeiro momento da aula o bebê ficava na borda da piscina fora da água e seguro pelo professor, que jogava água por todo o corpo do bebê. Algumas crianças entravam na água com o professor sem precisar passar por esse processo, ou então ficavam na borda batendo as pernas enquanto o professor cantava uma música para incentivá-las, além do uso de vários brinquedos para chamar a atenção e despertar a curiosidade. No segundo momento da aula, os alunos já entravam na piscina com o apoio dos pais ou professores, e estes se deslocavam com os bebês por toda a piscina, realizando várias voltas, estimulando assim o deslocamento e a adaptação ao meio líquido. Em duas academias, os bebês iniciantes se demonstraram assustados, como pôde ser percebido pelas expressões faciais e pelo choro. Para Sarmento e Montenegro (1992) a função dos pais nas aulas de natação para bebês é promover a auto-superação da criança com a criação de autonomias motoras e afetivas, facilitando assim os primeiros momentos de separação entre o bebê e um ente da família associado à imersão em um meio diferente. No terceiro momento, segurados ainda pelos pais e com os professores ao lado ou então somente pelos professores, os bebês imergiam na água para iniciar o mergulho. Em uma das academias, antes de fazer essa atividade, a mãe e o professor cantaram a música “pula sapinho, pula sapão, pula bem alto para dar um mergulhão” e fazia a imersão, logo em seguida elogiavam o bebê. No quarto momento, o bebê era colocado em cima do tapete flutuante e a mãe e o professor davam voltas na piscina deslocando o tapete. Os professores relataram que esta atividade tinha como intuito estimular o equilíbrio. Por fim, o professor colocava as bóias nos braços dos bebês e pedia para os responsáveis (ou então eles mesmos) conduzi-los pela piscina e orientando-os a bater as pernas e os braços, estimulando assim a coordenação motora.

    A segunda parte das aulas observadas foi composta por aulas ministradas para bebês maiores de 12 meses, as quais se assemelharam bastante em boa parte dos estabelecimentos. Percebemos que os professores possuíam como principal objetivo estimular o desenvolvimento motor dos bebês, por meio da adaptação, deslocamento, imersão, equilíbrio e coordenação motora. Claramente, o uso de brinquedos e atividades lúdicas foi o principal artifício pedagógico utilizado para ministrar as aulas. Desse modo, os bebês demonstraram enorme prazer ao termino das aulas, muitos deles se recusavam a sair piscina.

    Em sua maioria, as aulas eram coletivas com grupos compostos de dois a seis bebês. Entretanto, havia também situações com aulas individuais, normalmente ministradas por um professor e um acadêmico de Educação Física. Nessas aulas não havia mais a presença dos pais, que em um momento anterior entravam mais na piscina ou ficavam observando mais atentamente seus filhos, deixando-os com os professores.

    Na maior parte dos estabelecimentos visitados, os bebês estavam adaptados ao meio líquido. Com isso, entravam na piscina sem a ajuda dos pais, já que estes não estavam mais por perto, apenas sob a supervisão e orientação do professor e seu auxiliar. Alguns eram capazes de efetuar o deslocamento pela piscina por meio de um corrimão que usualmente é utilizado em boa parte dos estabelecimentos.

    Comparando as aulas para bebês maiores de 12 meses, em relação às aulas para bebês com até 11 meses, observa-se que os objetivos propostos pelos professores se caracterizam da mesma maneira nos dois casos, visando melhora da coordenação motora, equilíbrio, deslocamento e agilidade. Assim como foi possível observar que as atividades demandavam um grau de dificuldade superior às apresentadas ao grupo de menor faixa etária. Isto posto, para Damasceno (1994) os ensinamentos do professor aos alunos devem passar por sucessivas progressões pedagógicas e por uma sistematização de conteúdos, desse modo há uma necessidade de se basear nas diferentes faixas etárias junto às diferenças individuais para alcançar os objetivos pedagógicos propostos nas aulas.

    Um procedimento em um estabelecimento chamou-nos atenção. Uma professora criou uma ponte na borda da piscina com uma plataforma e um tapete por cima, os bebês passavam e posteriormente pulavam na piscina, fato esse que corrobora com a opinião de Lima (1999) ao apontar que a criança a partir dos 12 meses já salta da borda da piscina. Em seguida, a professora colocava as bóias nos braços dos bebês, e eles se deslocavam efetuando os movimentos das pernas e dos braços em volta da piscina, sempre com brinquedos flutuantes ao redor, músicas e brinquedos cantados. Na volta à calma, a professora pedia para os bebês deitarem no ombro dela em decúbito dorsal e com a barriga para cima, ficarem parados com as pernas e os braços abertos, imitando uma estrela. Também como atividade para volta à calma em outro estabelecimento, o professor colocava o bebê deitado no tapete flutuante e fazia massagem em seu corpo para relaxar.

    Ao observar o decorrer das aulas foi possível entender a função que o professor desempenha, principalmente usando sua criatividade para inventar e reinventar suas aulas, tornando-as cada vez mais dinâmicas, divertidas e eficazes. Como exemplo, uma professora utilizou os flutuadores de espuma, popularmente denominados “macarrões”, que foram presos à barra da borda da piscina formando um túnel. Os bebês o ultrapassavam e subiam no tapete para mergulhar na piscina novamente, estimulando com isso o mergulho e a coordenação, sempre com a ajuda do profissional. Com o mesmo objetivo, em outra aula observada, o professor improvisou um túnel com o tapete de borracha e os bebês passavam por baixo deste como se estivessem dirigindo um carro, atividade denominada “carrinho”. Para Lima (1999) já com 12 meses a criança começa a abrir os olhos dentro da água e é capaz de prender a respiração dentro do meio líquido por até 20 segundos, com isso potencializando atividades de apnéia e mergulho.

    Segundo Lima (1999), as músicas têm a função de proporcionar maior interação entre exercício, aluno e professor. Em uma determinada aula, a professora a iniciava cantando uma música chamada “bagunça, bagunça na piscina”, e solicitava aos bebês que efetuassem os movimentos de “bater” os braços. Logo em seguida, a professora cantava a musica “bolhinhas, bolhinhas na piscina”, e começava a fazer bolinhas na água por meio da expiração, incentivado os bebês a fazer o mesmo. Para finalizar as atividades do dia, iniciava-se uma nova música onde a professora segurava os bebês e fazia os movimentos de acordo com a letra da música, caracterizando-se como brinquedo cantado. Os movimentos eram seguidamente repetidos pelos bebês, mostrando que brinquedo cantado é um excelente instrumento pedagógico para estimular de maneira lúdica o desenvolvimento da criança.

Considerações finais

    Ao se tratar de adaptação ao meio líquido e conseqüentemente do ensino da natação, parece não ser adequado que o professor restrinja-se apenas às metodologias pré-determinadas com a finalidade de estimular o rápido aprendizado motor. Mas sim, que o agente interventor compreenda o desenvolvimento psicomotor da criança, e por meio do conhecimento adquirido possa traçar objetivos mais concretos para cada público, contribuindo assim para o desenvolvimento global da criança.

    Todas as evidências mostraram que a maioria dos profissionais entrevistados utiliza conhecimentos oriundos da psicomotricidade nas aulas, porém coincidentemente demonstraram seguir um processo e progressão pedagógica similar, especialmente pela utilização de jogos, brinquedos e músicas.

    Acreditamos que os grandes desafios a serem enfrentados pelos profissionais que ministram aulas de natação para bebês, estejam em inovar as aulas com maior criatividade, usar diferentes brincadeiras combinadas aos mais variados tipos de materiais e expandir seus conhecimentos por meio de cursos, livros, artigos científicos ou palestras. Com isso, aperfeiçoando-se profissionalmente cada vez mais, melhorando a didática das aulas ministradas e contribuindo ativamente para o desenvolvimento da criança.

    Um dos pontos negativos da pesquisa residiu na baixa remuneração dos profissionais, pois certamente, a natação para bebês requer conhecimentos técnicos profissionais muito específicos. Justificando cursos de extensão e pós-graduação, principalmente porque os próprios entrevistados, de diferentes instituições de ensino superior, relataram que não tiveram uma formação que permitisse uma atuação relativamente segura e por iniciativa própria, buscaram os conhecimentos necessários para desenvolver-se profissionalmente. Apesar da pesquisa não se ater aos conteúdos programáticos das disciplinas ministradas nos cursos superiores em Educação Física, pudemos evidenciar que os egressos se formam com conhecimentos extremamente rudimentares a respeito do assunto. Logo sugerimos uma maior atenção aos temas como psicomotricidade e natação, bem como atividades aquáticas recreativas.

    Notamos também que a baixa remuneração pode promover uma evasão dos profissionais mais experientes, ocasionando uma queda na qualidade do ensino e inclusive, em um segundo momento desenvolvendo uma diminuição de interesse em pesquisas nessa área.

    Por fim, é possível dizer que este estudo não é conclusivo em virtude de sua amostragem. Contudo, fomenta e expõe as características das atividades aquáticas para bebês, esperando servir de estímulo para que outras pesquisas apoiadas no mesmo interesse desta possam contribuir de maneira mais efetiva para a melhora do campo discutido.

Referências bibliográficas

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