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Educação Física Escolar e o trato dos conteúdos: 

o caso da organização por clubes no Ensino Médio

La Educación Física escolar y el tratamiento de los contenidos: el caso de la organización por clubes en la Escuela Media

 

Esp. Educação Física Escolar

Universidade Federal de Pelotas

(Brasil)

Gabriela Machado Ribeiro

florbelaespanka@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente texto traz à discussão os pressupostos de seleção dos conteúdos e busca sinalizar as possibilidades do xadrez como conteúdo da Educação Física Escolar.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Conteúdos. Clubes. Ensino Médio.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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A Educação Física no contexto escolar

    A Educação Física entendida como área de conhecimento primordial no desenvolvimento do ser humano, sobretudo no âmbito escolar, constitui um papel imprescindível no desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e afetivo-social do sujeito.

    Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9394/96, art. 26, inciso 3º: “A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.”

    Seu trabalho denota suma importância à medida que possibilita aos alunos terem desde cedo “a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com a finalidade de lazer, expressão de sentimento, afetos e emoções” (Brasil, 1997, p.15).

    Enquanto disciplina pedagógica e componente curricular obrigatório visa

    “desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como forma de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.38)

    Libâneo (1994); Coletivo de Autores (1992); Picollo (1995); Pereira (1994) e outros profissionais da área, têm manifestado em revistas especializadas, livros, encontros, congressos e outros eventos do gênero explanações e argumentações acerca da seleção de conteúdos e as formas de organização do ensino desses. Em Santa Maria, várias pesquisas desenvolvidas em escolas de Ensino Médio (MENDONÇA 2002; CORREA 2005; MENEZES FILHO 2002; POSSEBON, 2001) acenam que a grande maioria dos professores de Educação Física dá ênfase, em suas atividades pedagógicas, aos jogos desportivos. Salientam que em mais de 70% das escolas públicas do município as aulas de Educação Física acontecem através de clubes desportivos, os quais se configuram pela prática e treinamento de uma única modalidade esportiva durante o ano letivo.

    Assim, nessas escolas, o ensino da Educação Física escolar tem se caracterizado pela limitação a reprodução dos gestos motores, imitação de modalidades esportivas com todas as suas características competitivas, aperfeiçoamento de gestos, busca de performance e especialização destas manifestações.

    Apesar das evidências de que tais aspectos caracterizam a Educação Física escolar em boa parte das instituições escolares de ensino médio em Santa Maria, é pertinente salientar que o ensino nesta disciplina deve valer-se de explorar outras dimensões além da técnica, como a dimensão humana, a emoção, a social, a política e a cultural, o que permite o entendimento da existência de outras relações.

    Vários fatores balizam a opção de desenvolver esse tipo de trabalho: espaço físico, materiais, habilidade e preferência do professor por determinados conteúdos ou ainda, esses são “determinados” pela preferência dos alunos. Ao optar pelos conteúdos desportivos dando ênfase à técnica e ao rendimento o professor, muitas vezes, acaba sentenciando a exclusão de um grupo alunos de suas aulas. O esporte é apenas um segmento que, juntamente com as atividades rítmicas, lutas, ginástica e jogos compõe o repertório de conteúdos da Educação Física possíveis de serem trabalhados na Escola.

    Ao refletirmos sobre os pressupostos que devem orientar a seleção de conteúdos, concordamos com Libâneo (1985, p. 39), quando esse afirma que “o trato com o conhecimento reflete a sua direção epistemológica e informa os requisitos para selecionar, organizar e sistematizar os conteúdos de ensino”. Os conteúdos culturais universais são a base para os conteúdos de ensino, dessa forma constituem-se em domínio de conhecimentos relativamente autônomos, incorporados pela humanidade e reavaliados, permanentemente, em face da realidade social.

    Para esse autor “os conteúdos são realidades exteriores ao aluno que devem ser assimilados e não simplesmente reinventados, eles não são fechados e refratários às realidades sociais" (LIBÂNEO, 1985 p. 39).

    Ressalta que não basta ensinar os conteúdos, pois por mais que os conteúdos sejam bem ensinados é necessário que estabeleçam uma ligação indissociável com a sua significação humana e social.

    A seleção e organização dos objetivos, conteúdos, métodos e processos avaliativos do ensino além de “explicitarem a intencionalidade da prática educativa tem implicações diretas no posicionamento crítico do educador que representa o elo fundamental no processo de formação cultural e científica dos educandos” (LIBÂNEO, 1998).

    A escola deve sim, trabalhar com os conteúdos sócio- historicamente construídos, todavia para além da perspectiva do desenvolvimento de competências e habilidades que garantam apenas subsistência do sujeito na sociedade atual. A educação escolar deve buscar promover, através de sua proposta pedagógica, a emancipação humana para que os sujeitos consigam se postar e articular ações em prol da transformação da sua realidade

Conteúdos da Educação Física Escolar: o jogo em evidência

    Dentre as formas ou temas que permitem encadear o processo educativo da Educação Física escolar, estão as práticas explicitadas como jogo. Esse, conforme Huizinga (1993), “é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria.” Caracteriza-se como atividade livre, alegre que encerra um sentido, uma significação; favorece o desenvolvimento corporal; estimula a vida psíquica e a inteligência; contribui para a adaptação do educando ao grupo.

    Quando a criança joga, ela opera com significado de suas ações, o que faz desenvolver sua vontade, ao mesmo tempo, tornar-se consciente das escolhas e decisões. “É nesse sentido que o jogo apresenta-se como um elemento básico para mudança das necessidades e da consciência” (Coletivo de Autores 1992, p.66).

    Num contexto de Educação Física escolar, o jogo deve ser proposto como uma forma de ensinar, educar e desenvolver no aluno o seu crescimento cognitivo, afetivo-social e psicomotor, permitindo a interação com o grupo.

    Partindo da premissa que os diferentes tipos de jogos (esportivos, cooperativos, tradicionais, culturais) são importantes conteúdos a serem trabalhados nas aulas de Educação Física, o jogo de Xadrez, entre tantos outros, apresenta-se como uma possibilidade pedagógica no âmbito escolar.

O jogo de Xadrez e suas implicações pedagógicas

    O jogo de xadrez, além de apresentar-se como uma significativa manifestação cultural, vinculado às atividades escolares apresenta-se como um importante instrumento educacional potencializador de diferentes saberes. Em alguns países como França, Canadá, Espanha, Cuba, Hungria, Israel, Iugoslávia, Alemanha, Suíça, Tunísia e a Venezuela (Sternberg apud FERGUSON, 1995, p. 8) avaliaram o singular valor dessa prática esportivo-recreativa e adotaram nos currículos escolares o ensino do xadrez. O Brasil, por sua vez, está descobrindo a relevância do ensino do xadrez em inúmeras escolas espalhadas pelo país. Através de uma parceria entre o Ministério da Educação e o Ministério dos Esportes (2005)1 tentou-se implementar o jogo de xadrez nas escolas públicas de 24 estados brasileiros, como uma tentativa de contribuir a para implementação do horário integral nas escolas públicas, meta que o MEC pretende atingir até 2010 para as de ensino fundamental; e até 2015, para as de ensino médio. Esse projeto, todavia, não foi efetivado com o sucesso esperado pelos organizadores. Assim, a prática da modalidade se verifica, principalmente, nos espaços escolares chamados “Clube de Xadrez”. Alguns estudos comprovam que o xadrez desenvolve várias habilidades nos jogadores, segundo Charles Partos: “O xadrez desenvolve pensamento lógico, poder de atenção e concentração, imaginação, criatividade, julgamento, planejamento, imaginação, antecipação, vontade de vencer, paciência, autocontrole, o espírito de decisão e a coragem, a inteligência e o interesse pelas línguas estrangeiras. ’’ (PARTOS apud FERRACINI, 1998, p. 37)

    Howard Gardner2 (1994 , p. 149), defende que o xadrez desenvolve a Inteligência Lógico- Matemática, bem como a Inteligência Espacial. Essa constitui-se na habilidade de manipular formas ou objetos mentalmente e, “ a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial ou seja, facilidade em observar uma matéria num determinado plano móvel.” No xadrez, o jogar exige visualizar as jogadas futuras do seu adversário, tendo que se concentrar no tabuleiro e visualizar as jogadas sem que se mova nenhuma peça no tabuleiro, somente utilizando a imaginação.

    Nesta perspectiva, para Nuno Cobra3, “o xadrez é realmente um excelente exercício para o cérebro e exige muito das emoções. A pessoa adquire um senso muito prático de organização, concentração e desenvolve de forma muito especial à memória. O xadrez trabalha a imaginação, memorização, planejamento e paciência. O ensino de xadrez é defendido também, pelo mestre e doutor em educação Wilson Silva (2002). Esse, afirma que:

    “o xadrez merece crédito, porque ensina às crianças o mais importante na solução de um problema, que é saber olhar e entender a realidade que se apresenta [...]. Em uma época na qual os conhecimentos nos ultrapassam em quantidade e a vida é efêmera, uma das melhores lições que a criança pode aprender na escola é como organizar seu pensamento, e essa valiosa lição pode ser obtida mediante o estudo e o xadrez”

    Apesar dos vários “benefícios” proporcionados pelo jogo do xadrez, as atividades educativas enxadrísticas acontecem predominantemente através de projetos escolares ou Clubes de Xadrez. Poucos estados têm em seus municípios o xadrez escolar como componente da grade escolar para todos os discentes (Bandarra, 2004), bem como são poucos os professores de Educação Física que se aventuram a trabalhar com essa modalidade.

Clubes de Xadrez: refletindo a partir da práxis

    O trabalho pedagógico no clube de xadrez da escola Z4 foi desenvolvido com um grupo de 30 alunos, os quais, por diferentes motivos, eram dispensados das aulas regulares de Educação Física. O grupo se reunia uma vez por semana, em um encontro de 2 horas. Apesar de a turma ser composta por 30 alunos, em média 14 alunos freqüentavam cada encontro. Os alunos chegavam no salão da escola, organizavam-se em duplas por afinidade e jogavam partidas de xadrez. O professor responsável passava pelas duplas dando explicações sobre o jogo e ensinando algumas jogadas diferenciadas. Para compreendermos, no entanto, as características desse grupo de alunos que compõem o Clube de Xadrez, é pertinente falarmos a respeito do grupo que freqüenta as outras aulas de Educação Física e a forma como essas aulas acontecem. As aulas de Educação Física desta escola acontecem duas vezes por semana, reunindo todos os alunos de todas as turmas de Ensino Médio. Conforme relatos do professor responsável pela disciplina, do total de alunos que deveriam freqüentar as aulas, em torno de 30% apresentavam atestado médico ou comprovante de trabalho, a fim de isentarem-se do compromisso com a Educação Física. O professor argumenta, ainda, que em virtude da precária infraestrutura física da escola (uma quadra mal conservada, pátio com mato alto) da falta de interesse dos alunos pelas aulas e problemas de cunho social (evasão, distorção idade-série, uso de drogas, trabalho no horário inverso as aulas) desenvolve seu trabalho trazendo- os para as quadras poliesportivas externas da UFSM (por ser um lugar amplo, agradável e próximo da escola). Disponibiliza materiais e os alunos escolhem a modalidade que pretendem praticar. Relata que não se trata de uma aula formal, com o desenvolvimento de atividades planejadas em torno de um único conteúdo. Coloca que sua intervenção diante das atividades realizadas pela turma restringe-se a observações, acompanhamento e explicações acerca das modalidades esportivas durante o jogo. Neste contexto, muitos alunos do Ensino Médio optam em freqüentar o clube de xadrez, o qual foi criado para atender os alunos que não “gostam” de freqüentar as “aulas de Educação Física”. É válido salientar que os participantes do clube, em geral, são mais novos que os alunos que freqüentam as aulas “normais”, não tendo nenhum caso de reprovação. Ao tomar conhecimento do contexto da Educação Física no Ensino Médio nesta escola, fiquei me questionando de que forma poderia fazer uma intervenção pedagógica significativa naquele grupo em um tempo tão limitado (30 horas). Observando mais atentamente o grupo, percebi que muitos alunos apesar de jogarem desde o início do ano, realizarem diversas partidas por encontro, não tinham domínio de algumas noções importantes do jogo tais como: relação de cooperação entre as peças, planejamento de jogadas, utilização de certas peças (cavalo, bispo).

    Ao pesquisar de que forma poderia contribuir para que esses alunos melhorassem essas noções descobri os jogos pré-enxadrísticos, que são “todos os jogos que o educador inventar ou adaptar dos existentes, com o intuito de atuarem como facilitadores no processo ensino-aprendizagem do xadrez”(WILSON SILVA, 2002). Dentre os pré-enxadrísticos desenvolvidos na aula podemos citar como exemplo: o “Jogo do gato e rato” para trabalhar a noção de cooperação entre as peças, a noção de como o Peão captura, e noções primárias de xeque-mate. Nesse jogo, 4 peças iguais (gatos) movem-se de uma em uma casa pela diagonal à frente. E uma peça diferente (rato) também se move de uma em uma casa pela diagonal à frente e para trás. Não há captura. Os gatos vencem se bloquearem o rato ou o rato vence se escapar do cerco dos gatos. O “Jogo da Velha” para exercitar os movimentos de Torre, Bispo e Cavalo, estimular o raciocínio, atenção. Nesta atividade, utiliza-se um tabuleiro de 9 casas (3x3).Cada jogador possui três peças: Torre, Bispo e Cavalo. Os jogadores devem colocar as peças no tabuleiro tentando formar “três em linha”, como no jogo da velha tradicional. Aquele que conseguir dispor suas peças desta forma por primeiro, ganha o jogo. Após colocar as peças e não havendo fechado “três em linha”, iniciam-se os movimentos das peças como no xadrez, e tenta-se fechar a seqüência das três peças em linha. Também obtém a vitória o jogador que imobilizar as peças de seu adversário.

    Além de perceber que os alunos apresentavam certa dificuldade no entendimento da função e na forma de jogar com algumas peças, outro fato que me chamou atenção foi à falta de intimidade e entrosamento entre os participantes do clube de xadrez. Como esses são alunos de todas as turmas de ensino médio da escola, vários não sabiam os nomes uns dos outros e sequer tinham conversado entre si, apesar de estarmos no 3º trimestre do ano letivo.

    Tomei como desafio introduzir atividades de socialização que estimulassem a movimentação e expressão corporal, mas que abarcassem habilidades trabalhadas também no xadrez a fim de estabelecer relações.

    Lancei vários desafios para serem superados pelo coletivo, a fim de provocar a interação entre esses. Dentre esses realizamos o “Navio Pirata” em que os alunos divididos em quatro grupos, deveriam organizar quatro fileiras de cadeiras uma de frente para outra constituindo um quadrado. Cada fileira constituía um navio, que deveria atravessar o mar (centro do quadrado). Os alunos, em pé em suas cadeiras, deviam encontrar em conjunto uma forma de fazer sua fileira atravessar o quadrado sem cair no mar e sem deixar nenhum colega para trás.

    No início, a turma demonstrou grande resistência às aulas, demonstrando falta de interesse e manifestando a vontade de continuar apenas realizando as partidas de xadrez, alguns se recusaram a participar das atividades em grupo demonstrando vergonha e timidez. Aos poucos, depois de muita insistência, começaram a participar com mais espontaneidade das atividades propostas demonstrando, inclusive, certa desinibição e melhor aceitação ao longo do trimestre.

Considerações finais

    Essa experiência suscitou vários questionamentos acerca da situação da Educação Física no Ensino Médio em Santa Maria, bem como sobre a formação que estamos tendo para enfrentar esse tipo de realidade. Percebi através de conversas informais com o grupo que a falta de “habilidade”, vergonha de se expor e o receio de não ser aceito pelo outro grupo durante as práticas desportivas acaba por distanciar os alunos freqüentadores do Clube de Xadrez das atividades físicas “que acontecem durante aulas de Educação Física”. Essas, ao se caracterizarem pela realização de jogos conforme a vontade e interesse de alguns alunos, distancia aqueles que se sentem menos hábeis, que por conseqüência acabam se autoexcluindo na tentativa de evitar o constrangimento de serem excluídos pelos outros.

    A escolha dos alunos pelo clube de xadrez se dá em função da programação das atividades das aulas de Educação Física, onde é privilegiado apenas os esportes coletivos durante todos os bimestres, isto é, a repetição constante do mesmo conteúdo, repetição do conhecimentos já sistematizados por alguns que insistem em continuar praticando-os pela segurança que possuem em realizá-los.

    Diante disso, cabe questionar a monocultura que se estabelece nesse contexto, em ambos os grupos e nas aulas de ensino médio, em geral. Seja qual for a atividade, se for a única a ser ofertada durante as aulas de Educação Física, a disciplina não estará cumprindo seus propósitos de propiciar aos educandos o maior número de vivências corporais possível, bem como o conhecimento teórico acerca dessas.

    O xadrez é um jogo muito interessante, como referendado anteriormente, para desenvolver diversas habilidades úteis, inclusive, no dia-a-dia. O que deve ser questionado é se somente a prática desse é suficiente para o aluno desenvolver seu potencial, se é o suficiente para dizer que o aluno teve aulas de Educação Física. Ao separar enxadristas dos praticantes das atividades físicas, cai-se no mesmo engodo da separação corpo e mente, atividades que desenvolvem habilidades cognitivas e as que desenvolvem as habilidades corpóreas.

    Toda a monocultura é prejudicial, pois priva o sujeito de diferentes possibilidades. O ideal é que “todos” possam praticar atividades esportivas, que todos tenham acesso aos diversos jogos e demais conteúdos da Educação Física. É necessário que todos tenham acesso ao xadrez, para que a prática desse não seja caracterizada como uma falta de opção por algo melhor, ou se caracterize como espaço punitivo àqueles que não podem ou não querem se submeter a treinamentos, ou exacerbação da performance, ou ainda, seja visto como reduto dos menos “hábeis” nas práticas desportivas.

    A organização curricular da Educação Física deve prezar pela diversidade que reconhece e legitima diferentes critérios de seleção e organização dos conteúdos a partir das trajetórias dos professores e alunos, das peculiaridades das escolas e dos sistemas de ensino. O xadrez como conteúdo da Educação Física na escola merece ser contemplado no planejamento da disciplina. A Educação Física costuma ainda ser confundida com atividades recreativas e esportivas que se realizam nas escolas para além dos tempos e espaços formalizados no currículo. Tais inversões de prioridades, em alguns momentos são reproduzidas nas estruturas do Projeto Político Pedagógico das escolas, a Educação Física tem tratamento diferenciado, que muitas vezes reforça seu distanciamento do cotidiano escolar. Portanto a Educação Física, ao longo da sua inserção escolar, está sendo convidada a responder sobre o xadrez e suas possíveis contribuições à formação de crianças, adolescentes, jovens e, mais recentemente, de adultos.

Notas

  1. Disponível: www.mec.gov.br/acs/asp/noticias/noticiasId.asp?Id=6763 - 8k . Acesso em 27 /11/2007

  2. Este autor propôs que o ser humano possui sete tipos de inteligência: Matemática, Lingüística, Espacial, Sinestésica, Intrapessoal, Interpessoal e Musical.

  3. COBRA, Nuno. Jogar Xadrez Exige Preparo Físico. Disponível em http://www.fexpar.esp.br/Leituras/nunocobra/QualidadedeVida.htm. Acesso em 28 de outubro 2007.

  4. Optou-se em utilizar a letra Z como denominação, a fim de preservar a imagem dos alunos, da escola e do professor envolvido.

Referências bibliográficas

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