O exercício crucifixo tem maior duração da repetição média comparado com o voador quando essa variável é prescrita livremente na musculação El ejercicio de apertura tiene una mayor duración de la repetición promedio comparado con el de pectorales cuando esa variable es prescrita libremente en musculación |
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Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional Laboratório do Treinamento na Musculação (LAMUSC) Belo Horizonte, MG (Brasil) |
Lucas Túlio de Lacerda Sandra Carvalho Machado Cinara Gonçalves Costa Allan Filipe Silveira Barros Fernando Vitor Lima Mauro Heleno Chagas |
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Resumo Na prática da musculação, a variável duração da repetição (DR) vem sendo prescrita de forma qualitativa (“mais rápido” ou “mais lento”) por profissionais de Educação Física. Sendo assim, faz-se necessário identificar se existem diferenças nas DR de exercícios com características semelhantes. O presente estudo teve como objetivo comparar as DR médias durante a realização de dois exercícios na musculação, sendo um com pesos livres (crucifixo-CRUC) e o outro em uma máquina (voador-VOA), em programas de treinamento em que os indivíduos têm como referência uma DR livre. Participaram do estudo 15 indivíduos, sendo 10 mulheres e 5 homens. Os indivíduos que realizaram o CRUC apresentaram idade de 39,62 ±12,88 anos e 4,03 ±4,36 anos de prática de musculação, enquanto os que realizaram o VOA 32,38 ±12,02 anos e 3,68 ±4,51 anos, respectivamente. Com um cronômetro manual, foram registradas 60 séries dos exercícios CRUC e VOA, sendo 30 séries para cada exercício. Verificou-se por meio do teste U de Mann-Whitney que a DR média do CRUC foi significativamente maior que no VOA (3,00 ±0,95 e 2,38 ±0,71 segundos, respectivamente). Possivelmente, essa diferença ocorreu devido à influência de outras variáveis como trajetória e amplitude de movimento. Unitermos: Duração da repetição. Máquinas. Musculação. Pesos livres.
Abstract In weight training, the variable duration of repetition (DR) has been prescribed in a qualitative way (“faster” or “slower”) by Physical Education professionals. Therefore, it is necessary to identify if there are differences in the averages DR of different exercises which are apparently similar. The present study has as aim to compare the averages DR during the achievement of two exercises in weight training, in which one with free weights (dumbbell fly) and the other in a machine (fly), in program of training in which the individuals have as a reference a free DR. Fifteen volunteers took part of the study (10 female and 5 male). The volunteers that performed the dumbbell fly were age 39,62 ±12,88 years and 4,03 ±4,36 years of practice of weight training, while the ones that performed the fly were 32,38 ±12,02 and 3,68 ±4,51 years, respectively. With a manual chronometer, there have been registered 60 sets of the exercises dumbbell fly and fly, being 30 sets for each exercise. It has been showed by the Mann-Whitney U test that the mean DR of dumbbell fly was significatively higher than the fly (3,00 ±0,95 and 2,38 ±0,71 seconds, respectively). Possibly, this difference was due to the influence of the other variables as trajectory and range of motion. Keywords: Duration of repetition. Free weights. Machine. Weight training.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O treinamento de força tem se desenvolvido ao longo dos tempos e a comunidade científica tem dado grande ênfase à importância dessa prática (KRAEMER; HAKKINEN, 2004). Segundo Jones et al. (2008) programas de treinamento na musculação são geralmente realizados tanto com pesos livres quanto em máquinas, entre eles o crucifixo (CRUC) e o voador (VOA), respectivamente. Exercícios em máquinas têm sido utilizados por serem mais seguros que com pesos livres (HARMAN, 1994), embora se tenham poucos dados científicos que suportam essa afirmativa. Por outro lado, exercícios com pesos livres necessitam de maior coordenação e controle motor (STONE, 1982) e requerem o controle da barra ou halteres nos três planos de movimento, resultando, dessa forma, em uma maior ativação dos grupos musculares sinergistas (McCAW; FRIDAY, 1994, SCHICK et al., 2010).
Embora possam parecer semelhantes, estudos têm mostrado diferenças significativas ao comparar variáveis como força máxima (COTTERMAN et al., 2005; JONES et al., 2008), ativação eletromiográfica (McCAW; FRIDAY, 1994, SCHICK et al., 2010; WELSCH et al., 2005) e as características cinéticas (JONES et al., 2008) entre exercícios realizados com pesos livres e máquinas. Numa outra perspectiva, praticantes de musculação, frequentemente, usam vários exercícios que envolvem grupos musculares semelhantes na tentativa de alterar o programa de treinamento com o objetivo de aumentar ganhos de hipertrofia e força em determinados músculos (WELSCH et al., 2005). Além do mais, a musculatura do peitoral tem posição de destaque nos programas de treinamento e vários exercícios são usados com o objetivo de desenvolver essa musculatura, entre eles o crucifixo e voador (WELSCH et al., 2005). Por esses fatores, levanta-se uma expectativa de que diferenças em outras variáveis do treinamento podem acontecer entre esses dois exercicios.
Entre essas variáveis, a duração da repetição (DR), definida como o tempo de estímulo de uma única repetição (CHAGAS, LIMA, 2008), tem sido estudada por influenciar de forma significativa as características do estímulo de treinamento. Sakamoto e Sinclair (2006) mostraram que a mudança na DR pode alterar a carga de treinamento de uma sessão; por exemplo, um peso de 80 Kg pode representar quatro ou cinco RM, dependendo da DR. Dados do estudo de Jones et al. (2008) mostraram que uma maior velocidade de movimento foi alcançada durante a realização do levantamento olímpico na máquina em comparação com o executado com pesos livres. Segundo os autores, é possível que essas diferenças na velocidade de movimento possam ser causadas pelo menor peso levantado na máquina comparado com exercício livre. Sendo assim, como a velocidade é uma grandeza derivada do deslocamento e do tempo (HALL, 2009), possivelmente, a DR pode ser modificada quando se altera o equipamento utilizado para execução do exercício.
Logo, considerando que diferentes DR implicariam em diferentes cargas de treinamento, faz-se necessário identificar se existem diferenças nas DR de diferentes exercícios aparentemente semelhantes. Tais informações conduzirão a uma discussão sobre quais as possíveis implicações da DR livre para o treinamento, resultando em orientações importantes para a prescrição do treinamento, principalmente se considerarmos que muitos profissionais prescrevem essa variável somente de forma qualitativa (“mais rápido” ou “mais lento”).
Portanto, o objetivo do presente estudo foi comparar as DR médias durante a realização de dois exercícios na musculação, sendo um com pesos livres (CRUC) e o outro em uma máquina (VOA), em programas de treinamento nos quais os indivíduos têm como referência uma DR livre.
Métodos e procedimentos
A coleta de dados para o estudo foi realizada em duas partes, sendo a primeira, a confiabilidade da medida manual do avaliador, e a segunda, a medida da DR no treino diário dos voluntários. A primeira parte foi realizada com o objetivo de identificar possíveis diferenças entre a DR média medida manualmente pelo avaliador nas academias e a medida em laboratório, tendo como referência um metrônomo e calculada com base em dados provenientes de um eletrogoniômetro. A segunda parte somente foi iniciada quando a medida do avaliador foi considerada confiável para as medidas da DR manualmente nos dois exercícios (CRUC e VOA).
Primeira parte: Confiabilidade da medida manual do avaliador
Amostra –
Instrumentos –
Procedimentos
Análise estatística e resultados
Segunda parte: Comparação da DR realizada nos dois exercícios
Amostra –
Instrumentos –
Procedimentos –
DR média (s) = Duração total (s) / Número de repetições
Análise estatística
Resultados
Os valores médios e desvio padrão das DR médias encontradas nos dois exercícios estão apresentados na tabela 1. Por meio do teste U de Mann-Whitney, verificou-se que a DR média do exercício CRUC foi maior do que a do VOA (p = 0,006).
Tabela 1. Média e desvio padrão da duração da repetição em cada exercício
Discussão
Os resultados deste estudo mostraram que as DR médias foram de 3,00s para o CRUC e de 2,38s para o VOA, confirmando que exercícios realizados em máquinas comparados com os realizados com pesos livres podem ter DR médias diferentes. Uma das possíveis explicações para esse resultado pode ser baseada no fato de que foi encontrada uma maior velocidade de movimento no exercício levantamento olímpico realizado em uma máquina comparado com o realizado com pesos livres (JONES et al., 2008). Como a velocidade é uma grandeza derivada do deslocamento e do tempo (HALL, 2009), a variável tempo, que no presente estudo é a DR média, é influenciada pela velocidade de movimento e pelo deslocamento. Dessa forma, a DR média no CRUC foi maior do que no VOA, em parte, pelo fato desse ter apresentado menor velocidade de movimento, conforme sugerido por Jones et al. (2008).
Já a influência do deslocamento na DR pode ser explicada por meio da análise da trajetória dos exercícios. No estudo de Jones et al. (2008) os indivíduos terminaram a execução no exercício levantamento olímpico realizado na máquina com o corpo mais inclinado para frente comparado com o exercício realizado com pesos livres, o que sugere que a trajetória seja diferente entre os exercícios. Desta forma, é possível que no CRUC a trajetória também tenha sido diferente da executada no VOA. Como este exercício apresenta maior grau de liberdade, ele permite que o voluntário aplique força em diferentes planos de movimento, o que resulta, numa trajetória não linear do movimento do halter. Como no VOA, a trajetória é linear pois é restrita pela máquina, é possível que a trajetória adotada pelos voluntários no exercício CRUC tenha resultado em maior deslocamento, o que consequentemente aumentaria suas DR médias.
Tendo em vista que a DR, mesmo quando prescrita livremente, pode ser diferente para diferentes exercícios, torna-se importante discutir possíveis implicações deste resultado para o treinamento na musculação. De acordo com a literatura mencionada, a DR pode influenciar em aspectos fisiológicos (TANIMOTO; ISHII, 2006; VERA-GARCIA et al., 2008) e biomecânicos (JONES et al., 2008) e, consequentemente, na carga de treinamento (SAKAMOTO; SINCLAIR, 2006). Porém, estes resultados são encontrados quando se compara a DR em uma faixa mais ampla, ou seja, de 1s até 7s (DINIZ, 2008; JONES et al., 2008; MARTINS-COSTA, 2009; MAZZETTI et al., 2007; TANIMOTO; ISHII, 2006; VERA-GARCIA et al., 2008;), enquanto que, os dados obtidos neste estudo mostraram que a diferença na DR foi de menor magnitude (menos de 1s). Sendo assim, mesmo considerando que essa diferença alcançou significância estatística, deve ser levantada a questão se esta variação seria suficiente para conduzir também a diferentes efeitos do ponto de vista fisiológico e biomecânico e, consequentemente, influenciar a característica do estímulo de treinamento. Estudos adicionais com controle de outras variáveis como pausa entre as séries, número de repetições por série poderiam ajudar a responder esta questão.
Conclusão
Os resultados do presente estudo mostram que a DR média realizada no exercício CRUC foi maior quando comparada com a realizada no VOA, quando esta variável foi prescrita livremente. Possivelmente, essa diferença ocorreu devido à influência de outras variáveis tais como trajetória e amplitude de movimento. Em contrapartida, deve-se ressaltar que existe a possibilidade de que a influência dessa diferença sobre a carga de treinamento seja pequena já que ela pode não ter sido suficiente para induzir modificações do ponto de vista fisiológico e biomecânico. Segue como sugestão para os professores de Educação Física um controle da prescrição desta variável, levando em consideração que diferenças entre as DR médias podem ocorrer entre exercícios aparentemente semelhantes e, consequentemente, influenciar outros componentes da carga de treinamento.
Referências
CHAGAS, M.H.; LIMA, F.V. Musculação: Variáveis Estruturais. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2008.
COTTERMAN, M.L.; DARBY, L.A.; SKELLY, W.A. Comparison of muscle force production using the smith machine and free weights for bench press and squat exercises. Journal of Strength and Conditioning Research, 2005; 19;1;169-176.
DINIZ, R.C.R. A duração da repetição influencia a concentração de lactato sanguíneo e a percepção subjetiva de esforço em protocolos de treinamento no exercício supino. 2008. 75f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Esporte) – Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Educacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
HALL, S.J. Biomecânica Básica. 5.ed. Barueri, SP: Manole, 2009;320-322.
HARMAN, E. The biomechanics of resistance exercise. In: Essentials of Strength Training and Conditioning. T.R. Baechle, ed. Champaign: Human Kinetics Books, 1994; 19-50.
JONES, R.M.; FRY, A.C.; WEISS, L.W.; KINZEY, S.J.; MOORE, C.A. Kinetic comparison of free weight and machine power cleans. Journal Strength Conditioning Research, 2008;24;3;779-84. KRAEMER, W.J.; HAKKINEN, K. Treinamento de força para o esporte. Editora Artmed. Porto Alegre, 2004.
MARTINS-COSTA, H.C. Respostas fisiológicas e mecânicas provocadas por protocolos de treinamento com diferentes durações da repetição no exercício supino. Dissertação de mestrado em Ciências do Esporte. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional – UFMG, 2009.
MAZZETTI, S.; DOUGLASS, M.; YOCUM, A.; HARBER, M. Effect of expolsive versus slow contractions and exercise intensity on energy expenditure. Medicine and Science in Sports and Exercise, 2007;39;8;1291-1301.
McCAW, S.T.; FRIDAY, J.J. A comparison of muscle activity between a free weight and machine bench press. Journal of Strength and Conditioning Research. 1994;8;4;259-264.
SAKAMOTO, A.; SINCLAIR, P.J. Efect of movement velocity on the relationship between training load and number of repetitions of bench press. Journal of Strength and Conditioning Research, 2006;20;3;523-27.
SCHICK, E.E.; COBURN, J.W.; BROWN, L.L.; JUDELSON, D.A.; KHAMOUI, A.V.; TRAN, T.T.; URIBE, B.P. A comparison of muscle activation between a smith machine an free weight bench press. Journal of Strength and Conditioning Research, 2010;24;3;779-784.
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VERA-GARCIA, F.; FLORES-PARODI, B.; ELVIRA, J.L.; SARTI, M.A. Influence of trunk curl-up speed on muscular recruitment. Journal of Strength and Conditioning Research,2008;22;3;684-90.
WELSCH, E.A.; BIRD, M.; MAYHEW, J.L. Electromyographic activity of the pectoralis major and anterior deltoid muscles during three upper-body lifts. Journal of Strength and Conditioning Research, 2005; 19;2;449-452.
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