Monitoramento da carga interna em atletas de jiu-jitsu após uma simulação de combate Monitoreo de la carga interna en luchadores de jiu-jitsu luego de una simulación de combate |
|||
Universidade Cruzeiro do Sul Departamento de Educação Física (Brasil) |
Gustavo Barquilha |
|
|
Resumo É notável o crescimento no número de praticantes de jiu-jitsu no Brasil e no mundo, principalmente pelo fato da popularização desse esporte decorrente da prática do Jiu-Jitsu por atletas de Mixed Martial Arts (MMA). Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi verificar a influência de uma simulação de combate de Brazilian Jiu-Jitsu (BJJ) nos marcadores de carga interna Percepção Subjetiva de Esforço, glicemia, lactato e freqüência cardíaca em atletas profissionais. 10 atletas de alto nível fizeram uma simulação de combate de BJJ, com duração de 10 minutos, sendo feitas coletas de sangue capilar e de freqüência cardíaca antes, após e 10 minutos após a realização da competição. Houve aumento significativo na freqüência cardíaca, lactato e Percepção Subjetiva de Esforço após e 10 minutos após a realização da simulação de BJJ. Os resultados do presente estudo indicam a alta intensidade do esforço decorrente da simulação de BJJ. Unitermos: Jiu-jitsu. Carga interna. Combate.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
É notável o crescimento no número de praticantes de jiu-jitsu no Brasil e no mundo, principalmente pelo fato da popularização desse esporte decorrente da prática do Jiu-Jitsu por atletas de Mixed Martial Arts (MMA) (PAIVA, 2010). Nesse sentido, tem aumentado também o numero de pesquisas relacionadas com esse esporte (BARRETO et al., 2005; OLIVEIRA et al., 2006; DEL VECCHIO et al., 2007; SCARPI et al., 2009; ROLAND et al., 2010; NETO; DECHECHI, 2010).
Segundo a confederação Brasileira de Jiu-Jitsu, o esporte nasceu na Índia e se difundiu no Japão, chegando ao Brasil, mais especificamente em Belém do Pará, em 1915, trazida pelo mestre Conde Koma. Anos depois, Carlos Gracie adaptou o jiu-jitsu japonês, que privilegiada as quedas, para o Jiu-Jitsu dos Gracie, que aprimorava a combate no chão e os golpes de finalização, iniciando assim o primeiro caso de mudança de nacionalidade de uma luta, ou esporte, na história esportiva mundial, nascendo assim o Brazilian Jiu-Jitsu (BJJ).
O BJJ consiste de movimentos explosivos, quedas, imobilizações, equilíbrio, entre outras ações, sendo o principal objetivo a finalização de seu adversário (DEL VECCHIO et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2006; PAIVA, 2010). Neto e Dechechi (2010) citam que lutadores de Jiu-Jitsu necessitam de altos níveis de força e potência muscular, além de alta resistência a fadiga.
Atualmente existem diversas competições nacionais e internacionais de BJJ, exigindo um bom preparo físico dos atletas. Sendo assim, entender as respostas fisiológicas do BJJ é de grande valia para atletas, preparadores físicos e fisiologistas envolvidos com o esporte. Assim, tem se investigado varias respostas fisiológicas decorrentes da prática do BJJ, como a força e potência muscular (MATUZAKI et al., 2010; NETO; DECHECHI, 2010), frequência cardíaca durante a luta (DEL VECCHIO et al., 2007; FRANCHINI et al., 2003), lactato (DEL VECCHIO et al., 2007), entre outras variáveis.
Vários pesquisadores têm investigado as respostas da FC, lactato e também a Percepção Subjetiva de Esforço (PSE), seja em um protocolo de exercícios ou em uma prática esportiva, denominando essas respostas como carga interna (FOSTER et al., 2001; IMPELIZZERI et al., 2005; NAKAMURA et al., 2010; MOREIRA, 2008; MOREIRA et al 2009). Ou seja, as exigências físicas (carga externa) do BJJ podem ocasionar em alterações nas respostas fisiológicas de seus praticantes (carga interna).
Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi verificar a influência de uma simulação de combate de Brazilian Jiu-Jitsu nos marcadores de carga interna PSE, glicemia, lactato e frequência cardíaca em atletas profissionais.
Metodologia
10 atletas de BJJ foram voluntários na presente pesquisa. A idade (anos), peso (kg), altura (cm), % de gordura e experiência no BJJ (anos) dos voluntários são apresentadas na Tabela 1. Como critério de inclusão foi definido que os voluntários tinham que ser graduados, competidores e que treinassem mais de 3x por semana, com mais de 5 anos de experiência. Além disso, as duplas foram definidas primeiramente pela graduação de cada um e pelo tempo de BJJ, buscando um maior equilíbrio entre as combates. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Cruzeiro do Sul, de acordo com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos.
Tabela 1
Protocolo experimental
A simulação de um combate de BJJ teve a duração de 10 minutos interruptos. Caso a combate fosse interrompida por algum tipo de finalização por parte de algum dos lutadores, os mesmos eram instruídos a voltarem imediatamente ao combate.
Frequência cardíaca
A FC foi coleta 10 minutos antes, imediatamente após e 10 minutos após a realização da simulação, através de um monitor de frequência cardíaca da marca POLAR modelo RS300. No momento pré os voluntários ficaram sentados durante um período de 10 minutos, assim como durante os 10 minutos de recuperação. Já no momento pós-simulação, a coleta da FC foi imediatamente após o término da simulação.
Glicemia
A glicemia foi coleta antes, após e 10 minutos após a realização da simulação, através de um Medidor de Glicose One Touch Ultra 2 Johnson & Johnson Medical. No momento pré os voluntários ficaram sentados durante um período de 10 minutos, assim como durante os 10 minutos de recuperação. Já no momento pós-simulação, a coleta da glicemia foi imediatamente após o término da simulação.
Percepção subjetiva de esforço
Para verificar a fadiga muscular dos voluntários, a PSE foi coleta antes, após e 10 minutos após a realização da simulação, através de uma escala de BORG, que variava entre os valores de 0 a 10, aonde 0 significa “absolutamente nada” e 10 significa “extremamente forte”. No momento pré os voluntários ficaram sentados durante um período de 10 minutos, assim como durante os 10 minutos de recuperação. Já no momento pós-simulação, a coleta a PSE foi imediatamente após o término da simulação.
Lactato
O lactato foi coletado antes e após a realização da simulação, através do aparelho Accutrend® Plus da marca ROCHE. No momento pré os voluntários ficaram sentados durante um período de 10 minutos, assim como durante os 10 minutos de recuperação. Já no momento pós-simulação, a coleta de lactato foi imediatamente após o término da simulação.
Resultados
Foram encontrados aumentos da frequência cardíaca nos momentos pós-simulação e 10 minutos pós-simulação, assim como a PSE, que teve aumento nos mesmos momentos. Já o Lactato aumentou no momento Pós-simulação, enquanto que a glicemia não apresentou aumentos significantes em nenhum dos momentos estudados. Os resultados estão expressos na tabela 2.
Tabela 2
Discussão
No presente estudo foi encontrado aumentos significantes da FC, Lactato e PSE nos momentos logo após e 10 minutos após a realização de uma simulação de um combate de Jiu-jitsu com duração de 10 minutos. Estes resultados indicam a alta intensidade realizada pelos voluntários.
Com relação ao aumento na concentração de lactato no presente estudo, nossos resultados corroboram com um estudo realizado por Del Vecchio et al. (2007), que encontraram aumentos nas concentrações deste metabólito nos momentos após as combates (10,2 Mmol) e 10 minutos após as combates (9,28 Mmol) comparado com os valores pré-combate (2,2 mmol). O interessante é ressaltar que os valores encontrados por neste estudo são parecidos com os valores encontrados em nosso estudo, mesmo sendo em situações diferentes, pois em nosso estudo o protocolo experimental era formado por uma simulação de combate, enquanto que no estudo de Del Vecchio et al. (2007) as coletas foram realizadas após combates reais, durante uma competição oficial. Esses resultados indicam que o Jiu-Jitsu tem uma grande influência na acidose muscular. (PAIVA, 2010; DEL VECCHIO et al., 2007). Esses altos valores de lactato nesses dois estudos podem ser explicados pela característica intermitente do BJJ, devido ao fato de existirem seqüências de combate com intervalos curtos de recuperação, podendo haver uma maior solicitação sistema ATP-CP no inicio do combate, seguido da via glicolítica no decorrer do combate (SIKORSKI et al., 1997; FRANCHINI et al., 2004).
No presente estudo houve um aumento significante da frequência cardíaca nos momentos pós-combate e 10 minutos pós-combate. Até o momento não foram encontrados estudos que verificaram a FC após a realização de uma simulação ou de um combate real de Jiu-Jitsu. Del Vecchio et al. (2007) verificaram a resposta da FC durante uma luta de Jiu-Jitsu, e viram aumentos significativos durante o período estudado, sendo que o valor médio pré-luta foi de 73 bpm, com valores médios de combate de 184 bpm.
Foram encontrados aumentos também na percepção subjetiva de esforço nos momentos pós-combate e 10 minutos pós-combate através da aplicação de um questionário de PSE, no caso o de BORG. Não foram encontrados até o momento estudos que investigassem a PSE após um combate de BJJ, sendo esta uma ferramenta útil e barata para o monitoramento da intensidade do esforço (SUZUKI et al. 2007; MOREIRA et al, 2007). Nakamura et al (2010) citam que o PSE pode ser considerado uma estratégia simples e confiável para se monitorar a carga interna de treinamento
A glicemia não foi alterada significantemente em nenhum dos momentos estudados. Outros estudos também não encontraram alterações significantes em indivíduos não-diabéticos que realizaram algum tipo de exercício físico (ROBERGS et al., 1991; McMILLAN et al., 2002). No presente estudo o fato da glicemia não ter sido alterada é mais um indicativo de que foi utilizado as vias fosfâgenicas (ATP-CP) e glicolítica (lática), sendo utilizado apenas o glicogênio muscular, com baixa utilização da glicose plasmática para a realização do esforço (ROBERGS et al., 1991; McMILLAN et al., 2002).
Referências
BARRETO, A. C. G.; VALE, R. G. S.; NOVAES, J. S. Comparação dos níveis de flexibilidade entre praticantes de musculação e ginástica localizada. Revista Motricidade, Vila Real, v. 1, n. 3, p. 184-192, 2005.
DEL VECCHIO, F.B.; et al. Análise morfo-funcional de praticantes de brazilian jiu-jitsu e estudo da temporalidade e da quantificação das ações motoras na modalidade. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, v. 7, p. 263-281, 2007.
FRANCHINI, E.; TAKITO, M.Y.; PEREIRA, J.N.C. Freqüência cardíaca e força isométrica durante a luta de jiu-jitsu. Lecturas Educación Física y Deportes. Buenos Aires, v. 65, 2003. http://www.efdeportes.com/efd65/jiujitsu.htm
FRANCHINI, E.; et al. Nível competitivo, tipo de recuperação e remoção do lactato após uma luta de judô. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, Florianópolis, v. 6, p. 07-16, 2004.
Foster C, Florhaug JA, Franklin J, Gottschall L, Hrovatin LA, Parker S, et al. A new approach to monitoring exercise training. Journal of Strength and Conditioning Research, Connecticut, v.15, p.109-15, 2001.
MATUZAKI, S. S.; DELGADO, M. M.; DECHECHI, C. J. Efeitos de uma simulação de competição de jiu-jitsu sobre a força muscular isométrica de mãos em praticantes iniciantes da modalidade. In: XXXIII Simpósio internacional de Ciências do Esporte - Boas Praticas na atividade Física e no Esporte, Revista Brasileira de Ciências e Movimento, Brasília, p. 214, 2010.
IMPELLIZZERI, F. M.; et al. Physiological assessment of aerobic training in soccer. Journal of Sports Sciences, London, v. 23, no. 6, p. 583-592, 2005.
McMILLAN, J.L.; STONE, M.H.; SARTIN, J. 20-hour physiological responses to a single weight-training session. Journal of Strength conditioning Research, Connecticut, v. 7, n.1, p. 9-21, 1993.
MOREIRA, A. Teste de campo para monitorar desempenho, fadiga e recuperação em basquetebolistas de alto rendimento. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 19, n. 3, p. 241-250, 2008.
MOREIRA, A. et al. Esforço percebido, estresse e inflamação do trato respiratório superior em atletas de elite de canoagem. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.23, n.4, p.355-363, 2009
NAKAMURA, F Y; MOREIRA, A; AOKI, M S. Monitoramento da carga de treinamento: a percepção subjetiva do esforço da sessão é um método confiável?. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 21, p. 1-11, 2010.
NETO, A. G.; DECHECHI, C. J. Efeito de treinamento de Resistência Anaeróbica Específico Para Atletas de Jiu-JItsu Quanto a Força de Preensão Manual e Potência Muscular. Hórus (FAESO), Ourinhos, v. 4, p. 188-207, 2010.
OLIVEIRA, M.; et al. Avaliação da força de preensão palmar em atletas de jiu-jitsu de nível competitivo. Revista Brasileira de Ciências e Movimento, Brasília, v. 14, n. 3, p.63-70, 2006.
PAIVA, L. Pronto pra Guerra: Preparação Física Específica para Luta e Superação. Manaus: Omp editora, 2010.
ROLAND, M.C.; et al. Nível de Flexibilidade em Atletas de Jiu-Jitsu. In: 33o Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 2010, São Paulo. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, 2010. v. 18. p. 217.
ROBERGS, et al. Muscle glycogenolysis during differing intensities of weight-resistance exercise. Journal of Applied Physiology, v. 4, p.1700-1706, 1991.
SIKORSKI, W.; et al. Structure of the contest and Work capacity of the judoist. Proceedings of the International Congress on Judo “Contemporary Problems of Training and Judo Contest”. Spala, p. 58-65, 1987.
SCARPI, M.J. ; et al. Associação entre dois diferentes tipos de estrangulamento com a variação da pressão intra-ocular em atletas de jiu-jitsu. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, São Paulo, v. 72, p. 341-345, 2009.
SUZUKI, F. G. et al. Esforço percebido durante o treinamento intervalado na natação em intensidades abaixo e acima da velocidade crítica. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, Porto, v. 7, no. 3, p. 299-307, 2007.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 16 · N° 164 | Buenos Aires,
Enero de 2012 |