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Mega-eventos esportivos: e a sociedade com isso?

Mega-eventos deportivos: ¿y la sociedad con esto?

 

Graduado em Educação Física

Universidade Estadual do Centro Oeste, Unicentro

(Brasil)

Jorge Willian Pedroso Silveira

jorge_basquete@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O Brasil está prestes a sediar duas das maiores competições esportivas do mundo, a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Porém, sabe-se que a realidade no país, além da defasagem na própria promoção do fenômeno esporte, é subdesenvolvido nas questões de infra-estrutura, planejamento e segurança. Este estudo visa expor alguns destes pontos falhos, afim de, dar respaldo a discussão a respeito da viabilização que implica trazer espetáculos de tal magnitude, perante uma sociedade brasileira cada vez mais acostumada ás falhas de seus administradores.

          Unitermos: Mega-eventos esportivos. Sociedade brasileira. Esporte.

 

Abstract

          Brazil is about host two of the biggest sporting competitions in the world, the FIFA World Cup in 2014 and the Olympic Games in Rio de Janeiro in 2016. However, we know that the reality in the country, besides the lag phenomenon in its own promotion of sport, is underdeveloped in matters of infrastructure, planning and security. This study aims to expose some of these pitfalls in order to give support the discussion about viability implies that bring performances of such magnitude against a Brazilian company more accustomed to the failings of their managers.

          Keywords: Mega-sporting events. Brazilian society. Sport.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Esporte: instrumento de alienação

    É indiscutível o orgulho nacional diante da confirmação da sediação tanto da Copa do Mundo de Futebol em 2014, quanto dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Este nacionalismo que aflora, bem como os sonhos provenientes das oportunidades que estarão por vir, conflita com a realidade do presente; muitos consideram que estas cerimônias são compatíveis á política de pão e circo usada no Coliseu, onde eventos esportivos da época (gladiadores) aliados á distribuição de pães, faziam com que a população esquecesse-se das tensões políticas e econômicas da nação.

    Outro exemplo paradigmático citado por Sousa e Pelegrini (2008), foram as Olimpíadas da China realizadas em Beijing 2008 que citando Brohm (2000) demonstram que o mundo fechou mais uma vez seus olhos para as violações dos direitos humanos com o objetivo do sucesso da “festa olímpica”, que serviu para a propaganda de um regime totalitário. Para Brohm (2000), serão esquecidos os campos de trabalhos forçados, a ocupação do Tibete, a repressão sangrenta da Praça Tienanmen e as execuções públicas dos condenados à morte. E o esporte, com seu “humanismo falso”, servirão de justificativa a uma operação de marketing político para a burocracia chinesa. Como de hábito, a “finalidade sem fim” do esporte legitimará o monopólio da violência ilegítima de um governo.

    O esporte é usado para desviar atenção e atenuar as tensões sociais. Nesse âmbito, oferece uma compensação às insuportáveis condições de vida das camadas sociais mais baixas. Dessa forma, o esporte lazer e o esporte espetáculo desviam atenção da população dos movimentos políticos para as competições esportivas. Em relação a essa assertiva Bracht (2005) considera que o esporte provoca um desinteresse político, ou seja, ao lado do conteúdo ideológico veiculado pelo esporte, o intensivo engajamento no esporte provocaria um desinteresse político. O interesse nas tabelas dos campeonatos, nos ídolos esportivos etc. impediria a formação da consciência política e o conseqüente engajamento político. Além disso, a prática do esporte levaria à adaptação às normas e ao comportamento competitivo, básicos para estabilidade e/ou reprodução do sistema capitalista.

    Para Marques (2006) o sucesso internacional no desporto contribui para reforçar a autoestima dos países e é também a expressão do desenvolvimento dos sistemas desportivos nacionais. As performances dos atletas de alto nível - no seu esforço de contínua superação das possibilidades humanas - não são possíveis sem estruturas, sem especialização, sem profissionalização, sem competição, sem desenvolvimento científico, ajudando-nos a perceber melhor a nossa condição “humana”. E só quando um determinado desporto se torna global, com a participação de atletas de todos os países, poderemos perceber quem são os indivíduos mais dotados de capacidades para o sucesso naquele desporto. Só então o verdadeiro potencial humano, em cada disciplina desportiva, poderá ser conhecido.

    Nesse sentido, para Souza e Pelegrini (2008) o esporte passa a aderir os princípios da ideologia burguesa tais como, o individualismo, ascensão social, sucesso, eficiência e rendimento. Portanto o esporte passa a ser entendido na sociedade moderna, através de suas técnicas e regras como colaborador do sistema capitalista, sendo comparado com o trabalho alienado.

O mercantilismo esportivo

    Para suprir a necessidade de atletas de alto nível tornam-se necessários melhores programas de treinamento, visando o desenvolvimento desses atletas, porém, essa não é uma tarefa das mais fáceis, são indispensáveis condições físicas, estruturais e humanas, onde a cobrança excessiva de professores e pais pode destruir todo esse processo, o que é conhecido como Especialização Esportiva Precoce.

    Nos dias atuais, para atingir resultados desportivos superiores, os atletas dedicam-se à atividade esportiva durante muitos anos de suas vidas (OLIVEIRA E PAES, 2004). Por isso, torna-se necessária uma subdivisão metodológica rigorosa em longo prazo, relacionada à preparação dos atletas, na qual as etapas e fases não têm prazos definidos de início e finalização, pois dependem não só da idade, mas também do potencial genético do esportista e do ambiente no qual ele está inserido, das particularidades de seu crescimento, maturação, desenvolvimento, da qualidade dos técnicos, entre outros, e também das características de cada modalidade escolhida. Parte dos professores preocupa-se em especializar crianças precocemente a fim de ganhar algumas medalhas (SANTANA, 2006) o que implica, muitas vezes, na infeliz idéia de seletividade, que nega a boa parte daquelas a oportunidade de participar dos jogos.

    Os problemas que envolvem a Especialização Esportiva Precoce (EEP) decorrem das pressões exercidas pelos pais e técnicos aos praticantes, a definição precoce do esporte a ser praticado; a competição exacerbada, a busca da plenitude atlética em crianças e adolescentes ainda em formação, a cobrança de resultados prejudicam a formação tanto de atletas como de pessoas como indivíduos sociais (FERREIRA, 2001). A especialização precoce é definida como uma prática sistemática de um único tipo de esporte antes da puberdade, predominantemente competitiva, com elevada dedicação aos treinamentos e com o objetivo de se alcançar resultados em curto prazo (SANTANA, 2006).

    Porém, a Olimpíada de 2016 não é o evento que mais preocupa nesta “venda de sonhos” ás classes menos favorecidas, ela é superada pela Copa do Mundo de 2014, já que o futebol é algo que mexe com o imaginário de crianças por todo o mundo, no Brasil é talvez a única possibilidade que uma criança carente tem de obter sucesso e riqueza sem que seja indispensável o estudo, afinal como diz a música interpretada por Gabriel o Pensador: “Futebol não se aprende na escola...” isso talvez seja a maior verdade e o maior problema encontrado na oferta de esportes no Brasil, já que o consideram o “país do futebol”, e detém milhões de espectadores fascinados por esta modalidade.

    Essas implicações acontecem com maior evidência em âmbito escolar, onde a criança detém seu primeiro contato com o esporte. Segundo Pinho (2009): a escola deve cumprir o papel de formar crianças para exercerem funções na sociedade, na disciplina de Educação Física, é fundamental proporcionar aos alunos meios para desenvolverem seu conhecimento geral e específico na área, ou seja, oportunizar a apropriação de uma cultura corporal.

    Contudo não é apenas no âmbito esportivo em que a realização destes eventos atinge de forma contundente a sociedade que o recebe, no caso do Brasil, Caetano et al (2010) apontam que a Copa do Mundo de Futebol, mega-evento esportivo que acontece a cada quatro anos, tem se tornado um empreendimento que não somente mobiliza a sociedade para a apreciação ou reafirmação da identidade nacional, como assim comenta Bitencourt (2009), mas também, muito além de mobilizadores de sentimentos nacionalistas, possibilita uma extensão e complexidade que superam as disputas esportivas que constituem sua essência fundadora.

    Solução de problemas urbanos. É uma preocupação contemporânea a utilização dos Jogos como um indutor de reformas urbanas. Na verdade, em face de custos e críticas correspondentes crescentes, tornou- se uma preocupação e uma exigência do COI a produção de um legado urbano para a cidade-sede. Embora as intervenções urbanas mais freqüentes sejam aquelas relacionadas diretamente às competições, um número elevado de intervenções de infra-estrutura também está associado à realização do evento olímpico (TAVARES, 2005).

    Essa explosão do comércio em cima do esporte abrange outras áreas que já se encontram em defasagem, a política romana de “pão e circo” do século XXI sai um pouco mais cara, mas é bem mais eficiente, enquanto o país se preocupa em estar apto á recepcionar o capital estrangeiro, esquece de investir na população que cresce em número e decresce em qualidade, já que estão limitados os investimentos em escolas, hospitais públicos portam cada vez mais pacientes e menos leitos adequados para recepcioná-los, políticas públicas de investimento no lazer e até mesmo no esporte que não é de rendimento encontram-se em total abandono.

    Souza e Pelegrini (2008) corroboram com isso citando que o esporte em nossa sociedade tem dois objetivos: a busca do rendimento financeiro e a atenuação dos problemas sociais vivido pela população. Ou seja, os autores concluem que o esporte que muitos idealistas consideram como agregador de valores educacionais, tais como disciplina, lealdade, respeito, responsabilidade, superação, entre outros, na verdade não passa de um produto que viabiliza lucro para uma pequena parcela da população.

Mega-eventos no Brasil

    A principal base para estabelecer em que patamar o país encontra-se para sediar mega-eventos esportivos, é o Pan Americano do Rio em 2007. Poffo (2010) aponta que: a realização dos XV Jogos Pan-Americanos, promovido pela Organização Desportiva Pan-Americana (ODEPA), na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, entre 13 e 29 de julho de 2007, contou com a participação de 5662 atletas de 42 países do continente americano, disputando 35 modalidades esportivas.

    A autora afirma com base em dados fornecidos pela imprensa que foram investidos aproximadamente R$ 3,7 bilhões, 800% mais do que os previstos pelo Comitê Olímpico Brasileiro quando de aprovação do Brasil como sede em 2002 (considerando a inflação). Praticamente a totalidade destes custos foi composta por dinheiro público (considerando as 3 instancias governamentais), sendo que na maioria dos casos, sob a alegação de urgência, não foram realizadas licitações, tendo como principais investimentos desta verba em segurança e infra-estrutura, gerando novos equipamentos esportivos de nível olímpico afim de, deixá-los propícios para eventos posteriores.

    Estes dados sugerem que os investimentos para as Olimpíadas sigam a risca o orçamento pré-estipulado, já que a infra-estrutura, equipamentos e segurança já estão disponíveis sendo desnecessários gastos em tais fundos. O que estimula o investimento em capacitação de profissionais que atuem diretamente na recepção dos atletas e espectadores de tais eventos.

    É importante ressaltar, que o esporte na sociedade capitalista assumiu um caráter ideológico e interesseiro na busca do rendimento financeiro pautado, entre outros aspectos, no consumo de roupas esportivas, na criação de complexos multinacionais esportivos e na exploração da imagem televisiva. Esses complexos patrocinam eventos esportivos com a intenção de elevar suas vendas e expandir seu capital, levando ao público consumidor o fetichismo da marca. A comercialização do espetáculo esportivo comprova que o objetivo do esporte de competição é o lucro, porque os organizadores e promotores se interessam, sobretudo pela rentabilidade econômica (PRONI, 2002).

    Sousa e Pelegrini (2008) acrescentam que o esporte no mundo globalizado tem ganhado significativa importância para as políticas governamentais como elemento dispersador de manifestações populares contra as condições indignas de vida, como artifício para legitimar governos autoritários ou ainda para desviar a atenção de escândalos e problemas estruturais.

    Tavares (2005) pondera que um evento do porte dos Jogos oferece oportunidade de atenção mundial para moldar ou remoldar a imagem da cidade e do país no plano internacional. E no próprio campo do esporte, a motivação governamental está relacionada ao efeito positivo sobre os resultados esportivos internacionais do país e ao aumento do número de competições internacionais que o país passa a sediar, gerando tanto medalhas quanto negócios.

    Mega eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 indiscutivelmente trazem status e lucro para o país que os organiza, mas é discutível sobre o destino deste lucro, bem como a origem e utilização dos investimentos pré-evento. Na questão social, torna-se apenas uma cortina para os problemas políticos destas sedes, como a Olimpíada de Pequim 2008 e a Copa do Mundo da África do Sul 2010 o que preocupa devido à alienação da população que paga por esse investimento e nem sempre tem retorno do mesmo.

    Tavares (2005) aponta ainda que de um modo geral, os Jogos são a maior peça de publicidade que uma cidade e um país poderiam desejar. Nenhum evento pacífico se compara aos Jogos em termos de tamanho e exposição. A Cerimônia de Abertura é assistida por pelo menos três bilhões de espectadores, mostrando a cultura e as tradições dos organizadores dos Jogos, fazendo valer sua mensagem e construindo uma imagem desejada de um povo ou cultura.

Considerações finais

    Absurdo é crer na ascensão de um país onde todos são facilmente inebriados com a sediação de dois mega-eventos esportivos, esquecendo de que ele necessita de reforma política tendo mais de 23000 cargos comissionados; temos turmas com mais de 40 alunos para um professor mal remunerado, hospitais públicos com pacientes amontoados em corredores e até mesmo no esporte que vem sendo sucateado desde a iniciação esportiva até aquilo que chamam de esporte profissional. Infelizmente estamos revivendo uma política romana de mais de duzentos anos, priorizando o assistencialismo e gerando distrações para que a população não veja os problemas reais que estão diante de seus olhos.

    Se alguém questionar, se é interessante investir em mega eventos esportivos no Brasil, a resposta prontamente será: Sim! E de fato é interessante, porém por ser um país emergente, é desnecessário mostrar ao mundo como o país é estruturado, tem paisagens lindas, assim como suas mulheres com curvas sinuosas, um povo alegre e cordial. Mas é de suma importância dar respaldo á educação, saneamento básico, proporcionar qualidade de vida e nessa questão, sobretudo, proporcionar esporte, gerar esporte, difundir esporte, gerenciar esporte, para que possamos passar de organizadores ou meros participantes, para protagonistas de competições futuras não só em questões esportivas, mas qualquer outra questão tornando dispensável a idéia de usar o esporte como válvula de escape para os problemas sócio-econômicos da nação, aí sim teremos orgulho de vestir uma camisa verde e amarela, bater no peito e dizer com orgulho “Eu sou brasileiro”.

Referências bibliográficas

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  • FERREIRA, H.B. Iniciação Esportiva: Uma abordagem pedagógica o processo de ensino-aprendizagem do basquetebol. Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Educação Física na modalidade Treinamento em Esportes oferecido pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas. CAMPINAS, 2001.

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  • PINHO, S. T. Método Situacional e sua influência no conhecimento tático processual de escolares. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós- Graduação em Educação Física. Universidade Federal de Pelotas, 2009.

  • SANTANA, W.C. de; REIS, H.H.B. dos; RIBEIRO, D.A. A iniciação de jogadores de futsal com participação na Seleção Brasileira. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 11 – N° 96 – 2006. http://www.efdeportes.com/efd96/futsal.htm

  • SOUZA, D.P. & PELEGRINI, T. Esporte-espetáculo e capitalismo: uma reflexão sobre as contribuições do fenômeno esportivo para a manutenção do metabolismo do capital. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 13 - Nº 127, 2008. http://www.efdeportes.com/efd127/esporte-espetaculo-e-capitalismo.htm

  • TAVARES, O. Quem são os vencedores e os perdedores dos jogos olímpicos? Pensar a Prática 8/1: 69-84, Jan./Jun. 2005.

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