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Prevalência de lesões em goleiros profissionais de futebol de campo

Predominio de lesiones en arqueros profesionales de fútbol de campo

Prevalence of injuries in professional football goalkeeper’s field

 

Universidade de Caxias do Sul

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Pró-Reitoria de Pós-Graduação

Everson Ricardo Pereira

erp_81@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de lesões em goleiros profissionais de futebol de campo. A amostra foi composta por doze goleiros de três equipes da Região Nordeste do estado do Rio Grande do Sul. Foi adotado como critério de seleção, que o atleta estivesse por pelo menos um ano na equipe profissional de seu clube. Para a coleta de dados, foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas e analisado de forma descritiva. Como resultado, pode-se observar que as lesões mais freqüentes foram as entorses de joelho, luxação de ombro e estiramento muscular da coxa. As afecções mais relatadas foram as entorses, luxações, fraturas e estiramento muscular. Em 29% dos casos houve a necessidade de intervenção cirúrgica e 43% dos atletas permaneceram afastados de suas atividades, em decorrência das lesões, por mais de 30 dias.

          Unitermos: Lesões. Goleiros. Futebol de campo.

 

Abstract

          The objective of this study was to assess the prevalence of injuries in professional soccer goalkeepers in the field. The sample consisted of twelve teams of three goalkeepers in the Northeast Region of Rio Grande do Sul was adopted as a criterion for selection, the athlete was at least a year in professional team in your club. To collect data, we applied a questionnaire with open and closed questions and analyzed descriptively. As a result, one can observe that the most frequent injuries were sprains knee, dislocation of the shoulder and thigh muscle strain. The most common diseases reported were sprains, dislocations, fractures and muscle strength. In 29% of cases there was a need for surgical intervention and 43% of the athletes stayed away from their activities as a result of injuries for more than 30 days.

          Keywords: Injuries. Goalkeepers. Football field.

 

          Trabalho apresentado no curso de Pós-Graduação da Universidade de Caxias do Sul para obtenção do Título de Especialista em Ciências do Esporte e da Saúde. Orientador: Dr. Luiz Roberto Marczyk.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A posição de goleiro de futebol de campo exige condições especiais do atleta para ocupá-la (CARLESSO, 1981).

    Fonseca (1998) destaca e classifica algumas capacidades físicas importantes para o goleiro, dividindo-as em duas partes: forma física e destreza motora. O autor considera como forma física as capacidades adquiridas mais facilmente com o treinamento, como força, potência, resistência e flexibilidade, e como destreza motora as qualidades físicas que apresentam maior dificuldade de aquisição, como velocidade e agilidade.

    A função básica do goleiro é defender o gol e, para isso, deve estar em constante aprimoramento técnico e de suas condições físicas. Tais aprimoramentos exigem muito treinamento, que muitas vezes podem contribuir para a ocorrência de lesões. Para Keller (1987) os atletas profissionais de futebol apresentam maior propensão às lesões devido à alta intensidade exigida pelo desporto.

    Raymundo et al. (2005) afirmam que “a exigência cada vez maior da capacidade física aumenta o risco de lesões musculares, seja pelo excesso de treinos e jogos, ou movimentos bruscos em curto intervalo de tempo” (p. 342). As lesões nos esportes de alto rendimento são muito comuns devido ao alto grau de exigência técnica e física imposta aos atletas. No caso do futebol, e particularmente para os goleiros, essa realidade não é diferente. Durante os treinamentos e os jogos, o goleiro de futebol de campo realiza deslocamentos laterais e frontais, saltos laterais e verticais, quedas e corridas bruscas, estando sempre exposto a possíveis lesões. A queda, devido ao seu impacto com o solo, pode proporcionar algumas lesões traumáticas. Malone (2000) destaca que a maioria das lesões ocorridas no punho advém da queda sobre a mão estendia. Outra área da mão bastante suscetível a lesões traumáticas, conforme Malone (2000) são as pequenas articulações interfalangianas proximais. Geralmente ocorrem quando o dedo esbarra numa superfície sólida ou é atingido por uma bola. Pereira et al. (1997), ao pesquisarem o tratamento da lesão aguda do ligamento colateral ulnar do polegar, analisaram sete pacientes, dos quais três eram goleiros de futebol cujos traumas haviam decorrido de acidentes com bola.

    Ejnisman et al. (2001) relatam que o ombro é um local que apresenta lesões de forma freqüente nos esportes competitivos e que as lesões mais comuns ocorrem nos esportes que envolvem o arremesso. Conforme os autores, outros esportes que apresentam grande incidência de lesões de ombro são a natação e o tênis. Malone (2000) afirma que as lesões mais freqüentes do ombro são as do manguito rotador.

    As lesões de joelho são também bastante comuns no futebol. Dentre elas, as mais comuns são as ligamentares, meniscais e tendinosas. (PRATI e VIEIRA, 1998). Eles destacam alguns fatores que influenciam a ocorrência de lesões como a hiperextensão da articulação do joelho no momento do chute, torções geralmente ocasionadas pela má condição do gramado e do calçado e, principalmente, por traumatismo durante a atividade. Garrido, Pineda e Piñeros (s.d.) realizaram estudo em dois clubes de futebol profissional da Colômbia e relataram que a maior incidência de lesões nos atletas havia ocorrido nos joelhos.

    O tornozelo é outra parte do corpo que sofre muitas lesões. As entorses figuram entre as lesões traumáticas mais freqüentes da articulação do tornozelo (MALONE, 2000).

    Segundo Cohen et al. (1997) existem vários estudos sobre incidência de lesões no futebol, porém os números encontrados são bastante diferentes devido à grande quantidade de variáveis. Eles dividiram essas variáveis em dois grupos e as classificaram em: Intrínsecas – inerentes ao esporte em si (corridas curtas e longas, saltos, mudanças rápidas de movimento, cabeceios, etc.) e Extrínsecas (onde se avaliam as condições do campo, tipo de chuteira, condições físicas e de saúde, sexo, quantidade jogos, treinos, motivação, etc.).

    A partir desses aspectos, e ressaltando-se a necessidade de atentar para a saúde e qualidade de vida dos goleiros de futebol, formularam-se as seguintes questões a investigar, e que nortearam a construção desta pesquisa: Existe relação entre as lesões dos atletas e freqüência e intensidade dos treinamentos e jogos? Quais as lesões mais freqüentes? Quantos goleiros apresentam o mesmo tipo de lesão?

    Este estudo irá apontar as lesões apenas em sua localização anatômica e tem por objetivo verificar a prevalência de lesões em goleiros profissionais de futebol de campo.

Metodologia

    O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva de corte transversal (THOMAS E NELSON, 2002).

    A população em estudo é de vinte e três goleiros de seis equipes profissionais de futebol de campo da Região Nordeste e do estado do Rio Grande do Sul e da cidade de Porto Alegre, situada neste mesmo estado. A amostra constituiu-se de doze goleiros de três equipes profissionais. Para considerar os goleiros aptos para a participarem da pesquisa, foi adotado como critério de seleção que os atletas estivessem por pelo menos um ano na equipe profissional de seu clube.

    O contato com estes clubes foi realizado através de visita do pesquisador nas suas dependências, quando foram explicados os objetivos da pesquisa e assinado o termo de consentimento livre e esclarecido pelos dirigentes e pelos atletas.

    Para a realização deste estudo, foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário composto por perguntas abertas e fechadas relacionadas ao tema da pesquisa, o que para Richardson (1999), possibilita ao entrevistado maior liberdade e aprofundamento em suas respostas, podendo assim enriquecer o estudo com o maior número de informações possíveis.

    Buscando adequar as questões aos objetivos da pesquisa, foi realizado um estudo-piloto com goleiros de uma equipe adulta de futsal da cidade de Caxias do Sul. Thomas e Nelson (2002) defendem que a aplicação de um estudo-piloto pode evitar falhas metodológicas importantes, fazendo com que o estudo tenha maior fidedignidade. Günther (2003) salienta a importância da realização de um estudo-piloto para verificar se e como as perguntas estão sendo entendidas pelo público-alvo.

    Os dados resultantes dos questionários foram analisados de forma descritiva, que para Richardson (1989), favorece o foco apenas para as questões mais relevantes do estudo, representando assim, uma excelente forma de descrever, analisar, compreender e classificar qualquer tipo de processo vivenciado, retratando as questões qualitativas.

Resultados e discussões

    Com base na análise dos resultados obtidos, pode-se verificar que a média de tempo de carreira profissional dos goleiros é de 7,5 anos (± 5,40), e a média de idade dos participantes é de 26 anos (± 5,23). Todos os goleiros relataram já ter sofrido algum tipo de lesão durante sua carreira profissional, totalizando 30 lesões, uma média de 2,5 lesões por atleta (± 1,45). Cohen et al. (1997), em estudo sobre lesões ortopédicas no futebol, verificaram que a posição que demonstrou o menor índice de lesões foi a de goleiro, enquanto Silva et al. (2005) em pesquisa realizada com atletas profissionais de um clube de futebol, relataram que os goleiros tiveram a segunda maior incidência de lesões entre todos os jogadores do clube.

    Quanto à freqüência de treinamentos, 100% dos atletas relataram que treinam todos os dias da semana, com uma duração que variou entre uma a duas horas (42%) e de duas a três horas (58%) diárias.

    Em relação à localização anatômica das lesões, 60% delas ocorreram nos membros inferiores, enquanto 40% foram ocasionadas nos membros superiores, havendo um predomínio das lesões de joelho (27%), ombro (20%) e tornozelo (17%), conforme apresentadas no Gráfico I.

Gráfico I. Prevalência de Lesões. Localização Anatômica

    O resultado vai ao encontro da literatura pesquisada, onde o joelho e o tornozelo figuram como regiões predominantes das lesões de atletas de futebol, conforme Cohen et al. (1997), Raymundo et al. (2005) e Souza et al. (2004), que encontraram em seus estudos uma prevalência maior de lesões nos membros inferiores, tendo como predomínio as lesões em joelhos e tornozelos.

    A grande ocorrência de lesões no ombro, verificadas neste estudo se justifica pelo fato de os sujeitos serem todos goleiros e, devido sua função diferenciada no futebol, utilizarem muito os membros superiores durante uma partida, além de realizarem movimentos rápidos e de grande amplitude articular, quedas, colisões e movimentos de arremesso, o que acarreta maior exposição do seu corpo a lesões (SILVA et al., 2005).

    As afecções que ocorreram com maior freqüência foram as entorses (30%), as luxações (17%), as fraturas e os estiramentos musculares (13%), como mostra o Gráfico II.

Gráfico II. Prevalência quanto ao diagnóstico

    SOUZA et al. (2004), verificaram em seu estudo que os tipos de lesões mais freqüentes foram as entorses de tornozelo e entorses de joelho.

    Diferentemente dos resultados encontrados nesta pesquisa, Cohen et al. (1997) verificou em seus estudos que o predomínio das lesões quanto ao diagnóstico ocorreu com maior freqüência nas lesões musculares, seguidas das contusões, entorses, tendinites, fraturas e luxações.

    As entorses de joelho figuraram entre as mais freqüentes com 21% das ocorrências, seguidas do estiramento muscular da coxa com 14% e da luxação de ombro com 11% (Gráfico III).

Gráfico III. Freqüência de lesões de acordo com o diagnóstico

    Prati e Vieira (1998) explicam que as lesões na articulação do joelho são freqüentes nos esportes em que há movimentos rotacionais bruscos com os membros inferiores fletidos e fixos, como ocorre no futebol e basquete.

    Do total de lesões, 60% ocorreram durante treinamentos, enquanto 40% foram durante os jogos. Em 29% dos casos houve a necessidade de intervenção cirúrgica e em 71% não houve esta necessidade. Quanto ao período de afastamento dos atletas, 57% ficaram afastados das atividades por menos de trinta dias, enquanto 43% permaneceram por mais de trinta dias, havendo ainda a reincidência de alguma das lesões em 25% dos casos.

Considerações finais

    Com base na amostra pesquisada e nos resultados obtidos, pode-se verificar que as afecções com maior prevalência foram as entorses e o joelho foi a região com maior freqüência de lesões, havendo assim uma maior ocorrência de lesões nos membros inferiores.

    Foi possível observar também que, mesmo com uma freqüência e intensidade de treinamento muito semelhante, alguns goleiros apresentaram um grande número de lesões, enquanto outros, muito poucas ou apenas uma, o que mostra que se faz necessária a realização de um estudo mais aprofundado e talvez um acompanhamento dos tipos de treinamento que os goleiros realizam, para poder assim justificar estas informações encontradas.

    A amostra pesquisada foi relativamente pequena, pois se trata de atletas de alto rendimento e em atividade em seus clubes, o que dificulta o contato com estes atletas.

    Sugere-se, então, que esta pesquisa tenha continuidade e a amostragem possa ser aumentada, para que o presente estudo tenha maior relevância e fidedignidade.

Referências

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