Introdução do Jiu-Jítsu brasileiro na Universidade: desafios de um legado Introducción del Jiu-Jitsu brasileño en la Universidad: los desafíos de un legado Introduction of Brazilian Jiu-Jitsu at the University: challenges of a legacy |
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Universidade Federal do Paraná Centro de Pesquisa em Esporte e Exercício Curitiba, PR |
Dr. Tácito Pessoa de Souza Junior (Brasil) |
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Resumo O Jiu-Jítsu brasileiro tem como ponto de partida a chegada ao Brasil do lutador japonês Esai Maeda, conhecido como Conde Koma que, anos depois de se instalar em Belém do Pará, conheceu Gastão Gracie, e esse viria a tornar-se um entusiasta do Jiu-Jítsu e levou seu filho mais velho, Carlos, para aprender a luta com o japonês. Devido à estreita ligação que essa prática tem com a cultura brasileira, torna-se interessante a implementação desses conteúdos nas aulas de Educação Física escolar, bem como matéria a ser implementada nos curso de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física. O objetivo desse manuscrito não propõe somente a inserção do Jiu-Jítsu na Universidade, mas o reconhecimento de um esporte que tem berço em nosso país e precisa se estruturar e evoluir em termos didáticos, pedagógicos e científicos. Unitermos: Jiu-Jítsu. Artes Marciais. Lutas.
Abstract Brazilian Jiu-Jitsu has as its starting point the arrival in Brazil of Japanese fighter Esai Maeda, known as Count Koma, who years after settling in Belem, met Gastao Gracie, and this would become an enthusiast Jiu-Jitsu and took his eldest son, Carlos, to learn to fight with the Japanese. Due to the close connection that this practice has to Brazilian culture, it becomes interesting to the implementation of such content in school physical education classes, as well as matter to be implemented in the Bachelor's Degree and Bachelor of Physical Education. The aim of this manuscript is not only the proposes of the inclusion in the Jiu-Jitsu at the University, but also the recognition of a sport that has cradle in our country and needs to evolve in terms of structure and didactic, pedagogical and scientific. Keywords: Jiu-Jitsu. Martial Arts. Struggles.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Jiu-Jítsu, ou "arte suave, segundo alguns historiadores, nasceu na Índia e era praticado por monges budistas. Preocupados com a auto defesa, os monges desenvolveram uma técnica baseada nos princípios do equilíbrio, do sistema de articulação do corpo e das alavancas, evitando o uso da força e de armas. Com a expansão do budismo os esportes de combate percorreram o Sudeste asiático, a China e, finalmente, chegou ao Japão, onde se desenvolveu e popularizou se tornando o Jiu-Jítsu japonês que foi a arte marcial dos samurais, durante quase toda Idade Média(1). De acordo com indícios históricos, no ano de 520 d.C., um monge indiano, supostamente nascido em Kanchipuram, perto de Madras, viajou para a cidade de Kuang (a moderna Cantão), onde foi recebido em audiência pelo imperador Wu Ti, da Dinastia Liang (2). Segundo a lenda, esse monge, Bodhidharma (Dharuma em japonês) passou nove anos meditando em um mosteiro no Reino de Wei, sendo considerado o padroeiro da maioria dos artistas marciais e o criador do estilo de luta chamado Vajramushti, que seria um sistema de luta de guerreiros indianos. Ao que tudo indica, parece que a origem da arte suave se deve ao monge Bodhidharma.
De Belém do Pará à Universidade
O Jiu-Jítsu brasileiro tem como ponto de partida a chegada ao Brasil do lutador japonês Esai Maeda, conhecido como Conde Koma que, anos depois de se instalar em Belém do Pará, conheceu Gastão Gracie, e esse viria a tornar-se um entusiasta do Jiu-Jítsu e levou seu filho mais velho, Carlos, para aprender a luta com o japonês(3-4). Por sua vez, Carlos transmitiu seus conhecimentos ao irmão mais novo, Hélio, que por motivos próprios, modificou e aperfeiçoou as técnicas do Jiu-Jítsu original, dando segmento a uma nova era dessa arte marcial no país, o que credencia a família Gracie como a criadora e representante de uma nova modalidade de luta, o Gracie Jiu-Jítsu, também conhecido como Jiu-Jítsu brasileiro ou Brazilian Jiu-Jítsu (1, 5).
É evidente a relação cultural que essa prática, mesmo advinda do oriente, teve e continua tendo com a cultura brasileira, tanto que hoje, a arte marcial é denominada de Jiu-Jítsu brasileiro, ou brazilian Jiu-jitsu. Em tramitação no Congresso Brasileiro está o Projeto de Lei do Deputado Marcelo Itagiba – PSDB/RJ, instituindo o Jiu-Jítsu Brasileiro como “Patrimônio Esportivo e Cultural Imaterial do Brasil”. Sem dúvida nenhuma, está entre os esportes individuais que mais crescem no país.
No ensino de 3º grau, o Jiu-Jítsu ganhou cadeira como matéria universitária na Universidade Gama Filho. Em Agosto de 2010, por intermédio do autor do presente manuscrito, houve a aceitação da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) da proposta de Curso de Extensão Universitária sob resolução nº 70/08 do CEPE-UFPR, do projeto intitulado “Iniciação ao Jiu-Jítsu”, com o objetivo de apresentar o Jiu-Jítsu brasileiro como esporte e como instrumento didático-pedagógico para o desenvolvimento integral dos alunos, potencializando o desenvolvimento da percepção corporal a autoconfiança, além da difusão no ambiente universitário.
Hoje esse projeto, perto de completar dois anos, está em plena atividade na área de lutas do Departamento de Educação Física da UFPR, contemplando a comunidade docente, discente e externa da Universidade. Vários alunos de diferentes cursos da UFPR, como por exemplo, Biologia, Matemática, Engenharia, Administração de Empresas, Economia, bem como os próprios alunos do curso Educação Física freqüentam as aulas que são ministradas três vezes por semana. Tendo inclusive alguns alunos já promovidos à faixa azul e outros na faixa etária inferior a 15 anos de idade a faixa amarela.
O sistema de graduação no Jiu-Jítsu brasileiro funciona da seguinte maneira:
Faixa branca – iniciante, qualquer idade;
Faixa cinza – 04 a 15 anos;
Faixa amarela – 07 a 15 anos;
Faixa Laranja – 10 a 15 anos;
Faixa verde – 13 a 15 anos;
Faixa azul – 16 anos ou mais;
Faixa roxa – 16 anos ou mais;
Faixa marrom – 18 anos ou mais;
Faixa preta – 19 anos ou mais;
Faixa vermelha e preta;
Faixa vermelha.
De acordo com as diretrizes da Confederação Brasileira de Jiu-Jtsu (CBJJ)(1), os sistemas de faixas e graus obedecem à seguinte determinação:
Parágrafo primeiro
Parágrafo segundo
O atleta somente está apto a ser faixa preta a partir dos seus 19 anos de idade;
Para requerer o diploma de faixa preta e necessário estar filiado a IBJJF no ano corrente, apresentar curso de primeiros socorros e ter sido aprovado no curso de arbitragem dentro do período de 12 meses;
O faixa preta pode requerer o 1º grau depois de 3 anos na faixa. Para tal o mesmo precisa ter carteira da IBJJF renovada anualmente durante esse período, apresentar curso de primeiros socorros e ser aprovado no curso de arbitragem dentro do período de 12 meses;
O faixa preta pode requerer o 2º ou 3º graus 3 anos após ter obtido o grau anterior se tiver renovado a carteira da IBJJF anualmente durante esse período e tiver sido aprovado no curso de arbitragem dentro do período de 12 meses;
O faixa preta pode requerer o 4º, 5º, ou 6º graus, 5 anos após ter obtido o grau anterior. Para isso e preciso:- ter renovado a sua filiação na IBJJF nesses 5 anos; ter sido aprovado no curso de arbitragem oficial da IBJJF dentro do período de 12 meses. - constar como professor responsável ou professor auxiliar de uma academia que tiver renovado a agremiação junto a IBJJF nesses 5 anos OU entregar o formulário de troca de grau, assinado por um professor faixa preta no mínimo 2º grau diplomado que seja professor responsável de uma academia que tiver renovado a agremiação junto a IBJJF nesses 5 anos;
O Faixa preta pode requerer a faixa vermelha e preta 7º grau 7 anos após ter obtido o 6º grau. Para isso e preciso:- ter renovado a sua filiação na IBJJF anualmente durante esse período. - ter sido aprovado no curso de arbitragem oficial da IBJJF no período de 12 meses.- constar como professor responsável ou professor auxiliar de uma academia que tiver renovado a agremiação junto a IBJJF nesses 7 anos OU entregar o formulário de troca de grau, assinado por um faixa preta no mínimo 2º grau diplomado que seja professor responsável de uma academia que tiver renovado a agremiação junto a IBJJF nesses 7 anos;
O Faixa vermelha e preta 7º grau pode requerer a faixa vermelha e preta 8º grau 7 anos após ter obtido o 7º grau. Para isso e preciso:- ter renovado a sua filiação na IBJJF nesses 7 anos.- ter sido aprovado no curso de arbitragem oficial da IBJJF dentro do período de 12 meses- constar como professor responsável ou professor auxiliar de uma academia que tiver renovado a agremiação junto a IBJJF nesses 7 anos OU entregar o formulário de troca de grau, assinado por um professor faixa preta no mínimo 2 grau diplomado que seja professor responsável de uma academia que tiver renovado a agremiação junto a IBJJF nesses 7 anos;
O Faixa vermelha e preta 8º grau pode requerer a faixa vermelha 9º grau 10 anos após ter obtido o 8º grau. Para isso e preciso:- ter renovado a sua filiação na IBJJF nesses 10 anos.- ter sido aprovado no curso de arbitragem oficial da IBJJF dentro de um período de 12 meses- constar como professor responsável ou professor auxiliar de uma academia que tiver renovado a agremiação junto a IBJJF nesses 10 anos OU entregar o formulário de troca de grau, assinado por um professor faixa preta no mínimo 2 grau diplomado que seja professor responsável de uma academia que tiver renovado a agremiação junto a IBJJF nesses 10 anos;
O ano que o atleta não renovar a carteira da IBJJF e/ou agremiação da qual é responsável, não contara como tempo para obtenção de grau;
A faixa vermelha décimo grau é conferida apenas aos pioneiros do Jiu-Jítsu: Carlos, Oswaldo, George, Gastão e Hélio Gracie, conhecidos como irmãos Gracie.
O processo educacional, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)(6) propõe a inclusão desses conteúdos nas aulas de Educação Física escolar, dentro do tema das Lutas. As lutas correspondem a uma das manifestações da cultura corporal podendo ser reproduzidas, produzidas, transformadas e usufruídas, de acordo com cada sociedade e sendo um objeto de estudo nas aulas de Educação Física. Na verdade, há inúmeras formas de lutas que podem ser inseridas dentro desse tema e o Jiu-Jítsu é apenas uma delas.
Devido à estreita ligação que essa prática tem com a cultura brasileira (assim como a capoeira tem também), torna-se interessante a implementação desses conteúdos nas aulas de Educação Física escolar, bem como matéria a ser implementada nos curso de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física.
Diversos temas transversais, dentre eles a ética, a pluralidade cultural, o meio ambiente, o trabalho e o consumo, a orientação sexual e a saúde (6), caracterizados como grandes problemas emergenciais da sociedade brasileira podem, de alguma maneira, ser tratados dentro do conteúdo de lutas e, mais precisamente, do Jiu-Jítsu.
A exemplo do Tae Kwon Do, arte marcial de origem coreana, que se tornou esporte olímpico em 2000 nos Jogos Olímpicos de Sydney, desde o início da década de 1980 está inserido como disciplina regular em várias Universidades Brasileiras, sendo uma das pioneiras, a Universidade de Marília (UNIMAR), que já conta até com Cursos de Extensão Universitária com objetivo de aprimorar a formação de profissionais de Educação Física. Na Coreia, seu país de origem, é matéria obrigatória nas escolas, sendo o mesmo peso que quaisquer outras matérias inseridas no currículo escolar e ainda, criada em Seoul, Coreia do Sul, a faculdade de Tae Kwon Do, com instalações moderníssimas e tendo como base toda a estrutura de apoio do governo coreano.
E o Jiu-Jítsu? Por que não podemos seguir os passos do país oriental? Por que não podemos organizá-lo, estruturá-lo, incluí-lo no currículo escolar, torná-lo matéria obrigatória nas escolas e na Universidade? Conseguiremos um dia vê-lo como um esporte olímpico? Será que estamos tão distante da organização demonstrada pelo Tae Kwon Do?
Nossa proposta teve início com um curso de extensão na UFPR, e com certeza o Jiu-Jítsu fará parte da disciplina de Lutas dessa conceituada Universidade Federal a partir do presente ano.
Considerações finais
Pelo exposto acima, fica clara a intenção de organizar o Jiu-Jítsu brasileiro inserindo-o dentro do ambiente universitário e tornando-o uma das matérias contempladas pela disciplina Lutas, que de acordo com os PCNs correspondem a uma das manifestações da cultura corporal podendo ser reproduzidas, produzidas, transformadas e usufruídas, de acordo com cada sociedade e sendo um objeto de estudo nas aulas de Educação Física.
Não só a inserção na Universidade, mas o reconhecimento de um esporte que tem berço em nosso país e precisa se estruturar e evoluir em termos didáticos, pedagógicos e científicos.
O caminho é longo e os desafios são enormes, mas é preciso um ponto de partida. Só assim poderemos dentro de alguns anos nos considerarmos os pais da matéria. Outros países estão importando instrutores, professores e tornando o Jiu-Jítsu objeto de estudo científico. Se permanecermos parados, ficaremos a deriva e o grande legado dos mestres Carlos e Hélio Gracie não passará de mais um capítulo da história do Brasil.
Portanto, só nos resta uma opção: Ao trabalho!
Referencias bibliográficas
CBJJ. Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu 2010.
REID H, CROUCHER M. O caminho do guerreiro. O paradoxo das artes marciais. São Paulo: Cultrix; 2003.
GRACIE R, GRACIE R, DANAHER J, PELIGRO K. Brazilian Jiu-Jitsu: Theory and Technique. Montpelier, VT: Invisible Cities Press Lic; 2001.
GRACIE R. Carlos Gracie - O Criador de Uma Disnatia. Rio de Janeiro: Record; 2008.
GRACIE H, DE SOTO T. Gracie Jiu-Jitsu: The Master Text: Black Belt Communications; 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's). 3 ed: Brasília; 1998.
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