Incidência de dor em funcionários de uma agência dos correios de Porto Alegre, RS Incidencia de dolor en los empleados de una agencia de correos de Porto Alegre, RS |
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*Curso de Educação Física, Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas, RS **Centro de Desportos, Departamento de Educação Física Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC ***Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS ****Curso de Fonoaudiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS |
Wagner Demétrius Silva da Silva* Cíntia de la Rocha Freitas** Andréa Krüger Gonçalves*** Adriane Ribeiro Teixeira**** (Brasil) |
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Resumo A sobrecarga a que os carteiros são impostos e a posturas inadequadas adotadas por eles durante o trabalho podem contribuir para o surgimento de dores e doenças ocupacionais. O objetivo do presente estudo foi investigar a incidência de dor em funcionários de uma agência de correios de Porto Alegre-RS. A amostra foi composta por 27 sujeitos, de ambos os sexos, na faixa etária de 22 a 54 anos, funcionários de um centro de distribuição domiciliar dos correios da zona sul de Porto Alegre-RS. Todos os sujeitos da amostra exerciam a função de carteiro. Para a avaliação da incidência de dor foi utilizado um questionário de dor de Candotti e Guimarães (1998). Os resultados deste estudo mostraram que a maioria dos sujeitos avaliados (25 do total de 27) relatou a presença de dor em uma ou mais regiões corporais. As regiões de maior incidência de dor corresponderam à coluna vertebral (regiões cervical, torácica e lombar), assim como nos ombros. A repetição de movimentos dos membros superiores, a manutenção inadequada da postura corporal durante o expediente e a sustentação de peso nos ombros são prováveis explicações para os resultados obtidos. Sugere-se a implantação, por parte desta agência de correios e telégrafos, de um programa de promoção da saúde do trabalhador. Unitermos: Dor. Postura. Carteiros.
Abstract Postmen are submitted to overload and the inadequate postures and it may contribute to the incidence of pain and occupational diseases. The present study aims to investigate the incidence of pain in workers of a post-office agency in Porto Alegre-RS. The sample was composed by 27 subjects, of both sexes, among 22 and 54 years old, who were working for a center for home delivery of a post-office agency in south region of Porto Alegre-RS. All the subjects worked as postmen. A questionnaire of pain by Candotti and Guimarães (1998) was used for evaluating the incidence of pain. The results showed that the majority of the evaluated subjects (25 from total of 27) reported presence of pain in one or more regions of their bodies. The greatest incidence of pain was reported to be in vertebral spine (cervical, thoracic and lumbar), as well as in the shoulders. Repeated movements of high limbs, incorrect maintained body posture along work hours and supporting the weight on the shoulders seems to be the cause for the obtained results. It is suggested that the post-office agency implement a health program for workers. Keywords: Pain. Posture. Postmen.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As dores e doenças ocupacionais, além de trazerem perdas no âmbito profissional, afetam também a qualidade de vida do funcionário, acarretando em prejuízo pessoal. Neste sentido, Gonçalves (1988) ressalta que os problemas de saúde, em razão da importância que assumem na vida das pessoas, passam a constituir fatores motivacionais relevantes, capazes de modificar o comportamento de cada um e de fazer com que a população desenvolva um processo organizado de busca de soluções coletivas.
Nardi (2005) relata que a dor acompanha a vida do ser humano como um dos grandes desafios da ciência em decorrência de suas múltiplas implicações. Sabe-se que as pessoas, durante sua experiência de dor, têm seu comportamento alterado em virtude de ações desencadeadas pelo estímulo doloroso.
No Brasil, a dor na coluna ou lombalgia tem sido uma das causas mais comuns de absenteísmo e aposentadorias por invalidez, em pessoas com idade inferior a 50 anos (BARRETO, 2000). De acordo com Reis et al. (2003), nos dias atuais, a lombalgia tem sido considerada um sério problema na saúde pública, pois afeta uma grande parte da população economicamente ativa, incapacitando-as temporária ou definitivamente para as atividades profissionais.
Stort, Junior e Rebustini (2006) constataram na prática que pessoas que não se sentem satisfeitas e tranqüilas em seus ambientes de trabalho, e cujos níveis de tensão e insegurança são significativos, tornam-se mais propensas a sofrerem acidentes de trabalho e cometerem erros.
Dentre as lesões do sistema músculo-esquelético relacionadas ao trabalho, os problemas de coluna são muito freqüentes e representam grandes custos tanto para as indústrias quanto para o Estado, além de serem fonte de sofrimento e incapacidade por parte dos acometidos (VIEIRA e KURMAR, 2004).
Pesquisadores brasileiros têm se preocupado em avaliar as doenças adquiridas pelos trabalhadores e seus riscos, em diferentes setores. Os sindicatos dos metalúrgicos de Osasco e região, por exemplo, ressaltam a preocupação com estes profissionais, uma vez que eles têm que lidar com máquinas deficitárias, sem dispositivos de proteção ou que são modificadas para trabalhar mais rápido, ocasionando com isto um maior número de acidentes (SINDICATO DOS METALÚRGICOS, 1999).
Segundo Cavalcante et al. (2005), um estudo feito com estivadores em Fortaleza-CE relata alguns dos males que atingem os funcionários do Porto do Mucuripe. Após a lei 8.630, conhecida como lei dos portos, o trabalho de estiva deixou de ser predominantemente braçal e se tornou de orientação na organização de contêineres, fato que agregou as enfermidades já conhecidas da profissão, como doenças de pele, muscular e osteoarticular e também os distúrbios por esforços repetitivos.
Outro ramo que tem seus riscos pesquisados é o dos garis, profissionais que trabalham ao ar livre, ficando a mercê dos interpérios climáticos, do trânsito existente no horário de trabalho e da mordedura de animais soltos nas ruas (SILVEIRA et al., 1998).
As doenças ocupacionais atingem até mesmo os agricultores, que por serem expostos a vários tipos de poeiras e substâncias como gases tóxicos, endotoxinas, e agrotóxicos, vêm aumentando o número de problemas respiratórios, como asma, bronquite crônica, pneumonites por hipersensibilidade, e outros (FARIA et al., 2006).
Nos estudos e práticas sobre as questões relacionadas à saúde e ao trabalho, os aspectos psicossociais vêm, gradualmente, ocupando um espaço crescente, pois a presença e ou a vivência de um acidente repercutem na vida familiar, laboral, social e no psiquismo do trabalhador. Em geral, acompanhando essas ocorrências e dependendo da gravidade das mesmas, os indivíduos expressam sentimentos de desvalia, insegurança quanto ao futuro profissional, inconformismo frente a algumas limitações, incerteza e morosidade no processo terapêutico e de reabilitação, medos e fantasias inconscientes, manifestações depressivas e de revolta, associadas, em geral, a incorporação de toda uma ideologia de culpabilização individual (MERLO, JACQUES e HOEFEL, 2001).
Cada vez mais, orgãos do setor público e privado percebem que investir na saúde de seus empregados pode gerar lucro, e com isto, o trabalhador, indispensável em qualquer empresa, acaba melhorando sua qualidade de vida.
Com base nas idéias expostas, este trabalho tem como objetivo investigar a incidência de dor em funcionários de uma agência de correios de Porto Alegre-RS e relacionar a dor com as atividades exercidas por estes trabalhadores.
Material e métodos
Esta pesquisa caracteriza-se como sendo do tipo descritiva, com delineamento transversal. A amostra foi constituída por 27 sujeitos, de ambos os sexos, sendo 17 homens e 10 mulheres, na faixa etária de 22 a 54 anos, funcionários do centro de distribuição domiciliar de uma agência dos Correios da zona sul de Porto Alegre-RS. Todos os sujeitos da amostra exerciam a função de carteiro. Nesta agência não havia ainda sido implementada a prática da Ginástica Laboral (G.L.).
Foram avaliados 27 funcionários dos correios, sendo 17 homens e 10 mulheres. A média de idade dos sujeitos foi de 35 anos (± 8 anos). Quanto ao tempo de atuação na função de carteiro, observou-se que variou de 1 ano e 1 mês a 30 anos, sendo a média de 8 anos (±7 anos). Três sujeitos da amostra (11,11%) eram praticantes de exercício físico regular. Nota-se, então, que a grande maioria dos avaliados não praticavam exercício físico orientado. Foi verificado que 19 sujeitos (70%) já praticaram G.L. alguma vez na vida. Entretanto, no presente momento, nenhum deles estava praticando G.L.
Para a avaliação da incidência de dor, foi utilizado um questionário de dor de Candotti e Guimarães (1998). Este questionário avalia a incidência, a intensidade e a localização da dor, além das posições ou movimentos em que o sujeito sente mais dor e as posições ou movimentos em que a dor melhora.
Além disso, utilizou-se uma anamnese a fim de se conhecer algumas características dos sujeitos da amostra, como (1) o tempo em que trabalhava na função de carteiro, (2) se praticava exercícios físicos regularmente fora do trabalho, (3) caso praticasse, há quanto tempo e (4) se já havia participado de aulas de G.L.
Primeiramente, foi feito o contato com a gerência responsável pela unidade de distribuição domiciliar do correio, solicitando a realização do estudo no local. Após a autorização pelo setor responsável, foi feito o contato com os carteiros, convidando-os a participarem do estudo. Os sujeitos que fizeram parte da amostra assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Após, foram agendados horários para serem realizadas a anamnese e o questionário da dor, que foram feitos pelos próprios pesquisadores, em uma sala reservada da agência de Correios. Após a coleta, os dados foram submetidos à análise descritiva a partir das freqüências absolutas e relativas e gerência dos dados no software Excel.
Resultados e discussão
Destaca-se, no presente estudo, a preocupação com as atividades executadas pelos carteiros e as conseqüências que estas tarefas podem trazer para a saúde destes profissionais, como a incidência de dor.
Os resultados do questionário de avaliação da dor são apresentados nas tabelas a seguir. Do total de 27 sujeitos avaliados, apenas dois não relataram a presença de dor. Os dados relativos à intensidade da dor dos sujeitos da amostra são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Resultados da Intensidade da dor. Os valores menores referem-se à baixa intensidade de dor e os maiores à alta intensidade de dor
Vinte e cinco sujeitos da amostra, do total de vinte e sete, apresentam dor. Quanto à intensidade da dor, observa-se que nenhum sujeito apresentou dor de intensidade 1 (dor mínima) e a dor de intensidade 8 foi identificada em quatro sujeitos.
As dores de intensidade 9 e 10 (intensidades mais elevadas), assim como a dor de intensidade 1 não foram citadas por nenhum sujeito.
A alta incidência de dor relatada pelos carteiros indica uma predisposição destes trabalhadores a lesões e doenças ocupacionais. Acredita-se que além das posturas inadequadas e da sobrecarga de trabalho, a presença evidente da dor entre os sujeitos da amostra pode estar sendo agravada pelo fato de que a maioria dos carteiros que fez parte deste estudo não pratica qualquer tipo de atividade física regular, orientada e compensatória, fato que poderia fortalecer a musculatura, aumentar a flexibilidade das grandes articulações do corpo e melhorar a consciência corporal para executar tarefas no ambiente de trabalho e no dia-a-dia em geral.
A Tabela 2 mostra os intervalos do dia em que os sujeitos apresentam mais dor. Observa-se que o período das 16h-20h, foi o que obteve maior representatividade sendo citado por 13 sujeitos, caracterizando 48% da amostra entrevistada.
Tabela 2. Resultados do intervalo da dor
Em relação aos intervalos em que os sujeitos apresentam mais dor, chama-se atenção para o fato de que muitos sujeitos relatam a presença de dor em mais de um intervalo. Observa-se que o período das 16h-20h, horário em que o carteiro está se encaminhando para o fim do expediente, foi o que obteve maior número de respostas (13 sujeitos, 48% da amostra). Estas respostas estão indicando que ao final da jornada de trabalho, a sensação de dor aumenta em grande parte destes trabalhadores.
O segundo período de maior incidência de dor (nove sujeitos, 33,3% da amostra) foi o período das 12h-16h, sendo que este espaço de tempo refere-se a grande parte do horário de expediente externo, onde os carteiros estão nas ruas caminhando e carregando peso. O período das 20h-08h, horário de repouso dos trabalhadores, teve a incidência de oito sujeitos (29,6% da amostra). Observa-se que mesmo durante o tempo de repouso, muitos sujeitos sentem dor. Isto pode estar ocorrendo como reflexo das atividades do trabalho e, também, pelos maus hábitos posturais, principalmente na realização de atividades domésticas, nas atividades de lazer e até mesmo, em repouso.
Cuidados com a postura devem ser adotados 24 horas por dia, inclusive ao sentar ou ao deitar. A postura sentada, principalmente por períodos prolongados, é uma das que mais sobrecarrega os discos intervertebrais (ROCHA, 1999; VIEL e ESNAULT, 2000) e podem resultar em alterações degenerativas e em dor.
O período do dia em que os indivíduos menos sentem dor (seis sujeitos, 22,2% da amostra) é das 08h-12h, início da rotina de trabalho dos carteiros, quando eles vem do seu período de repouso e estão mais descansados.
A Tabela 3 aponta os locais do corpo em que os sujeitos apresentam dor. Pode-se observar que a maioria dos sujeitos apresenta dor em alguma região da coluna vertebral, seguida pelos ombros.
Tabela 3. Localização da dor
Os locais do corpo em que os sujeitos relatam sentir mais dor são a coluna vertebral (regiões lombar, torácica e cervical) e os ombros. A presença mais destacada da dor nestes locais pode se explicada pelas atividades desenvolvidas pelos carteiros ao longo da jornada de trabalho, que além de realizarem trabalho interno na separação, ordenamento e encaixe das correspondências, realizam muito esforço durante o trabalho externo, incluindo as longas caminhadas em terrenos muitas vezes irregulares, e ainda, transportando peso nos ombros. Notou-se que, muitas vezes, há relato de dor em mais de uma localidade do corpo, ou seja, muitos sujeitos da amostra disseram sentir dor em mais de uma região corporal.
As tarefas executadas por estes trabalhadores sobrecarregam várias regiões corporais, e mais diretamente a coluna vertebral. Vieira e Kurmar (2004) destacam que dentre as lesões do sistema músculo-esquelético relacionadas ao trabalho, os problemas de coluna são muito freqüentes e representam grandes custos tanto para as indústrias quanto para o Estado, além de serem fonte de sofrimento e incapacidade por parte dos acometidos.
Sendo assim, quando algum desconforto ou lesão são causados na coluna, principalmente em função de atitudes posturais e gestos inadequados, este segmento corporal fica limitado em relação a sua funcionalidade.
A ocorrência de dor pode estar prejudicando a qualidade de vida dos carteiros analisados. Nardi (2005) relata que a dor acompanha a vida do ser humano como um dos grandes desafios da ciência em decorrência de suas múltiplas implicações. Sabe-se que as pessoas, durante sua experiência de dor, têm seu comportamento alterado em virtude de ações desencadeadas pelo estímulo doloroso.
No Brasil, a dor na coluna ou lombalgia tem sido uma das causas mais comuns de absenteísmo e aposentadorias por invalidez, em pessoas com idade inferior a 50 anos (BARRETO, 2000). As patologias da coluna vertebral constituem um importante fator responsável pelo afastamento do trabalho. Os dados mais recentes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) demonstram que no ano de 2003 foram registrados 387.905 acidentes de trabalho, dentre os quais mais de 20.341 foram relacionados com a região da coluna vertebral, sendo que aproximadamente 50% desses acidentes foram cadastrados no INSS como dor neste segmento corporal (BARBOSA e GONÇALVES, 2007). Um dos principais geradores destas alterações é o fator comportamental, as posturas dinâmicas inadequadas adotadas pelo indivíduo no seu cotidiano, seja no ambiente de trabalho, casa ou escola (DETSCH et al., 2007).
Foram analisadas também, na presente investigação, quais as posturas que pioram e aquelas que melhoram as dores relatadas pelos carteiros. Em relação às posturas que pioram a dor, dos 25 sujeitos que relataram sentir dor, onze (44%) disseram não haver uma postura que piore a dor, um sujeito (4%) sente mais dor ao ficar em pé, um sujeito (4%) ao flexionar os joelhos, um sujeito (4%) ao flexionar a cervical (pescoço) anteriormente, dois sujeitos (8%) sentem dor ao elevar os braços, três sujeitos (12%) ao se abaixar, três sujeitos (12%) sentem dor na postura sentada e quatro sujeitos (16%) disseram que sentem dor ao carregar peso.
Quanto à postura que melhora a dor, um sujeito (4%) disse melhorar a dor estando em pé, um sujeito (4%) disse sentir-se melhor com massagem, um sujeito (4%) melhora sua dor ao relaxar, cinco sujeitos (20%) sentem-se melhor com alongamentos e sete sujeitos (28%) relatam sentir melhora ao deitar-se. Destaca-se que dez sujeitos (40%) relataram que não há qualquer postura que melhore a dor. Esta situação é preocupante, podendo estar indicando a instalação de dores crônicas, que já pode ser um alerta para problemas mais graves que requerem maior atenção, como as doenças ocupacionais.
Em relação às posturas que pioram a dor, relatadas pelos sujeitos, chama-se atenção para o fato de que a maioria destas posturas está relacionada com posições adotadas nas atividades exercidas durante a jornada de trabalho, como por exemplo, ficar em pé, elevar os braços, abaixar-se e, principalmente, carregar peso.
Os resultados obtidos nesta investigação são alarmantes, pois indicam uma elevada incidência de dor nos carteiros desta agência dos Correios investigada. Estes dados não são surpreendentes, haja vista a intensidade, a carga de trabalho e as posturas inadequadas adotadas pelos carteiros.
Os funcionários da área operacional dos correios, mais especificamente os carteiros, têm atribuições desconhecidas por grande parte da população, a qual acredita que a jornada de trabalho dos carteiros restringe-se somente à distribuição das correspondências. No entanto, as entregas de correspondências feitas de endereço em endereço são apenas parte do grande número de tarefas executadas pelos carteiros. O que não chega ao conhecimento de muita gente é o fato dos carteiros realizarem a separação, ordenamento e encaixe das correspondências, que chegam Centro de Distribuição Domiciliar (C.D.D.) de cada bairro, nas primeiras horas da manhã, anteriormente ao trabalho externo. As atividades laborais exercidas pelos carteiros os tornam vulneráveis à aquisição de dores corporais, que podem resultar em doenças ocupacionais e acabam a prejudicando a qualidade de vida destes profissionais.
Levando-se em consideração a disparidade de estatura, envergadura e comprimento de membros, tanto superiores como inferiores entre os carteiros, a padronização dos móveis disponíveis para o trabalho interno não favorece uma melhor postura corporal, podendo ocasionar desconfortos musculares e articulares. Dentro deste contexto, Pimenta et al. (1988) afirmam que o trabalhador conhece, melhor que ninguém, suas condições de trabalho e possui um conhecimento empírico das conseqüências para sua saúde. Ele consegue perceber o desgaste decorrente do esforço físico, da aspiração de substâncias nocivas, do ruído, da ansiedade e da monotonia do trabalho repetitivo.
Outro fator relevante é o peso da bolsa onde transportam as cartas. Esta bolsa tem o peso delimitado com base nos gêneros, sendo 08 Kg para mulheres e 10Kg para homens. Como o montante geral de serviço diário de cada carteiro ultrapassa o limite pré-estabelecido, a carga é distribuída em Deposito Auxiliar (D.A.), que são pontos estratégicos espalhados pelo percurso de cada um para reabastecer o malote. Com tudo, a bolsa possui apenas uma alça, fato que não auxilia na distribuição e equilíbrio do peso, obrigando o carteiro a alternar o lado em que carrega o malote. Esta situação, segundo Codo e Almeida (1998), é capaz de gerar afecções que podem acometer tendões, músculos, nervos, ligamentos, atingindo principalmente, porém não somente, os membros superiores, região escapular e pescoço, de origem ocupacional, decorrente principalmente do uso forçado de grupos musculares e da manutenção de posturas inadequadas.
Muitas vezes não é dada uma atenção especial no sentido de prevenir lesões e doença ocupacionais em trabalhadores. Muito investimento é feito no tratamento destes problemas, após eles já terem sido instalados.
Conforme Buss (2000), a promoção da saúde representa uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações humanas e seus entornos. O autor ainda ressalta que a prevenção primária, a ser desenvolvida no período de pré-patogênese, consta de medidas destinadas a desenvolver uma saúde geral melhor, pela proteção específica do homem contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente.
Conclusões
A partir dos resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que é elevada a incidência de dor nos carteiros avaliados.
Conforme se pode verificar, as regiões de maior incidência de dor nos funcionários dos correios correspondem às regiões da coluna cervical, coluna torácica e a coluna lombar, assim como nos ombros. A repetição de movimentos dos membros superiores, a manutenção da postura da coluna cervical durante o expediente interno e a sustentação de peso nos ombros são prováveis indícios para os resultados encontrados.
Chama-se atenção para a necessidade da implantação, por parte desta agência de correios e telégrafos, de um programa de promoção da saúde. Também se faz necessária a orientação dos trabalhadores em relação às posturas mais adequadas a serem adotadas no ambiente laboral, assim como a conscientização de que a prática regular de atividade física dentro e fora do ambiente de trabalho pode trazer uma série de benefícios.
Referências
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