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Educação gerontológica para um estilo de 

vida saudável: uma abordagem interdisciplinar

Educación gerontológica para un estilo de vida saludable: un abordaje interdisciplinar

 

*Profissional de Educação Física. Mestre em Educação

Docente e coordenadora do Curso de Educação Física

da ULBRA Carazinho, RS. Pesquisadora responsável pelo projeto

**Enfermeira. Mestre em Assistência de Enfermagem pela UFSC

Professora do Curso de Enfermagem da ULBRA Carazinho, RS

***Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela EEUFRGS

Professora do Curso de Enfermagem da ULBRA, Carazinho, RS

Patrícia Carlesso Marcelino*

Maristela Silveira Rodrigues**

Juliana Marchirori Lara***

patriciacarlessosiqueira@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma abordagem interdisciplinar dos profissionais da área da saúde da ULBRA Carazinho com um grupo de pessoas idosas. A amostra não probabilística intencional constitui-se de um grupo de idosos do município, com aproximadamente 50 idosos de ambos os sexos, com idade entre 60 anos até 85 anos, com um grau de escolaridade baixo. Após a autorização do Comitê de ética e pesquisa da ULBRA Canoas, foram realizados cinco encontros com o grupo, seguindo-se uma estrutura básica que constou de atividades lúdicas; desenvolvimento, com o conteúdo propriamente dito e ao final era lançado um desafio semanal. Ao final da oficina aplicou-se um questionário semi-estruturado. Com base nas respostas percebeu-se que as oficinas trouxeram diferentes aspectos à reflexão e resultaram em sensações e percepções positivas, cujas repercussões somente poderão ser mensuradas com o tempo, mas seu impacto inicial foi altamente promissor.

          Unitermos: Envelhecimento. Saúde. Qualidade de vida.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A longevidade é cada vez mais verificada na sociedade riograndense. Os longevos estão inseridos em todas as esferas da sociedade, de diversas formas, nas atividades profissionais, no lazer e na cultura. Estes sujeitos apresentam disfunções no seu processo saúde-doença, na sua maioria doenças de caráter crônico-degenerativo. Obesidade, HAS, DM, aterosclerose, síndrome metabólica e estresse são doenças presentes em uma parcela significativa da população idosa.

    Essas doenças têm componentes genéticos, ambientais, mas o fator predisponente modificável que mais interfere é o estilo de vida. Os hábitos alimentares, a prática de exercício físico, o lazer, a meditação e o sono adequado são algumas das instâncias da vida negligenciadas pela população em geral; acarretando reflexos ao longo da vida, principalmente, na terceira idade, quando as funções orgânicas naturalmente entram em declínio.

    Este artigo tem por objetivo apresentar o processo de envelhecimento nas diversas perspectivas que o envolvem, a fim de atualizar os conhecimentos sobre o envelhecer que embasam o desenvolvimento do estudo sobre a educação gerontológica para um estilo de vida saudável com enfoque interdisciplinar, bem como, a monitoração da evolução dos aspectos físico, mental, social e espiritual.

Reflexos bio-psico-sociais do envelhecimento

    O ser humano desenvolve-se em múltiplos cenários, portanto, não se pode dizer que todos os indivíduos envelhecem da mesma maneira e no mesmo ritmo, este desenvolvimento é biológico, social e psicológico, desta forma, tudo influencia sua forma de agir, ser e estar no mundo, e, sobretudo, a maneira que vai enfrentar as diversas situações a ele impostas seja na juventude ou na velhice.

    Envelhecer implica em um processo amplo que envolve aspectos biológicos e psicológicos. A velhice é marcada pela sabedoria, pela reiteração de valores, pela consciência da finitude, pela esperança, mas também pelas perdas (biológicas, sociais e psicológicas), que podem gerar sentimentos de solidão, de desvalorização pessoal e profissional ou levar a dependência e a falta de autonomia (CORTELLETTI; CASARA; HERÉDIA, 2004).

    O processo de senescência é peculiar a todos os indivíduos; alguns autores defendem a idéia de que o envelhecimento inicia tão precocemente na concepção, outros, a partir do nascimento. O processo de senescência é caracterizado por alterações biológicas, psicológicas e sociais que acompanham o ser humano, este, caracterizado como alterações fisiológicas e não é acompanhado por patologias.

    O aumento da expectativa de vida expõe os indivíduos a fatores de risco, associados a doenças crônicas degenerativas, o que diminui a mortalidade e eleva a morbidade. É assim que o prolongamento da vida traz como encargos, a instalação de possíveis déficits físicos e funcionais, a fragilidade progressiva e o aparecimento de pluripatologias (PEDREIRA, 2004). Com o passar dos anos o organismo vai, inevitavelmente, tornando-se frágil aos agressores externos e internos, desenvolvendo e ou adquirindo processos patológicos que podem resultar em um aumento da morbimortalidade.

    O envelhecimento é um processo biopsicossocial experienciado por todos os seres humanos, no qual ocorrem modificações estruturais e alterações hormonais que resultam em um organismo fragilizado, e é nesta fase que podem surgir processos patológicos (SANTIN; BOROWSKI, 2008).

    Com o tempo o organismo tem dificuldade em se adaptar e diminui a sua margem de segurança, tornando-se mais frágil à invasão de microorganismos e produzindo menos linfócitos capazes de combater os agentes invasores (BEAUVOIR, 1990) (HAYFLICK, 1997) (FREITAS et al., 2002) (JARVIS, 2002) (SMELTZER; BARE, 2002) (POTTER; PERRY, 2006).

    Além do envelhecimento biológico, o indivíduo experiência o envelhecimento social e psicológico ao longo do seu processo evolutivo. A teoria do desengajamento prevê que os idosos percebem seu envelhecimento de forma a tornar-se um ser inativo, retirado da sociedade, em contra partida a sociedade o vê da mesma forma, o indivíduo que chegou a última etapa do ciclo vital, portanto não é mais partícipe das decisões da sociedade, pois está em um período de involução, tornando este momento natural, universal e espontâneo (SIQUEIRA, 2002) (SMELTZER; BARE, 2002) (DOLL et al., 2007).

    O envelhecimento causa uma diminuição da plasticidade comportamental em cada indivíduo, tornando-o mais vulnerável, tendo um aumento de perdas evolutivas e uma probabilidade maior de morte, mas é importante ressaltar que o envelhecimento não é sinônimo de doença, cada ser humano envelhece a sua maneira, podendo levar uma vida ativa, sadia ou apenas parar de viver, apenas sobreviver, aí poderíamos associar saúde e doença com o envelhecimento de cada cidadão (GUILAMELON, 2007).

    Concordando, Papaléo Netto (2002) constata que a maturidade e a velhice representam desafios individuais e socioculturais permanentes para se conseguir atingir o bem-estar subjetivo dos idosos, aceitação dos mesmos pela sociedade e adequação das limitações do envelhecimento e as expectativas do grupo social em que vivem. O envelhecimento poderá ser elaborado de maneira mais eficaz a partir do momento em que o próprio idoso assume as próprias limitações. Werlang e Pomatti (2005) concordam, dizendo que o longevo que assume suas limitações está de certa forma, demonstrando a sua maturidade e que a verdadeira sabedoria surge a partir do momento que o indivíduo percebe as limitações da condição humana.

    Na continuidade, a cognição é vista como fundamental, pois a partir dela que o indivíduo vai experienciar a auto-estima, domínio e competência, levando em conta os papéis sociais estabelecidos anteriormente; também pode ser estimulada pela necessidade de satisfazer as necessidades humanas básicas, pela forma de como enfrentará situações como viuvez e aposentadoria e pela expectativa que outras pessoas depositam no idoso, fazendo com que o mesmo responda de forma eficaz (SIQUEIRA, 2002) (SMELTZER; BARE, 2002) (DOLL et al., 2007).

    O ser humano de maneira geral tem como expectativa usufruir de sua longevidade, mas durante o percurso de sua vida, não está preparando-se de forma adequada para quando esta etapa da chegar. Segundo Pomatti e Belitzki (2005), o idoso não se imagina com todas as alterações fisiológicas, psicológicas e sociais advindas deste processo.

Objetivos

Objetivo geral

    Analisar a possibilidade de um envelhecimento saudável na perspectiva da educação gerontológica para um estilo de vida saudável com abordagem interdisciplinar e monitoração da evolução dos aspectos físico, mental, social e espiritual nos grupos de convivência em município do interior do RS.

Objetivos específicos

    Comparar as condições de saúde das pessoas idosas antes e após as oficinas educativas propostas pela pesquisa.

    Identificar as facilidades e dificuldades encontradas pelas pessoas idosas ao assumirem esta mudança para um estilo de vida saudável através da realização da oficina.

Metodologia

População

    A população foi composta por idosos ativos de um município do interior do RS, participantes de um grupo da terceira idade.

Descrição da amostra

    A amostra caracterizada por ser não-probabilística intencional, para a qual foi eleito um grupo da terceira idade do município para participar do estudo. O grupo tem aproximadamente 50 idosos, de ambos os sexos, com idades entre 55 e 85 anos, com um grau de escolaridade baixo.

Procedimentos metodológicos

    Foram realizados cinco encontros com o grupo, seguindo-se uma estrutura básica que constou de atividades lúdicas; desenvolvimento, com o conteúdo propriamente dito e ao final era lançado um desafio semanal. A cada encontro, também, havia espaço para depoimentos, atividade física e relaxamento corporal.

    Os encontros foram norteados pelas temáticas:

1. Sensibilização – o novo idoso e o envelhecer saudável

2. Atividade física, alimentação e corporeidade

3. Cuidado de si – lazer, espiritualidade e bem-estar

4. Novas perspectivas para envelhecer melhor nos grupos de terceira idade

5. Compartilhando experiências e saberes sobre o envelhecer

    Após o quinto encontro foram aplicadas as entrevistas semi-estruturadas.

Técnicas de análise

    Em relação à abordagem quantitativa a análise caracterizou-se por ser do tipo estatístico descritivo. Os resultados do estudo foram apresentados nos gráficos que seguem.

Resultados e discussões

    A seguir serão apresentados, descritos e discutidos os resultados encontrados após a aplicação do questionário aos participantes do estudo:

    Em relação ao gênero, observou-se que a maioria dos participantes foi de mulheres (41 de 50), enquanto os homens representaram 9 de 50 sujeitos. Esse achado vem a encontro de inúmeras observações da literatura, uma vez que as mulheres tendem a participar mais de grupos e a cuidar mais de sua saúde, realizar mais consultas, exames e visitar aos serviços de saúde. A distribuição por gênero é apresentada no gráfico 1.

Gráfico 1. Distribuição dos participantes por gênero

    Os participantes foram questionados quanto a sua impressão geral em relação à sua saúde no momento e os resultados são apresentados no gráfico 2. Pode-se constatar que expressiva maioria considera sua saúde ótima (16/50) e boa (25/50), enquanto referiram o adjetivo regular outros 8 de 50. Utilizou a expressão estável somente 1 dos participantes. Essa observação pode estar relacionada ao fato de que indivíduos que participam de grupos têm uma vida mais ativa e, por conseguinte, mais estímulos que contribuem para uma melhor sensação de bem-estar e mais saúde.

Gráfico 2. Impressão dos participantes quanto à sua saúde atual

    Após a realização das oficinas, buscou-se avaliar as maiores dificuldades e facilidades encontradas na assunção de um estilo de vida mais saudável. Os achados são apresentados nos gráficos 3 (dificuldades) e 4 (facilidades).

    Quanto às dificuldades uma expressiva maioria referiu que mudar a alimentação (17/50) e fazer exercícios (16/50) são os maiores obstáculos a serem vencidos. Outros aspectos citados foram: a dificuldade de manter a regularidade na participação semanal das atividades do grupo (4/50) e vencer a própria timidez (4/50). Houveram aqueles que afirmaram não haver dificuldades (5/50).

Gráfico 3. Dificuldades referidas ao assumir a mudança no estilo de vida

    Esses achados confirmam senso comum de que as mudanças na dieta alimentar e na realização regular de exercícios físicos são os maiores desafios a serem vencidos quando se trabalha com idosos, seja nos grupos, seja em qualquer outro ambiente dos serviços de saúde.

    Quanto às facilidades, aspectos sociais como o entrosamento social (25/50) e o fazer amizades (10/50) foram os mais importantes para a maioria. O participar das oficinas (9/50) e o participar mais ativamente do grupo (6/50) também podem ser considerados aspectos sociais e foram referidos como facilitadores das atividades propostas. Essa constatação reafirma a essencialidade da integração social e das relações humanas na vida das pessoas.

Gráfico 4. Facilidades referidas ao assumir a mudança no estilo de vida

    Ao findar as cinco oficinas foi perguntado aos participantes sobre qual sua percepção de ter havido mudança em sua vida. As respostas apontam para uma unanimidade em referir aspectos positivos, denotando mais motivação e interação social, o que se traduz nos achados, que são apresentados no gráfico 5.

Gráfico 5. Aspecto em que os participantes perceberam mudança após as oficinas

    Pode-se observar que metade afirmou perceber mais alegria de viver (25/50); outros constatam que sentem que melhorou seu astral (8/50); o cuidar mais de si (6/50) e as mudanças na alimentação (6/50) foram apontadas por alguns; os demais afirmaram perceber mais disposição e vigor (5/50).

    Pode-se perceber que as oficinas trouxeram diferentes aspectos à reflexão e resultaram em sensações e percepções positivas, cujas repercussões somente poderão ser mensuradas com o tempo, mas seu impacto inicial foi altamente promissor.

    As dificuldades apontadas são prioritariamente individuais e vão requerer modos variados de abordar e continuados esforços das equipes de saúde, mas podem ser suplantados com políticas bem estruturadas e articuladas, voltadas à valorização do indivíduo, dos grupos e das elações humanas, denotando a essencialidade do viver social e da educação voltada especificamente à população gerontológica.

Considerações finais

    O reconhecimento da multidimensionalidade da qualidade de vida refletiu-se na estrutura do instrumento, baseada em seis domínios: físico, domínio psicológico, nível de independência, relações sociais, com o meio ambiente e de espiritualidade/religião/crenças pessoais.

    A qualidade de vida, contudo, é uma questão que envolve valores e, como tal, está cheia de subjetividade, de reflexões pessoais e juízos familiares. A população em geral tem consciência do que é melhor para sua saúde, mas nem sempre o que é melhor para a sua saúde se reflete no que é melhor para a pessoa. Como a forma de mensuração, pelo que podemos notar, depende muito da interpretação de cada pessoa, que identifica o grau de melhora, piora ou, até mesmo, a manutenção da qualidade de vida dos indivíduos; esta se torna uma avaliação que atua no campo perceptivo sobre os níveis do "envelhecimento bem-sucedido".

    Numa sociedade ativa e competitiva como aquela em que vivemos, o esperado é que o idoso fique afastado do meio social ativo, por se apresentar fora do ritmo dos acontecimentos e improdutivo aos olhos do dinamismo social. Essa falta de utilidade, juntamente com a perda do papel social, desencadeia na sociedade o preconceito relacionado à idade. 

    As ações preventivas e reabilitadoras devem surgir, por meio de campanhas de conscientização de uma vida mais ativa e saudável, tendo oportunidades de mais atendimentos domiciliares, serviços de orientações, exercícios físicos, aumento da aposentadoria entre outros. As atividades são imprescindíveis para manter e resgatar a autonomia dos idosos, tendo grande impacto na saúde da população. Os profissionais da saúde além de atuar com os cuidados e atenções devem também ser mediadores, defensores, mentores, facilitadores e promotores dos procedimentos relacionados à saúde dos idosos

    O idoso percebe o seu envelhecimento pouco a pouco, através dos papéis sociais que desenvolveu durante a sua vida. A família e a sociedade acompanham esta etapa da vida e, de uma maneira ou de outra, determinam o envelhecimento social do ser humano. Como a sociedade, de maneira geral, valoriza o ser produtivo, quando ocorre a aposentadoria passa-se a considerar o indivíduo como improdutivo, o que acaba por ser excluí-lo das decisões, seja na família ou na comunidade, configurando-se uma sociedade oposta aos costumes antigos, nos quais o idoso era valorizado pela sua sabedoria e pela detenção do conhecimento.

    O homem sendo um ser biopsicossocial irá responder em sua velhice por todas as experiências vividas durante sua vida, por exemplo, o indivíduo que cultivou amizades, que teve em seu contexto social, família estruturada, um emprego digno, teve boa saúde, foi estimulado a cultivar valores, sentirá em sua velhice capacidade de encarar novos papéis, ressurgindo com o envelhecimento novas possibilidades.

    Muitos indivíduos longevos buscam através de sua vivência, experiências pessoais e profissionais, bem como, todos os seus recursos psicológicos, enfrentar a velhice, aposentadoria, viuvez, a morte de parentes e amigos de maneira natural, julgando que este é o percurso da vida, desta forma, tornam o enfrentamento do envelhecimento de maneira menos penosa e mais prazerosa, resultando no desenvolvimento de novos papéis sociais.

    A educação em saúde é uma estratégia de motivação continuada, mas as efetivas alterações são provenientes da conscientização sobre a importância da atitude a ser tomada. Ao assumir este novo estilo de vida, o aspecto referente ao condicionamento é fundamental para a adesão e continuidade deste processo. É realmente um processo contínuo que deve ser continuamente repetido, refletido e estimulado pelos envolvidos.

    Promover a saúde dos idosos é uma estratégia fundamental para a qualidade de vida dos idosos. Mas, não basta demonstrar inicialmente o que fazer, é preciso continuamente monitorar, mas não somente pelos profissionais, mas pelos próprios pares, ou seja, pelos amigos, colegas e companheiros de grupos da terceira idade. Os grupos têm papel fundamental na manutenção dos hábitos de vida, uns motivam os outros para manterem-se saudáveis, pois quando em equilíbrio não serão vitimas das seqüelas limitadoras que as doenças de base serão capazes de causar. Além de viver com qualidade, adquire-se saúde na sua mais complexa perspectiva.

Referências

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