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Educação Física escolar: percepções dos 

profissionais do SESI-SP a cerca da área

La Educación Física escolar: la mirada de los profesionales del SESI-SP acerca del área

 

*Especialista Técnico de Esporte e Lazer SESI-SP

Mestre em Educação Física - USJT

**Graduanda em Educação Física – Universidade UNISANT’ANNA

(Brasil)

Hugo Cesar Bueno Nunes*

Priscila Rodrigues da Silva**

hnunes@sesisp.org.br

 

 

 

 

Resumo

          A Educação Física, enquanto componente curricular obrigatório, necessita estar inserida na concepção defendida pela Rede SESI-SP, procurando articular-se com as demais áreas do conhecimento, de forma a contribuir significativamente para a formação de cidadãos ativos e críticos. Objetivou-se com este estudo compreender qual a percepção que os profissionais (Coordenadores e Orientadores de Esporte e Lazer) que atuam no SESI-SP como gestores têm da Educação Física escolar. O estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva, a população investigada constituiu-se de forma estratificada, sendo composta de 50 sujeitos, os dados foram analisados através da técnica de análise de conteúdo. Neste contexto percebeu-se com a presente pesquisa que alguns discursos relacionados ao trabalho com a psicomotricidade, esporte e qualidade de vida ainda permeia o imaginário destes profissionais, estando distante do proposito defendido pela rede.

          Unitermos: Educação Física. Escola. Currículo.

 

Abstract

          The Physical Education curriculum as a component required, need to be inserted into the conception defended by Network SESI-SP, looking fit in with other areas of knowledge, to contribute significantly to the formation of active, critical citizens. The objective of this study to understand what is the perception that professionals (Managers and Coaches Sporting Leisure) operating in the SESI-SP as managers have of Physical Education. The study is characterized as a descriptive type of qualitative research, the population studied consisted of a stratified manner, consisting of 50 subjects, data were analyzed using the technique of content analysis. In this context it was noted with this study that some discourses related to work with the psychomotor, sports and quality of life still permeates the imagery of these professionals, being away from the purpose served by the network.

          Keywords: Physical Education. School. Curriculum.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O SESI (Serviço Social da Indústria) criado em 25 de junho de 1946, pelo Presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra, é uma entidade privada, nos termos da lei civil, estruturada em base federativa que presta assistência social aos trabalhadores industriais e comunidade em geral. Sua missão é promover a qualidade de vida do trabalhador e de seus dependentes, com foco em educação, saúde, lazer, cultura, esporte, alimentação, entre outros. Tem também, parceria com empresas, fornecendo assim, apoio no desenvolvimento e implantação de projetos que visa o benefício social para seus funcionários.

    O primeiro projeto educacional do sistema escolar SESI-SP foi implementado em 1947 com o objetivo de atender jovens e adultos, não pensando somente em alfabetização, mas também para desenvolver habilidades necessárias para desempenhar uma atividade profissional.

    Dentro desta estrutura está presente a DEL (Divisão de Esporte e Lazer), que no ano de 2011 foi reestruturada e está sub-dividida em três regiões: Gerência de Esporte e Lazer 1 (GEL 1), Gerência de Esporte e Lazer 2 (GEL 2) e Gerência de Esporte e Lazer 3 (GEL 3), cada uma dessas Gerências é composta por: 1 gerente, 1 supervisor, 4 Especialistas Técnicos de Esporte e Lazer que atuam na Sede da entidade e 4 Supervisores de Campo. Cada Especialista Técnico é responsável por uma área de conhecimento especifica, são elas: Esporte de Rendimento, Produtos para Indústria, Lazer e Educação Física escolar.

    Além da DEL temos na estrutura do SESI-SP a DE (Divisão de Educação) que atua nos processos pedagógicos e especificamente nas escolas do SESI-SP, responsável por todos os componentes curriculares da rede. Até o ano de 2008, a DE era responsável pela Educação Física escolar, a partir do ano de 2009, esta “supervisão” passou para a DEL, a qual atuava até então, apenas com educação não formal.

    Importante salientar que cada unidade do SESI tem como responsável 01 (um) Coordenador de Esporte e Lazer e 01 (um) Orientador de Esporte e Lazer, este, responsável pelo acompanhamento das aulas de todos os programas oferecidos pelo SESI-SP, desde as aulas voltadas para Fitness até as aulas de Educação Física escolar.

    Como sinalizado anteriormente este acompanhamento do Orientador de Esporte e Lazer nas aulas de Educação Física escolar se deu recentemente, até então, esta responsabilidade era do Coordenador Pedagógico da escola.

    A GEL 01 atende 20 Cats (Centro de Atividades), distribuídos nas seguintes regiões: ABCD, Capital, Grande São Paulo, Vale do Paraíba e Baixada Santista, todas localizadas no Estado de São Paulo. Diante da grande diversidade de programas desenvolvidos pelo SESI-SP nas unidades, buscou-se neste estudo, focar apenas os aspectos relacionados à Educação Física escolar.

    A Educação Física, enquanto componente curricular obrigatório, necessita estar inserida na concepção defendida pela Rede SESI-SP, procurando articular-se com as demais áreas do conhecimento, de forma a contribuir significativamente para a formação de cidadãos ativos e críticos.

    Em sua trajetória histórica, a área de Educação Física interpretou o movimento humano a partir de diferentes enfoques, ora utilizando os princípios da física mecânica, ora os princípios da biologia, ora os da psicologia, princípios estes, que estavam muito distantes do universo escolar. Dentro destas diferentes perspectivas surgem as diferentes abordagens que vão dando subsídios para o trabalho do professor de Educação Física escolar, no entanto, estas abordagens não foram capazes de justificar de forma satisfatória a presença da disciplina no currículo escolar.

    Visto a grande diversidade de concepções a cerca da Educação Física escolar e da atual responsabilidade dos Orientadores de Esporte e Lazer que passaram a atuar diretamente com a referida área, buscou-se com este estudo compreender qual a percepção que os profissionais (Coordenadores e Orientadores de Esporte e Lazer) que atuam no SESI-SP como gestores têm da Educação Física escolar, já que são os responsáveis pelo desenvolvimento e formação dos docentes dentro das escolas. Sendo assim, o presente estudo tem por objetivo identificar o que os coordenadores e orientadores de esporte e lazer compreendem sobre: Qual o principal objetivo das aulas de Educação Física escolar?

Metodologia

    O estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva.

    A pesquisa qualitativa é essencialmente descritiva. Pesquisar é descrever aquilo que eu analiso, o fenômeno que eu interrogo. O discurso sempre envolve um desvelar e através das descrições busco compreender o que ainda está oculto para mim. (NISTA-PICCOLO, 1993, p.70).

    A utilização da descrição na pesquisa significa que a mesma não terá um caráter de avaliação nem de opinião do sujeito sobre a experiência vivida, mas apenas irá relatar de modo preciso, o que ocorre com ele ao vivenciar suas experiências. (Martins e Bicudo, 2005).

    A coleta dos dados se deu a partir da aplicação de um questionário com 2 questões abertas que versavam sobre:

  1. O que é Educação Física escolar?

  2. Qual o principal objetivo das aulas de Educação Física escolar?

    Para o presente estudo focou-se apenas na questão B (Qual o principal objetivo das aulas de Educação Física escolar). A população investigada constituiu-se de forma estratificada, sendo composta de 50 sujeitos (Coordenadores e Orientadores de Esporte e Lazer da GEL 01).

    Os dados foram analisados através da técnica de análise de conteúdo buscando extrair dos questionários os significados que os sujeitos detinham sobre o fenômeno pesquisado, em seguida os dados foram tabulados e classificados.

Resultados e discussões

    Os resultados serão apresentados em forma de tabela e em seguida interpretados para que possamos fazer uma discussão dos mesmos.

Tabela 1. Análise de conteúdo dos Orientadores e Coordenadores da GEL 01

Análise de Conteúdo

Unidade de Significado

Quantidade

%

Psicomotricidade

48

96%

Valores

46

92%

Esporte

26

52%

Qualidade de Vida

26

52%

Cultura Corporal

11

22%

Lúdico

07

14%

    Os dados acima nos mostram uma tendência do grupo em acreditar e consequentemente justificar a importância da Educação Física na escola através do discurso da psicomotricidade (96%), o qual tem grande apoio nas teorias psicológicas de desenvolvimento e aprendizagem.

    A educação psicomotora ou psicomotricidade teve como principal autor o francês Jean Le Bouch e mostra-se preocupada com o desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, buscando garantir a formação integral do/a aluno/a (DARIDO e SANCHEZ, 2005, p. 7).

    Estas teorias vem ao encontro da proposta de Tani et alii (1988), onde a Educação Física escolar é uma tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem motora e, em função destas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes para a estruturação da Educação Física escolar.

    Outro discurso presente com 92% das respostas é referente a questões de valores, o qual seria objetivo das aulas de Educação Física escolar dar conta de desenvolvê-los através de seu conteúdo. Vemos neste discurso um equívoco, visto que todos os componentes curriculares são responsáveis por tais condutas como o desenvolvimento do respeito, cooperação, trabalho em equipe, ética, solidariedade, entre outros, e não somente o componente curricular Educação Física.

    Com 52% das respostas temos o conteúdo esporte e qualidade de vida como sendo objetivo das aulas de Educação Física escolar. Vemos como este discurso sobre Esporte e Qualidade de Vida ainda está presente em grande parte dos profissionais da área, ranço das propostas elaboradas e divulgadas na área no decorrer de sua história.

    O discurso destes profissionais sobre a qualidade de vida como objetivo das aulas de Educação Física escolar mostra-nos a forte influência dos estudos do campo da fisiologia, onde segundo Nahas (2006) os objetivos centrais da Educação Física seria o desenvolvimento de habilidades motoras e a promoção de atividades físicas relacionadas à saúde. Para o autor, os/as estudantes precisam ser fisicamente ativos/as, na escola e fora dela.

    Se um dos objetivos é fazer com que os alunos venham a incluir hábitos e atividades físicas em suas vidas, é fundamental que compreendam os conceitos básicos relacionados à saúde e a aptidão física, que sintam prazer na prática de atividades físicas e que desenvolvam um certo grau de habilidade motora, o que lhes dará a percepção de competência e motivação para essa prática (NAHAS,2006, p. 152).

    Já com relação ao Esporte, de acordo com Hildebrandt–Stramann (2003) as teorias críticas na área de Educação Física, apontam o esporte como meio de reprodução de valores presentes na sociedade industrial, consequência do uso de metodologias que preconizam a “comparação objetiva”, ou seja, a todo momento o aluno é comparado com sigo próprio ou com os outros, visando sempre uma melhor performance em suas ações.

    Para Nunes e Rúbio (2008), essa concepção esportiva, impõe-se aos professores de Educação Física o papel de conduzirem os jovens para que estes possam ter certas identidades: ordeiras e pacíficas, e por que não dizer acomodadas.

    Já para GONÇALVES JUNIOR (2007) nas aulas de Educação Física há uma predominância do esporte como conteúdo, por vezes exclusivo, o que reduz o universo da Motricidade Humana, circunscrevendo-o ao contexto cultural estadunidense e/ou europeu, em detrimento das potencialidades que podem ser exploradas ao propor a vivência de outras manifestações, oriundas dos diferentes povos que construíram e constroem o Brasil.

    Com 22% temos a Cultura Corporal como sendo objetivo das aulas de Educação Física escolar. Este objetivo vai ao encontro de alguns autores da área como TAFFAREL (1985), SOARES et all (1992), que apontam a Cultura Corporal como sendo o conteúdo e objeto de estudo da área.

    Para Neira e Nunes (2009) o componente curricular Educação Física deve proporcionar aos estudantes a possibilidade de conhecer, debater, vivenciar, experimentar, pesquisar, modificar e ampliar o próprio patrimônio da cultura corporal.

    Apesar de o conceito de cultura corporal estar sendo expressamente utilizado na área, com suas diferentes interpretações, vemos que ainda é um termo pouco utilizado pelos profissionais do SESI-SP, indicando assim, a necessidade de um maior aprofundamento e estudo na área.

    Por ultimo temos os aspectos lúdicos com 14% das respostas como sendo objetivo das aulas de Educação Física, o que nos mostram uma percepção um tanto quanto ingênua da área.

Considerações finais

    A Educação Física escolar defendida pela rede SESI-SP é aquela que busca no estudo da cultura corporal o seu objeto de intervenção, a qual engloba o ensino, aprendizagem e pesquisa, devendo ser desenvolvida juntamente com as demais áreas de conhecimento tendo o objetivo de ampliar seus conhecimentos formando cidadãos críticos e ativos.

    As aulas de Educação Física escolar poderão proporcionar para o aluno práticas corporais que sejam estudadas e vivenciadas, oferecendo condições para os alunos compreenderem a complexidade de aspectos culturais, sociais, históricos e econômicos que envolvem sua manifestação, na sociedade. Nesta perspectiva a cultura deve ser compreendida como um conjunto de práticas ideologias e valores englobando todos os tipos de manifestação da cultura corporal onde os alunos devem vivenciar e estudar as diversas manifestações corporais.

    No mesmo sentido, os estudos de Neira (2007) alertam sobre a necessidade de o professor não ser um visitante na cultura popular e salientam a importância do docente pesquisar e procurar aprofundar-se nos conteúdos da prática cultural tematizada, para melhor conduzir sua ação educativa. Além disso, no âmbito do multiculturalismo, alunos e professores assumem uma postura ativa de investigação in loco e com os representantes da comunidade

    Somente uma pedagogia que permita um entendimento aprofundado do diálogo estabelecido entre a sociedade e as manifestações da cultura corporal, desvelando, dessa forma, as relações de poder envolvidas na sua produção e reprodução, possibilitará aos alunos a descoberta, invenção e experimentação de estratégias alternativas àquelas preconizadas pela cultura hegemônica, tencionando a transformação do seu olhar acerca do cotidiano mais próximo e da sociedade em geral. Essa perspectiva curricular da Educação Física encontra fundamento na “pedagogia da cultura corporal” defendida por Neira e Nunes (2007).

    Neste contexto percebeu-se com a presente pesquisa que alguns discursos relacionados ao trabalho com a psicomotricidade, esporte e qualidade de vida ainda permeia o imaginário destes profissionais, estando distante do proposito defendido pela rede. Talvez uma justificativa plausível para tais resultados, seja que os participantes da referida pesquisa, vem a pouco tempo tendo contato com a área escolar, pois até o ano de 2009 os mesmos atuavam apenas com atividades voltadas para o lazer e esporte de participação, ou seja, não tinham no seu cotidiano a preocupação com os estudos da Educação Física escolar.

    Os dados apresentados vem reforçar a necessidade de formação continuada dos orientadores e coordenadores de esporte e lazer a fim de alinharmos a concepção de área defendida na rede.

Referências bibliográficas

  • DARIDO S. C; SANCHEZ L. O contexto da educação física na escola. In: DARIDO S. C; RANGEL I. C. A. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

  • GONÇALVES JUNIOR, Luiz. A motricidade humana no ensino fundamental. In: I Seminário Internacional de Motricidade Humana: passado-presente-futuro, 2007, São Paulo. Anais... p.29-35 v.01, São Paulo: ALESP, 2007.

  • HILDEBRANDT-STRAMANN, R. Textos Pedagógicos sobre o ensino da Educação Física. 2ª ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2003.

  • MARTINS, J.; BICUDO, M.A.V. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Centauro, 2005.

  • SOARES, Carmem Lucia. et all - Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • NAHAS M. V. Atividade física e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 4ª ed. Londrina, PR: Midiograf, 2006.

  • NEIRA, M. G. Ensino de Educação Física. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

  • NEIRA, M.G., NUNES. M.LF. Praticando Estudos Culturais na Educação Física. São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2009.

  • NISTA-PICCOLO, V.L. Uma análise fenomenológica da percepção do ritmo na criança em movimento. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas. UNICAMP, Campinas, 1993.

  • NUNES M. L. F; RÚBIO K. O(s) currículo(s) da educação física e a constituição da identidade de seus sujeitos, in Currículo sem fronteiras, v. 8, n. 2, pp. 55-77, Jul/Dez 2008.

  • SESI-SP - Referências Curriculares da rede escolar SESI-SP – São Paulo : SESI, 2003

  • TAFFAREL, Celi Nelza. Criatividade nas aulas de Educação Física. Rio de Janeiro: Editora ao Livro Técnico, 1ª ed., 1985.

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