efdeportes.com

Desempenho no teste de velocidade e no RAST: um 

estudo correlacional em jogadores jovens de handebol

El rendimiento en el test de velocidad y en el RAST: un estudio correlacional en jugadores juveniles de balonmano

 

*Grupo de Estudos em Treinamento e Rendimento Esportivo

Universidade Federal da Paraíba, Paraíba

**Laboratório de Avaliação da Carga, Escola de Educação Física, Fisioterapia

e Terapia Ocupacional. Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais

***Fundação Helena Antipoff, Minas Gerais

Ytalo Mota Soares*

Bruno Pena Couto**

Bárbara Marcelina Ribeiro Rocha***

ytalomota@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O handebol é um esporte intermitente que exige de seus praticantes tomadas de ações rápidas, habilidades técnico-táticas e o uso constante da velocidade nas ações de ataque e contra-ataque que surgem durante o jogo. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar a associação entre os resultados obtidos no teste de Velocidade (V40m) e no Running-based Anaerobic Sprint Test (RAST). Participaram deste estudo 09 atletas de handebol do sexo masculino, com idade de 17,22 ± 0,97 anos e massa corporal de 73,78± 10,56 Kg. Os testes de V40m e RAST (DRAPER e WHITE, 1997) foram realizados nesta ordem e os dados coletados por meio de duas placas de contato 100x60cm (software multisprint 3.5.7). Para a análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva e inferencial a partir da Correlação de Pearson e ANOVA One Way, Programa SPSS 13.0. Foi adotado um nível de significância de 0,05. Os resultados demonstram alta correlação entre o teste de V40m e os 4 primeiros tiros do RAST. O quinto e o sexto tiro não apresentaram alta correlação com o teste de V40m. Além disso, não foram encontradas diferenças significativas entre os resultados obtidos no teste V40m e os dois primeiros tiros do teste RAST. Esses resultados sugerem que a velocidade dos atletas pode ser analisada a partir dos primeiros tiros do RAST. Contudo, o desempenho obtido no teste de 40m não possui alta correlação com a capacidade dos atletas manterem o nível de velocidade nos seis tiros, sendo necessária a realização de testes específicos como o teste RAST, para avaliar esta capacidade.

          Unitermos: Teste de velocidade. Test RAST. Handebol.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O handebol é considerado um esporte intermitente que exige de seus praticantes o uso da velocidade nas ações de ataque e contra-ataque durante o jogo. Exige ainda, mudanças constantes de intensidade e a combinação das três vias metabólicas. O handebol moderno se caracteriza pelo crescente incremento de esforços de alta intensidade, sendo que a velocidade se reflete na maior parte dos ataques realizados durante o jogo, devendo o atleta estar preparado para intervir muitas vezes na partida com esforços de alta intensidade e curta duração, a exemplo dos sprints repetidos (PEÑAS e GRAÑA, 2001; GOROSTIAGA, IBANEZ e IZQUIERDO, 2005; DECHECI et al., 2010).

    De acordo com Alves, Barbosa e Pellegrinotti (2008), o fornecimento de energia por vias anaeróbias é imprescindível no handebol, inerentes às ações muito intensas e rápidas que mobilizam sistemas anaeróbios para produção de energia. Levando-se em consideração as características diferentes que existem entre as modalidades esportivas coletivas, Barbosa e Oliveira (2008) afirmaram que as avaliações para detectar o desempenho esportivo deveriam ser realizadas por meio de testes com protocolos intermitentes de acordo com a peculiaridade do jogo. Entre os testes mais utilizados, cada vez mais tem recebido destaque, o Running-based Anaerobic Sprint Test (RAST) criado por DRAPER e WHITE (1997) para o desempenho em sprints repetidos.

    O RAST, vem sendo utilizado como ferramenta para avaliação da capacidade de sprints repetidos em diferentes modadlidades esportivas intermitentes como handebol (ROSEGUINI, SILVA e GOBATTO 2008), basquetebol BALCIUNAS et al., 2006; MORAES e PELLEGRINOTI, 2006) e futebol (RIBEIRO et al. 2007; Impelizeri et al., 2008).

    Embora existam vários estudos na literatura nacional e internacional (DRAPER e WHITE 1997, CASANOVA et al 2005, RIBEIRO et al 2007 e FORNAZIERO et al 2006) que avaliam a velocidade, a aceleração e o desempenho nos sprints repetidos em diferentes situações e esportes, não foram encontrados estudos que correlacionem os resultados dos testes RAST e de Velocidade em 40m (V40M).

    Diante disso, o objetivo deste trabalho foi verificar o nível de correlação existente entre os resultados obtidos no teste de Velocidade (V40m) e no Running-based Anaerobic Sprint Test (RAST).

Métodos

Sujeitos

    A amostra foi composta por 09 jogadores do sexo masculino, com idade de 17,22 ± 0,97 anos e massa corporal de 73,78± 10,56 Kg.

    O projeto deste estudo foi submetido à apreciação do Comitê de Ética Universidade Salgado de Oliveira. Os voluntários foram informados pelos pesquisadores quanto aos objetivos e aos procedimentos metodológicos do estudo, antes da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Instrumentos

    Foram utilizados neste estudo duas placas de contato (100x60cm) e um microcomputador com o software (Multisprint, versão 3.5.7, Brasil).

Procedimentos

    Os participantes foram avaliados em uma pista que possui 60m de comprimento e 10m de largura. Os testes foram aplicados no mesmo dia, primeiramente (as duas séries) do teste V40m com intervalo entre elas de 5 minutos e após um intervalo de 35 minutos, foi aplicado o teste RAST (DRAPER e WHITE, 1997) para desempenho nos sprints repetidos, obedecendo à mesma sequência dos sujeitos na execução do teste V40m. Os voluntários receberam demonstração sobre como fazer e se comportar durante a realização dos testes, de acordo com os procedimentos descritos nos protocolos, sendo também encorajados de forma verbal, para desenvolverem um desempenho máximo em todas as execuções.

    Visando a padronização dos critérios de aplicação dos testes, foram tomados os seguintes cuidados metodológicos no dia da coleta: a) todos os testes foram aplicados pelos mesmos avaliadores; b) os sujeitos, no momento dos testes, estavam vestindo roupas apropriados para a prática de Handebol.

Teste de Velocidade (V40m)

    No teste de V40m foram realizadas duas tentativas por cada atleta, com intervalo passivo de 5 minutos entre as tentativas. As duas placas de contato foram posicionadas a uma distância de 40m. A partir da posição ortostática e com um dos pés posicionado sobre placa de contato, os indivíduos foram orientados a correr na maior velocidade possível a distância de 40 metros, após a liberação dada pelo operador do software. Foi demarcada uma área de escape de 6 metros ao final do trecho para desaceleração dos voluntários.

Teste RAST

    Neste teste os atletas executaram apenas uma tentativa, partindo da posição ortostática, percorrendo a pista na maior velocidade possível por seis vezes com intervalo de 10 segundos entre cada esforço. As placas foram posicionadas a 35 m de distância entre si e uma área de escape de 6m, a mesma foi demarcada por dois cones nas extremidades do percurso.

Análise estatística

    Foi realizada estatística descritiva dos dados para média e desvio padrão. O índice de queda foi calculado a partir da divisão do menor pelo maior resultado obtido nos seis tiros do teste RAST. Para análise inferencial dos dados foi utilizada a correlação de Pearson entre os resultados obtidos no teste de Velocidade V40m e no teste RAST. O mesmo tratamento foi utilizado para verificação da correlação entre o índice de queda e o teste V40m. Foi utilizada também a ANOVA one-way para comparação entre os resultados obtidos no teste RAST e os obtidos no teste V40m. Foi adotado um nível de significância de 5% (p<0,05).

Resultados

    Na Tabela 1 estão apresentados os resultados do teste de velocidade de 40m. Foi considerado nesta avaliação apenas o melhor resultado de cada um dos voluntários.

Tabela 1. Velocidade média obtida no teste V40M

    Na Tabela 2 estão apresentados os resultados do teste RAST. A velocidade de cada voluntário nos seis tiros e os respectivos índices de queda são exibidos na tabela a seguir.

Tabela 2. Valores de velocidade e índice de queda obtidos no teste RAST

    Os resultados do teste de correlação de Pearson apontaram correlações significativas entre os resultados do teste V40m e os quatro primeiros tiros do teste RAST. Apenas os valores do quinto e do sexto tiro não apresentaram correlação significativa com os valores do teste de velocidade. Também não foi encontrada correlação significativa entre a queda do desempenho no teste RAST, representada pelo índice de queda e o desempenho no teste V40m.

    Os resultados da ANOVA one-way demonstraram não haver diferenças significativas entre os valores de velocidade obtidos no primeiro e segundo tiro do teste RAST com os resultados do teste de velocidade V40m. Os valores dos demais tiros são estatisticamente diferentes dos resultados do teste V40m. A FIGURA 1 exibe as velocidades médias encontradas nos seis tiros do teste RAST.

Figura 1. Resultados do teste RAST

Discussão

    A utilização do teste RAST (Running-based Anaerobic Sprint Test) na avaliação de atletas de handebol se justifca pelo fato de que, segundo Alves, Barbosa e Pellegrinotti (2008), esta modalidade se caracteriza por ações muito intensas e rápidas que mobilizam os sistemas anaeróbios para produção de energia. Barbosa e Oliveira (2008) relatam que, para modalidades esportivas coletivas, as avaliações deveriam ser realizadas por meio de testes com protocolos intermitentes de acordo com a peculiaridade do jogo. São justamente estas as características do RAST. Assim, este teste tem sido utilizado na avaliação da capacidade de sprints repetidos no hanbebol (ROSEGUINI, SILVA e GOBATTO 2008), basquetebol (MORAES e PELLEGRINOTI 2006) e futebol (RIBEIRO et al. 2007).

    Os dados encontrados indicaram a existência de uma elevada correlação entre os quatro primeiro tiros do teste RAST e o melhor tiro do teste de velocidade V40m. Assim, os indivíduos mais velozes no teste V40m também tendem a ser os mais rápidos nos quatro primeiros tiros do teste RAST. Este fenômeno não ocorre nos dois últimos tiros do RAST. Portanto, para comparação entre indivíduos de um mesmo grupo, a classificação destes indivíduos a partir do desempenho em um dos quatro primeiros tiros pode ser utilizada para determinação dos atletas mais ou menos velozes deste grupo.

    Outro aspecto importante é o fato de não ter sido encontrada diferenças significativas entre os dois primeiros tiros do teste RAST e o resultado do teste V40m. Assim, em uma bateria de testes aplicada a uma equipe de atletas de handebol, parece não existir a necessidade de se realizar os dois testes (RAST e V40m). Se o teste RAST for utilizado, além da capacidade de verificação do desempenho nos sprints repetidos, é possível avaliar também a velocidade destes atletas. Para isto, basta isolar os resultados obtidos no primeiro ou no segundo tiro e utilizá-los na avaliação desta capacidade. Como o teste V40m é constituído por tiros isolados de 40m, com intervalos completos entre eles, não é possível utilizá-lo para a avaliação da capacidade de sprints repetidos dos atletas.

Conclusão

    A partir dos objetivos do estudo e com base nos resultados encontrados, foi possível concluir que a velocidade dos atletas pode ser analisada a partir dos dois primeiros tiros do teste RAST. Contudo, o desempenho obtido no teste de 40m não possui alta correlação com a capacidade de realizar sprints repetidos, sendo necessária à realização de testes específicos como o teste RAST, para avaliar esta capacidade.

Referências bibliográficas

  • Alves, T.C.; Barbosa, L.F.; Pellegrinotti, I. L. Características fisiológicas do handebol. Revista Conexões n. especial, 6, 2008.

  • Balciunas, M. ; Stonkus, S; Abrantes, C.; Sampaio, J. Long Term Effects of different training modalities on Power, speed, skill and anaerobic capacity in Young male basketball players. Journal of Sports Science and Medicine. 5: 163-170, 2006.

  • Barbosa, L.F.; Oliveira, M.B. Handebol e exercício intermitente: caracterização do esforço. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Ano 12 - N° 116. http://www.efdeportes.com/efd116/handebol-e-exercicio-intermitente.htm

  • Casanova, F; Oliveira, J.; Magalhães, J.; Ascensão, A. Estudo de validação criterial do Running-based anaerobic sprint test para a avaliação da performance anaeróbica. In: Carvalho C, editor. Treino e avaliação da Força e Potência Muscular. Maia: ISMAI Publishers; 2005, 275-283.

  • Dechechi, C.J.; Machado, E.F.A.; IDE, B.N.; Lopes, C.R.; Brenzikofer, R.; Macedo, D.V. Estudo dos efeitos de Temporada de Treinamento Físico sobre a performance de uma equipe de handebol feminino Sub-21. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 16,4: 295-300, 2010.

  • Draper, N; Whyte, G. Here’s a new running-based test of anaerobic performance for wich you need only a stopwatch and a calculator. Peak Performance, 96:4-5, 1997.

  • Elenno, T.G.; Kokubun, E. Sobrecarga fisiológica do drible no handebol: um estudo pelo lactato sangüíneo e freqüência cardíaca em sujeitos treinados e não-treinados. Revista da Educação Física/UEM 13:109-114, 2002.

  • Fornaziero, A; Leite R.D.; Dourado, A.C; Stanganelli, L.C.R; Daros, L,B; Osiecki R. Análise do comportamento da freqüência cardíaca de futebolistas em teste de potência aeróbia. Revista Brasileira Educação Física e Esporte, 20: 277-95. 2006

  • Gorostiaga, E.M; Granados, C; Ibañez, J.; Izquierdo, M. Differences in Physical Fitness and Throwing Velocity Among Elite and Amateur Male Handball Players. International Journal of Sports Medicine, 26:225‑32, 2005

  • Impellizeri, F.M.; Castagna, E.R.; Bishop, D.; Bravo, D.F.; Tibauti, A.; Wisloffs, U. Validity of a repeated-sprint test for footbal. Int J Sports Med, 29: 899–905, 2008.

  • Leno, T.G, Barela, J.A; Kokubun E. Tipos de esforço e qualidades físicas do handebol. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 24: 83-98, 2002.

  • Penãs, C.L; Graña, P.L. El entrenamiento de la velocidad en el balonmano. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 28, 2001. http://www.efdeportes.com/efd30/velocbm.htm

  • Ribeiro, R.; Dias, D.F.; Claudino, J.G.O.; Gonçalves, R. Análise do somatotipo e condicionamento físico entre atletas de futebol de campo sub-20. Motriz, 13: 280-287, 2007.

  • Roseguini, A.; Silva, A; Gobatto, C. Determinações e Relações dos Parâmetros Anaeróbios do RAST, do Limiar Anaeróbio e da Resposta Lactacidemica Obtida no Início, no Intervalo e ao Final de uma Partida Oficial de Handebol. Rev. Bras. Med. Esporte, 14:46-50, 2008.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 164 | Buenos Aires, Enero de 2012
© 1997-2012 Derechos reservados