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Perfil do consumo dos medicamentos isentos de prescrição em 

Montes Claros, MG. Estudo das reações adversas e toxicológicas

Características del consumo de medicamentos sin prescripción médica en 

Montes Claros, MG. Un estudio de las reacciones adversas y toxicológicas

 

*Bacharel em Farmácia-Faculadades de Saúde e Desenvolvimento Humano

Santo Agostinho. Pós Graduanda em Farmacologia Clínica

Faculdades de Saúde Ibituruna (FASI)

**Bacharel em Farmácia. Faculdades de Saúde

e Desenvolvimento Humano Santo Agostinho

***Bacharel em Farmácia pela Universidade Federal

de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG

Mestre em Ciências Farmacêuticas (UFOP)

****Doutorando em Ciências da Saúde (UNB). Professor dos cursos

de Medicina, Biomedicina e Farmácia das Faculdades Integradas Pitágoras

de Montes Claros e professor dos cursos de Enfermagem e Farmácia

das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros

Ariane Rafaela Ramos Barbosa*

Junia Larissa Sarmento e Silva**

Pollyanna Álvaro Spósito***

Humberto Gabriel Rodrigues****

humbertobriel@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Os medicamentos descritos na lista de Grupos e Indicações Terapêuticas Especificadas (GITE) da Agência nacional de vigilância sanitária são isentos de prescrição médica, principalmente tratando-se daqueles comercializados em suas embalagens primárias, os quais devem vir acompanhados por bula. Além dos estabelecimentos farmacêuticos estes medicamentos são encontrados à venda em lanchonetes, bares e supermercados. A automedicação e uso indiscriminado destes podem ocasionar reações adversas e/ou toxicológicas. Este estudo tem como objetivo avaliar o perfil do consumo de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) comercializados em embalagens primárias da população de Montes Claros - MG, bem como alertá-la quanto aos riscos provocados pelo consumo excessivo destes medicamentos, e da importância em consultar estas informações esclarecidas em suas bulas. A primeira etapa do estudo foi realizado um levantamento prévio, dos 10 medicamentos isentos de prescrição mais vendidos em 11 farmácias e drogarias em novembro 2008, para avaliar os riscos toxicológicos provocados pelo consumo excessivo dos MIPs, e ainda nas bulas destes foram feitas avaliações nos parâmetros das reações adversas e superdosagem. A segunda etapa foram aplicados 470 questionários fechados, para definir o perfil de consumo dos MIPs na amostra em estudo. Os resultados de primeira etapa demonstraram que os medicamentos analgésicos e antipiréticos, antiinflamatórios e antigripais foram os MIPs mais consumidos pela população, evidenciando o hábito dos consumidores utilizarem medicamentos contendo dipirona, paracetamol e ácido acetilsalicílico. No entanto, esses apresentaram ser os maiores causadores de reações adversas e toxicológicas. E os resultados da segunda etapa, foi observado que 75,74% da amostra, tem o hábito de comprar os medicamentos de venda livre comercializados em embalagens primárias. Pode-se concluir que a população entrevistada caracterizou-se como grande consumidora destes fármacos e que a falta de informação para o uso dos mesmos podem ocasionar erros de administração, uma vez que não estão isentos riscos para saúde.

          Unitermos: Medicamentos. Automedicação. Reações adversas. OTCs.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os medicamentos descritos na lista de Grupos e Indicações Terapêuticas Especificadas (GITE) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) são isentos de prescrição médica, principalmente tratando-se daqueles comercializados em suas embalagens primárias (blister), como Doril, Anador, Tylenol, Dorflex, Dramin, ASS, Neosaldina, dentre outros. Os quais devem vir acompanhados por bula, sendo esta um material informativo produzida pela indústria farmacêutica disponível ao consumidor 2.

    Estes medicamentos além de serem comercializados em drogarias e farmácias, também são encontrados em estabelecimentos não farmacêuticos como lanchonetes, bares e supermercados 3.

    O fácil acesso e a isenção da prescrição destes medicamentos contribuem ao consumo excessivo e inadequado dos mesmos favorecendo a auto-medicação e conseqüentemente podem ocasionar reações adversas e/ou em reações toxicológicas 4. Estas reações são manifestadas em pacientes que apresentam hipersensibilidade aos ativos do fármaco, ou que apresentaram alguma reação adversa anterior, ou principalmente aos pacientes tolerantes, os quais fazem o uso de uma dose superior à recomendada tendendo a um quadro de toxicidade5.

    Este estudo tem como objetivo avaliar o perfil do consumo de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) comercializados em embalagens primárias da população de Montes Claros - MG, bem como alertá-la quanto aos riscos provocados pelo consumo excessivo destes medicamentos, e da importância em consultar estas informações esclarecidas em suas bulas.

Métodos

    O presente estudo foi desenvolvido no município de Montes Claros, situado na Bacia do Alto médio São Francisco do norte do estado de Minas Gerais, Brasil, estando integrado na área do Polígono da seca. Latitude sul: 16° 43’ 41”; longitude oeste: 43° 52’ 54”, altitude: 638m, com área de 4.135km². Este município conta com uma população estimada de 348.996 habitantes.

    Este estudo foi divido em duas etapas, sendo que na primeira etapa foi realizado um levantamento prévio dos 10 medicamentos isentos de prescrição comercializados em embalagens primárias (blister) mais vendidos, em 11 farmácias e drogarias, durante o mês de novembro de 2008, para avaliar os riscos toxicológicos provocados pelo consumo excessivo dos MIPs mais vendidos. Após este levantamento, foram feitas avaliações nos parâmetros de reações adversas e de super-dosagem apresentadas nas bulas de cada um dos medicamentos, cujo material foi utilizado pra esclarecer se os princípios ativos dos mesmos podem desencadear uma possível toxicidade.

    A segunda etapa foi realizada uma pesquisa demográfica mediante entrevistas estruturadas, registradas em questionário fechado e padronizado, os quais foram aplicados, aleatoriamente, a uma amostra de 470 habitantes, de ambos os sexos, acima de 21 anos, para definir o perfil de consumo dos MIPs na amostra da população em estudo. Os dados coletados foram comparados por análise de variância (ANOVA), com um valor p <0,01 utilizando programa origin 6.0 (Microcal Software Inc.).

    O estudo seguiu os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96 sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, a qual são admissíveis as pesquisas envolvendo seres humanos quando oferecerem elevada possibilidade de gerar conhecimento para entender, prevenir ou aliviar um problema que afete o bem-estar dos sujeitos da pesquisa e de outros indivíduos, bem como os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000).

Resultados

    Neste estudo pode ser observado (Figura 1) que os medicamentos pertencentes às classes farmacológicas: analgésicos e antipiréticos, antiinflamatórios e antigripais foram os mais comercializados.

Figura 1. Estimativa das classes terapêuticas dos medicamentos isentos de prescrição com maior prevalência em vendas no mês de novembro de 2008.

Legenda: (1) Analgésico e Antipirético; (2) Antigripais; (3) Analgésico e Relax. muscular; (4) Analgésico e Antiespasmódico; 

(5) Antiinflamatórios; (6) Antiemético; (7) Descongestionante nasal; (8) Laxante; (9) Analgésico e Antihistamínico; (10) Hepatoprotetor.

    Os MIPs mais comercializados aqueles que continham os princípios ativos como a dipirona, o paracetamol e o ácido acetilsalicílico (Tabela 1).

Tabela 1. Relação dos medicamentos mais citados pelos estabelecimentos farmacêuticos

    A tabela 2 apresenta as reações adversas e toxicológicas provocadas pelos MIPs encontradas nas bulas dos mesmos.

Tabela 2. Principais reações adversas e toxicológicas desenvolvidas pelos princípios ativos

    E diante dos resultados da segunda etapa, foi observado que 75,74% da amostra, possuem o hábito de comprar os medicamentos de venda livre comercializados em embalagens primárias. Sendo que, 71,62% (Figura 2) destes entrevistados demonstraram ser um hábito predominantemente do público feminino como maiores consumidores dos mesmos.

Figura 2. Resposta entre homens e mulheres referente à questão de n°1 do questionário, aplicado à população

    Foi demonstrado neste estudo que, 63,45% da amostra relataram (Figura 3) nunca questionar ao profissional farmacêutico os possíveis riscos que podem ser desencadeados por estes medicamentos.

    Na figura 3, foi observado que 56,11% da amostra disseram não ter conhecimento que os medicamentos em estudo devem vir acompanhados com a bula, 91,23% relataram não receber esta no ato da compra dos mesmos e 82,16% disseram não importar com as informações esclarecidas na mesma.

Figura 3. Respostas das seguintes questões contidas no questionário aplicado a população.

Discussão

    Neste estudo pode ser observado que os medicamentos analgésicos e antipiréticos, antiinflamatórios e antigripais foram os mais consumidos pela população, resultado pelo qual corrobora os estudos dos autores Serafim et al, 2007; e Melo et al, 2008, nos quais evidenciaram o hábito dos consumidores utilizarem medicamentos contendo dipirona, paracetamol e ácido acetilsalicílico. No entanto, esses apresentaram ser os maiores causadores de reações adversas e toxicológicas.

    Estes medicamentos são utilizados principalmente para alívio da dor, em casos de febre, inflamações e de processos alérgicos, e oferecem bem-estar momentâneo, no entanto não apresenta necessariamente o retorno à saúde. Os nomes fantasia citados no estudo foram a Novalgina, Anador, Aspirina, AAS, Tylenol, entre outros. Algumas pessoas que sofrem destas enfermidades, em meio ao desespero da dor e de alívio, tendem a tomar doses maiores que as recomendadas. E em alguns casos repetir a dose podendo levar ao agravamento do problema. Os riscos de intoxicação, relacionados à dosagem, são os mais freqüentes entre os consumidores. O uso destas substâncias de maneira regular e por período prolongado, ou quando há abuso nas doses, podem desencadear muitos efeitos indesejáveis, principalmente, efeitos que não são mencionados em propagandas destes medicamentos.

    Diante dos resultados obtidos na entrevista realizada, foi observado que a maioria da amostra tem o hábito de comprar os MIPs, sendo que dos entrevistados o publico feminino demonstraram predominância quanto ao consumo desses medicamentos. Este dado concorda com os autores Arrais, 1997, Loyola Filho et al, 2002 e Chetley, 1990, os quais demonstraram através de seus estudos que a auto-medicação é praticada principalmente pelas mulheres, podendo ser parcialmente atribuída à exploração pela propaganda de medicamentos de papéis sociais tradicionalmente direcionados às mulheres, dentre eles o de prover a saúde da família.

    A bula de medicamento é um documento de instrução impresso imprescindível no uso de medicamentos, pois fornece informações específicas sobre sua composição química, precauções/advertências/ cuidados (e.g. uso, acondicionamento do medicamento), formas de ministrar e até mesmo como preparar um medicamento (e.g. antibióticos em suspensão). A apresentação gráfica do conteúdo informacional nas bulas de remédios influencia sua leitura e compreensão, e portanto o uso dos medicamentos10. Embora os consumidores possam consultar a bula a composição e as informações destes medicamentos, no momento da dor, poucos se lembram de checar o que estão tomando. E ainda as informações são apresentadas em letras tão minúsculas nas bulas e em termos técnicos desconhecidos pelos mesmos, que não são suficientemente claras para grande parte da população.

    Os resultados deste estudo demonstraram que existe consumidores que não tem conhecimento do acompanhamento da bula aos MIPs, não dão importância à bula e não consultam a bula ao administrar este medicamento quando não tem a prescrição médica. Portanto parte da população ainda apresenta carência quanto às informações da utilização correta desses medicamentos mostrando deste modo evidências de que há prática da auto-medicação entre os entrevistados.

    Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Automedicação Responsável (ABIAR), para que a utilização do medicamento seja feita de maneira correta, eficaz e segura, é preciso que o consumidor esteja amparado por um sistema de informação composto por aconselhamento de profissionais de saúde, tais como médicos e farmacêuticos e a rotulagem dos produtos (etiquetas e bulas).

    Diante dos resultados observados dos entrevistados, a maioria relataram que não recebem a bula do medicamento isento de prescrição, chamando a atenção para o fato de que os funcionários não fazem a entrega da bula no momento da compra, o que contradiz a RDC n° 80, de 11 de maio de 2006 que exige que estas devem acompanhar cada embalagem primária fracionada o que devem conter a expressão "Exija a bula". Sendo responsabilidade do titular do respectivo registro do medicamento disponibilizar ao estabelecimento farmacêutico a quantidade de bulas suficientes para atender às necessidades do consumidor e usuário de medicamentos, nos termos desta resolução. Uma vez que o estabelecimento farmacêutico é responsável por disponibilizar a bula ao consumidor e usuário do medicamento de modo a lhe assegurar o acesso à informação adequada, independente das orientações e recomendações inerentes à atenção farmacêutica.

Conclusão

    Portanto, pode-se concluir que a população entrevistada caracterizou-se como grande consumidora destes fármacos. E diante da ausência do farmacêutico no ato da dispensação dos mesmos, que é um dos profissionais responsáveis pela orientação para a automedicação responsável, e ainda a não utilização das informações presentes na bula para o uso correto destes medicamentos, podem ocasionar erros de administração, uma vez que, os mesmos não estão isentos de riscos para saúde.

Referências bibliográficas

  1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária-ANVISA- RDC nº 138 de 29 de maio de 2003. Dispõe sobre o enquadramento na categoria de venda de medicamentos. http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2003/rdc/138_03rdc.htm.

  2. GONÇALVES S. A, Melo G, Tokarski MHL, Barbosa-Branco A. Bulas de medicamentos como instrumento de informação técnico-científica. Revista Saúde Pública 2002; 36:33-9.

  3. VILARINO, J. F. IBERÊ, C. S. CRISTIANE, M. S. RAFAEL, R. L. Perfil da automedicação em município do Sul do Brasil. Revista Saúde Pública, v32 (1), 1998.

  4. ALCÂNTARA, D.A. et. al. Intoxicação Medicamentosa Em Criança. RBPS 2003; 16 (1/2): 10-16 Dissertação (Mestrado em Educação em Saúde) – Universidade de Fortaleza.

  5. MENON, S. Z. et. al. Reações Adversas a Medicamentos (RAMs) /Adverse Reactions to Medicines (ARMS). Saúde em Revista, Piracicaba, 7(16): 71-79, 2005.

  6. SERAFIM, E. at al. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences vol. 43, n. 1, jan./mar., 2007.

  7. ARRAIS, Paulo Sérgio D. et al. Perfil da automedicação no Brasil. Rev. Saúde Pública [online]. 1997, vol.31, n.1.

  8. LOYOLA FILHO, et al. Prevalência e fatores associados à automedicação: resultados do projeto Bambuí /Prevalence and factors associated with selfmedication: the Bambuí health survey. Rev. Saúde Pública v.36 n.1 São Paulo fev. 2002.

  9. CHETLEY, A. A health business? World health and the pharmaceutical industry. London, Zed Books-ISBN 0862327342, 1990.

  10. FUJITA, P. T. L. (2004). A comunicação visual de bulas de remédios: análise ergonômica da diagramação e forma tipográfica com pessoas de terceira idade. Revista Brasileira de Design da Informação, n° 1/1, ISSN 1808-5477.

  11. World Hearth Organization (WHO). The Importance of Pharmacovigilance: safety monitoring of medicinal products. Geneva: World Hearth Organization; 2002.

  12. Associação Brasileira da Indústria da Auto-medicação Responsável (ABIAR). Informação e Automedicação Responsável. www.abimip.org.br/área /position _ publicidade.pdf.

  13. Agência Nacional de Vigilância Sanitária-ANVISA. RDC n° 80, de 11 de maio de 2006. D.O.U. - Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 12 de maio de 2006. http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=22039&word.

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