Músicas, jogos e brincadeiras cantadas no processo de desenvolvimento das práticas corporais na Educação Infantil Canciones, recreación y juegos cantados en el desarrollo de las prácticas corporales en Educación Inicial |
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*Graduada em Licenciatura de Educação Física **Mestre em Educação, UFMG Especialista em História Social do Brasil, UFES (Brasil) |
Francine Mozer Suzana* Ísis de Assis Amâncio* Vanessa Martins de Paulo* Patrícia Pereira de Souza** |
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Resumo O texto discute a importância da ludicidade para o desenvolvimento psíquico da criança na primeira infância. Tem como objetivo possibilitar a vivência com a musicalização através de jogos e brincadeiras cantadas. Desenvolvendo uma ação educativa que deve ocorrer a partir dos movimentos espontâneos da criança e através das atividades corporais. Com isso pretendeu-se identificar os processos sócios cognitivos. Artigo desenvolvido através das vivências obtidas nas atividades do estágio supervisionado feitas no curso de Licenciatura em Educação Física nos anos de 2010/2 e 2011/1, em escolas de Educação Infantil (CMEI) dos municípios de Vitória-ES e Cariacica-ES, cujos resultados demonstram que a musicalização, jogos e brincadeiras auxiliam no desenvolvimento integral da criança (atenção, memória, concentração) além de desenvolver aspectos afetivo, cognitivo, físico e social. Palavras chaves: Educação Infantil. Jogos. Brincadeiras. Musicalização. Desenvolvimento.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A infância é um período privilegiado durante a vida humana para o desenvolvimento de brincadeiras diversas e com isso a criança aprende e se nos desenvolve mais amplos sentidos por meio das brincadeiras,jogos e atividades lúdicas.
O movimento humano é construído a partir de uma intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em comportamento significante. É necessário que toda criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento.
Partindo desta concepção de movimento organizado e integrado, trabalhou-se nas atividades do estágio supervisionado feitas no curso de Licenciatura em Educação Física nos anos de 2010/2 e 2011/1, em escolas de Educação Infantil (CMEI) dos municípios de Vitória-ES e Cariacica-ES gestos, atitudes e posturas das crianças enquanto sistema, expressivo, idealizador e representativo.
Pretendeu-se com este trabalho, demonstrar como se revela a Educação Física dirigida na primeira infância, visando oportunidades para a prática organizada da mesma, com isso as formas desejáveis de motivação que permitam níveis elevados de aprendizagem motora.
O conceito e a importância das brincadeiras e jogos durante a infância
Segundo o autor Le Boulch (2001)1 uma das principais características que constitui o gesto, movimento e atitude da criança no período da escola maternal é a espontaneidade e a naturalidade. Por outro lado as manifestações contrárias tais como inibição, rigidez e incoordenação são expressões de dificuldades que a criança apresenta para a construção e a organização da própria personalidade.
A exploração motora através de atividade permite que à criança venha a experimentar e a enriquecer os fatores práticos.
Durante esse processo a criança busca de forma intencional as explorações que por fim apresentam um caráter determinado. A partir daí entraremos nos aspectos da expressão e movimento, que a criança durante até os 3 anos, os interesses estão voltados e centrado no mundo exterior em especial o aspecto do movimento; que por sua vez apresenta um jogo simbólico no qual se observa o valor da expressão do movimento, com isso a partir do processo de consciência esta expressão vem a perder a espontaneidade ,pois a criança é capaz de dar conta do efeito que esta produz em outras pessoas.
Os jogos e as brincadeiras são excelentes recursos didáticos propiciadores do desenvolvimento integral da criança. Sob esta perspectiva a autora Friedmann (1996) conceitua-os de forma diferente, visto que “O jogo é, pois, um “quebra-cabeça” [...] mas uma atividade real para aquele que brinca”. (FRIEDMANN, 1996, p. 20)2.
Segundo a autora, para a criança que brinca o jogo não é apenas uma brincadeira, e sim uma ação verdadeira, por isso, o jogo é visto como uma forma de desenvolvimento e socialização. Dessa forma, ao se identificar com a brincadeira envolvendo o jogo, a criança não percebe ou tem consciência do seu real significado.
No que se refere à brincadeira, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil “[...] é uma imitação, transformada no plano das emoções e das idéias de uma realidade anteriormente vivenciada.” (BRASIL/RCNEI, 1998, p.27). Nesse caso, a criança quando brinca, reproduz situações vividas no contexto em que ela está inserida. Pois se diverte, desenvolve novas habilidades, internaliza regras e expõe sentimentos.
É através das brincadeiras que a criança explora o meio em que vive e aprende mais sobre os objetos da cultura humana.
Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais.4 (p. 23)
Dentro de uma perspectiva na qual o jogo faça parte de um contexto sócio-educativo,os jogos infantis permitem fazer o resgate das brincadeiras e garantem o desenvolvimento da criança.
Para a criança, cada brinquedo tem um significado, ora serve de companhia, ora serve para se exercitar, tornando-se assim um objeto de integração da criança. Ao manipular certos objetos, a criança depara com situações problema, fazendo-a buscar novas alternativas e soluções. O brinquedo e as brincadeiras favorecem o desenvolvimento da linguagem, pois a criança amplia o repertório de novas palavras ao manusear objetos diversificados e vivenciar diferentes situações. Com a brincadeira, a linguagem verbal flui e aumentam o conhecimento de novas palavras, novos conceitos. Assim, a criança se integra, faz experiências, descobre a natureza e com a intervenção do adulto amplia os conceitos aprendidos.
As relações existentes entre o jogo, a criança e a educação consiste da seguinte forma, na qual o jogo apresenta uma grande importância para a educação e o desenvolvimento infantil, que por sua vez esses jogos podem ser classificados de tradicionais, de caráter livre, no qual é marcado pela oralidade infantil, por outro lado temos o jogo educativo este faz à introdução de conteúdos através do lúdico, ou seja, contém ou apresenta uma ação lúdica.
Do ponto de vista de Friedmann (1996), através dos jogos tradicionais, a criança enriquece culturalmente, revela-se com novas possibilidades de desenvolvimento e habilidades motoras, como: correr, pular, saltar e arrastar; o cognitivo implica na percepção, memória, atenção, raciocínio, que faz com que a criança evolua na faculdade mental e no desenvolvimento da aprendizagem, visto que o jogo contribui para que a criança se controle ao expor suas emoções, deixando-as seguras e confiantes na participação do mesmo; pois, sendo capaz de aceitar qualquer resultado no caso de ganho ou perda do jogo.
O jogo tradicional infantil é um tipo de jogo livre, espontâneo ,no qual a criança brinca pelo prazer de fazê-lo. Por pertencer à categoria de experiências transmitidas espontaneamente conforme motivações internas da criança,ele tem um fim em si mesmo e preenche a dinâmica da vida social,permitindo alterações e criações de novos jogos.3 (p. 16)
O jogo tradicional, por fazer parte das brincadeiras lúdicas, deve ser valorizado, pois através dele são transmitidos valores e ensinamentos, uma vez que faz parte da história do adulto que vem sendo perpetuado nas novas gerações.
O jogo tradicional faz parte do patrimônio lúdico-cultural infantil e traduzem valores, costumes, formas de pensamentos e ensinamento. Seu valor é inestimável e constitui para cada individuo cada grupo, cada geração, parte fundamental da sua historia de vida.2 (p. 43)
Quanto ao contexto tecnológico, prioriza-se os brinquedos eletrônicos, como: vídeo-game, carros com controle remoto e computador, uma vez que esses objetos fazem parte das novas tecnologias do brincar da criança, assim o computador já faz parte das novas tecnologias educacionais, sendo explorado como recurso didático metodológico na aprendizagem infantil. Prevalecem os brinquedos eletrônicos da nova geração que são os criados pelas indústrias e que fazem parte de uma nova cultura, atraindo um novo público alvo que são as crianças, independente do poder sócio-econômico, uma vez que estes atrativos eletrônicos chamam mais atenção devido à divulgação da mídia. “Através do jogo, a criança fornece informações e o jogo pode ser útil para estimular o desenvolvimento integral da criança e trabalhar conteúdos curriculares”. (FRIEDMANN, 1996, p.17).
A análise do jogo é feita a partir da imagem da criança tem seu cotidiano, e essa imagem tem diversas formas em diferentes períodos históricos em relação ao contexto social a qual está inserida.
O lugar que a criança ocupa num contexto social específico, a educação a que está submetida e o conjunto de relações sociais que mantém com personagens do seu mundo, tudo isto permite compreender melhor o cotidiano infantil - é nesse cotidiano que se forma a imagem da criança e do seu brincar.3 (p. 7)
Dessa forma a relação entre o jogo e a criança em seu contexto social, baseia-se nos aspectos que são marcados por valores hierárquicos, no qual são construídos através das imagens culturais de cada período histórico e que cada época apresenta uma hierarquia de valores.
A importância de fazer o resgate dos aspectos lúdicos dos jogos tradicionais infantis em relação a nossa cultura fez com que o jogo tenha extrema importância no desenvolvimento infantil, já que este permite desenvolver as características físicas, motoras, sensoriais, sociais intelectuais e afetivas no processo de aprendizagem em relação à Educação Infantil.
Contudo é através dos jogos que as crianças transmitem e fornecem informações, e que essas informações são fornecidas através de palavras, sons e com o próprio corpo ou com o espaço que está inserida, e que ao mesmo tempo o jogo ajuda a estimular o desenvolvimento integral da criança.
As vivências das práticas corporais na educação infantil: Relatos de uma experiência no ensino infantil no CMEIs Terezinha Vasconcelos Salvador – Vitória e Ana Lucia Ferreira da Silva - Cariacica
Nas creches e pré-escolas têm-se notado a dificuldade da oferta de brinquedos paras as crianças, além da pouca importância dada à atividade lúdica para desenvolvimento da criança.O brinquedo é a essência da infância e sua principal atividade, mas nem sempre as instituições desenvolvem práticas que tomam este pressuposto como orientador da organização de suas rotinas. Isto foi percebido claramente nos estágios supervisionados que observamos e intervirmos.
No CMEI de Vitória Terezinha Vasconcelos Salvador,existe uma grande variedade de materiais e brinquedos nos quais as crianças e professores tem acesso.Nesta instituição as crianças possuem acesso a educação física, contando com duas professoras.
Neste CMEI trabalhamos com uma turma de quatro anos,tivemos mais observações do que intervenções, porém uma das atividades nos chamou atenção, esta foi dada no dia 19 de Outubro de 2010,onde estávamos fazendo várias atividades com arcos e de repente uma estagiaria estava segurando dois arcos no chão e uma criança passou por dentro do arco,daí tivemos a iniciativa de fazer um caracol com os arcos.Nesta atividade as crianças ajudavam a segurar o arco e brincavam ao mesmo tempo.
Nesta experiência pode-se avaliar que com um simples ato pode se desenvolver o raciocínio da criança. A ação do brincar de forma interativa propicia uma boa aprendizagem, permite que a criança constitua-se histórica, cultural e socialmente como sujeito. Na brincadeira, a criança socializa, interage com o brinquedo e com o outro, desenvolvendo a imaginação, construindo sua realidade, agindo sobre ela e transformando-a.
Em contrapartida no CMEI Ana Lúcia Ferreira da Silva, no qual trabalhamos com crianças de três anos, tivemos diversas dificuldades, pois além da falta de recursos materiais as crianças não tinham contato com a educação física,e contavam apenas com as dinamizadoras e que nos prejudicavam um pouco em relação as nossas intervenções, devido às crianças passarem muito tempo com elas, estas voltavam à sala de aula bastante agitadas e dispersas para fazer qualquer atividade.
Apesar disso tivemos grandes experiências, aproveitando que a professora da turma estava realizando um trabalho com animais resolvemos trabalhar atividades que envolvem músicas, histórias e brincadeiras com animais.
O primeiro tema escolhido foi “A Arca de Noé”, sendo trabalhada com história por meio de um livro com alguns animais. Com base nesses recursos materiais, após conhecerem a ordem dos acontecimentos dos fatos da história, construímos uma Ginástica historiada, imitando a trajetória da Arca e os diversos animais que pulam, arrastam, nadam, voam que consistiam no nosso repertório e que foram sugeridos pelas crianças. Usamos como espaço o pátio externo e interno. As crianças imitavam os sons e movimentos dos animais como sapo, coelho (pulando), jacaré (se arrastando balançando o bumbum), cobra (arrastando a barriga no chão), pássaros, girafa, macaco,tigre, gato.
É visível o esforço das crianças, desde muito pequenas, em reproduzir gestos, expressões faciais e sons produzidos pelas pessoas com as quais convivem. Imitam também animais domésticos, objetos em movimento etc. Na fase dos dois aos três anos a imitação entre crianças pode ser uma forma privilegiada de comunicação e para brincar com outras crianças. A oferta de múltiplos brinquedos do mesmo tipo facilita essa interação. A imitação é resultado da capacidade de a criança observar e aprender com os outros e de seu desejo de se identificar com eles, ser aceita e de diferenciar-se.(...) 4 (p. 22)
No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir em função da imagem de uma pessoa, de uma personagem, de um objeto e de situações que não estão imediatamente presentes e perceptíveis para elas no momento e que evocam emoções, sentimentos e significados vivenciados em outras circunstâncias. Brincar funciona como um cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la.4 (p. 23)
Através dessas atividades foi possível identificar as habilidades das crianças e suas competências e limitações. Cumprindo o solicitado no RCNEI (BRASIL, 1998) onde a avaliação na Educação Infantil deve ocorrer de forma natural, pela observação do educador durante as atividades cotidianas das aulas e momentos de lazer.
Considerações finais
Conforme foi comentado anteriormente, os jogos e as brincadeiras têm grande importância para a educação e o desenvolvimento integral da criança; nas quais umas das principais causas desse desenvolvimento baseiam-se nos aspectos afetivo, cognitivo, físico e social são responsáveis por atuarem como estimulador para o processo de aprendizagem da criança.
Os jogos e as brincadeiras na educação infantil devem estar inseridos nas propostas de trabalho do professor, portanto são fundamentais para a aprendizagem da criança, pois envolve a diversão, mas também apresentam características de seriedade.
As brincadeiras permitem para as crianças um espaço de investigação e ao mesmo tempo o conhecimento do mundo ao seu redor e de si mesma. Através do brincar a criança consegue exercitar a própria imaginação, e que a partir da imaginação às crianças desenvolvem os próprios interesses e suas necessidades, por outro lado os jogos e as brincadeiras fazem com que à criança reflita, construa, desconstrua e reconstrua o seu mundo.
As observações nos CMEIS nos municípios de Vitória e Cariacica foram de suma importância para nossa formação, pois segundo Le Boulch (2001, p.67) “A atitude, o conteúdo da criança, seus gestos, seus deslocamentos, seu ritmo nos permitem conhecê-la e compreendê-la, com freqüência melhor que pelas palavras pronunciadas.”
Essa citação define exatamente o que aconteceu em nossas observações e intervenções, pois com certeza aprendemos muito com aquelas crianças do que esperávamos ou poderíamos imaginar.
Durante as observações, percebemos que há muito que fazer pela educação física infantil e pelo CMEI. Ainda há muitos temas a serem explorados pelos professores de educação física, e também ficou claro que a educação física infantil quando refletida, tem um papel fundamental dentro da instituição que se preocupa somente com a preservação do corpo e porque ela funciona como um elo entre corpo e mente que trabalha com uma visão de ser integral.
Referências
LE BOULCH. O Desenvolvimento Psicomotor do Nascimento até os 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001
FRIENDMANN, A. Brincar: crescer e aprender: O resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna,1996.
KISHIMOTO, T. M. Jogos Infantis. Petrópolis: Vozes,1999.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação. Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v. v. 1
DOS SANTOS, W.; NUNES, K.R. Educação física na educação infantil: Um projeto coletivo para intervenção no cotidiano escolar. 2005. Monografia (Pós-graduação Educação Física para Educação Básica) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2005.
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