Análise das defesas dos goleiros de seleções nas cobranças de pênaltis Análisis de las atajadas de los arqueros de las selecciones frente a los penales |
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Faculdade Sogipa de Educação Física Escola de Educação Física da UFRGS (Brasil) |
Guilherme Nonnemacher Dr. Rogério da Cunha Voser |
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Resumo O presente estudo quantitativo e descritivo teve como objetivo verificar o local do gol em que os goleiros de seleções realizam maior quantidade de defesas em decisões por cobranças de pênaltis em competições internacionais. Foram analisadas 193 cobranças de pênaltis de 21 decisões dos principais campeonatos internacionais de seleções de futebol de campo a partir de 1994. As imagens das cobranças foram gravadas via internet e analisadas da seguinte forma: cobranças realizadas (CR), cobranças convertidas em gol (CG), cobranças defendidas (CD), cobranças desperdiçadas (Cdesp) e quadrante do gol (Q) em que ocorreram as cobranças e as defesas. As imagens foram analisadas em plano frontal com o intuito de observar o quadrante do gol em que foi convertida ou defendida a cobrança. Uma tela transparente foi colocada sobreposta ao monitor, o gol foi dividido em 15 quadrantes imaginários dispostos em 3 linhas de 5 colunas. Das 193 cobranças analisadas, 135 foram convertidas (70%), 36 defendidas (19%) e 22 desperdiçadas (11%). As regiões do gol compostas pelos quadrantes Q3, Q6, Q12 e Q15 obtiveram juntas 59% das CR. Das 36 cobranças defendidas (CR), 10 foram realizadas no quadrante Q6 (27,8%) e 14 foram realizadas no Q12 (38,8%). Os resultados permitem evidenciar a preferência dos goleiros em optarem por realizar o movimento de defesa de pênaltis em direção a uma das extremidades do gol, pois é maior o direcionamento da bola nas cobranças por parte dos batedores para um dos lados do gol em relação à região central. Unitermos: Futebol. Pênalti. Goleiro. Chute.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Futebol é um esporte que consegue despertar a atenção de milhões de pessoas do mundo inteiro. Devido a essa popularidade, é considerado o esporte mais praticado e, conseqüentemente o mais estudado (TUMILTY, 1993). No entanto, uma situação vem se intensificando nesse esporte nos últimos anos e é pouco estuda. É o caso das decisões por meio de cobranças de pênaltis, introduzidas na virada dos anos 70 (WISIAK, 2001).
As cobranças de pênaltis podem apresentar um papel decisivo no resultado de uma partida e principalmente em grandes competições (KUHN, 1988; MORYA et al., 2003a; MESA MESA & SAINZ, 2001).
Na Copa do Mundo de 1990, quatro dos dezesseis jogos da fase eliminatória tiveram seus resultados decididos através desta situação (WILLIAMS & BURWIRTZ, 1993).
Desde a Copa do Mundo de 1986, pelo menos três jogos por edição foram definidos por meio de cobranças de pênaltis. O Brasil já participou de três disputas de pênaltis em Copas do Mundo. Outros torneios como a Taça Toyota Libertadores da América, Eurocopa e Mundial Interclubes tiveram situações de disputa através de cobranças de pênaltis (WISIAK, 2001).
Recentemente diversos torneios foram decididos no método de cobranças de pênaltis incluindo a Copa do Mundo (edições de 1994 e 2006), torneio mais importante desse esporte (WILLIAMS; BURWITZ, 1993; McGARRY; FRANKS, 2000; WISIAK, 2001; MORYA et al., 2003a; MORYA et al., 2003b).
O pênalti é um elemento com característica particular, pois envolve muito mais do que a simples execução técnica ou tática.
Segundo Jordet et al. (2007) as cobranças de pênaltis como desempate de um jogo durante uma Copa do Mundo, produz alguns dos momentos mais dramáticos do futebol internacional. Para eles existem vários aspectos que afetam um jogador quando vai efetuar a cobrança de penalidade como: os psicológicos (stress e ansiedade), habilidade (usando boa técnica) e fisiológicos (para resistir após os 120 min. de jogo).
Estudos voltados à análise de cobranças de pênaltis se concentram na investigação das estratégias adotadas pelos goleiros, principalmente a antecipação dos saltos diante das cobranças de pênaltis (KUNH, 1988; MCMORRIS et al., 1993; WILLIAMS; BURWITZ, 1993; SAVELSBERGH, 2002; MORYA et al., 2003a; WISIAK; CUNHA, 2004).
Segundo Suzuki et. al. (1988) e Williams e Burwitz (1993), pode-se notar que os goleiros mais experientes apresentam melhores condições de efetuarem uma defesa na situação de pênalti devido ao aprimoramento de suas qualidades através do treinamento específico.
O desperdício das cobranças de pênalti esta em torno de 25% a 33% das cobranças realizadas (LIMA JUNIOR, 2007), tornando-se evidente a necessidade de novas investigações que possam melhorar o aproveitamento dos cobradores e dos goleiros.
Logo, a análise das cobranças de pênaltis é importante para diminuir as dúvidas existentes e para possibilitar futuramente o aperfeiçoamento de métodos de treinamentos para esta situação, além de desenvolver treinamentos específicos e estratégias, que possam contribuir para a evolução da performance dos goleiros.
Objetivo
Verificar o local do gol em que os goleiros de seleções realizam maior quantidade de defesas em decisões por cobranças de pênaltis em competições internacionais através de uma análise quantitativa e descritiva das cobranças.
Método
Foram analisadas 193 cobranças de pênaltis de 21 decisões dos principais campeonatos internacionais de seleções de futebol de campo a partir de 1994 (Copa do Mundo, Eurocopa, Copa das Confederações e Copa América). As imagens das cobranças foram gravadas via internet e analisadas da seguinte forma: cobranças realizadas (CR), cobranças convertidas em gol (CG), cobranças defendidas (CD), cobranças desperdiçadas (Cdesp) e quadrante do gol (Q) em que ocorreram as cobranças e as defesas. As imagens foram analisadas em plano frontal com o intuito de observar o quadrante do gol em que foi convertida ou defendida a cobrança. Uma tela transparente foi colocada sobreposta ao monitor, o gol foi dividido em 15 quadrantes imaginários dispostos em 3 linhas de 5 colunas (Figura 1).
Figura 1. Divisão do gol em 15 quadrantes para definir o direcionamento das cobranças
Resultados
Todas as cobranças e os respectivos quadrantes estão representados na Figura 2 para auxiliar na análise dos dados.
Das 193 cobranças analisadas, 135 foram convertidas (70%), 36 defendidas (19%) e 22 desperdiçadas (11%). As regiões do gol compostas pelos quadrantes Q3, Q6, Q12 e Q15 obtiveram juntas 59% das CR. Das 36 cobranças defendidas (CR), 10 foram realizadas no quadrante Q6 (27,8%) e 14 foram realizadas no Q12 (38,8%). Juntos, os quadrantes Q6 e Q12 correspondem ao local do gol em que foram defendidas 24 cobranças (66,6%).
Nos quadrantes superiores (Q1, Q4, Q7, Q10 e Q13) não foram verificadas nenhuma defesa. A mesma situação ocorreu nos quadrantes Q2 e Q14.
Na região central do gol, que corresponde na posição inicial da maioria dos goleiros durante as cobranças de pênaltis formada pelos quadrantes Q7, Q8 e Q9, foram verificados somente 2 defesas (5,55%).
Das cobranças realizadas, 87,7% tiveram sua trajetória direcionada para um dos lados do gol. Isso mostra a preferência dos cobradores em não direcionarem as cobranças para a região central do gol.
Figura 2. Relação das CR, CG e CD por quadrante
Discussão
Conforme Wisiak (2001) na edição de 1990 foram cobrados 38 pênaltis dos quais 28% foram desperdiçados ou defendidos. Na edição de 1998, o índice subiu para 35% em 28 cobranças de pênaltis.
Entre o Mundial de 1982 e 1994 foram realizadas 138 cobranças de pênaltis tendo sido convertidos 78%, 8% foram para fora e 14% defendidos (KORMELINK & SEEVERENS, 1999).
Das 409 cobranças de pênalti analisadas por Jordet et al. (2007), sendo 133 realizadas na Copa América, 123 em campeonatos Europeus e 153 em Copas do Mundo, os autores observaram que 21% (86) das cobranças foram desperdiçadas.
Em um estudo similar, Wisiak e Cunha (2004) analisaram 110 cobranças de pênaltis do futebol de campo profissional de torneios nacionais e internacionais. Das cobranças 70% foram convertidas, 20% defendidas e 10% desperdiçadas. Das cobranças realizadas, 89,1% das cobranças tiveram sua trajetória direcionada para um dos lados do gol.
Os mesmos autores relataram que em 39 cobranças de pênalti, 17 (44%) cobranças foram em direção a região esquerda (em relação ao cobrador), 16 (41%) cobranças foram direcionadas à região direita (também em relação ao cobrador) e apenas 6 (15%) cobranças foram realizadas na região central do gol.
De acordo com o estudo proposto por Lima Junior (2007), das 70 cobranças de pênaltis analisadas, 23 (33%) foram desperdiçadas (defendidas, trave ou fora do gol). As regiões mais preferidas pelos participantes foram às extremidades laterais com 39 (82,9%) cobranças em direção ao gol.
O posicionamento inicial goleiro assim como sua movimentação é determinante para o êxito durante as cobranças de pênaltis.
Kuhn (1988) analisou 66 cobranças de pênaltis de jogos da Liga Européia de Futebol durante o ano de 1981 a 1983 gravadas em vídeo. Foram verificados que em 23% das cobranças analisadas os goleiros realizaram salto no momento ou após o chute (GA) e em 77% realizaram salto antes do chute (GB). Foram defendidas 20% das cobranças. Segundo o autor, o goleiro teria maior aproveitamento se realizar a GA. Em 60% das cobranças em que os goleiros realizaram a GA foram defendidas. E somente 7.8% das cobranças realizadas sob a forma GB foram defendidas.
Morya et al. (2003b) analisaram 37 pênaltis marcados na Copa do Mundo de 2002 e 38 pênaltis de jogos de clubes 2000-2002. Observaram que 76% dos pênaltis foram concretizados em gol, sendo a porcentagem de sucesso nos jogos de clubes de 82% (31 de 38 pênaltis) e 70% na Copa do Mundo (26 de 37 pênaltis). Em relação às estratégias utilizadas pelos goleiros, foi verificado que os goleiros realizaram a GA em 40% das cobranças. Foram defendidas 36% das cobranças em que os goleiros realizaram a GA e defendidas 11% das cobranças em que os goleiros realizaram a GB.
Ainda comparando as estratégias adotadas pelos goleiros, a GA demonstrou ser mais eficiente quanto ao acerto da direção da trajetória da bola por parte dos goleiros (GA 69% x GB 30% acerto).
Bigatão et al. (2003) analisaram 37 cobranças de pênaltis realizadas na Copa do Mundo de 2002. De todas as cobranças, 3 foram desperdiçadas (fora do gol ou trave). Das 34 cobranças restantes, 14 atingiram a região esquerda do gol (ponto de vista do cobrador), 5 atingiram a região central e 15 atingiram a região direita. Dessas cobranças, os goleiros defenderam 26% das cobranças da região direita, 21% das cobranças da região esquerda e 20% das cobranças da região central do gol.
McMorris et al (1993) concluiu que para o goleiro obter maiores chances de alcançar a bola deveria iniciar o movimento de defesa momentos antes da cobrança pois lhe permite maior probabilidade de alcançar a bola em um salto e consequentemente efetuar uma defesa, mesmo que não lhe ofereça grande probabilidade de acertar o local para onde será direcionado o chute.
Porem segundo estudos de Kuhn (1988) e Morya et al., (2003a) é indicado que aos goleiros que realizem o procedimento de defesa instantes após a cobrança ser realizada, aumentando também as chances de acerto do local do gol onde será direcionada a bola.
No entanto, a velocidade da bola pode interferir no desempenho dos goleiros, pois o desempenho dos goleiros que não realizam a antecipação do salto diante das cobranças diminuiu em estudos recentes. Isso pode ser explicado devido ao fato dos valores da velocidade da bola terem aumentado proporcionando menor tempo para os goleiros realizarem a movimentação de defesa (MORYA et al., 2003a).
Para Mesa Mesa e Sainz (2001), a reação do goleiro diante do pênalti pode ser determinada sob as circunstancias de oferecimento ou não de indicativos (que podem ser verdadeiros ou falsos) pelo batedor.
Prestar atenção na posição do quadril do batedor no momento da cobrança aumenta muito a chance de o goleiro fazer a defesa, pois revela o canto em que o batedor irá chutar a bola (WILLIAMS & BURWITZ, 1993).
A forma com que o batedor cobra um pênalti pode sofrer influência caso o gramado esteja molhado por causa da chuva. Batedor de pé direito tem a preferência em bater no canto direito e vice-versa, pois o pé de apoio ganha maior estabilidade, oferecendo maior segurança para o êxito da cobrança (LOPES, 1999).
Viana (1995), afirma que não há uma receita infalível para que o goleiro possa defender um pênalti, mas alguns procedimentos ou estratégias podem confundir o atacante no momento do chute e resultar em êxito do goleiro.
Conclusão
Os dados apresentados permitem evidenciar a preferência dos goleiros em optarem por realizar o movimento de defesa de pênaltis em direção a uma das extremidades do gol, pois é maior o direcionamento da bola nas cobranças por parte dos batedores para um dos lados do gol em relação à região central.
Nas cobranças direcionadas para a zona superior do gol os batedores levam vantagem em relação aos goleiros, sugerindo dessa maneira que o goleiro execute movimento de salto baixo e lateralmente.
Os goleiros devem buscar conhecer os futuros adversários e como estes atuam diante de um pênalti, sempre no intuito de aumentar as chances de defesa. A simulação das situações reais durante as cobranças de pênaltis devem ser treinadas possibilitando um grande número de repetições.
Referências
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