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Análise da resistência aeróbia em idosos participantes de ginástica

Estudio de la resistencia aeróbica en personas mayores que practican gimnasia

 

*Professora de Educação Física

**Especialista em Educação Física e Fisioterapeuta

Coordenadora do Programa "Viver Ativo”, da Secretaria

Municipal de Assistência Social de Florianópolis (SC)

***Mestranda do Programa de Ciências do Movimento Humano, UDESC

****Doutora em Educação Física e professora da UDESC

Mylene Nunes Farias*

Simone Korn**

Márcia Zanon Benetti***

Giovana Zarpellon Mazo****

marciazanonbenetti@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Verificar a relação entre a resistência aeróbia de idosas participantes de grupos de ginástica e as características sócio-demográficas e se estas interferem na prática de atividades físicas. Método: A amostra com 34 idosas, acima de 60 anos do sexo feminino, que foram submetidas ao teste de caminhada de 6 minutos (TC6m) conforme o protocolo Rikli e Jones (2008). As características sócio-demográficas foram analisadas por meio de estatística descritiva, média e desvio padrão. Resultados: A média de idade de 64,53 anos (±4,86); casada (64,7%) e viúva (20,6%); renda média mensal entre 3 e 4 salários mínimos (23,53%); escolaridade baixa, ensino fundamental incompleto (26,5%), ensino fundamental completo (26,5%), ensino médio completo (26,5%). As participantes na faixa etária de 70-74 anos, solteiras, ensino superior completo e renda média mensal entre 2-3 salários mínimos foi quem obtiveram o melhor desempenho no TC6m. Conclusão: As participantes que obtiveram o melhor desempenho no TC6m não foram a maioria da amostra, ao contrário do que se esperava, a faixa etária mais jovem não obteve o melhor desempenho quanto ao nível de resistência aeróbia.

          Unitermos: Resistência aeróbia. Idosos. Ginástica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo o Instituto de Geografia e Estatística – IBGE, no último censo demográfico, realizado em 2010, o alargamento do topo da pirâmide etária pode ser observado pelo crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010 (IBGE, 2011).

    Para Laurienti et al (2006), o envelhecimento promove um de­clínio gradual da capacidade funcional que pode ser substancialmente modificado por influência de alguns fatores, como a atividade física (WESTLAKE e CULHAM, 2007), o controle do peso ou o tipo de dieta (SHEPHARD, 2002).

    Diante da preocupação em tornar os idosos cada vez mais ativos fisicamente e com autonomia para a prática das atividades da vida diária, os interesses de pesquisadores e estudiosos têm se voltado, cada vez mais, ao conhecimento e compreensão dos fatores que interferem ou não na prática de atividade física (PEREIRA e OKUMA, 2009).

    Em relação à resistência aeróbia, com o avanço da idade ocorre à diminuição na captação de O2, da freqüência cardíaca, do volume de ejeção, da ventilação pulmonar e da força muscular. Estas alterações podem ocorrer em menor ou maior grau, de acordo com a prática de atividade física regular e dos fatores genéticos. Para desenvolver a resistência aeróbia, é necessária a execução de exercícios aeróbios de média a longa duração (mínimo 10 min.), de intensidade moderada a vigorosa e de caráter dinâmico e rítmico, como caminhadas, ciclismo, corrida, natação, danças, ginástica aeróbica, remo, dentre outros. (MAZO et al 2009).

    O teste da “Caminhada de seis minutos” (TC6m) mede a resistência aeróbica, importante capacidade para que as pessoas consigam realizar tarefas quotidianas como andar, fazer compras ou atividades recreativas. Esse teste vinha sendo usado com sucesso para avaliar a resistência física de pacientes portadores de várias condições clínicas; entretanto, só recentemente foi validado para uso em pessoas idosas saudáveis, onde, em um estudo, foi encontrado correlação entre os escores do TC6m quando comparado com os obtidos na caminhada submáxima em esteira (RIKLI e JONES, 1998).

    Segundo a ACMS (2000), a capacidade cardiorrespiratória declina com o aumento da idade e uma baixa capacidade cardiorrespiratória poderá desencadear doenças crônicas degenerativas como: hipertensão arterial, diabetes, problemas cardíacos, entre outros. Diversos estudos (Gobbi, 1997; Pollok, Wilmore e Fox, 1986; Spirduso, 1995) verificam que, com a prática de atividade física sistemática, indivíduos em processo de envelhecimento apresentam ganhos consideráveis no VO2 máx. Segundo Pereira e Okuma (2009), os benefícios já constatados com o resultado da prática regular de atividades físicas são a melhora das funções biológicas, a melhora das capacidades físicas e neuromotoras, a diminuição da incidência de doenças crônicas, a melhora do funcionamento do sistema nervoso e o aumento da rapidez dos processos cognitivos.

    Considerando estes fatores, Toscano e Oliveira (2009) citam que o estilo de vida saudável tem sido associado ao hábito da prática de atividades físicas e, conseqüentemente, a melhores padrões de saúde e qualidade de vida, a qual, relacionada à saúde, refere-se não só à forma como as pessoas percebem seu estado geral de saúde, mas também o quão física, psicológica e socialmente estão na realização de suas atividades diárias. Sendo assim, acredita-se que a prática regular de atividade física vem para minimizar e/ou reverter muitos dos declínios biopsicossociais que freqüentemente acompanham o envelhecimento (RIBEIRO et al, 2009).

    No contexto atual da assistência ao idoso, tem-se estimulado, por meio de iniciativas governamentais e não-governamentais, a adoção de estratégias de atenção a essa população. Entre elas está o atendimento em centros de convivência, onde são formados os grupos de convivência para idosos, forma aceita e difundida em todo o mundo, por apresentar respostas efetivas à problemática do idoso, que é o isolamento social. (TOSCANO e OLIVEIRA, 2009).

    Tendo em vista a necessidade de programas de atividade física como meio de promoção de saúde, a Prefeitura Municipal de Florianópolis, por meio da Secretaria de Assistência Social, lançou no ano de 2000, o Programa “Viver Ativo, que tem como principal objetivo implantar o programa de ginástica para os idosos nas comunidades, proporcionando aos mesmos um estilo de vida ativo e saudável.

    O objetivo do referido programa vai ao encontro da descrição de Ribeiro et al (2009), onde visa proporcionar melhora e manutenção das aptidões funcionais dos idosos, como a força, agilidade/equilíbrio, flexibilidade, coordenação e resistência aeróbica, que são elementos importantes para a manutenção da capacidade funcional dos mesmos. São feitas avaliações periódicas da aptidão funcional dos idosos, as quais auxiliam na intervenção e na definição de estratégias de promoção de saúde, visando retardar e/ ou prevenir as incapacidades físicas dos idosos.

    Diante do exposto, este estudo tem como objetivo verificar a resistência aeróbia de idosas praticantes de ginástica que participam deste programa e associar com as faixas etárias e as características sócio-demograficas (estado civil, escolaridade e renda) que podem estar interferindo ou não na prática de atividades físicas.

Método

Caracterização do estudo

    Este estudo caracteriza-se como descritivo do tipo comparativo segundo GIL (2009), pois tem objetivo à descrição das características de determinada população ou fenômeno ou de estabelecer as relações entre variáveis.

Sujeitos do estudo

    Os sujeitos do estudo foram 34 idosas participantes do grupo de ginástica do Saco dos Limões do Programa “Viver Ativo”, da Secretaria Municipal de Assistência Social de Florianópolis (SC), que aceitaram participar do estudo de forma voluntária. A frequência da prática de ginástica é de três vezes semanais com duração de 60 minutos. As aulas são ministradas no Centro Social Urbano do bairro Saco dos Limões, localizado no município de Florianópolis, SC.

    Para definir os participantes do estudo foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: aceite do convite, ter idade igual ou superior a 60 anos, ser do sexo feminino, participar do grupo há mais de 1 ano e ter freqüência superior a 75 % nas aulas.

    A escolha deste grupo de ginástica foi devido à da facilidade de acesso as idosas; ser estagiária do referido programa; pelo período de implantação do programa (mais de 1 ano); e, pelo rigor no controle de frequência e coleta dos dados.

Instrumentos

    Os instrumentos utilizados neste estudo foram: ficha diagnóstica e teste de caminhada de 6 minutos (TC6m), do protocolo de Rikli e Jones (2008), no qual permitiu medir indiretamente a resistência aeróbia em idosos.

Coleta de dados

    Para medir indiretamente a capacidade aeróbia, as idosas foram submetidas ao TC6m onde as mesmas caminharam o mais rápido possível durante o limite de tempo em um percurso de 45,72 metros marcado com cones em segmentos de 4,57 metros. O local do TC6m foi em um ginásio coberto, com piso de madeira. Ao sinal de “Atenção, Já!” as avaliadas foram instruídas a caminhar tão rápido quanto fosse possível (sem correr) no percurso, durante os 6 minutos. Ao final deste tempo foi emitido um sinal sonoro indicando que parassem de caminhar e permanecessem no exato local para somar a metragem total.

Análise de dados

    Os dados foram organizados e posteriormente analisados e discutidos através de estatística descritiva (média e desvio padrão).

    A resistência aeróbia foi classificada de acordo com a avaliação da bateria de Rikli e Jones (2008) em “muito ruim”, “ruim”, “regular”, “bom” e “muito bom”.

Resultados

    A amostra do estudo apresentou média de idade de 64,53 anos variando entre 60 a 78 anos. Quanto ao estado civil a maioria é casada (64,7%) e viúva (20,6%). Em relação à escolaridade, percebeu que o grupo tem baixa escolaridade onde (26,5%) estudou até o ensino fundamental incompleto, (26,5%) até o ensino fundamental completo e (26,5%) até o ensino médio completo. A renda média mensal da maioria ficou entre 3 e 4 salários mínimos (23,53%).

    Em relação à resistência aeróbia os resultados apresentados no TC6m, obteve uma média de 533,62 metros (±48,14), que conforme classificação de acordo com os valores de referência de Rikli e Jones (2008), a maioria enquadra-se em “regular” (41,17%) para a faixa etária média do estudo.

    Na Tabela 1, quando verificada a classificação da resistência aeróbia (aqui representada como a média da distância percorrida no TC6m) por faixa etária, percebeu-se que as idosas mais jovens (60-64 anos) foram classificadas como “Regular”, resultado este inferior a faixa etária 70-74 anos classificadas como “Muito Bom”, sendo este resultado inversamente proporcional à classificação de referência de Rikli e Jones (2008).

Tabela 1. Média da Resistência Aeróbia por faixa etária e Classificação

    Na Tabela 2 podemos perceber que ao comparar a resistência aeróbia com o estado civil, as casadas mostraram-se como maioria, mas nem por isso apresentaram a maior distância. As solteiras, mesmo não sendo em grande número, foram as que obtiveram a maior distância percorrida.

Tabela 2. Resistência Aeróbia e Estado Civil

    Na tabela 3 verificamos a resistência aeróbia com em relação à escolaridade. A população analisada mostra-se com uma escolaridade baixa, tendo a maioria estudado até o ensino fundamental incompleto, fundamental completo e médio completo. Mas a maior distância percorrida foi de quem estudou até o ensino superior completo.

Tabela 3. Resistência Aeróbia e Escolaridade

    Na comparação entre resistência aeróbia e renda média mensal, quem obteve a maior distância percorrida foi quem ganha de 2 a 3 salários mínimos. Todavia, a maioria da amostra ganha entre 3 a 4 salários mínimos, como ilustra a tabela 4 abaixo:

Tabela 4. Resistência Aeróbia e Renda Mensal

Discussão

    Ao traçar as características sócio-demográficas, pode-se verificar a semelhança com o estudo realizado por Andreote e Okuma (2003), onde a maioria dos participantes de programas de atividade física constituiu-se de mulheres (72,7%; n = 32); com idade média de 69,6 anos (± 4,8 anos); casadas (56,8%) e viúvas (31,8%); escolaridade bastante heterogênea, uma vez que 52,2% distribuíram-se até o grau ginasial completo, 4,5% colegial incompleto, 9,1% colegial completo correspondendo hoje ao ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo e ensino médio completo, respectivamente; e 34,1% chegaram a freqüentar a faculdade. Porém quanto à renda mensal o referido autor relata uma renda média de 10 salários mínimos, bem acima do encontrado em nosso estudo.

    Na tabela 1 pode-se observar que o desempenho no TC6m foi melhor na faixa etária de 70 a 74 anos sendo classificado como “Muito Bom”, e os mais novos (60 a 64 anos) ficaram com o pior desempenho do grupo classificados como “Regular”. Pela diferença cronológica de idade, as duas gerações viveram em épocas diferentes e tiveram hábitos de vida diferentes, indo ao encontro com Pereira e Okuma (2009), assegurando que indivíduos que foram ativos ao longo da vida possuem um alto nível de percepção sobre a eficácia de um programa de atividade física, ao contrário, os que foram sedentários na juventude e meia-idade.

    A incapacidade funcional também é influenciada pelo avançar da idade, sendo causada por somatório de diversos outros fatores como condição socioeconômica, diminuição dos níveis de atividade física, declínios cognitivos, problemas de saúde. (PARAHYBA e SIMÕES, 2006). Além disso, Camargos et al (2005) mostram que a idade é um dos principais fatores responsáveis pela independência funcional dos idosos, e quanto mais esta aumenta, maior a probabilidade de ocorrer a tal incapacidade.

    Para Friis et al (2003), idosos mais jovens, com maiores níveis de escolaridade e os maiores níveis sócio econômico têm maior probabilidade de se engajar regularmente a exercícios físicos do que os mais velhos e aqueles com menor nível escolar e de renda.

    A análise feita na Tabela 2 indica que a maioria amostra é casada (64,7%), mas quem apresentou o melhor desempenho no TC6m foram as solteiras mesmo estas sendo pequena porção da amostra. No entanto Mazo et al (2005) constatou que as idosas mais ativas são casadas (80,4%), assim como Silva (2009), que aponta como maioria idosas casadas (45%), as quais aderem e permanecem em programa de atividade física.

    Com o resultado encontrado na Tabela 3, percebeu-se que quem apresentou melhor desempenho no TC6m foi quem estudou até o ensino superior completo. Ainda citando o estudo de Mazo et al. (2005), realizado entre idosas fisicamente ativas, foi verificado que as idosas mais ativas estudaram mais de oito anos. Para Dishman (1994), indivíduos participantes de programas de atividade física preventiva parecem ter um nível mais alto de educação formal do que aqueles que não participam. De acordo com Stephens e Caspersen (1994), atividades físicas auto-geridas são consistentemente mais comuns entre grupos com maior nível de escolaridade. Para Andreote e Okuma (2003), existe maior probabilidade das pessoas com mais escolarização terem maior acesso a informações sobre benefícios da atividade física e até maiores condições financeiras para participarem dos programas.

    Na tabela 4 foi comparado à resistência aeróbia e a renda média mensal que neste estudo ficou entre 3 e 4 salários mínimos, não sendo estas as que apresentaram melhor desempenho no TC6m. A maior distância percorrida foi quem tem renda média entre 2 e 3 salários mínimos, contrapondo os resultados no estudo de Friis et al (2003), que verificou que idosos com maior nível sócio econômico têm maior probabilidade de se engajar regularmente a exercícios físicos do que aqueles com menor nível sócio econômico.

    Segundo Matsudo et al (2000), a atividade física aumenta a potência aeróbia em 10% a 40%, e a caminhada é, indiscutivelmente, a atividade aeróbia ideal para todas as faixas etárias, principalmente para adultos e idosos (HAINES et al, 2007; MANSON et al, 1999; FARIAS et al, 2008).

    É importante que a atividade física seja introduzida na vida das pessoas o mais cedo possível para que os efeitos inevitáveis do envelhecimento sejam menos desastrosos. Acredita-se, portanto na evidência que a atividade física, realizado pelas idosas melhora a capacidade aeróbica, sendo necessário que elas participem sempre, minimizando esses efeitos, e obtendo um melhor estilo de vida (MIRANDA e RABELO, 2006; HILLMAN et al, 2008).

Conclusão

    Através dos resultados obtidos nesta pesquisa, conclui-se que quem obteve o melhor desempenho no TC6m foram as participantes na faixa etária de 70-74 anos, solteiras, ensino superior completo e renda média mensal entre 2-3 salários mínimos. Tais participantes que se encaixam nos fatores acima não foram a maioria da amostra, já que a maioria esta entre a faixa etária de 60-64 anos, casadas, ensino fundamental incompleto, completo e médio completo e renda média entre 3-4 salários mínimos. Sendo assim a maioria dos resultados obtidos no referido estudo foram discordantes dos estudos embasados, exceto se tratando da escolaridade. Acredita-se que a característica de alguns indivíduos e sua freqüência podem ter influenciado no resultado. Sugere-se comparar estes resultados com os de outros grupos com atividades semelhantes. Investigar os hábitos de vida dessas idosas contribuiria para verificar se este resultado pode estar relacionado a um estilo de vida saudável o qual pode ter colaborado para diminuir ou retardar as perdas inerentes ao processo do envelhecimento. Assim, é fundamental um trabalho voltado a conscientizar as idosas a manterem-se ativas, independentes de estarem vinculadas a programas de atividades físicas, para usufruírem de melhor qualidade de vida na velhice, que, conforme as estatísticas tende a ser longeva.

Referências

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