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Tai chi chuan para a terceira idade: manutenção da qualidade de vida

Tai chi chuan for third age: maintenance of life quality

 

*Bacharéis em Educação Física pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul

**Professora do Curso de Licenciatura em Dança

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(Brasil)

Carlos Aurélio Machado Gomes*

Marlei Terezinha Braga*

Aline Nogueira Haas**

alinehaas02@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O Tai Chi Chuan vem sendo estudado como atividade de baixo impacto que auxilia na qualidade de vida da terceira idade. Com o objetivo de avaliar a percepção subjetiva da qualidade de vida por praticantes desta atividade física, realizou-se este estudo de campo descritivo com análise qualitativa na cidade de Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul, contando com 46 idosos praticantes regulares de Tai Chi Chuan. Para apuração dos dados sobre qualidade de vida utilizou-se do questionário Whoqol-abreviado. Ao final desde estudo acredita-se que a percepção subjetiva de qualidade de vida pelo público da terceira idade praticante regular de Tai Chi Chuan, está em um nível de bom para ótimo, e que esta atividade física em particular não só traz benefícios na percepção geral da qualidade de vida, mas também afeta todos os domínios necessários para a mesma: físico, psicológico, relação social e meio ambiente.

          Unitermos: Qualidade vida. Terceira idade. Tai chi chuan.

 

Abstract

          Tai Chi Chuan has been studied as a low impact activity that aids in the quality of life of the third age. With the objective of evaluating the subjective perception of quality of life from the apprentices of this physical activity, a study of descriptive field with qualitative analysis was conducted in the city of Porto Alegre in the state of Rio Grande do Sul, provided with 46 elderly people who practice Tai Chi Chuan on a regular basis. For the counting of data about life quality it was made use of the Whoqol-abbreviated questionnaire. At the end of this study it is believed that the subjective perception of life quality from the public of the third age who practice Tai Chi Chuan regularly is in a level from good to great, and that this particular physical activity not only brings benefits in the general perception of life quality, but it also affects all the necessary domains for such a thing to take place: physical, physiological, social relation and environment.

          Keywords: Quality of life. Third age. Tai chi chuan.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Tai Chi Chuan é visto como uma espécie de terapia de relaxamento, mas no século XII, na China, surgiu como uma arte marcial inovadora que visava o mesmo resultado ofensivo e defensivo das outras artes marciais, com características mais suaves e com menos aplicação de força bruta. Neste século de guerras, a sua singularidade nos movimentos permitiu aumentar o número de adeptos e a formação de exércitos secretos prontos para saírem em defesa de suas vilas.

    Nos dias de hoje, com o crescimento da população com idade acima dos 50 anos, desperta a preocupação dos profissionais da área da saúde em trazer novas atividades de baixo impacto que possam ser aplicadas a este tipo de público. Para isso, novas técnicas terapêuticas vêm sendo indicadas, realizando-se pesquisas que possibilitem a comprovação da eficácia das mesmas.

    Dessa forma, pesquisas recentes (CARIDADE et al., 2008; PEREIRA et al., 2008; MELO et al., 2004; GOMES, PEREIRA e ASSUMPÇÃO, 2004) mostram um grande crescimento da prática do Tai Chi Chuan pelo público acima dos 50 anos, seja por recomendação médica de profissionais da área da saúde, ou, até mesmo pela família. Mas, além de uma atividade física, o Tai Chi Chuan também é visto como uma técnica terapêutica que auxilia na melhora da qualidade de vida.

    Com o envelhecimento, torna-se cada vez mais difícil manter certo nível de qualidade de vida, com independência e autonomia, para isso os exercícios tornam-se necessários, como uma forma de remédio natural que auxilia na manutenção do cotidiano. Assim, acredita-se que qualidade de vida é “a valoração subjetiva que o paciente faz de diferentes aspectos de sua vida, em relação ao seu estado de saúde”. (GUITERAS e BAYES, 1993 apud SEIDL e ZANNON, 2004).

    Mazo et al. (2001, p. 55) apresentam algumas classificações etárias para definir a terceira idade utilizada por diferentes profissionais, Rodrigues (2000 apud MAZO et al., 2001) classifica cronologicamente a Terceira Idade como sendo a fase compreendida entre os 50 a 77 anos, adotando-se esta classificação para esta pesquisa.

    Sabendo-se que a qualidade de vida hoje em dia, está associada não só a hábitos alimentares saudáveis, mas também a atividades físicas regulares, busca-se responder ao seguinte questionamento: Qual é a percepção subjetiva da qualidade de vida de praticantes de Tai Chi Chuan na terceira idade?

    Para responder este questionamento, o objetivo deste estudo é verificar a percepção subjetiva da qualidade de vida de praticantes de Tai Chi Chuan na terceira idade.

    Este estudo justifica-se devido ao interesse e iniciativa pessoal em trazer dados apresentando o Tai Chi Chuan e suas interfaces com aspectos da qualidade de vida na terceira idade, buscando apontar seus benefícios como uma nova tendência e proposta de atividade física para essa população. Destaca-se também a relevância do mesmo, pois não foram encontradas pesquisas na capital gaúcha e no Estado do Rio Grande do Sul que relacionem estas áreas. Dessa forma, contribuir-se-á no meio científico para o aumento de estudos nessa área.

Metodologia

    Este estudo se caracteriza por ser de campo, descritivo e de análise qualitativa.

    A amostra foi composta por 46 indivíduos de terceira idade praticantes ativos de Tai Chi Chuan, sendo 35 do sexo feminino e 11 do masculino, com tempo mínimo de prática de 3 meses ao tempo máximo de 15 anos. A mesma foi dividida em dois grupos: 14 praticantes unicamente de Tai Chi Chuan e 32 praticantes de Tai Chi Chuan que praticam também outras atividades físicas. Estes dois grupos foram analisados separadamente e os resultados comparados entre si e com a literatura pesquisada.

    A mesma caracterizou-se por ser do tipo intencional e teve como critérios de inclusão: aceitar participar do estudo; ter idade entre 50 e 77 anos; o tipo de prática; o tempo de prática; e, estar apto para realizar exercícios físicos. Todos os participantes da pesquisa foram informados quanto aos procedimentos de estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido que atende as diretrizes e normas da Resolução 196/96 do CNS/MS, indicadas pelo Comitê de Ética da PUCRS.

    Para apurar a idade, o tempo de prática e se pratica ou não outro tipo de atividade física, foi aplicada uma anamnese contendo as seguintes questões: Idade? Sexo? Quanto tempo pratica o Tai Chi Chuan? Você pratica outra atividade física? Qual?.

    Para a coleta de dados foi utilizado o questionário WHOQOL-abreviado, elaborado pela Organização Mundial de Saúde, traduzido e validado no Brasil por Fleck et al. (2000), utilizado para avaliar a percepção subjetiva da pessoa em relação a sua qualidade de vida. Esse instrumento contém 26 perguntas, sendo duas questões gerais sobre qualidade de vida (domínio global) e as demais divididas em quatro domínios: Físico (dor, fadiga, repouso, sono, mobilidade, atividades diárias, tratamentos e trabalho); Psicológico (sentimentos positivos e negativos, memória, auto-estima, aparência, espiritualidade); Relações Sociais (social, apoio, suporte e atividade sexual); Meio Ambiente (segurança, ambiente doméstico, financeiro, saúde, transporte, recreação/lazer, acesso à informação e ambiente físico - clima, ruído, etc.). As perguntas estão assim distribuídas: as questões 1 e 2 são perguntas gerais de qualidade de vida; as questões 3, 10, 15 e 17 são de domínio físico; as questões 4 a 9, 11, 18, 19, 24 e 26 são de domínio psicológico; as questões 12, 13, 20 a 22 são de domínio de relações sociais; e as questões 14, 16, 23 e 25 de domínio em relação ao meio ambiente.

    A etapa de coleta de dados ocorreu nos meses de setembro e outubro de 2009, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 4 estabelecimentos diferentes sendo 1 estabelecimento público e 3 particulares. O procedimento de coleta de dados seguiu o seguinte padrão: chegada no local antes do início das atividades, para solicitação de permissão junto aos responsáveis pelo local; uma vez autorizado, utilizando-se dos primeiros minutos da aula, realizou-se a apresentação do teor da pesquisa; em seguida, foi feito o convite para participação do estudo e a explicação sobre o preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, da Anamnese e do questionário WHOQOL-abreviado. Como os participantes da pesquisa apresentaram o desejo de não perderem a prática, combinou-se que eles devolveriam o questionário preenchido na próxima aula. Este modelo de coleta foi aplicado em todos os estabelecimentos que participaram do estudo.

    A praticidade de aplicação do WHOQOL-abreviado está na quantidade reduzida de perguntas (26), sendo todas objetivas, respondendo-se às questões, marcando de acordo com sua percepção uma das cinco opções pontuadas de 1 a 5. Das 26 questões do questionário, 3 devem ser analisadas de forma invertida, ou seja, 23 questões recebem notas de 1 a 5 sendo o 1 a pior nota e 5 a melhor nota, mas 3 questões são invertidas, recebem notas de 1 a 5, mas 1 é a melhor nota e 5 a pior nota.

    Para a análise dos dados foi utilizado o protocolo de análise sugerido por Pedroso, Pilatti e Reis (2009), realizando-se os cálculos no programa Excel for Windows XP. Os valores obtidos nos questionários foram somados em seus respectivos domínios, divididos pelo número de questões totais do domínio e multiplicado por 4 (essa multiplicação visa manter uma certa relação dentro do domínio, caso alguma das questões não tenha sido preenchida), dessa forma, quando a avaliação for realizada o pior resultado terá pontuação 4, o melhor resultado terá pontuação 20, e o valor 12 será a pontuação média. Dessa forma, obtiveram-se os valores máximos e mínimos para todos os domínios analisados.

    Os dados obtidos no WHOQOL-abreviado também foram visualizados e interpretados através do cálculo do percentual da percepção subjetiva dos dois grupos estudados, determinando-se 4 classificações distintas: “Baixa” (pontuação entre 4,0 e 7,9); “Regular” (pontuação entre 8,0 e 11,9); “Boa” (pontuação entre 12,0 e 16,9); “Ótima” (pontuação entre 17,0 e 20,0).

    Para realizar a comparação dos dados obtidos nos dois grupos estudados aplicou-se o teste “t” de Student para uma significância α=0,05. Os cálculos foram realizados no programa SPSS versão 18.0 for Windows/XP.

Resultados

    A Tabela 1 traz os resultados obtidos a partir da aplicação dos questionários respondidos pelos indivíduos da terceira idade praticantes de Tai Chi Chuan e dos praticantes de Tai Chi Chuan associado à prática de outras atividades físicas. Na primeira coluna foram identificados os domínios avaliados; na segunda coluna os valores de pontuação mínima obtida entre os questionários; na terceira coluna a pontuação máxima obtida; na quarta, a média (que foi apurada aritmeticamente somando-se todos os pontos e dividindo-se pelo número total de questionários) e o desvio padrão; e, na quinta, o valor de “p” para duas amostras independentes.

    Verifica-se na mesma que a avaliação geral de qualidade de vida e o domínio físico apresentaram diferenças significativas entre os dois grupos estudados, onde os praticantes de Tai Chi Chuan associados a outras atividades físicas apresentaram uma qualidade vida maior.

Tabela 1. Pontuação mínima, máxima, média e desvio padrão dos praticantes de Tai Chi Chuan

e dos praticantes de Tai Chi Chuan e outras atividades nos domínios do WHOQOL-abreviado

  

Praticantes de Tai Chi Chuan

Praticantes de Tai Chi Chuan e outras atividades

  

Domínios

PMín

PMáx

Média (DP)

PMín

PMáx

Média (DP)

P

Geral

14

20

16,7 (± 1,5)

16

20

18,0 (± 1,6)

0,014*

Físico

12

20

16,9 (± 2,2)

14

20

18,1 (± 1,7)

0,040*

Psicológico

14,2

19,6

16,6 (± 1,4)

13,1

19,6

16,8 (± 1,7)

0,796

Relações Sociais

11,2

20

16,6 (± 2,7)

12

20

16,7 (± 2,0)

0,930

Meio Ambiente

12

19

17,1 (± 2,0)

13

20

17,0 (± 1,7)

0,948

*diferenças significativa (valor de p α=0,05).

    A Tabela 2 foi organizada em outra perspectiva para auxiliar na interpretação dos dados obtidos com o questionário WHOQOL-Abreviado. A mesma apresenta os percentuais da percepção subjetiva apurada nos questionários distribuídos em quatro classificações distintas: baixa, regular, boa e ótima.

    Pode-se verificar na Tabela 2 que nenhum resultado se enquadrou na classificação “Baixa”, tanto para o Grupo 1 quanto para o Grupo 2 e um pequeno percentual (7,1%) do Grupo 1 se enquadrou na classificação “Regular”. Levando-se em consideração que o Grupo 1 compreende um número de 14 indivíduos, este percentual representa somente 1 questionário. Este resultado específico se deu em função do indivíduo questionado não ter respondido uma das questões que compõe a avaliação do domínio social, sendo o único que resultou no percentual de classificação “Regular”.

    Verifica-se também na Tabela 2 que a maioria do Grupo 1 se enquadra na classificação “Ótima” nos domínios físico (64,3%), psicológico (57,1%) e ambiental (71,4%), ficando os domínios geral (64,3%) e o social (57,1%) na classificação “Boa”. Já, a maioria do Grupo 2 se enquadra na classificação “Ótima” nos domínios geral (68,8%), físico (81,3%) e ambiental (59,4%), ficando nos domínios psicológico e social com os mesmos resultados (50%) nas classificações “Boa” e “Ótima”.

Tabela 2. Percentual da percepção subjetiva dos dois grupos apuradas no

questionário WHOQOL-abreviado de acordo com as classificações determinadas

Grupos

Domínios

Baixa

(4 a 7,9)

Regular

(8 a 11,9)

Boa

(12 a 16,9)

Ótima

(17 a 20)

Grupo 1

Geral

-

-

64,3%

35,7%

Grupo 1

Físico

-

-

35,7%

64,3%

Grupo 1

Psicológico

-

-

42,9%

57,1%

Grupo 1

Social

-

7,1%

57,1%

35,7%

Grupo 1

Ambiental

-

-

28,6%

71,4%

Grupo 2

Geral

-

-

31,3%

68,8%

Grupo 2

Físico

-

-

18,8%

81,3%

Grupo 2

Psicológico

-

-

50,0%

50,0%

Grupo 2

Social

-

-

50,0%

50,0%

Grupo 2

Ambiental

-

-

40,6%

59,4%

Grupo 1 – praticantes de Tai Chi Chuan.

Grupo 2 – praticantes de Tai Chi Chuan e outras atividades.

    Comparando os dois grupos, pode-se dizer que os mesmos enquadraram-se na classificação “Ótima” em sua maioria nos domínios físico e ambiental (Tabela 2). Porém, no domínio físico o Grupo 2 (81,3%) apresentou um resultado maior que o Grupo 1 (64,3%), e no domínio ambiental inverteram-se os resultados, cabendo para o Grupo 1 (71,4%) melhor resultado que o Grupo 2 (59,4%). Ainda na classificação “Ótima”, enquanto o Grupo 2 no domínio geral (68,8%) se destacou, o Grupo 1 teve o destaque no domínio psicológico (57,1%). O domínio social não teve maior destaque para os dois grupos, mesmo assim pode-se observar que o Grupo 2 (50,0%) apresentou um melhor resultado quando comparado ao Grupo 1 (35,7%).

    Mesmo apresentando estas diferenças percentuais para os dois grupos, não se pode esquecer que os resultados obtidos na Tabela 2 demonstram que mesmos se encontram na sua maioria em uma classificação “Ótima” e “Boa”, o que em termos de percepção subjetiva de qualidade de vida, é um resultado considerável para a população da terceira idade, tanto para quem pratica somente Tai Chi Chuan, quanto para quem o pratica associado a outras atividades físicas.

Discussão dos resultados

    Encontra-se na literatura atual, autores definindo o Tai Chi Chuan como um sistema de movimentos de baixo impacto que proporcionaria como resultado melhorias na qualidade de vida de indivíduos da terceira idade. Matsudo et al. (2001, p.4) em sua pesquisa no que diz respeito à atividade física para terceira idade afirmam:

    Um dos aspectos que devem ser considerados na relação atividades física, doença, saúde em termos populacionais é a escolha do tipo de atividade física a ser prescrito na terceira idade. Recentemente têm surgido recomendações específicas de programas de atividade física...

    Sobre estes programas Matsudo et al. (2001, p.4) dizem “[...] é recomendada a prescrição de atividades de baixo impacto, como caminhada, a natação, a hidroginástica, dançar, ioga, tai chi chuan [...]”, ou seja, recomenda-se para idosos qualquer atividade física considerada de baixo impacto. Tendo o Tai Chi Chuan como uma delas, os autores nos informam o seguinte:

    Apesar de ser uma arte marcial chinesa milenar, que encoraja a concentração mental e o controle dos movimentos corporais, foi somente nos últimos anos que começaram a surgir as primeiras publicações científicas sobre os efeitos do tai chi chuan na aptidão física e capacidade funcional do idoso. (MATSUDO et al., 2001, p.6)

    Gomes, Pereira e Assumpção (2004) realizaram pesquisas epidemiológicas apresentando o Tai Chi Chuan como uma nova modalidade para os idosos. Dentre os benefícios mais citados estão: função cardiovascular e ventilatória, regulagem da pressão arterial, força muscular, equilíbrio, prevenção da osteoartrite e artrite reumatóide e benefícios psicológicos.

    Acredita-se assim que estes dois estudos vêm ao encontro deste artigo a fim de complementar o mesmo, trazendo informações que permitam relacionar a prática do Tai Chi Chuan com a percepção subjetiva da qualidade de vida por pessoas da terceira idade.

    Tribess e Virtuoso Jr (2004) realizaram um estudo de qualidade de vida na terceira idade com a participação de 44 idosas da cidade de Florianópolis no Estado de Santa Catarina, sendo as participantes divididas em dois grupos: 21 idosas residentes de asilos formaram o grupo 1, e 23 idosas independentes participantes de programas de atividades físicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) formaram o grupo 2. Dentre os instrumentos selecionados, utilizaram-se também do WHOQOl-abreviado. Nesse estudo a comparação dos escores apurados com o WHOQOL-abreviado apresentou diferenças estatisticamente significativas em favor do grupo 2 nos domínios geral, físico e psicológico.

    Pode-se dizer então, após os dados levantados nesta pesquisa e também de acordo com os dados encontrados por Tribess e Virtuoso Jr (2004), que a prática regular de diferentes atividades físicas promove a manutenção física, auxilia na manutenção da saúde e bem estar e permite uma melhor concentração para a realização das mesmas, esses fatores juntos possibilitam que o idoso desenvolva uma melhor percepção subjetiva de qualidade de vida.

    Pereira et al. (2006) também utilizaram o WHOQOL-abreviado para estudar a qualidade de vida na terceira idade. Esse estudo foi realizado no município de Teixeiras no estado de Minas Gerais, com a participação de 211 idosos divididos em dois grupos: masculino (102) e feminino (109). Não foi levada em consideração a prática ou não de atividade física regular, além das atividades diárias de uma cidade de economia baseada na agropecuária, silvicultura e exploração florestal. Os autores apuraram os seguintes escores: qualidade de vida global (geral) - 15,33 para homens (h) e 15,04 para mulheres (m) -; domínio físico - 16,20 (h) e 15,51 (m) -; domínio psicológico - 16,14 (h) e 15,22 (m) -; domínio social - 17,28 (h) e 17,29 (m) -; domínio ambiental - 15,20 (h) e 14,50 (m) -. Os resultados encontrados apresentaram diferenças estatísticas significativas entre os dois grupos em favor do masculino nos domínios físico, psicológico e ambiental.

    Comparando os dados encontrados por Pereira et al. (2006) com os deste estudo, pode-se dizer que os mesmos foram semelhantes, pois as médias dos escores apurados ficaram próximas. Porém, pode-se chamar a atenção para o domínio social (17,28 e 17,29) e ambiental (15,20 e 14,50) do estudo desenvolvido por Pereira et al. (2006) que, ao se comparar com o estudo aqui desenvolvido, encontraram-se escores invertidos onde o domínio social foi mais baixo (16,6 e 16,7) e o ambiental mais alto (17,1 e 17,0).

    Estas diferenças podem estar relacionadas aos locais de pesquisa. Como já referido, o presente estudo foi realizado em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, já Pereira et al. (2006) realizaram seu estudo em Teixeiras no Estado de Minas Gerais. Pode-se dizer em relação a isso que, em certas localidades, pessoas que moram no interior têm relações sociais mais afetuosas do que as que moram nas capitais. Destacam-se também as diferenças em relação aos meios de transporte e moradia, questões de influências avaliadas pelo próprio questionário.

    Semelhante a Pereira et al. (2006), Castro et al. (2007) realizaram sua pesquisa junto a um programa da Universidade Aberta da Terceira Idade da Fundação Educacional de São Carlos (UATI-FESC) e do Projeto de Revitalização Geriátrica (REVT) sobre qualidade de vida da terceira idade no município de São Carlos no Estado de São Paulo. A amostra de estudo contou com 70 indivíduos, sendo 57 do grupo UATI e 13 do REVT. Entre os instrumentos para avaliar a qualidade de vida utilizou-se o WHOQOL-abreviado no início e fim dos programas (após 4 meses). O grupo UATI foi submetido a um programa de atividades físicas (sendo o Tai Chi Chuan uma delas), e o grupo REVT foi submetido a um programa de atividades como alongamento, aeróbio, força entre outros (não tiveram aulas de Tai Chi Chuan). Os resultados apurados demonstraram melhoras significativas nos grupos em relação à qualidade de vida geral, mas não apresentando diferenças significativas entre eles. Os resultados de escores médios do início e fim dos programas foram: questão 1 - 17,95 e 19,91; questão 2 - 16,52 e 17,68 (questões gerais de qualidade de vida); domínio físico - 14,22 e 15,16; domínio psicológico - 13,79 e 13,87; domínio social - 13,66 e 14,59; e domínio ambiental - 15,03 e 16,03. Os autores notaram, após a conclusão do estudo, diferenças significativas entre as avaliações nos domínios geral de qualidade de vida (questão 1 e 2), no psicológico e meio ambiente.

    Quando comparados os resultados do artigo de Castro et al. (2007) com este estudo, observou-se nos domínios psicológico (13,87 – escore final) e social (14,59 – escore final), que a média dos escores ficaram inferiores aos aqui apurados (psicológico 16,6 e 16,8; social 16,6 e 16,7). Presume-se, assim, que pode ter sido criado um clima de obrigação por parte dos participantes, pois a amostra do estudo desenvolvido pelos autores foi constituída por um grupo de pessoas que iniciaram a participação nos programas no ano de 2006 junto com a pesquisa. Além disso, as atividades realizadas no estudo dos autores foram em turmas fechadas com diferentes horários, o que pode ter contribuído para que o programa não surtisse um maior efeito sobre os resultados finais.

    Mais uma vez entende-se que a percepção subjetiva da qualidade de vida na terceira idade está relacionada com os domínios físico, psicológico, social e ambiental, que estão diretamente ligados com as capacidades básicas para a realização das atividades da vida diária (AVD’s). Sendo assim, a prática regular do Tai Chi Chuan pode contribuir para alcançar melhorias nos domínios e conseqüentemente na realização das AVD’s.

    Soto Caridade et al. (2008) desenvolveram uma pesquisa com idosos com objetivo principal de comprovar se 3 meses de prática de Tai chi chuan, 2h por semana, melhoravam o equilíbrio dessa população. Participaram desse estudo 12 homens e 54 mulheres, todos voluntários, divididos em quatro grupos, dois da cidade de La Coruña e dois na cidade de Ourense na Espanha. Para a coleta de dados foram utilizados testes para medir o equilíbrio inicial, antes da prática do Tai chi chuan, o equilíbrio intermediário, e o final. Os resultados obtidos no estudo mostram melhoras estatisticamente significativas nos equilíbrios estático e dinâmico da amostra participante do estudo. Como já foi visto anteriormente, são indicadas atividades de baixo impacto para os idosos e com a prática de atividades físicas, neste caso, o Tai Chi Chuan, os autores observaram uma significativa evolução de domínio físico e consequentemente psicológico. Pode-se dizer que para o grupo participante, houve uma melhora em sua qualidade de vida. Pois a melhora em suas habilidades físicas (equilíbrio) vai aumentar a confiança destas pessoas, permitindo uma redução de quedas e aumentando sua capacidade de deslocamento.

    Outro trabalho que se destaca na área foi o desenvolvido por Hernandes e Barros (2004) que elaboraram um programa de atividades físicas e aplicaram em 20 idosos da cidade de Brasília, com objetivo de averiguar se um programa bem elaborado poderia melhorar no desempenho dos idosos em suas Atividades da Vida Diária (AVD’s). Dentre as atividades propostas, foram incluídas aulas de Tai Chi Chuan. O programa durou 10 semanas, com aplicação de testes antes e ao final do mesmo. Os resultados apurados não mostraram diferenças significativas nas medidas antropométricas, por outro lado os idosos apresentaram melhoras significativas em metade dos testes propostos. Os testes foram: caminhar/correr 800m e calçar meias, apresentaram melhorias significativas; levantar-se do solo, apresentou tendência de melhoria; sentar/levantar-se/locomover-se, subir degraus, subir escadas não apresentaram diferenças significativas. Hernandes e Barros (2004, p. 48) opinam que atividades físicas “[...] oferecem um suporte experimental à possibilidade de alcance de progressos de desempenho em testes de AVD [...]”. Além disso, eles ainda trazem que os ganhos de eficiência individual variaram de uma pessoa para outra.

    Soto Caridade et al. (2008) aplicaram um programa por 3 meses, enquanto que Hernandes e Barros (2004) aplicaram um programa por menos tempo. Quando se trata de musculação, a literatura traz que os primeiros resultados costumam aparecer após 8 semanas de treinamento, esta pesquisa optou por selecionar para amostra, praticantes de Tai Chi Chuan com um tempo mínimo de 3 meses de prática, tempo que foi considerado mínimo para se obter resultados em relação à percepção da qualidade de vida. Neste caso, o estudo de Hernandes e Barros (2004) apresentaram melhorias, tendência de melhoria e manutenção nos testes aplicados, com um tempo mínimo de aproximadamente 2 meses. Porém, supõe-se que, se o estudo tivesse atingido os 3 meses de prática, poderiam surgir melhorias significativas em todos os testes.

    Melo et al. (2004), Oliveira et al. (2001) e Pereira et al. (2006) também avaliaram em seus estudos o Tai Chi Chuan como atividade física para melhoria das capacidades funcionais das pessoas da terceira idade. Melo et al. (2004) compararam a flexibilidade e autonomia entre idosas sedentárias e praticantes. Oliveira et al. (2001) avaliaram o efeito do treinamento na aptidão física de mulheres sedentárias. Pereira et al. (2006) averiguaram os efeitos na força dos músculos extensores dos joelhos e no equilíbrio em pessoas não praticantes de atividades físicas, trabalhando com dois grupos, um realizando o treinamento e o outro como grupo controle.

    Todos estes autores acharam resultados positivos como melhora do equilíbrio, da capacidade cardiorrespiratória, da atenção e ganho muscular, entre outros. Além disso, os estudos de Oliveira et al. (2001) e Pereira et al. (2006) realizaram-se por um período de 3 meses, o que evidencia um período mínimo de prática para que se apurarem diferenças significativas.

    Estes estudos não trouxeram medidas de qualidade de vida, pois não faziam parte de seus objetivos, mas como citado anteriormente, a qualidade de vida está diretamente ligada à capacidade de independência da pessoa idosa em realizar suas atividades cotidianas, sendo assim, qualquer melhora física e mental obtida que beneficie sua capacidade de deslocamento ou mesmo de realizar ações simples sem ajuda (independência física), deve ser percebida como melhora significativa na qualidade de vida.

Considerações finais

    Após a análise e discussão dos resultados acredita-se que a prática regular de atividades físicas, sejam na forma de esportes, exercícios ou terapias, são importantes para o desenvolvimento físico e manutenção da saúde e qualidade de vida.

    Apurou-se pelos resultados obtidos que, na grande maioria dos indivíduos que integraram os dois grupos estudados, verificou-se uma boa e/ou ótima percepção subjetiva de sua qualidade de vida. Ainda assim, destaca-se que ocorreu uma diferença de percepção entre os dois grupos nos domínios físico, social e geral, onde o grupo que pratica Tai Chi Chuan associado a outras atividades (grupo 2) teve uma maior percentual de respostas que o grupo que pratica somente Tai Chi Chuan (grupo 1) na classificação ótima. Porém, o grupo 1 teve um maior percentual de respostas na classificação ótima nos domínios psicológico e ambiental, quando comparado ao grupo 2.

    A partir desse estudo, pode-se dizer que a prática regular do Tai Chi Chuan apresenta os seguintes fatores que influenciam na percepção e manutenção da qualidade de vida na terceira idade: atividade de baixo impacto; melhora a percepção geral e os aspectos físicos, psicológicos, social e ambiental. Associada à outra atividade física, pode ainda potencializar os resultados da percepção geral de qualidade de vida e dos aspectos físicos, pois neste estudo ocorreu diferença estatística significativa entre os dois grupos estudados. Mas, salienta-se também que quando o Tai Chi Chuan é a única atividade praticada na terceira idade, pode ocasionar uma percepção subjetiva maior nos domínios psicológico e ambiental, já que é uma atividade que trabalha bastante a concentração e a mente.

    Recomenda-se para estudos futuros o aumento no número da amostra, além de separar a mesma em três categorias: praticantes de Tai Chi Chuan, Tai Chi Chuan associado a outras atividades e praticantes de outras atividades. Esta comparação não só trará mais informações sobre o efeito desse tipo de prática no fator psicológico, mas poderá trazer qual o tipo de atividade associada ao Tai Chi Chuan traz maiores benefícios ao público da terceira idade.

Referências

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