Qualidade de vida e o estilo de vida de um parkinsoniano: estudo de caso Calidad de vida y/o estilo de vida de una persona con enfermedad de Parkinson: estudio de caso |
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*Universidade Federal de Santa Catarina **Universidade Federal de Santa Maria (Brasil) |
Susana Cararo Confortin* ** Anapaula Pastorio** |
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Resumo As manifestações das doenças crônicas degenerativas, como a Doença de Parkinson (DP), têm grande impacto para os idosos, podendo levá-los à redução de sua autonomia social, uma vez que acabam reduzindo suas atividades de vida diária, e consequentemente a diminuição da qualidade de vida. A DP tem como características: tremor, rigidez, bradicinesia, encurtamento muscular, alterações neurocomportamentais, depressão entre outras. Esta pesquisa busca através de um estudo de caso investigar a qualidade de vida e o estilo de vida de um parkinsoniano. O método para o estudo consistiu de uma entrevista semi-estruturada com recolhimento de dados pessoais e estilo de vida bem como medidas antropométricas, circunferência abdominal, força de preensão manual e flexibilidade do indivíduo. Concluindo percebeu-se que através de uma vida ativa e saudável, os parkinsonianos encontram o caminho mais eficaz de promover seu próprio bem estar, conquistando uma boa qualidade de vida driblando as limitações trazidas pela DP. Unitermos: Doença de Parkinson. Qualidade de vida. Estilo de vida.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Comum a todos os seres vivos, o envelhecimento é um sistema de regressão, influenciado pelo estilo de vida, fatores genéticos e características psicossociais (PASCHOAL, 2006). Infelizmente, junto com a velhice, ocorre o aparecimento de doenças crônicas, como a Doença de Parkinson, que é uma doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso central, caracterizada, principalmente, por alterações motoras. A Doença de Parkinson enquanto forma primária surge, normalmente, na 2ª metade da vida, enquanto que os sintomas têm início entre os 60-65 anos (GOULART et al., 2004).
Tremor, bradicinesia e rigidez são algumas das características da Doença de Parkinson, além de alterações da postura, do equilíbrio e da marcha. Os indivíduos com Doença de Parkinson podem, também, se deparar com alterações músculo-esqueléticas (fraqueza e encurtamento muscular), alterações neurocomportamentais (demência, depressão e tendência ao isolamento) e comprometimento cardiorrespiratório, o que interfere, indubitavelmente, no desempenho funcional e independência dos mesmos (GOULART et. al, 2004). Assim, pretende-se investigar como é a qualidade de vida e o estilo de vida de um parkinsoniano.
Método
Este trabalho foi realizado na abordagem metodológica de estudo de caso. Foram obtidos dados pessoais (nome, data de nascimento, sexo, etc.), além de exames relacionados à doença de Parkinson e exames de rotina da saúde. O estilo de vida, o perfil de saúde, qualidade de vida, o dia-a-dia do indivíduo foram investigados a partir de uma entrevista semi-estruturada. Para complementar os dados, incluiu-se questões mais detalhadas e aprofundadas relativas aos temas anteriormente citados, quando necessário.
Instrumentos e análises
Medidas antropométricas
Circunferência abdominal
Avaliação do estado nutricional:
Força de preensão manual direita
Flexibilidade:
Resultados e discussão
Inicialmente, apresentam-se as características do participante do estudo de caso, sendo um indivíduo do sexo masculino, de 71 anos, com a Doença de Parkinson. O idoso é casado e mora com a esposa, tem 3 filhos e 3 netos. Relata que a neta mais nova é sua alegria e sua diversão mais prazerosa. Além da companhia da neta, o indivíduo gosta de tratar os animais em seu sítio pela parte da manhã e pela parte da tarde, alternando os dias, gosta de ir à fisioterapia, à terapia ocupacional e à musculação.
Em relação a sua memória, ele relata que está esquecido e a considera regular, principalmente, porque sua antiga profissão era Engenharia Civil, que lhe exigia muito a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações. Referindo-se a sua saúde, ele afirma estar boa, muito melhor do que a um ano atrás, pois o médico lhe disse que ele melhorou, mesmo sendo a doença de Parkinson irreversível e progressiva. Também relata não ter nenhuma outra doença como hipertensão, diabetes, osteoporose, câncer, doença crônica de pulmão, artrite, reumatismo, artrose, problema nervoso ou psiquiátrico. Relatou ter sofrido uma queda no último ano, mas não se machucou a ponto de precisar de tratamento médico. O indivíduo usa 6 remédios, 4 deles são para a Doença de Parkinson. Expõe também, que não é fumante e nem etilista, se orgulhando desse fato.
O entrevistado percebeu a Doença de Parkinson há cinco anos e afirma que os sintomas que mais o afetam são a mobilidade e a memória. Não consegue fazer movimentos rápidos (giros, rotação) com agilidade, e evidencia que sua caligrafia ficou indecifrável, conseguindo apenas escrever o nome. Além disso, ele descreve que os sintomas do Parkinson lhe impuseram restrições, tais como não poder mais dirigir, não conseguir ir a lugares sozinho (médico, igreja, etc.), não conseguir correr, ter dificuldade de levantar-se de uma cadeira depois de ficar sentado durante longo período e ter dificuldade para puxar ou empurrar grandes objetos. Porém, não se sente limitado à prática de atividades físicas.
As atividades que realiza para melhorar a sua condição são: a fisioterapia, duas vezes por semana com sessões de 1 hora; terapia ocupacional, duas vezes por semana com sessões de 1 hora; musculação 3 vezes por semana com sessões de 1hora. Refere-se a fisioterapia como a atividade que mais o ajuda a superar as dificuldades que tem devido ao Parkinson, sem menosprezar as outras atividades, que também fazem-lhe muito bem. Reserva um tempo para relaxar após o meio-dia. Ademais, conta que gosta de ir para a piscina e caminhar pelo sitio com sua cachorra.
Complementando, o indivíduo relata suas atividades de lazer, que inclui encontros com os amigos do grupo de parkinsonianos, aonde realizam atividades esportivas em grupo, seminários e, principalmente, confraternizações de aniversários dos integrantes do mesmo. Diz estar satisfeito na relação familiar e com os amigos.
Por conseguinte, apresentam-se as características funcionais e antropométricas do parkinsoniano. Para que determinadas tarefas motoras possam ser executadas a aptidão funcional deve ser mantida em certos níveis, consequentemente, as atividades do cotidiano serão realizadas. Essas atividades dependem de capacidades físicas como equilíbrio, velocidade, coordenação, força e agilidade.
A força de preensão manual apresenta forte relação com um grande número de atividades cotidianas da vida do idoso, tais como abrir ou fechar uma torneira, segurar sacolas e lavar roupas. Assim, a força de preensão manual do parkinsoniano da mão direita que foi de 28kgf, utilizada como indicador de força estática, enquadra-se na classificação de média relatada na literatura para indivíduos sem doença de Parkinson (HOWLEY e FRANKS, 2000). Percebe-se que a força muscular do sujeito está em um bom nível, pelo fato das possíveis alterações músculo-esqueléticas (fraqueza e encurtamento muscular) que a Doença de Parkinson pode ocasionar.
Em relação ao teste de “sentar e alcançar”, o indivíduo conseguiu 17,3 cm e foi classificado com escore médio de flexibilidade (GORLA, 1997). Na circunferência abdominal, ele obteve uma mensuração de 100,5 cm sendo considerado um risco substancial de complicações metabólicas associadas à obesidade, pois o risco aumentado é a partir de 102 cm em homens (HAN et. al,1995).
A massa corporal do sujeito é de 68 kg e a estatura é de 158 cm, o IMC dele foi calculado e obteve-se 27,2 Kg/m2, sendo classificado como obeso. O uso do IMC em idosos apresenta dificuldades em razão do decréscimo de estatura, acúmulo de tecido adiposo, redução da massa corporal magra e diminuição da quantidade de água no organismo, não havendo, assim, um ponto de corte específico para essa faixa etária. Estudos recentes têm demonstrado associação entre o IMC e o risco de desenvolver a Doença de Parkinson, pois alguns pacientes portadores de Doença de Parkinson desenvolvem com frequência disfagia, a qual entende-se por dificuldade de deglutição, que geralmente pode estar associada à perda de peso. O paciente com DP tenta se adaptar às dificuldades e pode não procurar atenção médica em virtude da disfagia e/ou desnutrição (KNOOP; PADOVANI, 2001). Apesar de a desnutrição não ser o caso do sujeito deste estudo, esta constatação serve de alerta, prevenção e sugestão de que se deve realizar uma avaliação frequente do estado nutricional dos pacientes com Doença de Parkinson.
Considerações finais
Diante dos resultados obtidos no estudo de caso, pode-se perceber que, mesmo o idoso sendo acometido por uma doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso central, ele se considera estar muito bem. Tem um estilo de vida saudável e sua qualidade de vida é conceituada como boa. Percebe-se que as atividades físicas, ocupacionais, de lazer e as sessões de fisioterapia fazem muito bem a ele e a sua saúde. Cabe ressaltar, ainda, a disposição com que ele realiza suas tarefas.
Assim, pode-se concluir que a qualidade de vida do parkinsoniano é boa e o estilo de vida é ativo. No entanto, ele continua tendo dificuldades na mobilidade e na memória, além ser classificado como obeso no que se refere ao seu estado nutricional. Contudo, pode ser considerado como exemplo de superação para os indivíduos com Doença de Parkinson. Indubitavelmente, quanto maior a gama de estímulos através de atividades que desenvolvam o indivíduo física-social-mental e emocionalmente melhor este sentir-se-á em relação à vida. Assim, sugerem-se atividades a fim de que o parkinsoniano tenha mais possibilidades de minimizar as limitações (mobilidade e memória) decorrentes da progressão da doença procurando contribuir para a melhora da qualidade de vida do mesmo.
Sugere-se aproveitar os hobbies dos pacientes como meio eficaz de promover o bem estar e melhorar a qualidade de vida dos acometidos pela Doença de Parkinson, por exemplo, no caso do sujeito desta pesquisa ter relatado o gosto em ir à piscina, sessões de hidroginástica ou até mesmo de hidroterapia seriam bem-vindas, pois quando praticadas de maneira adequada e regularmente, permitem uma melhora em todos os componentes do condicionamento físico, que são: componente aeróbico (melhorando a capacidade cardiovascular e pulmonar), componente de força muscular, componente de resistência muscular, componente de flexibilidade, componente de composição corporal (relaciona-se à relação entre a massa magra e a quantidade de gordura), melhora da amplitude de movimento articular, entre outros.
A segunda sugestão seria a caminhada regular, de 30 minutos diários, de 3 a 5 vezes por semana no próprio sítio, em contato com a natureza, que paralelo ao relaxamento e liberação psicológica contribuiria na redução da obesidade. Sabe-se que além de trazer benefícios físicos, a caminhada faz muito bem para a mente e diminui os riscos de deterioração mental.
Ainda, poderia ser proposto ao indivíduo a realização de jogos cognitivos, tais como: dominó, palavras cruzadas, jogo da memória, xadrez, dama, quebra-cabeças, etc., como estimulantes diretos do sistema nervoso central, principalmente da cognição, sendo ainda, enquadrado como um momento lúdico e de plena diversão.
Finalmente, atenuar os males advindos com a Doença de Parkinson, já que esta não tem cura, torna-se imprescindível para melhorar o bem estar físico psicológico e social dos indivíduos acometidos. Buscar uma vida ativa e saudável torna-se o caminho mais eficaz de promover a qualidade de vida dos parkinsonianos, sendo importante o acompanhamento e auxílio de profissionais da área da saúde como educadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, para juntos facilitarem a vida do indivíduo em suas atividades diárias, dando-lhe autonomia e independência apesar de suas limitações.
Referências
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BOTH, J.; BORGATTO, A.F. ; NASCIMENTO, J. V.; SONOO, C. N.; LEMOS, C. A. F.; NAHAS, M. V. Validação da Escala “Perfil Do Estilo De Vida Individual”. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde. Vol 13, no 1, 2008.
DUARTE, M. B.; REGO, M. A. V. Comorbidade entre depressão e doenças clínicas em um ambulatório de geriatria. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, p. 691-700, 2007.
GORLA, J.I. Educação Física Especial: testes Rolandia. Editora Midio Graf. 1° edição, 1997.
GOULART, F; SANTOS, C.C.; TEIXEIRA-SALMELA, L.F.; CARDOSO, F. Análise do desempenho funcional em pacientes portadores de doença de Parkinson. Acta Fisiátr. 11(1): 12-16, 2004.
HAN, T.S.; VAN LEER, E.M.; SEIDELL, M.E.J.; LEAN, M.E.J. Waist circumference action levels in the identification of cardiovascular risk factors: prevalence study in a random sample. Br Med J, 311:1401-5, 1995.
HOWLEY, E. T.; FRANKS, B. D. Manual do instrutor de condicionamento físico para saúde. 3. ed. Porto alegre: Artes Médicas, 2000.
KNOOP, D.; PADOVANI, M. Voz, fala e deglutição. In: LIMONGI, J. C. P. (Org.). Conhecendo melhor a doença de Parkinson. São Paulo: Plexus, 2001. p. 117-135.
PASCHOAL, S. Qualidade de Vida na Velhice. In: Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
TEIXEIRA-SALMELA, L. F.; MAGALHÃES, L.C.; SOUZA, A. C.; LIMA, M.C.; LIMA, R.C. M.; GOULART, F. Adaptação do Perfil de Saúde de Nottingham: um instrumento simples de avaliação da qualidade de vida. Cad. Saúde Pública vol.20 no.4 Rio de Janeiro July/Aug. 2004.
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