efdeportes.com

Comportamento da pressão arterial em 

uma sessão de treinamento concorrente

Comportamiento de la presión arterial en una sesión de entrenamiento concurrente

 

*Mestre em Educação Física

pela Universidade Metodista de Piracicaba, UNIMEP/SP

** Especialista em Educação Física

pela Universidade Gama Filho, UGF/RJ

(Brasil)

Rubem Machado Filho*

Leonardo Amado Sohr Cardoso**

Fábio de Albuquerque Gonçalves**

rubemfit@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo:

          Introdução. Denominam-se treinamento concorrente os programas de treinamento que combinam força e resistência aeróbica na mesma sessão de treino. Objetivo. O presente estudo teve como objetivo verificar o comportamento da pressão arterial durante e após uma sessão de treinamento concorrente. Metodologia. Foram estudados 10 indivíduos com idade de 30,8 ± 12,8 (19 a 53 anos) (4 hipertensos e 6 normotensos) de ambos os gêneros (5 homens e 5 mulheres). A análise estatística dos dados foi realizada através de software (Primer for Windows versão 4.0.0.0, McGraw-Hill, EUA) com utilização do Teste-t pareado, obtendo como nível de significância p < 0,05 para PAS e PAD. Resultados. Os resultados obtidos no estudo indicam HPE por até 60 minutos quando realizado o treinamento concorrente em questão e sugere uma redução da PA semelhante ao treinamento aeróbio, porém, com uma redução ligeiramente maior da PAD.

          Unitermos: Fisiologia cardiovascular. Pressão arterial. Treinamento concorrente.

 

Abstract

          Introduction. Are called concurrent training programs that combine strength training and aerobic endurance in the same training session. Objective. This study aimed to verify the behavior of blood pressure during and after a training session competitor. Methodology. We studied 10 subjects aged 30.8 ± 12.8 (19 to 53 years) (4 hypertensive and normotensive 6) of both genders (5 men and 5 women). The statistical analysis was performed using software (Primer for Windows, version 4.0.0.0, McGraw-Hill, USA) using paired t-test, giving the significance level of p <0.05 for SBP and DBP. Results. The results obtained in this study indicate HPE for 60 minutes when performed concurrent training in question and suggests a reduction in BP similar to aerobic training, but with a slightly greater reduction in DBP.

          Keywords: Cardiovascular physiology. Blood pressure. Concurrent training.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Denominam-se treinamento concorrente os programas de treinamento que combinam força e resistência aeróbica na mesma sessão de treino (1). Treinamento de força e resistência podem ser realizados concorrentemente para melhorar a performance em esportes, assim como para reabilitação de lesões e doenças cardiovasculares (2).

    Programas de atividade física têm demonstrado diminuir a PAS e PAD, tanto de indivíduos hipertensos como de normotensos (3). Há alguns anos, mais especificamente até a década de 1990, a recomendação do exercício para pessoas com alguma doença crônica, principalmente de ordem cardiovascular, restringia-se ao treinamento aeróbio. Porém, a condução de estudos envolvendo o exercício contra-resistência identificou adaptações crônicas que o treinamento aeróbio não contemplava (4). O exercício físico realizado regularmente provoca importantes adaptações autonômicas e hemodinâmicas que vão influenciar o sistema cardiovascular, com o objetivo de manter a homeostase celular diante do incremento das demandas metabólicas (5). Os mecanismos que norteiam a queda pressórica pós-treinamento físico estão relacionados a fatores hemodinâmicos, humorais e neurais (5).

    Diversos estudos têm demonstrado que atividades físicas de características aeróbias apresentam redução significativa dos níveis pressóricos pós-exercício, enquanto que após exercícios resistidos resultados controversos têm sido evidenciados, como a elevação, manutenção, ou ainda redução da pressão arterial pós-exercício (6). Parece claro que a magnitude e a duração da queda pressórica podem ser influenciadas por diversos fatores, como a amostra estudada (normotensos ou hipertensos), o tipo, a intensidade e a duração do exercício (7).

    Os mecanismos fisiológicos que podem mediar às respostas adaptativas do treinamento concorrente permanecem especulativos, mas parecem indicar alterações nos padrões de recrutamento neural, atenuação na hipertrofia muscular ou ambos (8). A prática de treinamento concorrente durante uma sessão de exercícios, tendo em vista as características e respostas hemodinâmicas que cada atividade possui, pode resultar em um comportamento da pressão arterial diferente dos já conhecidos.

    O presente estudo teve como objetivo verificar o comportamento da pressão arterial durante e após uma sessão de treinamento concorrente.

Metodologia

    Foram estudados 10 indivíduos com idade de 30,8 ± 12,8 (19 a 53 anos) (4 hipertensos e 6 normotensos) de ambos os gêneros (5 homens e 5 mulheres). Os indivíduos estudados eram fisicamente ativos e praticavam exercício físico aeróbio e contra-resistência pelo menos três vezes semanais há no mínimo seis meses. Foram excluídos do experimento portadores de complicações osteomioarticulares que limitassem ou impedissem a realização dos exercícios. Somente foram aceitos voluntários hipertensos que estivessem sob efeito de medicamentos farmacológicos de acordo com orientações médicas. Todos os indivíduos participaram voluntariamente do experimento e assinaram termo de consentimento.

    A aferição da pressão arterial foi feita com a utilização de aparelho de pressão (esfigmomanômetro aneróide, Premium, China) com manômetro de alta precisão com tecnologia japonesa e estetoscópio (simples, Premium, China). Os exercícios foram realizados em esteira ergométrica (9100HR, Life Fitness, EUA), leg press anilha (MG-541, Buick, Brasil), pulley 4 estações (MG-557, Buick, Brasil), banco supino reto (BA-113, Buick, Brasil) e halteres.

    A verificação da pressão arterial (PA) foi feita através do método auscultatório. Esse método utiliza um estetoscópio e um aparelho denominado esfigmomanômetro, composto por um manguito inflável de braço conectado a uma coluna de mercúrio ou a um marcador aneróide (ponteiro). A medida ocorre através da oclusão arterial pela inflação do manguito, correlacionando á ausculta dos batimentos cardíacos com o valor registrado na coluna de mercúrio ou pelo ponteiro. Os sons ouvidos durante o procedimento de medida são denominados ruídos de Korotkoff, sendo classificados em cinco fases, conforme a tabela 1 (9). A intensidade dos exercícios foi mensurada pela escala subjetiva de esforço de Borg (Figura 01) por ser de fácil aplicação e pela segurança do método para a população hipertensa que participou do estudo.

Figura 01. Tabela de esforço subjetivo de Borg

    Previamente ao inicio do estudo foi explicado seu objetivo e o procedimento adotado para determinar a intensidade dos exercícios bem como a forma correta de execução dos mesmos. A pressão arterial (PA) de repouso dos participantes foi aferida e em seguida começaram o exercício aeróbio na esteira durante 30 minutos em intensidade considerada por eles moderada de acordo com a escala de Borg. Ao término do exercício aeróbio foi permitido aos participantes descansar por 5 minutos, no final desse intervalo foi aferida a PA e em seguida iniciou-se o treinamento contra-resistência.

    Os exercícios contra-resisência consistiam de supino com halteres no banco reto, puxada pela frente no pulley com mãos em pronação e leg press inclinado. O exercício supino com halteres foi realizado com o indivíduo deitado sobre o banco horizontal, pés apoiados contra o solo, cotovelos flexionados a 90° alinhados com os ombros e mãos em pronação; desenvolver até os halteres estarem face a face; descer os halteres até o nível do peito flexionando os cotovelos. A puxada pela frente foi realizada sentada de frente ao aparelho, membros inferiores apoiados, barra segura em pronação e com afastamento das mãos maior que a largura dos ombros; puxar a barra até a incisura supra-esternal projetando os cotovelos para baixo e retornar a posição inicial. O leg press foi realizado com os pés posicionados no meio da plataforma com um afastamento médio; desbloquear a trava de segurança e flexionar o joelho e o quadril; retornar a posição inicial. Para cada exercício realizaram-se 3 séries de 10 repetições com 1 minuto de intervalo entre séries e 3 minutos de intervalo entre exercícios. Após 3 minutos do final da terceira série de cada exercício e 1 hora após o termino da sessão foi aferida a PA.

    A análise estatística dos dados foi realizada através de software (Primer for Windows versão 4.0.0.0, McGraw-Hill, EUA) com utilização do Teste-t pareado, obtendo como nível de significância p < 0,05 para PAS e PAD.

Resultados

    Foi observada HPE de PAS (p < 0,05) e PAD (p < 0,05) na sessão de treinamento concorrente em todos os intervalos de recuperação quando comparados aos valores de repouso pré-exercício. A PAS inicial (118,2) e final (107,2) média apresentou desvio padrão 11,09 e 13,44 respectivamente, enquanto que, a PAD inicial (73) e final (66,4) média apresentou os valores 12,01 e 9,65 de desvio padrão. Os gráficos das figuras 2 e 3 mostram o comportamento da PAS e PAD média nos intervalos de recuperação pós-exercício.

Figura 02. Variação média da Pressão Arterial sistólica em indivíduos durante uma sessão de treinamento concorrente

 

Figura 03. Variação média da Pressão Arterial diastólica em indivíduos durante uma sessão de treinamento concorrente

Discussão

    Este estudo verificou o comportamento da pressão arterial (PA) durante e após uma sessão de treinamento concorrente composta por exercício aeróbio e contra-resistência. Observou-se hipotensão pós-exercício (HPE) em todos os indivíduos, quando comparados os valores de repouso com os valores após cada exercício e 60 minutos após o término da sessão de treinamento. Houve queda de até 18mmHg da pressão arterial sistólica (PAS) e 14mmHg da pressão arterial diastólica (PAD), contudo, a PAD apresentou um padrão decrescente dos valores enquanto que a PAS teve oscilações ao longo da sessão de treinamento.

    Os diversos estudos que abordam a relação da PA com o exercício físico têm se concentrado, principalmente, no exercício do tipo aeróbio dinâmico, ou seja, exercícios de natureza contínua que demandam um período de tempo prolongado e envolvem na sua execução grandes grupos musculares (7). O exercício contra-resistência, ou resistido, consiste num trabalho muscular local, que utiliza sobrecargas como peso de máquinas, barras, anilhas. É realizado com cargas moderadas e repetições freqüentes, apresentando pausas entre as execuções, e, portanto, caracterizado como esforço descontínuo.

    A mensuração dos níveis pressóricos após uma única sessão de exercício resistido demonstra ocorrência da hipotensão pós-exercício em indivíduos normais e hipertensos, contudo, há controvérsias quanto à intensidade de esforço necessária para indução desse efeito (10). Em relação ao exercício de natureza aeróbia, alguns estudos indicam que a intensidade da atividade não influência a magnitude do efeito hipotensivo (4).

    A literatura não é consensual sobre os efeitos do tamanho do grupo muscular envolvido no exercício e sua influência nas respostas cardiovasculares agudas ao exercício resistido (11). Os valores de PA nos momentos subseqüentes ao exercício parecem declinar de forma rápida, pelo mecanismo barorreflexo, pela hiperemia decorrente da contração muscular e pela supressão da atividade simpática (12).

    Os resultados obtidos no estudo indicam HPE por até 60 minutos quando realizado o treinamento concorrente em questão e sugere uma redução da PA semelhante ao treinamento aeróbio, porém, com uma redução ligeiramente maior da PAD.

    O presente estudo torna-se relevante pela escassez de informações sobre o assunto e pela sua importância no tratamento da hipertensão arterial. Salientando que é comum a prática de treinamento concorrente, principalmente entre os idosos e participantes de programas de reabilitação funcional e cardíaca.

Conclusão

    Pode-se concluir que o treinamento concorrente de exercícios aeróbio e contra-resistência em intensidade moderada provoca HPE por até 60 minutos, entretanto, verificaram-se reduções mais acentuadas dos níveis da PAS quando comparado com os níveis de PAD.

Referências bibliográficas

  1. GOMES, R. V.; AOKI, M. S. Suplementação de creatina anula o efeito adverso do exercício de endurance sobre o subseqüente desempenho de força. Rev Bras Med Esporte, v. 11, n. 2, p. 131-134, 2005.

  2. CHTARA, M. et al. Effects of Intra-Session Concurrent Endurance and Strength Training Sequence on Aerobic Performance and Capacity. Br Sports Med, n. 39, p.555-560, 2005.

  3. CIOLAC, E. G.; GUIMARÃES, G. V. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Med Esporte, v. 10, nº 4, Jul/Ago, 2004.

  4. POLITO, M. D.; FARINATTI, P. T. V. Comportamento da pressão arterial após exercícios contra-resistência: uma revisão sistemática sobre variáveis determinantes e possíveis mecanismos. Rev Bras Med Esporte, v. 12, nº 6, Nov/Dez, 2006.

  5. MONTEIRO, M. F.; FILHO, D. C. S. Exercício físico e o controle da pressão arterial. Rev Bras Med Esporte, v. 10, nº 6, Nov/Dez, 2004.

  6. CUNHA, G. A; RIOS, A. C. S.; MORENO, JR. B.; CAMPBELL, C. S. G, SIMÕES, H. G.; DENADAI, M. L. D. R. Hipotensão pós-exercício em hipertensos submetidos ao exercício aeróbio de intensidades variadas e exercício de intensidade constante. Rev Bras Med Esporte, v. 12, nº 6, Nov/Dez, 2006.

  7. BERMUDES, A. M. L. M.; VASSALLO, D. V.; VASQUEZ, E. C.; LIMA, E. G. Monitorização ambulatorial da pressão arterial em indivíduos normotensos submetidos a duas sessões únicas de exercícios: Resistido e Aeróbio. Arq Bras Cardiol, v. 81, p. 57-64, 2003.

  8. FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J.; Fundamentos do treinamento de força muscular. Tradução Jerri L. Ribeiro. 3ed. - Porto Alegre: Artmed, 2006.

  9. POLITO, M. D.; FARINATTI, P. T. V. Considerações sobre a medida da pressão arterial em exercícios contra-resistência. Rev Bras Med Esporte, v. 9, nº 1, Jan/Fev, 2003.

  10. UMPIERRE, D.; STEIN, R. Efeitos hemodinâmicos e vasculares do treinamento resistido: implicações na doença cardiovascular. Arq Bras Cardiol, v. 89, n. 4, p. 256-262, 2007.

  11. D'ASSUNÇÃO, W.; DALTRO, M.; SIMÃO, R.; POLITO, M.; MONTEIRO, W. Respostas cardiovasculares agudas no treinamento de força conduzido em exercícios para grandes e pequenos grupamentos musculares. Rev Bras Med Esporte, v. 13, nº 2, Mar /Abr, 2007.

  12. MEDIANO, M. F. F.; PARAVIDINO, V.; SIMÃO, R.; PONTES, F. L.; POLITO M. D. Comportamento subagudo da pressão arterial após o treinamento de força em hipertensos controlados. Rev Bras Med Esporte, v.11, nº 6,Nov/Dez, 2005.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 163 | Buenos Aires, Diciembre de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados