Perfil sócio-econômico dos ciclistas de mountain bike da cidade de Brasília, DF Perfil socioeconómico de ciclistas de mountain bike de la ciudad de Brasilia, DF |
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*Doutor em Sociologia pela Universidade Católica de Brasília **Doutor em Biologia Funcional e Molecular pela Universidade Estadual de Campinas ***Mestrando em Atividade Física e Saúde pela Universidade Católica de Brasília (Brasil) |
Luis Otavio Teles Assumpção* Francisco José Andriotti Prada** Marco Antonio Caetano Júnior*** |
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Resumo O Mountain Bike cada vez mais acumula adeptos, sendo hoje disseminado em quase todas as regiões do mundo. Brasília e arredores tem se revelado um berço para sua prática. Ali se encontram condições geográficas bastante favoráveis para sua prática: são inúmeras trilhas, com alta, media e baixa dificuldade, atraindo uma enorme variedade de ciclistas. O estudo teve como objetivo identificar o perfil sócio-econômico dos praticantes desta modalidade, procurando conhecer um pouco mais sobre objetivos, motivações, expectativas de um grupo regular de participantes, o que pode contribuir para a melhor gestão, organização e desenvolvimento dessa modalidade esportiva. Unitermos: Mountain bike. Ciclistas. Perfil sócio-econômico.
Abstract The Mountain Bike accumulates more and more fans, and is now widespread in almost all regions of the world. Brasilia and surroundings, has been a cradle for your practice. There are very favorable geographical conditions for their practice: they are numerous hiking trails, with high, medium and low difficulty attracting a wide variety of cyclists. The study aimed to identify the socio-economic profile of the practitioners of this sport, getting to know a little more about goals, motivations, and expectations of a regular group of participants, which may contribute to better management, organization and development of this sport. Keywords: Mountain bike. Cyclists. Socio-economic profile.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Nos Estados Unidos da América, desde as décadas de 40 e 50, tem havido experiências de se utilizar bicicletas em trilhas, as quais ganharam maior número de adeptos no final dos anos 70, quando grupos de jovens ciclistas começaram a descobrir e freqüentar massivamente novos caminhos nas montanhas da Califórnia. Tratavam-se, basicamente, de bikers de estrada as quais inauguravam um novo estilo no ciclismo, apresentando-se como uma verdadeira alternativa às "bicicletas do asfalto”. Trilhas e estradas de terra conquistavam, cada vez mais, boa parte de jovens, ávidos por novas emoções e desafios.
À medida que aumentava o número de participantes das mountain bike e a modalidade ganhava visibilidade e interesses começaram a ser organizadas competições, provas, torneios e campeonatos, primeiramente locais e, com o tempo, regionais, nacionais e, hoje, até internacionais. Uma das pioneiras e mais importantes competições que se tem registro foi o Repack Downhill, realizado aos finais de semana em Mount Tamalpais, na Califórnia.
O crescimento desse esporte levou a demandas crescentes. Novas trilhas, mais desafiadoras e exigentes, especialmente em regiões montanhosas e acidentadas, foram descobertas e exploradas. As antigas “bikers de estrada” revelavam-se insuficientes e pouco adaptadas a estas novas exigências. Novos materiais e tecnologias, capazes de responder a essa crescente demanda, foram então concebidos e projetados. Significativas mudanças e alterações técnicas ocorreram: passou-se, por exemplo, a se utilizar quadros de bicicletas cruisers (especialmente da tradicional marca Schwinn), acrescidas de câmbio, pneus e freios apropriados para estes novos graus de dificuldade. Surgiam-se, assim, as formas básicas e pioneiras das atuais mountain bikes.
Tom Ritchey e Gary Fisher (americanos, ex-atletas de ciclismo e fabricantes das primeiras mountain bikes) foram dois importantes nomes a darem os primeiros passos para a produção e comercialização dessas novas bicicletas. Ritchey foi talvez quem mais contribuiu para o desenvolvimento de novos quadros e materiais. Construía e desenvolvia-os de forma quase artesanal (ele é o responsável pelo atual design dos quadros tipo “diamante”, proveniente das bikes speed). Ao lado de Fischer, adaptou e desenvolveu vários outros importantes componentes, como o câmbio, o canote, a mesa, o pedal, o freio, a manopla, o guidão.
Outro importante momento a destacar na consolidação desta modalidade esportiva foi o surgimento de empresas especializadas na fabricação deste tipo de bicicletas, especialmente no Japão, tendo alcançado enorme sucesso mundial de vendas.
Atualmente, o mountain bike tem crescido e se desenvolvido em vários países do mundo. Várias competições regulares são realizadas em âmbito nacional e internacional, o que muito tem contribuído para sua disseminação e para o desenvolvimento científico e tecnológico da área. Vale destacar um importante momento de sua consolidação esportivo-social quando, em 1996, o mountain bike tornou-se esporte olímpico, estreando nos Jogos Olímpicos de Atlanta.
Mountain Bike no Brasil
No Brasil esta modalidade esportiva surgiu em meados dos anos 80. Um dos mais importantes impulsos para o desenvolvimento do Mountain Bike no país se deu a partir do momento em que empresas do setor de bicicletas identificaram o enorme potencial deste esporte, especialmente em um mercado dominado pelas bicicletas cruisers e cross. Nesta época surgiram os primeiros campeonatos e disputas pelo país.
No início dos anos 90, com a abertura do mercado brasileiro aos produtos estrangeiros, a concorrência internacional fez com que muitas empresas nacionais passassem a investir fortemente em novas tecnologias e novos processos industriais. O alumínio tornou-se o material mais explorado, tanto para a confecção de quadros, como de peças e acessórios.
O mountain bike se consolida cada vez mais no país e no mundo. Este estudo pretende realizar um estudo sócio-economico, de caráter exploratório, sobre o tema, procurando identificar o perfil de seus participantes e, assim, melhor conhecer os múltiplos fatores estruturantes da atividade e do consumo desta modalidade esportiva bem como os projetos, motivos, estratégias, expectativas e objetivos que orientam as ações destes ciclistas.
Metodologia
Foram investigados 91 ciclistas praticantes do mountain bike, tanto homens como mulheres, com idades variando entre 12 e 48 anos, no ano de 2008. A coleta de dados se deu com o apoio da vários grupos e bicicletarias do ramo (foram avaliados 12 ciclistas com o apoio da empresa JC BIKES/CEILÂNDIA/DF, 13 com o apoio da bicicletaria CICLOSTRILHAS/ÁGUAS CLARAS, 25 do grupo de ciclismo “pedal noturno” e 41 ciclistas participantes da competição “29 horas de pedal”).
O instrumento utilizado para a realização do estudo foi um questionário exploratório, abrangendo 17 questões referentes ao perfil sócio-econômico dos participantes, às modalidades esportivas vivenciadas, ao período de prática, ao tipo e metodologia de treinamento, à bicicleta utilizada, ao patrocínio, à suplementação alimentar e à avaliação física e/ou médica realizada.
Resultados e discussão
Em relação à faixa etária, o mountain bike se revelou um esporte praticado majoritariamente por pessoas mais jovens e de meia idade. O número de pessoas da terceira idade foi de baixa significância, provavelmente por tratar-se de uma atividade de endurance, com longa duração, quase sempre acima de 3 horas. Com efeito, dos 91 ciclistas entrevistados, 44% encontra-se na faixa entre 26 e 35 anos, 30% entre 36 e 45 anos, 17% entre 15 e 25 anos, 7% entre 46 e 55 e apenas 2% acima de 56 anos (figura 1).
Figura 1. Em relação à faixa etária
Em se tratando do sexo dos participantes, 64% dos ciclistas estudados são homens e 36% mulheres (figura 2). Não se sabe, de maneira conclusiva, a explicação da maior participação do grupo masculino, sendo este um interessante tema em aberto para futuras investigações.
Figura 2. Em relação ao sexo dos participantes
Em relação à escolaridade, a maior parte dos entrevistados revelou possuir maior grau de estudo: 60% concluíram o 3º grau, 19% possui o 2º grau e 21% possui o primeiro grau (figura 3). Esta situação parece ser confirmada com observações corriqueiras identificadas em países europeus e norte americanos.
Figura 3. Em relação à escolaridade
O Mountain Bike não se revela uma modalidade esportiva praticada por pessoas oriundas dos estratos sociais mais baixos. A grande maioria dos participantes (49%) possui renda acima de 5 salários mínimos. Entre 3 e 4 salários mínimos estão 18%, enquanto 10% ganha entre 2 e 3 salários e apenas 23% entre 1 e 2 salários (figura 4). Parece tratar-se de um esporte de classe média, provavelmente classe média baixa e poucos em estratos superiores.
Com efeito, a mountain bike parece constituir um esporte relativamente dispendioso no mundo contemporâneo especialmente em função dos gastos com a aquisição da bicicleta e com a manutenção de quadros e acessórios. No mercado brasileiro, por exemplo, as mountain bikes destinadas às competições e ao lazer tem seus preços variando entre R$ 1.000,00 e R$ 20.000,00.
Figura 4. Em relação à condição sócio econômica
A figura 5 complementa a informação acima ao revelar um importante dado distintivo entre os praticantes de mountain bike: a maioria das bicicletas utilizadas pelos entrevistados são importadas (52%), tanto dos Estados Unidos (marcas Specialized, Cannondale, Santa Cruz) como do Reino Unido (marca Orbea), 15% são montadas com peças importadas (casos da marca japonesa Shimano e da européia Sram) e apenas 23% são nacionais (marcas Caloi, Monark, Sundown) e 10% são montadas com peças nacionais.
Este alto percentual de bicicletas importadas, as quais envolvem tecnologia mais resistente e de maior leveza, oneram custos de aquisição e taxas de importação, o que confirma seus preços mais elevados e socialmente excludentes.
Figura 5. Em relação ao modelo da bicicleta
O mountain bike é uma modalidade esportiva relativamente recente. Com efeito, a pesquisa identificou apenas 13% praticando-o há mais de 5 anos, enquanto 38% o pratica entre 3 a 5 anos, 30% entre 1 e 2 anos e 19% o pratica há menos de 1 ano (figura 6).
Figura 6. Em relação ao tempo de pratica do MTB
A figura 7 mostra que entre os praticantes entrevistados há uma certa regularidade na prática: 12% treina todos os dias, 52% de 3 a 5 vezes por semana, 26% duas vezes por semana e apenas 10% treina somente uma vez por semana. Os dados nos revelam que os ciclistas estudados não fazem uso da bicicleta apenas em momentos ocasionais, ao contrário, percebe-se um certo hábito interiorizado da prática entre eles, o que pode ser demonstrado pelo caráter duradouro, permanente e contínuo desta atividade pela maior parte dos participantes. Provavelmente esta regularidade nos permite afirmar que não necessitam de controles, reforços e estímulos de terceiros, o que mais uma vez confirma o hábito já assimilado.
Figura 7. Freqüência do treino
Em relação à participação de um educador físico, 56% dos entrevistados revelou nunca ter tido qualquer orientação, o que sugere uma lacuna de informações importantes que o educador físico poderia repassar aos ciclistas entrevistados.
Figura 8. Em relação à orientação de um profissional de Educação Física
Entretanto, a despeito dessa baixa participação de profissionais de Educação Física na orientação dos ciclistas, a figura 9 revela que um percentual significativo - 86% dos entrevistados – a considera importante. Efetivamente, este profissional pode vir a exercer um importante dimensionamento na execução segura do esporte, especialmente em relação à prescrição correta de treinamentos, à indicação de exames médicos, à nutrição adequada, ao uso de suplementos, às decisões quanto ao material e equipamentos a serem utilizados, etc.
Figura 9. Em relação à importância do profissional de Educação Física
Em relação ao uso de suplementos, observou-se que 51% dos entrevistados usa algum tipo deles (figura 10). Este dado revela uma certa importância da sua demanda, especialmente por se tratar de um esporte de longa duração quando, após longas horas de desgaste físico várias substâncias são depletadas tais como sódio, potássio, glicogênio muscular e hepático.
Figura 10. Em relação ao uso de algum suplemento
Em relação tipo de patrocínio (figura 11) quase a unanimidade dos ciclistas entrevistados (91%) não o possui. O dado sugere que a grande maioria o pratica por lazer, saúde ou entretenimento, sem a preocupação com resultados ou preparo para competições. Ou, no caso de alguns virem a possuir esse objetivo o dado mostra haver uma certa carência nas formas de organização, preparação e treinamento.
Figura 11. Em relação ao patrocínio
A figura 12 mostra que a grande maioria dos pesquisados não se restringe à prática do ciclismo: com efeito 67% pratica outra modalidade esportiva, sendo que apenas 33% restringe-se unicamente a ela.
Figura 12. Em relação à prática de outra modalidade esportiva
Conclusão
Estudos como esse, que se interessa em melhor conhecer e dimensionar o perfil socioeconômico de participantes de alguma modalidade esportiva pode vir a ser bastante úteis e esclarecedores. Com efeito, por intermédio deles pode-se estruturar com maior eficiência os bens e serviços melhor adaptados a um determinado publico e clientela, pode-se antecipar a natureza das filiações e/ou mesmo prever as possíveis evasões, pode-se melhor organizar a estrutura do marketing, pode-se compreender e dimensionar diferentes padrões de consumo (publicações, hábitos alimentares, transporte, turismo, etc.), e pode-se melhor repartir e distribuir os equipamentos apropriados sobre o determinado espaço. Ou seja, trabalhos e estudos dessa natureza podem vir a contribuir sobremaneira para a organização, gestão e desenvolvimento das mais diferentes modalidades esportivas.
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