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Educação Física escolar no Ensino Médio: 

orientação por uma educação pela saúde

Physical Education in Secondary Schools: guidance for education by health

La Educación Física escolar en la Escuela Media: orientación para una educación para la salud

 

*Doutor em Biologia Funcional e Molecular, Departamento de Bioquímica

Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

**Professor licenciado em Educação Física, pelas Faculdades

Integradas Metropolitanas de Campinas

Joaquim Maria Ferreira Antunes Neto*

Rodrigo Castelo Branco de Andrade**

joaquim_netho@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Para entendermos o objetivo deste estudo, temos que, antes de tudo, conceituarmos qualidade de vida, e colocar a nossa visão sobre a mesma, já que esta possui diferentes conceitos. Sabemos, no entanto, que este conceito engloba vários aspectos como social, afetivo, econômico, entre outros, por se tratar de Vida, porém o foco será sobre o aspecto Saúde e tentaremos relacioná-lo no interior da educação formal. Dentro do âmbito escolar, sabemos que é na etapa do ensino médio da escolarização que ocorre o aprofundamento de idéias e a reflexão mais completa sobre a ação. É preciso formar o cidadão para que este saia da educação básica com todos os conhecimentos mínimos para ser autônomo em suas decisões e ações. No que diz respeito ao seu corpo não é diferente, e é através da Educação Física que devemos tratar conceitos relevantes sobre saúde e atividade física e correlacioná-los a fim de gerar conhecimento adequado para o aluno que sairá da escola e encontrará informações vindas de todo lugar e de todos os tipos, cabendo a ele tomar decisões corretas sobre seu próprio corpo. Através de um questionário que constava de questões abertas e direcionadas e análise do índice de massa corporal (do aluno e familiares), analisamos questões sobre saúde e atividade física, vendo como foi tratado e como gostariam de ser tratados tais temas durante as aulas de Educação Física. Alunos de uma escola particular do ensino médio (alunos n=20; alunas n=15) participaram do estudo. Por meio de tratamento estatístico (teste ANOVA e pós-teste de Tukey), indicamos como valor de significância p<0.05. Os resultados mostraram que a temática foi mal direcionada, e que questões sobre obesidade, sedentarismo precoce e doenças crônico-degenerativas não transmissíveis poderiam e devem ser tratadas com mais enfoque, visto os resultados e relacionando os mesmos com revisões bibliográficas pertinentes ao estudo.

          Unitermos: Educação Física escolar. Qualidade de vida. Sedentarismo. Síndrome metabólica.

 

Abstract

          To understand the object of this study, we have before to appraise and define quality of life, and put our vision about it, because it has a lot of differents versions of definitions. However, we know that concept contains some aspects like social, affective, economical, because we are treating with Life, but the focus will be about Health, and we will try relating it inside of formal education, using the Physical Education as an instrument. Inside the schools we know that is in this part of education (high school) that happens the deepening of ideas and a bigger reflection about the actions. It needs to form the citizen so that he could leave the basic education with all minimums knowledge’s to take his decisions and actions by himself. About his body it´s not different, and is by Physical Education that we should treat relevants concepts about health and physical activities and relate them in order to promote adjusted knowledge, so this way the student will leave school and he will find all kind of informations coming from everywhere having to take the correct decision about his body. Through a questionnaire that consisted in an open and directed questions and an index of corporal mass analyses (from students and their parents), we analyzed questions about physical activities and heath seeing how this subject has been treating and how they wish that this subject would be treat inside the physical education classes. Were volunteers a private school’s students (boys = 20 and girls = 15). By statistics treatment (ANOVA’s test and Tukey’s post test) we indicate as a significance value p<0,05. The results showed that the subject was badly directed, and questions about obesity, precocious sedentarysm and chronic-degenerative diseases not transmissible could and should be treat with more focus seeing the results and relating them with pertinent bibliographical revision.

          Unitermos: School Physical Education. Quality of life. Sedentary. Metabolic syndrom.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Definir o sentido de algumas palavras-chaves dará subsídios ao leitor para compreender a finalidade deste trabalho, que pretende ter sua relevância no âmbito escolar, uma vez que analisaremos informações referentes à temática atividade física, saúde e qualidade de vida.

    Muito se comenta a respeito do conceito de qualidade de vida, mas pouco se concretiza como verdade. A difícil conceituação existe devido aos dois tipos de necessidades que o ser humano encontra para alcançar índices satisfatórios de qualidade de vida: necessidades concretas, que se baseiam em indicadores concretos como alimentação e moradia; e necessidades abstratas, que se baseiam em coletas vindas diretamente do indivíduo sobre a população em estudo, obviamente que analisada de forma individual não apresentará índices satisfatórios sobre tal população (Forattini, 1991).

    A resposta para essa amplitude de conceitos incertos está no conflito entre o nível e a qualidade de vida. Muitos consideram o TER, a posse como sendo estritamente importante para o alcance de marcas na escala sócio-econômica da vida moderna. Isso somente caracteriza o nível em que tal pessoa está inserida, mas será que a mesma USUFRUI de todas essas posses?

    Um conceito pertinente de qualidade de vida é aquele que traduz o quanto uma pessoa efetivamente usufrui de todas suas posses, não só materiais, mas também naturais e espirituais. Dentro dos dotes naturais, podemos citar o intelectual e as capacidades físicas inatas. Para o desenvolvimento de tais capacidades, temos que gerar qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulte em gasto energético maior do que os níveis de repouso, denominado atividade física, segundo Caspersen (1985). Outro conceito pertinente é aquele que revela a soma de fatores entre a sociedade e ambiente, atuando diretamente na vida de acordo com suas necessidades biológicas e psíquicas. Qualidade de vida é a satisfação nos âmbitos físicos, psicológicos, sociais, de atuação, materiais e estruturais (Caspersen, 1985).

    Juntamente com a difícil conceituação de qualidade de vida vem a mensuração da mesma. Esta é muito subjetiva, necessitando aplicar questionários individuais de determinada comunidade/população. Consiste, portanto, acima de tudo, na verdade e na experiência pessoal sobre a temática aplicada. Apresentamos os fatores determinantes para tal questionamento: orgânicos, que englobariam perguntas sobre a saúde e estado funcional; sociais e suas questões sobre relacionamento, sexualidade e privacidade; psicológicos, onde a auto-estima, identidade e aprendizado, seriam indagados; comportamentais seriam perguntas sobre o hábito, vida profissional e lazer; materiais e questões sobre economia privada, renda e habitação e estruturais, onde a posição social e significação da própria vida seriam subsídios para responder tal indagação. (Forattini, 1991).

    Sob o ponto de vista da saúde, há duas maneiras de encarar a qualidade de vida. Uma visão individual e coletiva. A primeira, ao serem afetados pelo agravo, sofrem conseqüente decréscimo da sua capacidade funcional. A segunda refere-se ao resultado da presença e atuação de determinantes da doença e comprometimentos da saúde tanto de natureza física, como biológica e social. (Forattini, 1991).

    Minayo e colaboradores (2000) promovem como qualidade de vida boa ou excelente aquela que ofereça um mínimo de condições para que os indivíduos nela inseridos possam desenvolver o máximo de suas potencialidades, sejam estas: viver, sentir ou amar, trabalhar, produzindo bens e serviços, fazendo ciência ou artes. Com outra visão, Martim e Stockler (1998) relevam a qualidade de vida como a distância entre a expectativa individual e a realidade, onde quanto menor a distância melhor a qualidade de vida. A maioria das abordagens exploratórias para aferição da qualidade de vida de populações específicas tende a refletir a natureza subjetiva dos aspectos avaliados considerando os contextos culturais, sociais e ambientais onde estão inseridos os indivíduos.

    Os instrumentos mais relacionados à análise de condições gerais de qualidade de vida enfatizam questões sobre domínios físicos (dor, fadiga, capacidades e limitações), psicológicos (percepção do estado de saúde, depressão, auto-estima, ansiedade e imagem corporal), relações sociais (apoio familiar e social, limitações impostas pela sociedade e as relações interpessoais), nível de independência (mobilidade, atividades cotidianas, capacidade para o trabalho) e noções sobre o bem-estar (corporal, emocional, saúde mental, vitalidade) (WHOQOL, 1995).

    Além destes conceitos e opiniões sobre qualidade de vida, existem outros, porém por se tratar de uma noção polissêmica se faz necessário uma análise multidisciplinar do assunto.

    A Organização Mundial da Saúde (The WHOQOL Group, 1995) conceitua a qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (p. 142).

    Entrando mais a fundo na questão da saúde, a fisiologia do exercício nos mostra inúmeros estudos sustentando a tese de que existe uma relação entre a prática de atividade física e uma conduta saudável. Saúde é definida, segundo Bouchard (1990), como condição humana com dimensões física, social e psicológica, cada uma caracterizada por um continuum com pólos positivos e negativos. A saúde positiva estaria associada à capacidade de apreciar a vida e resistir aos desafios do cotidiano e a saúde negativa associar-se-ia à morbidade e, no extremo, à mortalidade.

    Porém, sabemos como a visão humanista é enfatizada na disciplina Educação Física. Não cabe criticar tal visão e sim alertar para outras concepções tão importantes quanto o lado humanista. Acreditamos que o dilema histórico entre os conteúdos ditos “biologizantes” e “acríticos” e aqueles de valorização de uma “cultura corporal” já esteja superado. A proposta eficaz dos conteúdos da Educação Física será a que valorizar o ser humano em sua totalidade, não podendo, assim, a temática atividade física, saúde e qualidade de vida ser excluída desta nova tendência.

    Conhecer as competências da Educação Física no Ensino Médio, tomando como base os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (1997), permite-nos afirmar que o lado biológico, que trata da saúde, da orientação sexual e do conhecimento sobre o corpo (temas transversais e eixo temático dos PCN), é pautado como competência de desenvolvimento nas aulas de Educação Física. Esse bloco dá ao aluno informações básicas sobre o próprio corpo, sua estrutura física e a interação com o meio social em que vive.

    Para desenvolver os temas e obrigações dos PCN é necessário compreender o significado de cultura corporal, e o que este novo (15 anos, aproximadamente!) conceito acarreta em nossa sociedade. São práticas corporais que se apresentam na forma de jogos, lutas, brincadeiras, ginásticas e expressões alternativas, a fim de formar o cidadão que vai produzir, reproduzir e também transformar essa cultura em benefício do exercício crítico e da melhoria da qualidade de vida.

    Portanto, saúde e qualidade de vida são temas, na teoria, bem preconizados de acordo com os PCN e LDBEN. Mas qual o motivo de um assunto de suma importância não ter a ênfase necessária dentro das escolas de Ensino Médio?

Justificativa

    Segundo as fontes do Instituto Nacional de Educação e Pesquisa – INEP (2003), 9,1 milhões de estudantes estão no ensino médio, onde mais de 47%, aproximadamente, encontram-se no período noturno. Porém o abandono foi de 1,1 milhão de alunos neste nível de ensino.

    De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, 1996), a Educação Física, “[...] integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. (Art. 26, § 3).

    Isso permite concluir que, cerca de 47% dos alunos do Ensino Médio estão excluídos do processo ensino-aprendizagem da disciplina Educação Física, visto que somente em algumas escolas a disciplina é implementada no período noturno. Outro fato importante de ser ressaltado é que em muitas escolas particulares, a disciplina Educação Física praticamente foi “terceirizada” junto a academias de ginástica, local onde o aluno é mero executador de exercícios, sem a possibilidade de se gerar uma atividade de ensino crítica e relevante para a formação do mesmo. Cabem, portanto, quaisquer iniciativas de promoção e aquisição de conhecimento que permita ao aluno atuar de forma eficaz, com uma leitura crítica em busca do desenvolvimento da autonomia intelectual, sobre a manutenção da saúde, aquisição de um vocabulário motor adequado e a gerência de seus momentos de lazer.

    Sabemos que é nesta etapa da escolarização que, segundo Davydov (1982), Libâneo (1990) e Leontiev (1991), ocorre o aprofundamento da sistematização do conhecimento, onde existe a reflexão sobre o objeto. O objeto em questão, a ser estudado, é a qualidade de vida através da prática, dos conceitos e conhecimentos advindos da atividade física com o foco na saúde dentro das escolas de Ensino Médio.

    Uma das competências a serem alcançadas, a partir das aulas de Educação Física, refere-se à capacidade do aluno de situar-se como protagonista dos processos de produção e recepção de textos construídos em linguagem corporal. (PCN, p. 145). A faixa etária em questão, sendo formadora de opinião, é influenciada por diversos tipos de informações como revistas, jornais, televisão, Internet, enfim toda mídia que busca instigar o consumidor para sua compra.

    No âmbito da cultura corporal, não ocorre diferente. O esporte e atividade física estão presentes em quase todos os canais de rede aberta, revistas com matérias sobre o corpo, de forma que conselhos e orientações fazem milhares de seguidores. Não queremos dizer que a divulgação do esporte e da atividade física seja ruim, mas alguns destaques como atletas que fazem uso de anabolizantes, culto excessivo ao corpo, materiais e equipamentos esportivos cada vez mais caros, mostram que tal divulgação pode ser prejudicial caso o consumidor não tenha uma postura crítica sobre tais assuntos.

    A mídia tecnológica, portanto, traz “bons” e “maus” frutos para a sociedade. Porém é cada vez maior a permanência dos adolescentes dentro de casa assistindo televisão, jogando videogames e navegando pela Internet, o que pode ser o ponto de partida para gerar doenças crônico-degenerativas devido ao sedentarismo (obesidade, hipertensão arterial, arteriosclerose, distúrbios no sistema imunológico, alterações graves posturais, por exemplo), bem como tornar o indivíduo susceptível a doenças psicossomáticas (ansiedade, frustração e até depressão, prejudicando relações inter-pessoais).

    Sabemos que o desinteresse, juntamente com problemas sociais como a violência, por exemplo, têm contribuído cada vez mais para que a criança e o adolescente permaneçam mais tempo em frente ao computador, televisão e videogames. Outro fator importante, como vimos, é o desinteresse dos alunos pela disciplina. A Educação Física tem “fabricado” espectadores e não praticantes, como enfatizam Corbin e Foz (1988), Johnson (1988), Fox (1990) e Guedes e Guedes (1994) apud Mattos (1994).

    De acordo com Mattos (1994, p. 156):

    “o jovem dança, joga, luta e tem curiosidade pelos assuntos relacionados ao próprio corpo, veiculados pelos meios de comunicação. Parece, no entanto, não ter encontrado no componente curricular Educação Física um eficiente atendimento a essa expectativa”.

    Não cabe ao estudo solucionar o sistema de ensino-aprendizagem nas escolas, todavia para desenvolver o tema proposto, necessitamos explicitar a verdadeira realidade no interior das escolas de Ensino Médio, para que possamos, no final, levantar propostas efetivas de ação no âmbito da qualidade de vida, saúde e atividade física na escola.

    Mattos (1994) concluiu que o professor de Educação Física adquire considerável bagagem de conhecimento durante a sua formação acadêmica e que o empobrecimento do seu trabalho nas escolas leva-o ao não resgate do que aprendeu, ao esquecimento. Devide (1999) constatou que os alunos encaram a Educação Física como uma disciplina sem relevância para manter-se dentro do currículo escolar, com conteúdos repetitivos e sem aplicabilidade no cotidiano, além de não motivar a prática permanente de exercícios fora da escola.

    Com duas declarações como estas, onde o profissional de Educação Física tem limitações para aplicar o que se aprende na graduação, e os alunos desmotivados e considerando a Educação Física como assunto sem importância, – muito talvez pelo fato desta limitação – como salientá-los de que a manutenção da saúde e a prevenção de algumas doenças crônico-degenerativas, por exemplo, pode começar a ser feita, por si só, a partir do ensino médio?

    Desta forma, nosso estudo justifica-se em sistematizar ferramentas que possam trazer informações relativas às condições de conhecimento que os alunos possuem sobre a temática atividade física, saúde e qualidade de vida. Após esse primeiro momento de compreensão da realidade da Escola, buscaremos realizar análises para aquisição de dados sobre os níveis individuais de saúde e aptidão física destes alunos, para que possamos aferir relações com enfoque à saúde. O levantamento de todos esses dados permitirá gerar uma ampla discussão sobre conhecimento apreendido, conhecimento utilizado e o reflexo da tomada (ou não) de consciência sobre a importância da manutenção de um bem estar físico pautado nas questões da qualidade de vida.

Materiais e métodos

Abordagem e tipo da pesquisa

    Para fornecermos fundamentação teórica à discussão da monografia “Educação Física Escolar do Ensino Médio: Orientação por uma Educação pela Saúde” realizamos, num primeiro momento, uma pesquisa do tipo bibliográfica, pois esta nos dará oportunidade de adquirir amplas informações qualitativas relativas às diferentes temáticas da pesquisa. De acordo com Marconi e Lakatos (1986, p. 57-58), a pesquisa bibliográfica tem como finalidade “colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto”.

    Após o contato com a literatura específica do estudo de nossa temática, desenvolvemos uma pesquisa de campo, de característica transversal e quantitativa, porém os dados levantados foram tratados numa perspectiva qualitativa, nos quais buscaremos extrair o maior número de informações sobre o binômio saúde e atividade física.

Sujeitos

    Participaram do estudo 35 alunos (15 alunas e 20 alunos) em fase do Ensino Médio de uma Escola particular de Campinas. As alunas tinham idade média de 16,2 ± 0,86 anos enquanto aos alunos 16,65 ± 0,87 anos. Os alunos receberam um documento com explicações sobre a importância da pesquisa e todos trouxeram autorização do responsável para participação da mesma (anexos).

Análise do Índice de Massa Corporal e do Fator de Risco Corbin

    Para a análise do Índice de Massa Corporal (IMC), medimos o peso e altura dos alunos em uma Balança Mecânica de Plataforma Welmy 104A. O cálculo do IMC é predito pela equação: IMC = peso/altura2. Também analisamos o IMC do pai e mãe dos alunos, os quais enviaram tais dados por meio de uma questão específica de nosso questionário. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, há 5 categorias e índices de classificação do IMC: abaixo do peso: <18,5; peso normal: 18,5 – 25,9; sobrepeso: 25 – 29,9; obesidade grau I: 30 – 34,9; obesidade grau II: 35 – 39,9; obesidade grau III: acima de 40.

    A avaliação do desenvolvimento físico pode ser representada como um modelo multidimensional, ou seja, possui vários componentes. Neste sentido, Corbin (1991) sugere um modelo hierárquico multidimensional do desenvolvimento físico, em que as principais subdimensões deste modelo são a aptidão física e o desenvolvimento da habilidade. Neste modelo, a aptidão física possui dois subdomínios, sendo estes a aptidão fisiológica e aptidão física relacionada à saúde. A aptidão fisiológica é composta por componentes de não desempenho, tais como, pressão sangüínea e integridade óssea, enquanto que a aptidão física relacionada à saúde é composta pela aptidão cardiovascular, resistência muscular, força, flexibilidade e composição corporal. O Fator de risco Corbin predito em nossa monografia foi baseado nos aspectos da composição corporal (sexo, idade, peso e altura), calculado pelo software Apolo®, onde a classificação se dá em baixo, ideal, moderado e elevado.

Análise do conhecimento e interesse em temáticas relativas sobre atividade física e saúde

    O comum em pesquisas que visam relacionar a temática atividade física e qualidade de vida é a utilização de questionários validados pela comunidade científica, tal como o World Health Organization Quality of Life (THE WHOQUOL GROUP, 1994) e do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). Porém, a especificidade destes questionários, em alguns casos de pesquisas, não permite a compreensão e delineamento de muitos fatores considerados importantes pelo pesquisador. Neste caso, há a possibilidade de introduzir questões abertas, com o intuito de se fazer uma análise do discurso. Os dados obtidos foram analisados descritivamente por meio da Técnica de Análise de Conteúdo que tratou de descrever os conteúdos conforme a forma e o fundo. A análise da forma preocupa-se em estudar símbolos empregados, isto é, palavras ou temas. A análise de fundo centra seu interesse na investigação das referências dos símbolos e pode revelar tendências verificadas no conteúdo da comunicação e, portanto, prevê a sistematização e a inferência, conforme defende Richardson (1989). Bardin (1979) conceitua a Análise de Conteúdo como técnica destinada à análise que visa subtrair das comunicações, indicadores (qualitativos ou não) que possibilitem fazer inferências de conhecimentos relativos às condições que permearam a emissão-recepção da mensagem comunicada. As questões buscaram contemplar a temática e os elementos importantes a ela subjacentes. Por considerarmos o questionário empregado como instrumento importante de compreensão de nosso trabalho, o apresentaremos a seguir:

Prezado Aluno e Responsável,

    As questões abaixo fazem parte da pesquisa desenvolvida por Rodrigo Castelo Branco de Andrade, aluno formando do curso de Educação Física e Esporte da METROCAMP, cuja orientação é conduzida pelo Prof. Dr. Joaquim Antunes Neto. A temática da pesquisa é “Conhecimento em Atividade Física e Saúde na Adolescência”. As suas respostas, respondidas com seriedade, são de extrema importância para a elaboração e conclusão dos nossos estudos. Muito obrigado!

Sexo: ( ) masculino ( ) feminino idade: ______ anos

  1. Nas suas aulas de Educação Física (caso as tenha na Escola ou quando as teve), foram desenvolvidos conceitos importantes sobre os benefícios da atividade física e saúde? ( ) sim ( ) não

  2. Caso a resposta de questão 1 tenha sido “sim”, liste até 6 conteúdos sobre atividade física e saúde que foram desenvolvidos em suas aulas de Educação Física?

  3. Quais conteúdos sobre atividade física e saúde você gostaria que tivessem sido desenvolvidos nas suas aulas de Educação Física?

  4. Você realiza aulas de Educação Física no espaço escolar? ( ) sim ( ) não.

  5. As aulas de Educação Física ocorrem em academia de ginástica? ( ) sim ( ) não ( ) em outro espaço.

  6. Você é portador de alguma doença crônico-degenerativa (hipertensão arterial, diabetes, doenças cardíacas, doenças do sistema locomotor, etc? ( ) sim ( ) não. Caso positivo, qual patologia?

  7. Em seu núcleo familiar (pai, mãe, irmãos, avós, tios, primos), alguém sofre de alguma doença crônico-degenerativa? Qual?

  8. Qual o peso atual, altura e idade dos respectivos familiares (pai, mãe, irmãos):

  9. Dados do Aluno:

Peso:

Estatura:

Cintura:

Quadril:

Dobras Masculino:

Peitoral:

Abdominal:

Coxa:

Dobras Feminino:

Tríceps:

Suprailíaca:

Coxa:

Flexibilidade:

Pressão Arterial:

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    Ressaltamos que as análises antropométricas não foram desenvolvidas nesta pesquisa, sendo que os dados obtidos serão tratados em um estudo posterior. Da mesma forma, tratamos apenas os dados de IMC do pai e mãe do aluno, e não dos irmãos, pois consideramos que tais dados já eram representativos o suficiente para gerar nossa discussão.

Análises estatísticas

    As análises estatísticas foram feitas através do programa GraphPad Instat® (San Diego, CA). Antes, os dados foram tratados no software Origin® 6.0, onde calculamos a média e desvio-padrão e realizamos os gráficos. Utilizamos o teste ANOVA para amostras pareadas e, como pós-teste, foi adotado o teste de Tukey. Valores de p<0.05 foram considerados significativos. A correlação dos parâmetros nível de obesidade dos pais (IMC) e ocorrência de doenças crônico-degenerativas no núcleo familiar foi calculada pelo fator de correlação de Pearson.

Resultados

Figura 1. Desenvolvimento de conceitos sobre a temática atividade física e saúde nas aulas de

Educação Física. Os valores são relativos ao conjunto total de análises (alunos e alunas; n=35).

    A Figura 1 mostra se, quando os alunos realizaram aulas de Educação Física, houve o desenvolvimento de conceitos sobre a temática atividade física e saúde. Os valores apresentam 55% de indicações positivas e 45% negativas. O que vale ressaltar é qual o nível de compreensão, por parte dos alunos, sobre os valores conceituais da temática atividade física e saúde. A Figura 2 nos permite avaliar se há uma compreensão efetiva sobre o significado dos temas em questão.

Figura 2. Conhecimentos desenvolvidos sobre atividade física e saúde nas aulas de Educação Física. Os valores são relativos ao conjunto total de análises (alunos e alunas; n=35)

    Podemos conferir que os alunos delimitam como conceitos pertinentes à temática da atividade física e saúde três grandes núcleos: componentes de aptidão física e preparação ao exercício físico, componentes esportivos e componentes preventivos. Dentro do núcleo da aptidão física e preparação ao exercício físico, detectamos que há 24,1% das respostas (alongamento, aquecimento, respiração, reflexos, controle da freqüência cardíaca, habilidades motoras [6,5%-não consta na legenda] e aspectos psicológicos [1,6%-não consta na legenda]); no núcleo dos componentes esportivos observamos 44% das respostas (exercícios de força, exercícios de velocidade, atividades de corrida e atividades esportivas e trabalho em equipe [4,8%-não consta na legenda]), enquanto que no núcleo dos componentes preventivos há 31,9% das respostas (condicionamento físico, alimentação, prevenção de doenças, benefícios da atividade física, limites do corpo e postura).

Figura 3. Conceitos desejados pelos alunos para serem desenvolvidos em aulas de Educação Física sobre 

a temática atividade física e saúde. Os valores são relativos ao conjunto total de análises (alunos e alunas)

    Dentro do universo dos conceitos desejados em atividade física e saúde pelos alunos que poderiam ser desenvolvidos nas aulas de Educação Física, há um ponto que se sobressai aos demais, que é a falta de interesse em se aprofundar na temática (32%). Observamos que os demais conceitos de interesse encontram-se diluídos, sobressaindo-se mais o interesse pela musculação (11%).

Figura 4. Local do desenvolvimento das “aulas” de Educação Física. Os valores são relativos ao conjunto total de análises (alunos e alunas)

    Como já esperávamos, a chamada “aula” de Educação Física, pelos alunos, ocorre 100% nas academias de ginástica conveniadas com a Instituição de Ensino.

Figura 5. Casos de doenças crônico-degenerativas entre alunos e familiares de núcleo próximo (pai, mãe,

 irmãos, tios, primos e avós). Os valores são relativos ao conjunto total de análises (alunos e alunas)

    A Figura 5 aponta um dado interessante, onde 45% dos parentes do núcleo familiar dos alunos apresentam um quadro de doença crônico-degenerativa. Interessante também ressaltar que não houve nenhuma declaração, por parte dos alunos, a constatação de doença crônico-degenerativa, o que nos leva a refletir sobre os fatores ligados a herança genética familiar na influência da instalação de uma patologia.

Figura 6. Prevalecência de doenças crônico-degenerativas em familiares dos alunos pesquisados. Os valores são relativos ao conjunto total de análises (alunos e alunas)

    Na Figura 6 observamos a indicação de três das mais importantes causas de morte em virtude de doenças crônico-degenerativas: diabetes (41%), hipertensão arterial (31%) e doenças cardíacas (21%), totalizando 93% das patologias estabelecidas entre os parentes dos alunos.

Figura 7. Índice de massa corporal dos pais e mães dos alunos de sexo masculino pesquisados. Onde: *p<0.01 em relação aos valores obtidos para os alunos

    A Figura 7 indica que os alunos, em média, encontram-se no índice estabelecido como normal (entre 18,5 Kg/m2 e 24,9 Kg/m2), sendo que para pais e mães há um indicativo médio para obesidade média ou sobrepeso (25 Kg/m2 a 29,9 Kg/m2).

Figura 8. Índice de massa corporal dos pais e mães das alunas pesquisadas. Onde: *p<0.001 em 

relação aos valores obtidos para as alunas; p<0.01 em relação aos valores obtidos para as alunas

    A Figura 8 mostra uma mesma tendência de classificação do IMC ao visto na Figura 7, onde as alunas encontram-se na média normal (21 ± 1,83) estabelecida pela OMS, enquanto que os pais mostram valores de sobrepeso (28,7 ± 4,88) e as mães em um limite tendencioso elevado também para sobrepeso (24,7 ± 4,2).

Figura 9. Índice de massa corporal dos pais dos alunos e alunas pesquisados.

    A Figura 9 permite uma nova leitura dos resultados em relação ao IMC dos pais dos alunos e alunas participantes do estudo. Os valore mostram que 72% dos pais já se encontram em um quadro estabelecido como obesidade (54% com sobrepeso) e 18% apresentando obesidade nos níveis I e II.

Figura 10. Índice de massa corporal das mães dos alunos e alunas pesquisados

    De forma significativa, a Figura 10 mostra que 47% das mães apresentam níveis de obesidade leve (40%) e elevada (6,7%), contribuindo para uma reflexão de que há uma forte tendência em se considerar que os alunos participantes do estudo possuem a probabilidade genética em se tornarem adultos com sobrepeso ou obesos.

Figura 11. Índice de risco CORBIN pesquisado para alunos e alunas (n=35)

    Contribuindo com os dados já observados de IMC, a classificação do risco CORBIN, na Figura 11, mostra que os alunos estudados, na sua grande maioria (85%), encontram-se em condições ideais de saúde, considerando os dados de peso, altura, sexo e idade.

Figura 12. Índice de risco CORBIN pesquisado para pais e mães dos alunos (A) e a amostragem, considerando valores somados acima do 

ideal (B). Os valores são relativos ao conjunto total de análises (alunos e alunas). Onde = *p<0.001 em relação ao valor ideal para pais.

    A Figura 12 também favorece o entendimento dos dados apresentados para IMC. Observamos, sobretudo, para os pais, que há uma forte tendência de risco, de moderado para elevado (n=24; aproximadamente 75%), enquanto que 43% das mães também se situam nesta faixa de risco.

Discussão

    A complexidade inerente à conceituação de Qualidade de Vida da OMS (WHOQOL, 1995) aponta a subjetividade de estudos e pesquisas nesta área. É de se entender com facilidade os obstáculos que se apresentam para se alcançar conceituação precisa do que vem a ser qualidade de vida. O seu caráter subjetivo, em especial modo em nível individual, constitui parte que lhe é praticamente inerente, motivo pelo qual não deixa de exercer a sua influência. Para alguns, a qualidade de vida seria a somatória de fatores decorrentes da interação entre sociedade e ambiente, atingindo a vida no que concerne às suas necessidades biológicas e psíquicas (Coimbra, 1985). Tal orientação, no sentido de priorizar as necessidades, tem sido geralmente aceita, reconhecendo-se assim certo número delas. No estado atual da sociedade, formam trama cada vez mais complexa, ao longo da qual se desenrola a vida humana. Considerando-se as que são inerentes e as que são adquiridas, pode-se verificar a sua distribuição pelas diferentes áreas, física, psicológica, social, de atuação, material e estrutural. Dessa maneira, a qualidade de vida é definida como sendo o grau de satisfação atingido, no âmbito de tais áreas (Hörnquist, 1982).

    Por esta problemática que as escolas de Ensino Médio vêm passando, é que Bento (1991) coloca a educação da saúde como uma das orientações centrais do presente problema: “Se pretende prestar serviços à educação social, se pretende contribuir para uma vida produtiva, criativa e bem sucedida, a Educação Física encontra na orientação pela educação da saúde um meio de concretização das suas pretensões, formulações e justificativas” (pág 104).

    A epidemiologia e a fisiologia nos darão subsídios científicos para analisar, descrever o estado de determinada população e avaliar possíveis intervenções, caso seja encontrado anormalidades metabólicas. A epidemiologia começou a ser estudada, em meados da década de 50 do século XIX, a partir de surtos de cólera em Londres, onde o risco de morte era evidente. O Dr. John Snow entrou em contato com as famílias que haviam perdido membros devido à doença e observou relação com a água ingerida por elas. Cerca de 100 anos mais tarde, um estudo demonstrou o aumento significativo de câncer de pulmão com a quantidade de cigarros fumados por dia. Tais estudos foram constatando que determinadas ações, juntamente com a ingestão de algo contaminado, por exemplo, são fatores primordiais para que o indivíduo tenha um risco maior de morte (Powers, Howley, 2000).

    Com isso, Powers e Howley (2000) conseguiram separar em 3 categorias os principais fatores de risco:

  • genéticos/biológicos

  • ambientais

  • comportamentais

    Dentro dos fatores de risco comportamentais, encontramos um em especial, que cabe a nós, educadores físicos, analisar, “tratar” e, principalmente, prevenir, que é a inatividade/sedentarismo. O fato de um fator de risco estar relacionado com problemas cardiovasculares de forma causal nos leva a uma preocupação e obrigação enquanto conhecedores do corpo e suas atividades.

    Adolescentes são alvos de estudo neste gênero em todo o mundo, devido os altos índices de fatores de risco encontrados em seus hábitos regulares, como inatividade física, má alimentação, transtornos psicológicos. Alem disso a atividade física nessa faixa etária indica parte do quanto de atividade será realizada na fase adulta. Porém, poucos estudos em adolescentes brasileiros foram encontrados, e a discrepância é enorme nos resultados de sedentarismo, que variam de 45 a 94%. Isso ocorre pelo fato do método utilizado e suas amostragens serem bem diferentes umas das outras. (Oehlschlaeger et al., 2004).

    A evidência na importância da adoção de comportamentos saudáveis em busca de uma saúde positiva, contrasta com a manutenção de comportamentos de risco que podem estar relacionados ao aumento dos índices de morbidade (incidência de doenças na coletividade) e de mortalidade (Nahas, 2001). Segundo o mesmo autor, estilo de vida é o conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas, onde devem ser valorizados elementos concorrentes ao bem-estar pessoal como o controle do estresse, a nutrição equilibrada, a atividade física regular, os cuidados preventivos com a saúde e o cultivo de relacionamentos sociais. Lalonde (1974) define estilo de vida como um conjunto de decisões individuais que afetam a saúde e sobre os quais se pode exercer certo grau de controle. As decisões e os hábitos pessoais que são maus para a saúde, criam riscos originados pelo próprio indivíduo.

    De acordo com a Powers e Howley (2000), o sedentarismo é responsável por 1,9 milhões de mortes por ano no mundo. Entre 10-16% dos casos de câncer de pulmão, de colo e reto surgem em função do sedentarismo. O risco de doenças cardiovasculares aumenta uma vez e meia para as pessoas que não fazem o mínimo de atividade física recomendada. Na média, as pessoas que praticam alguma atividade física vivem mais que as pessoas inativas, além de promover a independência funcional dos idosos.

    Powers e Howley (2000) citam trabalhos onde foram realizados uma revisão literária que estudava a relação atividade física/doença coronariana. A maioria dos estudos mostrava que o nível de atividade física estava diretamente ligado com o início da doença. Perceberam na relação dose-resposta que, quanto maior a atividade física (bem orientada, obviamente), menor o risco da doença coronariana. Portanto, os estudos satisfazem o modelo da casualidade que a epidemiologia sugere.

    Ainda na revisão apresentada por Powers e Howley (2000), foi constatado um aumento à tolerância da glicose, aumento da fibrinólise (degradação de coágulos) e redução na pressão arterial, isto inicialmente, pois hoje já se encontra um gama muito maior no que diz respeito ao benefício causado pela atividade física. Fisiologistas mostram que a hipertensão, exemplo na falha da homeostasia, atinge mais de 50 milhões de americanos, e relacionam a doença com outras anormalidades metabólicas como: a obesidade, resistência à insulina e a dislipidemia (níveis anormais de triglicerídeos) (McArdlle et al., 2003). A coexistência da resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão, acompanhada de obesidade foi denominada Quarteto Mortal ou Síndrome Metabólica (Ciolac, Guimarães, 2004).

    O ponto central do estudo acima é a resistência à insulina, com o músculo esquelético sendo o principal tecido envolvido. Esta pode ser associada à obesidade, fatores genéticos e ambientais. Caracteriza-se por uma absorção pequena de glicose em determinada concentração de insulina, o que leva o pâncreas a secretar mais insulina (hiperinsulinemia), aumentando seu nível plasmático, podendo elevar a pressão arterial e acarretar em hipertensão. Os altos níveis de insulina podem também aumentar a atividade do sistema nervoso simpático elevando os níveis de adrenalina e noradrenalina que podem aumentar a freqüência cardíaca e o volume de ejeção. Aumenta a retenção de sódio e água, elevando o volume plasmático e pressão arterial e por fim aumenta a proliferação de células musculares lisas dos pequenos vasos, que pode aumentar a resistência ao fluxo sanguíneo, acarretando em uma maior pressão arterial. (McArdlle et al., 2003).

    Uma vez sabendo, através das pesquisas científicas, que o sedentarismo, aliado a um estilo de vida inadequado, podem trazer severas conseqüências às condições de saúde, acreditamos que o mapeamento de informações pertinentes ao contexto atividade física, saúde e qualidade de vida no Ensino Médio podem trazer informações importantes para iniciarmos um programa de conscientização da Escola, onde a Educação Física teria, conseguinte, relevante importância neste processo.

    Discutindo nossos dados, constatamos na Figura 1 a prevalência de alunos que não tiveram, em suas aulas de Educação Física, temas como saúde e qualidade de vida abordados no decorrer do planejamento curricular. Acarretando em uma percepção inadequada do que este tema tão importante pode trazer como benefício presente e futuro, haja visto, na Figura 3 - as análises dos conceitos desejados pelos alunos para serem desenvolvidos em aulas de Educação Física -, que apontam apenas cinco conceitos pertinentes (15%), dentre 17 apontados à temática. São eles: benefícios/limites da atividade física; osteoporose; primeiros socorros; suplementação alimentar e fisiologia.

    Quisemos com este levantamento mostrar o que o aluno entende sobre a temática aplicada, e quais conceitos os mesmos acreditam fazer parte do contexto de saúde e qualidade de vida no âmbito escolar e pretendemos mostrar, futuramente, como a Educação Física pode tratar de tais temas. Na verdade, pudemos evidenciar a forte relação, segundo os alunos, das atividades esportivas como conteúdos desenvolvidos em aulas de EDF sobre saúde e qualidade de vida (24% ao todo). Ao questionar sobre o desejo do que ser visto a respeito dessa temática nas aulas de EDF, 32% não demonstrou nenhum interesse, indo muito de acordo com o que Mattos (1994) aponta, citado por mim na justificativa (o conhecimento do profissional dilui-se na falta de interesse do aluno).

    Indo além, para aqueles que responderam que tiveram conceitos sobre saúde e qualidade de vida abordados no planejamento anual do currículo escolar, ou seja, 45% deles, apenas cinco conceitos dizem respeito à temática aqui abordada. Conceitos como: informações sobre postura; limites do corpo humano; benefícios da atividade física; prevenções de doenças e controle da freqüência cardíaca, totalizando apenas 19,3% do total colocado pelos alunos, que englobam em geral, questões sobre exercícios de força, velocidade, esporte em geral e outros sendo estas as questões primordiais e relevantes no que diz respeito ao tema proposto, segundo os mesmos alunos.

    A problemática evidenciada aqui permanece pelo fato de existir a terceirização das aulas de Educação Física. O publico envolvido não contém aulas de Educação Física no âmbito escolar (Figura 4) e sim em uma academia de musculação, onde são obrigados a irem uma vez por semana e levar assinado a presença para escola. Não questiono o conhecimento do profissional em tal academia, mas existe uma diferenciação do modelo educacional de uma escola, para o modelo do tratamento de tais profissionais para com os clientes de sua academia. A preocupação que a escola deve ter com a formação de seu aluno, não é mesma preocupação que uma academia deve ter, eles não devem se preocupar com a formação do cidadão, com o ensino do conhecimento detalhado, com o desenvolvimento de valores e éticas, os quais a escola tem o dever de tratar. Portanto, devido a estes fatos apresentados, creio que a terceirização só aumenta esta problemática, no caso deste estudo, acarreta no não conhecimento, ou o não aprofundamento do tema aqui estudado, mas na verdade acarreta no não desenvolvimento físico/motor geral adequado, justamente na hora em que o aprimoramento das idéias está acontecendo. Não quero me aprofundar nesta discussão, pois não é o foco do meu trabalho, mas é preciso salientar que a terceirização é prejudicial para formação global do aluno em relação às aulas de Educação Física Escolar.

    Podemos perceber um quadro preocupante ao analisar os dados sobre doenças crônico-degenerativas nos familiares (Figura 5), pois 45% dos familiares têm ou tiveram tais doenças, como: diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, Alzheimer e osteoporose. Dentre estas, o diabetes é a mais comum, totalizando 41% dos envolvidos na pesquisa e seguido por alto índice também de pessoas com hipertensão – 31%. Estas doenças podem estar intimamente ligadas pelo fato da obesidade ser comum entre os familiares dos alunos e alunas envolvidos neste estudo (correlação = 0,895), como veremos a seguir ao analisar dados sobre obesidade/sobrepeso em alunos e familiares.

    Através do calculo do IMC de familiares e alunos, pudemos constatar que a maioria dos pais (54%) são obesos leves e 18% apresentam obesidade moderada. De acordo com Fonseca et al. (1998) pode-se afirmar que a influência genética e o meio ambiente atuam no estado nutricional do adolescente, ou seja, a obesidade na adolescência é um fator preditivo da obesidade no adulto. A preocupação existe, portanto, vendo os resultados das mães de alunos e alunas deste presente estudo que mostram que 40% apresentam obesidade leve e 6,7% obesidade elevada, segundo a classificação da OMS. O problema ao tratar obesidade em adolescentes está na inadequação alimentar e nos padrões estéticos que a sociedade impõe como corretos. E cada vez mais a obesidade está crescendo entre crianças e adolescentes, sendo que a tendência para persistência da mesma na faze adulta é grande, haja visto dados anteriores. Segundo Abrantes et al. (2002), a obesidade está diretamente ligadas a doenças, anteriormente citadas como comuns, entre os familiares dos alunos e alunas voluntários deste estudo, como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardíacas, entre outras.

    Realizar exercícios regularmente é um dos poucos fatores que podem prevenir o ganho de peso. Adicionalmente, o condicionamento físico obtido através do exercício, reduz a mortalidade e a morbidade, mesmo nos indivíduos que se mantêm obesos (Jebb, Moore, 1999; McInnis, 2000; WHO, 1997). Estima-se que pequenos aumentos de atividade física em populações sedentárias, teriam um impacto maior na redução das doenças crônicas do que a redução do tabagismo (U. S. Preventive Service Task Force, 1996). Este impacto decorre do fato de que o sedentarismo associa-se a várias doenças e condições metabólicas adversas como: obesidade, doença coronariana, hipertensão, diabetes tipo 2, osteoporose, câncer de cólon, depressão (Bouchard, 1996), perfil lipídico e tolerância à glicose (Duncan et al., 1991; Kohl et al., 1992). Essas informações vão ao encontro de nossos dados. Há uma relação inversa entre o exercício praticado regularmente e as principais causas de morte na mulher pós-menopáusica. Vários estudos têm demonstrado o efeito benéfico do exercício na prevenção primária e secundária de diversas doenças, como hipertensão arterial, cardiopatia isquêmica, diabetes e osteoporose, entre outras. São relatados também efeitos benéficos do exercício sobre os fogachos e a depressão psíquica no climatério (Leitão et al., 2000).

    Com isso, queremos alertar a situação e mostrar, com este estudo de campo, a problemática englobando todos os assuntos aqui desenvolvidos e interrelacioná-los, indo desde a falta de conhecimento sobre o tema saúde e qualidade de vida até os riscos da obesidade entre os familiares e próprios alunos. Assim, mostraremos aos alunos suas preocupantes conseqüências, não somente nesta fase de suas vidas, mas sim já os preparando para o futuro, para que este seja adequado e saudável, tendo como ações suas próprias iniciativas, ou seja, a partir de conhecimento visto nas escolas, a capacidade de decisão no que diz respeito ao próprio corpo e suas limitações sejam tomadas pelo próprio indivíduo, que teoricamente terá embasamento para tal decisão.

Considerações finais

    Através de conceitos relevantes sobre atividade física, seus benefícios e sobre seus malefícios quando não orientada e/ou hiper estimulada, com o foco no culto ao corpo, o qual a mídia vem fazendo com muita destreza, e sobre conhecimentos gerais de funcionamento corporal, durante é claro as aulas de EDF, as metas descritas acima poderão ser alcançadas.

    Portanto, através deste estudo, iniciativas no âmbito de fornecer tal conhecimento para os alunos, em primeiro lugar os que nos auxiliaram como voluntários para a pesquisa, serão realizadas como estopim para alcançarmos, futuramente, o objetivo maior, que é inserir de vez assuntos tão pertinentes ao contexto moderno e atual de nossa sociedade na educação formal de nossos alunos, para que estes saiam formados com todo conhecimento sobre lingüística, ética, conhecimentos matemáticos e CONHECIMENTOS SOBRE SEU PRÓPRIO CORPO, para participação efetiva na sociedade.

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